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sexta-feira, 23 de julho de 2021

Entre Booms Tunantes

Nos, até agora, 4 programas do "Filhos do Boom", da PTV, a pergunta "Consideras o boom de finais dos anos 1980, inícios dos 90 como o mais importante na história tuneril portuguesa (desde o séc. XIX), nomeadamente em termos estudantis?" foi feita a todos os entrevistados.

Obviamente que, para alguns deles, a resposta é tendencialmente afirmativa, pois é a realidade que melhor conhecem.

Mas será mesmo assim? Foi mesmo o mais importante momento da história da tuna estudantil?

Então vejamos:

O designado "boom" de finais de 1980 e até, grosso modo, 1995, pode rapidamente ser visto em números. Estamos a falar de um pouco menos de 300 tunas fundadas entre 1983 e 1995, sendo criadas cerca de mais 120, até ao ano 2000, segundo "Qvot Tvnas" (2019), com muitas delas e extinguirem-se pelo meio (20 até 1995 e 40, de 1995 a 2000).

Estamos a falar de uma época onde o n.º de habitantes em Portugal anda nos 10 milhões de habitantes e o n.º de escolas e universidades, e respectivos alunos, é incomparavelmente maior que há um século e pico. Uma época onde as mulheres já têm pleno acesso à escola, convém recordar. O rácio tem de entrar nas contas, pois são coisas, até certo ponto, mensuráveis.

 


Ora, o 1.º boom tunante em Portugal é algo que ocorre entre meados de 1880 até, sensivelmente, 1916, numa altura em que a população oscila entre os 5 milhões em 1890 e os 6 milhões em 1911, grande parte dela analfabeta e, portanto, sem acesso à escolaridade sequer (reservada quase só rapazes).

Ora, nessa fase, e mesmo depois, há tunas académicas (estudantis, portanto) em todas as capitais de distrito e em algumas cabeças de concelho, sendo um fenómeno que atravessa níveis de ensino (ao contrário do 2.º boom), havendo tunas desde os colégios (a partir dos 11-12 anos), passando pelos seminários, liceus e centros de instrução, até ao Ensino Superior (presente apenas em Coimbra, Lisboa e Porto).

Nessa época, do virar do séc. XIX para o XX, não havia as actuais facilidades de comunicação. As deslocações eram difíceis, o acesso à informação era apenas pelos jornais (para os poucos que saiam ler), não havia rádio nem TV, nem web a difundir tunas, e muito menos discos à venda a impulsionar o fenómeno (e festivais de tunas como temos hoje, nem por sombras). Tudo que havia eram os saraus, récitas e concertos em sala (com actuações mais sazonais do que com a periodicidade da tuna recente). Mas não é menos verdade que também as tunas faziam digressões no território nacional e além fronteiras, com um impacto enorme.

No espaço de poucos anos, desde 1888 e apesar das limitações comunicativas, o n.º de tunas estudantis dispara exponencialmente.

Se falarmos da Tuna como fenómeno geral (alargado à sociedade civil, então a coisa toma proporções inimagináveis: entre fins do séc. XIX e a década de 1960, quase cada povoação portuguesa tinha a sua tuna, por vezes mais que uma. Nas cidades há-as em grande número).

Portanto, o "boom" dos anos 1980-1995 foi realmente o mais marcante da história tuneril portuguesa?

Se falarmos no âmbito estritamente universitário, claramente que sim. No espaço de menos de 2 décadas (1980-1995-2000) o n.º é impressionante, mas gozou de um contexto favorável (o dobro da população, liberalização do ensino universitário e n.º de instituições, mulher emancipada, escolaridade obrigatória até ao 6.º ano, melhores condições económicas....). Mas, por outro lado, note-se que em outros graus de ensino (colégios/liceus) nem uma mão cheia de tunas surgiram.

E é precisamente olhando ao rácio N.º de estudantes/escolas do 1.º boom Vs esse mesmo n.º do 2.º, que será, no mínimo, questionável pretender que 1980-1995 (ou até 2000) foi mais importante dentro da história da tuna estudantil portuguesa.

Repare-se que, em 1910,  temos pouco mais de 95 mil alunos (distribuídos por todos os graus de ensino), contra cerca de 2,4 milhões em 1996 (segundo ALVES, Luís Alberto Marques - História da educação, uma introdução. FLUP, 2012 e os dados da Pordata). Em termos de proporção e de contexto, pondo em perspectiva os dados, alguma prudência deve assistir a afirmações cabais.

Foi  realmente mais importante o 2.º boom? 

Não estou certo que o tenha sido, mas é de reconhecer que foi, sem dúvida igualmente importante, e especialmente importante para nós que vivemos isso como protagonistas (o que influenciará muitos que também o foram).

 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Panegírico a Eduardo Coelho

Há já muito que devo um artigo a Eduardo Coelho, porque estamos a falar de um dos vultos maiores do pensamento tunante em Portugal e um dos mais ilustres e reputados tunos da nossa praça.
Poderia alguém interpor que há falta de isenção no critério de escolha, por se tratar de um amigo.

Eu responderia que não se trata apenas de um amigo, mas de um grande e fraterno amigo e, contudo, independentemente disso, continuaria a ser um vulto maior da Tuna em Portugal.
Prestar-lhe este justo reconhecimento é não apenas tardio como justíssimo.

O Eduardo começa a sua aventura tuneril em 1987, quando passa a integrar a Tuna Universitária do Porto, da qual se torna director musical e Magister entre 1988 e 1993 (altura em que a TUP se torna a primeira tuna portuguesa a vencer um festival fora de Portugal).

Autor e compositor, o seu nome aparece associado às “Ondas do Douro”, tema que se elevou à categoria de hino na academia portuense, consagrado no LP “Acordes, harpejos… tainadas e beijos” (1991), participando igualmente nos CD “Tuna Universitária do Porto — Um Percurso” e “Academia”. Ainda como integrante da TUP, recebe informalmente a beca da Tun’América (Porto Rico).
Só isso já é, está bom de ver, algo que ilustra um percurso notável.
Retirado da vida activa da TUP, é co-fundador  da Tuna Veterana do Porto, em 1999, sendo um dos seus directores artísticos.
Tem integrado o júri de diversos festivais, nomeadamente o do FITU “Cidade do Porto”, ao qual já teve a honra de presidir, e em cuja organização esteve envolvido desde as primeiras edições.
Eduardo Coelho é um nome indissociável da comunidade tunante, reforçando tal como pensador e estudioso destas matérias, com intervenções de aquilatado recorte literário que fez durante anos no fórum do PortugalTunas, sob o cognome de "o Conquistador". Natural, por isso, encontrá-lo entre os co-autores da primeira obra sobre a Tuna em Portugal, "Qvid Tvnae? A Tuna estudantil emPortugal".

Porque um reputado conhecedor da res tvnae, participa no IV e VIII ENT (Encontro Nacional de Tunos), como orador, sendo um dos autores do Manifestvm Tvnae.
É membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante e do Tvnae Mvndi, ultrapassando assim o reconhecimento das suas qualidades além fronteiras.
O currículo do Eduardo não se esgota no âmbito tuneril, porque também muito haveria a descrever e referir no âmbito do fado académico, da Praxe e Tradições Académicas, no OUP, entre outros. Mas ficando a coisa só no contexto da Tuna, basta para atestar o que acima disse: estamos perante um tuno com um percurso de referência.

Foi no contexto do "Qvid Tvnae?" que o conheci pessoalmente, o que veio reforçar ainda mais a admiração e estima por tão insigne pessoa.
Um mestre cujo conhecimento é proporcional à sua enorme humildade, um homem que sabe estabelecer pontes, um vulto ímpar a quem muito deve a comunidade tunante.
A sua clarividência, a sua enorme bagagem intelectual, o rigor, a capacidade de escutar, mas também a firmeza da sua verticalidade e uma incomum capacidade argumentativa, baseada no seu vasto repertório de experiência e estudo apurada, são traços que não deixam indiferente quem com ele cruza dois dedos de conversa, especialmente quando o assunto são tunas ou tradições académicas. E quando abre a boca, faz jus aos seus cabelos brancos e é um deleite ouvi-lo (como recentemente no TUNx) ou ler o que redige.




Contas feita, apesar de o ter conhecido apenas há coisa de uns 10 anos, é como se fosse, já, um daqueles amigos de sempre, de infância, fazendo parte daquela família que escolhemos, daquele restrito grupo de pessoas que passam a fronteira de conhecidos ou colegas: os amigos de/para sempre.
Presto essa singela homenagem, porque elas se fazem em vida, ainda no seu vigor todo, num tempo onde se tornou (mau) hábito só fazer o reconhecimento devido depois de partirem.
Obrigado, Eduardo, por aquilo que és e pela amizade dispensada e por aquilo que também contigo aprendi, e aprendo.



segunda-feira, 4 de julho de 2016

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS


Se em anterior artigo tratámos de pré-existências de cariz popular, desta feita tratamos de evidências estudantis anteriores às já detectadas em "Qvid Tvnae?", que vêm confirmar o que a citada obra já indicava.
Com efeito, se podemos apontar, grosso modo, o ano de 1888 como o que marca a institucionalização da Tuna estudantil em Portugal, já bem antes se registava a existência de grupos deste género, quer de cariz popular quer académico.
No anterior artigo refere-se a existência de uma estudantina de académicos da UC por volta de 1868-69, confirmando que, tal como no país vizinho, estes agrupamentos (por vezes com designações diversas: troupes, academias....) eram de natureza volátil (com especial actividade no carnaval, desmobilizando-se depois), mas bem mais comuns do que se julgava.

Damos à estampa alguns dados, que o blogue Guitarra de Coimbra V publicou em primeira mão sobre o assunto, com evidências documentais preciosas.


"Realiza-se hoje neste teatro o espetáculo anunciado a favor das vítimas andaluzas. O programa não pode ser mais atraente: concerto de bandolins pela estudantina académica do sr. Jayme de Abreu[1]; a comédia em três atos "Os músicos"; concerto de guitarras[2]; e recitação de poesias por Ferreira da Silva, Pinto da Rocha[3] e Eugénio de Castro." [4]

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 12 Janeiro 2016.


"Notícia de uma estudantina de escolares da UC, de existência efémera, que em setembro/outubro de 1884 saiu de Coimbra para o Minho e desceu em jornadas pedestres até ao Algarve. O diário de viagem, com anotações e desenhos seria um documento de inestimável valor. Será que se encontra esquecido no meio de papeis de algum dos herdeiros?
Além de organizar caçadas e peditórios, este grupo fazia serenatas e organizava entradas musicais nas terras visitadas, com momentos de canto e teatralizações (dança em coluna/círculo/cadeia, diálogos recitados e cantados, crítica social e ditos cómicos).
Não se pode afirmar que tenha havido uma relação direta entre este tipo de estudantinas portuguesas/espanholas e os grupos de populares que ainda hoje se organizam pelo carnaval no Baixo Alentejo (Amareleja, Barrancos), alvo dos estudos da antropóloga Dulce Simões. Mas a colocação dessa hipótese não é descabida. Esta estudantina de 1884 deve ter deixado fortes marcas no imaginário."


Correspondência de Coimbra, n.º 73, 3.ª feira, 16.09.1884
(pesquisa de José Nascimento)
Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 19 de Abril 2016




"Notícia de imprensa sobre as estudantinas de escolares que entre março e junho animavam as ruas da alta de Coimbra trazendo às janelas e varandas muitos curiosos. A febre das estudantinas serenateiras vinha de trás mas foi incrementada no primeiro semestre de 1880 devido à programação associada ao tricentenário de Camões que em junho desse ano foi jubilosamente celebrado. Em janeiro de 1880 tinha sido constituída uma comissão de estudantes, presidida por A. Henriques da Silva, de que era relator o músico, compositor, estudante de Direito e regente do Orfeon Academico João Marcelino Arroyo. Em março já estava devidamente ensaiada e pronta a começar as rondas pela alta (quando parasse de chover) uma estudantina de guitarras, violas de arame, violões, rabecas e flautas e violoncelos. Alguns dos instrumentistas agregados a este formação primaveril eram os guitarristas José Júlio de Oliveira, Calheiros (?), Matos Silva e Campos (?).
Uma destas estudantinas tinha cerca de quarenta instrumentistas (alguns dos quais asseguravam vozes e coros), exibia guitarras, violões, violas de arame, flautas, rabecas e violoncelos e era regida por um "Sr. Guerra"[5], cuja identificação não conseguimos apurar. Esta estudantina era iluminada por archotes, fazia paragens para interpretar repertório instrumental e canções de homenagem às portas das autoridades locais e levava por junto cerca de duzentos curiosos.
Algumas destas formações participaram na serenata fluvial que em 26 de maio encheu o Mondego com músicas, bandeirolas multicolores e balões venezianos."



 O Tribuno Popular, n.º 2531, de 12.05.1880

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 27 de Março 2016







[1] Jayme de Abreu, mais conhecido por Jayme Peralta ou Jayme da guitarra, natural de Fornos de Algodres, fez em Coimbra o liceu e a Faculdade de Direito/UC. Executante de bandolim e de guitarra, cantor de fados e serenateiro. Manteve durante a década de 1880 a direção de uma estudantina com a qual deu concertos e serenatas de rua. O seu estilo performativo foi imitado por Augusto Hylario.
[2] Instrumentistas não identificados. Nas décadas de 1880-1890 os grupos de guitarras de concerto incluíam frequentemente três a quatro guitarras com diferentes tamanhos e encordoamentos e um número variável de violas francesas.
[3] Artur Pinto da Rocha, estudante jurista natural do Brasil, viveu longos anos em Coimbra, tendo-se repartido por múltiplas atividades. Foi presidente do primeiro Orpheon (dado a verificar) e da TAUC, ator amador no Teatro Académico, membro da Sociedade Filantrópica e declamador. Regressou em Brasil onde exerceu atividade forense e onde recebeu a sua TAUC no verão de 1925.
[4] O Tribuno Popular, n.º 3021, de 28 de Janeiro de 1885
[5] Admitindo que era estudante, nos livros de matrículas referentes ao ano letivo de 1880-1881 encontra-se Silvano Alberto Gomes GUERRA, natural de Valongo de Milhais, concelho de Murça, distrito de Vila Real, a frequentar o 3.º ano da FD/UC, que talvez possa ser o nosso regente. Agradecemos ao Adamo Caetano mais esta colaboração.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

QVID TVNAE citado em proposta de resolução parlamentar contra as praxes



Na sequência do Projecto de Resolução n.º 124/XIII/1ª, enviámos aos deputados subscritores a seguinte tomada de posição:


Exm.ºs Senhores Deputados João Torres, Diogo Leão, Ivan Gonçalves e Pedro Delgado Alves:

Os autores da obra «Qvid Tvnae? – A Tuna Estudantil em Portugal», tendo sido citados no Projecto de Resolução n.º 124/XIII/1.ª, desejando contribuir de forma construtiva para que o debate em torno da Praxe Académica seja feito com a urgência e profundidade que se impõem, mas com o esclarecimento e a objectividade necessárias, gostariam de partilhar com V. Ex.ªs as seguintes reflexões:

1. A obra citada por V. Ex.ªs incide sobre um fenómeno cultural que nada deve à Praxe Académica. A partir dos anos 80 do séc. XX, o fenómeno das tunas acompanha de perto a (re)implantação da Praxe, sendo frequentemente protagonizado por actores que se situavam em ambas as esferas (tunas e praxe académica). Esta circunstância, reforçada por um elemento comum, o traje académico (académico, não praxístico), contribuiu para cimentar a ideia errada, inclusivamente nos próprios, de que os fenómenos são indissociáveis, o que não corresponde, de todo, à realidade histórica comprovável. Uma das razões que nos levaram à investigação condensada em «Qvid Tvnae?» foi, justamente, a desmistificação deste erro.

2. Fomos, nos nossos tempos de estudantes, praxistas activos e actuantes nos estabelecimentos de ensino que frequentámos, grosso modo entre os anos de 1985-1995, tendo contribuído, em maior ou menor medida, para o restabelecimento das Tradições Académicas nas nossas instituições.

3. A Praxe Académica constitui, como V. Ex.ªs acertadamente referem no projecto de resolução, um sistema informal de regulação das relações sociais entre estudantes de uma mesma academia, desenvolvido na academia de Coimbra e cristalizado no Código da Praxe da Academia de Coimbra, de 1957, que serviu de paradigma à difusão/implementação a todo e em todo o país daquilo a que se chama actualmente e abusivamente “Praxe” – na maior parte dos casos, com total desconhecimento e desvirtuamento dos fundamentos da mesma.

4. Frequentemente, assiste-se a uma confusão perigosa entre “tradições académicas” e “praxe académica”. Esta representa apenas uma parte daquelas, que englobam um conjunto de práticas e cerimónias que vão muito para além da simples interacção entre “doutores” e “caloiros” – o gozo ao caloiro: referimo-nos, p. ex., a serenatas e a todo um conjunto de iniciativas lúdico-culturais de comemoração do fim de curso/ano lectivo, como a queima das fitas. De forma abusiva, alguns conjuntos de indivíduos têm procurado fomentar essa confusão, rotulando indevidamente de “praxe” o conjunto das práticas tradicionais, numa tentativa de colocarem sob a sua esfera de influência todo e qualquer acto que se pratique usando o traje académico; não é só histórica e culturalmente errado: é, repetimos, abusivo e perigoso.

5. É igualmente errada e redutora a confusão que geralmente se faz entre “praxe” e “gozo ao caloiro”. Se a praxe é apenas uma parte das tradições académicas, o gozo ao caloiro é uma parte menor da praxe, se bem que a que tem maior visibilidade e ampliação no meio social.

6. Temo-nos manifestado de forma pública e veemente, assumindo uma postura fortemente crítica e pedagógica em blogues, conferências e nas redes sociais, contra o estado deplorável a que a praxe e a tradição académicas chegaram, fruto de uma subordinação destas ao gozo ao caloiro, por ignorância dos próprios promotores e “responsáveis”, e onde campeiam invenções a bel-prazer, desmandos, prepotência e ganância de conjuntos de indivíduos que, usando das “prerrogativas” que se lhes são conferidas no contexto ínfimo do gozo ao caloiro, exercem, em nome da praxe, verdadeira coacção física e psicológica (quando não praticam crimes) sobre os colegas do 1.º ano (mas não só), a coberto de uma noção completamente distorcida de “integração”, promovendo a estigmatização dos que (sendo ou não “caloiros”) não pactuam com este estado de coisas, dos que questionam, dos que se insurgem, dos que não se intimidam nem se deixam intimidar. O número de vozes críticas é cada vez maior.

7. Somos a favor da Praxe Académica assente nos princípios e valores democráticos e meritocráticos que lhe subjazem, conscientes de que a própria Praxe foi evoluindo sempre no mesmo sentido da civilização: cada vez menos violenta e humilhante, cada vez mais acolhedora e integradora, promotora de espírito de independência, e não castradora da vontade individual. Somos por uma Praxe que, para ser levada a sério, só pode ser levada a brincar. Repudiamos, como a maioria dos praxistas, todas as formas de violência física, de coacção psicológica ou de extorsão económica.

8. Deploramos que tenha sido necessário chegar-se ao ponto de a Assembleia da República ter de se pronunciar sobre estas matérias, mas compreendemos e apoiamos todas as iniciativas políticas que visem pôr cobro a práticas inaceitáveis e conjugações de interesses que gravitam em torno da Praxe Académica e que distorcem os valores e princípios que enformam as Tradições Académicas reduzindo-as à sua expressão menos interessante e mais dispensável: as praxes.

Cordialmente, apresentamos os mais respeitosos cumprimentos.


Eduardo Coelho, Jean-Pierre Silva, João Paulo Sousa e Ricardo Tavares.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

TUNA - A história por detrás da tradição, por Eduardo Coelho


Palestra dada pelo amigo Eduardo Coelho, co-autor de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal", durante o 1.º TUNx, organizado pela TAFDUP - Tuna Académica da Faculdade de Direito do Porto, e que decorreu na reitoria da Universidade do Porto, a 4 de Dezembro (2015).




domingo, 30 de agosto de 2015

Panegírico a João Paulo Sousa

Hoje o meu panegírico destaca o João Paulo Sousa, conhecido no meio tunante viseense por "o mestre" e que, na verdade, dispensa grandes apresentações públicas, porque um dos nomes cimeiros do fenómeno tunante em Portugal e porventura o maior na cidade de Viriato.

Em 1888, integra a Secção de Fados da AAC e ingressa na E.U.C (Estudantina Universitária de Coimbra) em 1989, com a qual grava os discos “Estudantina Passa” (1989) e “Canto da Noite” (1992).
Em 1991, é fundador da Infantuna de Viseu, e membro do Conselho Artístico até 1995, onde é também Presidente da Assembleia Geral.

Autor e compositor, encontramos os seus temas no “Indo Eu”, disco editado pela Infantuna em 1995 (e onde encontramos a sua voz de solista nos conhecidos temas "Ai, Viseu" ou "A Tua Canção"), bem como  nos CD editados pelo Grupo de Fados, “Toada Coimbrã”, onde se destaca o tema “Balada do 5.º Ano Jurídico de 89”, sucesso maior das baladas de despedida, que eleva o seu nome ao Olimpo do imaginário académico.
É Membro de Honra da Tuna de Arquitectura de Valhadolid e foi membro da administração do portal PortugalTunas.
Membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante, foi orador no II, III, IV ENT - coordenando a organização deste último -  bem como na V e VIII edições.
Em 2002, lança o Livro “10 Anos de Infantuna” onde ensaia os primeiros estudos sobre o fenómeno tunante.
Tem integrado diversos júris em certames por todo país, sendo presidente do Júri do FITUV, em cuja organização participa desde início.
Natural, por isso, encontrar o seu nome entre os autores do "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal", primeira obra nacional sobre o fenómeno, história e evolução das Tunas em Portugal.

Muito mais haveria certamente para dizer, da sua rica e diversificada actividade artística e cultural fora do âmbito das tunas, mas o leitor fica já com uma ideia de estarmos perante outro incontornável da história tunante em Portugal dos últimos 30 anos.

Daria para vários parágrafos contextualizar e explicar o como e quando nos conhecemos. Vai para mais de 2 décadas e atalharia dizendo que, durante longo tempo, éramos algo como "o cão e o gato".
Com efeito, fruto das rivalidades tuneris locais e dos juízos de valor feitos mais na base do "dizem que" ou "parece que", ambos ressentíamos uma certa urticária um para com o outro, isto apesar de, factualmente, nunca termos, nesses tempos idos dos anos 90, privado um com o outro de modo a descartar quaisquer mal entendidos que houvesse.
As rivalidades acirradas entre grupos (ele na Infantuna e eu na Tuna da UCP e Real Tunel) promoveram sempre, deste lado de cá, a ideia de um João Paulo como sendo um sobranceiro "lobo mau" e, certamente, do lado de lá, a ideia de outro sobranceiro garnizé.

Estranho, portanto, que após anos de soslaios juízos mútuos e de, a priori, estarmos irremediavelmente votados a militar em campos opostos (por vezes antagónicos) de actividade tunantesca, viéssemos a firmar uma amizade acima das iniciais e infantis querelas que se alimentavam, no despontar do fenómeno tuneril em Viseu ainda muito imaturo.
Estranho, fundamentalmente, em alguns sectores dos nossos respectivos círculos de amigos e grupos tunantes, onde cada um estava já devidamente rotulado e catalogado. Mas a verdade é que o tempo e a maturidade adquiridas trocaram as emancipações pueris por uma visão mais ecuménica, levando a uma paulatina aproximação entre "facções", dos nossos grupos, sobrepondo-se as amizades que existiam, e eram comuns, às desconfianças e rótulos precipitados ou inadequadamente atribuídos.


E essa aproximação, iniciada nos ENT, teve como epílogo o contexto do "Qvid Tvnae?", quando, com o Ricardo Tavares, e sem hesitar sequer, apontámos, cada qual, a pessoa que melhor completaria a equipa para a aventura de investigar e publicar um livro sobre a origem e evolução da Tuna; o Ricardo com o nome do Eduardo Coelho e, da minha parte o João Paulo.

Uma amizade que traz em si uma importantíssima lição de vida, quanto a emitir juízos de valor dogmáticos sobre outrem, sem o conhecer pessoalmente (coisa que implica tempo, contacto e convívio regulares). Se muitas vezes as primeiras impressões são acertadas, muitas outras são passíveis de redundar em erro. Foi o caso. Ainda bem, contudo, que tal lapso foi remediado e que tenho a honra, privilégio e alegria de ter o João Paulo como um grande amigo; uma amizade forjada a ferro e fogo, e de que muito me orgulho. Por vezes é mesmo bom realizarmos que estávamos errados e espero poder continuamente compensar a nossa amizade por anos de pueril desperdício.




João Paulo Sousa nunca foi uma pessoa consensual, fruto da sua inquebrantável firmeza de convicções, da sua coerência e da sua desarmante  frontalidade (num tempo onde se troca tão facilmente isso por hipócritas meias tintas). Há quem não goste dessa verticalidade, mas muitos, como eu, admiram esses traços de carácter e preferem a honesta franqueza a camaleónicas prestações teatrais, independentemente da forma.
E os grandes homens dificilmente são consensuais; conheço poucos, aliás. E os grandes não têm de ser perfeitos, mas as suas virtudes e qualidade superarem, de longe, as suas imperfeições, como é o caso.

Este meu encómio ao JPS é igualmente um tributo à amizade que se conquista, o reconhecimento do seu percurso como Tuno (quando tal nem sempre é assim visto por outros mais devedores), como figura de proa do negro magistério e um agradecimento muito pessoal por aquilo que também sou, graças a ele.





sábado, 7 de fevereiro de 2015

Qvid Tvnae - Entrevista na Radio Alma Lusa


No próximo domingo (já amanhã), estarão, na Hora Tunante os autores de QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal.
Não percam mais um programa onde se irá abordar esta inédita obra que estuda e explica a origem e evolução desta grande tradição musical no nosso pais. Hora Tunante, das 19h as 21 hora de Portugal, na Rádio Alma Lusa.

Clique na imagem para aceder ao site da rádio e emissão em directo.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Panegírico a Ricardo Tavares

Não deve haver, no meio tuneril português, pelo menos, quem não conheça o Tavares, Ricardo Tavares, o nosso estimado "Sabanda".
Personagem singular pelo seu percurso ímpar no meio tuneril português, faz parte daquele punhado de tunos que perpassa gerações e cujo percurso tunante é ele próprio património tunesco nacional.

Foi fundador da TAULP, com a qual gravou “TAULP” (1993) e “Luar da Ribeira” (2000), com alguns temas da sua lavra, estando igualmente na organização das 12 primeiras edições do certame da referida Tuna.

Produtor e apresentador do primeiro programa radiofónico inteiramente dedicado a Tunas, "Noite de Tunas"(anos 90), é  Templarium Honoris Causa da Tuna Templária de Tomar e Tuno de Honra da Tuna Universitária de Beja, tendo recebido, igualmente, a beca da Tuna de Direito de Oviedo, da Tuna de Ingenieros de Telecomunicación de Valência e da Tuna Cautitlan (México).

Em 2003, cria, em co-autoria com o José Rosado e Hélder Passos, o PortugalTunas, administrando o portal desde essa altura até hoje e, assim, imprimindo, com igual destaque e qualidade, o seu nome no mundo digital  - participação que se tornará reforçada através dos seus escritos nos blogues “As Minhas Aventuras naTunolândia” e “Portvscale Tvnae”, dedicados ao fenómeno tunante, onde, uma vez mais, espelha a mestria com que esgrima argumentos e faculta ao leitor as pistas para melhor perceber e entender o que é isso de Tunas.


Em 2005 funda a Tuna do Distrito Universitário do Porto, tornando-se no seu 1.º Magister e comprovando, com esse projecto de sucesso, toda a competência e saber que lhe são inteiramente reconhecidos em Portugal e além fronteiras. Aliás, e sem desprimor para nenhum dos demais elementos fundadores da TDUP que com ele edificaram esse projecto, não há como negar que grande parte desse brilho emana das qualidades humanas e tunantes emprestadas por Ricardo Tavares (conhecido igualmente no meio tuneril como "Sabanda"), cujo recente CD , com título homónimo, (lançado a 31 de Outubro), bem como o projecto do seu 1º festival, o "Vintage", evidenciam, também, o seu toque de Midas.

Resultado desse reconhecimento como homem que sabe destas coisas de Tunas como poucos, foi orador convidado para o II, III, IV, VI e VIII e IX ENT, e integrou diversos júris em certames por todo país (assinalando-se que muitos dos regulamentos hoje utilizados nos certames derivam daquele que ele lavrou há uns anos largos).

Membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante, consagrou, em co-autoria com Eduardo Coelho, João Paulo Sousa e comigo próprio, todo esse património vivenciado e investigado, na, até agora, única obra de referência sobre Tunas em Portugal, "QVID TVNAE? A Tuna Estudantil emPortugal", editada em 2011-12.
Mais recentemente, torna-se membro colaborador da associação internacional "TVNAE MVNDI".

Também aqui, o papel pedagógico que teve ao longo de anos revela a têmpera de quem tem um olhar arguto, holístico e perspicaz do fenómeno tunante e nunca se coibiu de riscar a direito onde tantos preferiram o nacional-porreirismo dos riscos enviesados ou oportunas borrachas.

Um currículo invejável que demonstra enorme versatilidade e uma preocupação em conhecer e perceber o que se pratica e faz, precisamente para fazer bem e, consequentemente, bem fazer.
Não tenho de todo de ser isento, até porque nem é preciso: a obra fala pro si própria, mas não posso deixar de acrescentar que faz parte daquele círculo muito restrito de fraternos e fiéis amigos que só elegemos face a pessoas muito especiais.




Esta minha homenagem certamente que pecará por defeito, mas importa que se faça, para memória futura (e porque as homenagens se fazem em vida), para que se perceba da grandeza e importância que este grande Tuno tem na história recente da Tuna em Portugal, porque falar de Tunas em Portugal é falar de Ricardo Tavares, é falar de uma personagem a quem muito deve a defesa da Tuna como património a (re)descobrir e a promover na sua genuína tradição.

Num país onde todos só são consensualmente bons depois da morte, fica esta homenagem merecida e o reconhecimento devido, em vida, por mais que isso possa melindrar os que são pouco dados a respeitarem e reconhecerem a grandeza alheia, em razão da sua miopia de carácter.

Hoje, Ricardo Tavares está retirado da vida mais activa dos palcos, mas com novos projectos tunantes, sem esquecer que continua a investigar e a pensar a Tuna (actividades que fazem igualmente parte do magistério tunante).

Saúde, caro amigo!

sexta-feira, 2 de maio de 2014

II Congreso Iberoamericano de Tunas, Múrcia 2014 - Palestras portuguesas

As gravações das duas palestras sobre a história e evolução do fenómeno tunante em Portugal.







domingo, 27 de abril de 2014

II Congreso Iberoamericano de Tunas, Múrcia 2014 (Rescaldo)

Um congresso que serviu para dar a conhecer a realidade e história do fenómeno tunante português, rever velhos amigos, fazer novos e estreitar laços.

Uma experiência inesquecível.


















sábado, 26 de outubro de 2013

QVID TVNAE no programa Capa Negras da Rádio Tomar (2013)

Entrevista aos autores de "QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal" - Programa Capas Negras (Rádio Tomar), durante o XXII FESTUNA de Coimbra, a 6 de Outubro, 2013.

Entrevista conduzida por José Rosado.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

QVID TVNAE recomendado por Marcelo rebelo de Sousa

O livro "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal" recomendado pelo Professor Marcelo rebelo de Sousa, na sua rubrica do noticiário de domingo da TVI.

Programa transmitido a 20 Outubro 2013







segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Qvid Tvnae? - Apresentação no Porto (Rescaldo)

Num ambiente muito familiar, foi apresentado, no passado dia 23 de Novembro (2012), no Porto, a obra "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal".
A apresentação da obra ficou a cargo do amigo, Prof. doutor João Caramalho Domingues.

Disponível gratuitamente aqui:https://drive.google.com/file/d/1HnbZrKgcb7zhwoD9KApuA9UogUvmwLew/view?fbclid=IwAR1q7d6lRQDq5bg6ZfrRnqulW9BvCToWH6K-FRG2njGG4SbezbGaaE_-um4

Aqui ficam algumas imagens.













domingo, 28 de outubro de 2012

Qvid Tvnae? na AAOOUP no XXVI FITU do Porto, 2012


Apresentação do livro "Qvid Tvnae?" na Associação dos Antigos Orfeonistas do OUP, integrada no XXVI FITU do Porto, a 13 Outubro de 2012.

A apresentação coube, uma vez mais, ao nosso dilecto amigo, prof. doutor João Caramalho Domingues.

Disponível gratuitamente aqui:https://drive.google.com/file/d/1HnbZrKgcb7zhwoD9KApuA9UogUvmwLew/view?fbclid=IwAR1q7d6lRQDq5bg6ZfrRnqulW9BvCToWH6K-FRG2njGG4SbezbGaaE_-um4