sábado, 23 de novembro de 2019

As Tunas e Estudantinas mais antigas do mundo.

Já em 2017 tinha sido apresentada, na revista Legajos de Tuna, n.º1, uma relação das mais antigas tunas/estudantinas em actividade, no mundo.

Ficava provado que Portugal é um museu vivo da tradição tuneril, com a mais longa tradição ininterrupta de grupos em actividade, fosse no meio civil ou académico.
Por mais que isso melindrasse um certo tunamundista de pacovia, a verdade é quem quiser encontrar evidência histórica e exemplos de tradição mais genuína, era em Portugal que tal se podia contemplar.


Mais recentemente, tal lista foi actualizada, na obra "A França das Estudiantinas" e, uma vez mais, se confirma que, apesar da tradição ter nascido em Espanha, o estudo do fenómeno não pode omitir nem fazer-se sem passar pela evidência de que é fora de Espanha e do arco hispano-americano que parte essencial da investigação e da construção da narrativa se faz - e que conceitos tuneris não podem edificar-se passando ao lado de tal património e de uma legitimidade atestada(e incontestável, sublinhe-se), como sucede com Portugal, França, Suíça, Bélgica ou mesmo a Itália, muito menos por parte de pseudo-organismos que ostentam a designação "Mvndi", mas apenas elegem o mundo que lhes convém.

A Tuna/Estudiantina não se resume ao contexto hispano-americano, nem sequer ao ibero-americano.
E muitos menos se resume e diz respeito apenas ao foro académico - e ainda menos ao universitário (ao contrário do que dizem certos puristas tunomundeiros).
A Tuna nasceu no contexto popular. Foi com as "estudiantinas", essas comparsas carnavalescas, que tudo começou.
Foram, de facto, os estudantes que catapultaram o fenómeno, mas a reboque; e não são nem os seus donos e muito menos os proprietários exclusivos da res tvnae.
Não, a Tuna não é um fenómeno exclusivamente estudantil, e muito menos universitário.
A documentação histórica prova-o cabalmente. E mais do que a documentação, as provas vivas de tunas/estudantinas centenárias  (civis e académicas) atestam isso. E contra factos, não há argumentos.

Nota: existe um lapso no que se refere à Tuna Académica do Lice de ´vora, cuja fundação é de 1900.

In SILVA, Jean-Pierre -  "A França das Estudiantinas, Francofonia de um fenómeno nos séc. XIX e XX". CoSaGaPe, 2019, pp. 191-192.



quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Cartazes sem Tuna



O título é provocador, mas a intenção é precisamente essa: pôr as pessoas a criticamente reflectir.
É uma opinião, e vale o que vale; mas assenta na constatação.

Quem prestar alguma atenção à iconografia presente nos cartazes de encontros/festivais/certames de Tunas em Portugal, certamente que já se terá deparado com uma imagética cuja qualidade é indesmentível do ponto de vista do design e do trabalho por detrás da concepção desses mesmos cartazes.

Está na moda, de há uns larguíssimos anos a esta parte, criar cartazes baseados em trabalhos que são alterações a cartazes de filmes, séries e afins.
Também está na moda pôr em evidência temáticas diversas, através das imagens/desenhos de vária índole (locais emblemáticos, referências históricas....), procurando "tunalizá-las" (ou, pelo menos, usá-las em benefício do "marketing tuneril" - nem sempre alinhadas com as comuns regras publicitárias).
São evidências.

Mas, no meio disto, há um enorme senão.
Passando o olhos por muitos desses cartazes (belíssimos trabalhos do ponto de vista do design e mestria na área do desenho e modulação de imagens), algo salta imediatamente à vista: pouco ou nada (quase sempre nada) referente à Tuna em cada vez mais cartazes que se vão produzindo.
Há cartazes que se não tivessem escrito "Festival/Encontro de Tunas" e tivessem a info escrita das tunas participantes, em nada situariam o evento no mundo tuneril.
De tanto se querer "inovar", chega-se ao ponto de despir o cartaz da iconografia essencial: a Tuna.
Do ponto de vista das regras publicitárias, poderíamos dizer que tal retira eficácia. Do ponto de vista estritamente tuneril....... porventura também.

E, verdade seja dita, tal só nos empobrece.
São cada vez menos os cartazes cuja imagem, cuja iconografia remete directamente para Tunas.
Tirem a componente escrita e o cartaz deveria, ainda assim, passar a mensagem de que se trata de Tunas. Mas a verdade é que, quase sempre, o que fica, retirado o "lettering", é algo sem sentido algum neste contexto, sem qualquer identificação à res tvnae.

E independentemente do facto do certame possuir uma designação própria (referente a uma cidade, uma personagem histórica...), a iconografia deveria sempre ter a Tuna em destaque, porque o desenho não é cartaz do posto de turismo, produto de uma empresa qualquer, headline de bilheteira de cinema ou associação de defesa do património.
De tanto se querer inovar, a Tuna é muitas (demasiadas) vezes omitida, como se ao serviço avulso de um conceito subliminar.

E quando não temos imagens totalmente despropositadas com o mundo tuneril, temos muitas outras a centrar-se em generalidades que também não são inequívocas (desenhos com guitarra ou notas de música, com imagens de fado/fadistas, estudantes trajados), porque servem igualmente a outros (fado, tradições académicas/Praxe, Música/grupos musicais de todo o tipo....), pese embora mais próximas (e melhor que o "nada a ver" que cada vez mais vemos).

Claro que ainda vamos tendo cartazes com imagens (fotos) de tunas em destaque, e ainda (mas já mais raros, com desenhos alusivos directamente à Tuna/Tuno). Valha-nos isso!
Mas são cada vez mais os cartazes onde nada, mesmo nada, remete para aquilo que estão a promover e o contexto em que se situam.
Não apenas do ponto de vista formal, em termos publicitários, deixa a desejar, mas pouco contribui para a promoção da comunidade, creio.



Em Espanha, os cartazes de eventos tuneris primam por pôr em evidência, na sua iconograifa, o universo tuneril; e o desenho/pintura ainda é uma arte muito acarinhada para representar o mester tunante (sendo algumas peças verdadeiras obras de arte).


O que tem vindo a desaparecer é o desenho propriamente dito, criado expressamente para o efeito.Desenho de tunas, de tunos. Ainda os há, mas parecem em extinção. E não é por falta de talento, estou seguro.
São opções. Mas são opções benéficas? O leitor que ajuíze.

Por oposto, no país vizinho (e não só), há uma aposta forte no desenho, 
 sinal de que ele ainda tem a sua importância - e com maior probabilidade de sobreviver no tempo (e se tornarem peças de referência e de colecção).

Depois dos atropelos cada vez mais constantes no que respeita aos instrumentos próprios à Tuna, parece que o tema do cartazes evidencia, também ele, um sintoma de que algo precisa de ser repensado, creio, face ao que, em muitos casos, consubstancia um afastamento cada vez maior da Tuna em relação a si mesma, correndo o risco de desenraizar a sua identidade, diluindo-a em sofismas evolutivo-coiso por força de modas que a Tuna tem, supostamente, de acompanhar e responder.

O risco é que possamos  ter cada vez mais "Tunas de lettering", cuja imagem e o que delas se observa, de facto, se distancia cada vez mais da matriz que as enquadra, legitima e alimenta.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Livro- X Anos da RaussTuna de Bragança


Foi recentemente publicado uma autobiografia da RaussTuna a propósito dos seus 10 anos de história.



Uma obra que se saúda, pois contribui, também ela, para a memória da comunidade.
Com a designação "A Tuna - Uma Década de Histórias", a obra foi lançada a par com um CD também ele com o mesmo título, contendo 10 temas do grupo.

Esta monografia, da lavra de Bruno Miguel F. Gonçalves, retrata o percurso, histórias e episódios que a  RaussTuna vivenciou desde a sua fundação até aos dias de hoje.


Como se organiza, os seus protagonistas, as suas indiossincrasias, trabalhos discográficos, temas e actuações, são assuntos abordados num livro com pouco mais de 400 páginas em formato A5.

Se alguma crítica pudéssemos apontar é para uma obra excessivamente volumosa (há livros com narrativas tunantes de mais de um século, como a TALE, a TAUC ou próprio Qvid Tvnae) que não têm essa quantidade de páginas), mas ficam narrados, de maneira mais pormenorizada e exaustiva, o que foram estes 10 anos de  rica actividade.
E o livro não desilude, quando toca a narrar essa viagem pela sua década de existência.

Se algo gostaríamos de ter encontrado, era um intróito ao contexto tuneril em que a RaussTuna nasceu, procurando retraçar o meio/panorama tuneril local em que surgiu, e, eventualmente, ter até ido mais longe, tentando, do arquivo/hermeroteca municipal, trazer à liça  alguns dados históricos sobre a tradição tuneril de Bragança (ligada aos liceus e colégios locais e da região[1]), como sucedeu com o livro "10 Anos de Infantuna"[2].

Seja como for, é um livro que enriquece o património bibliográfico da tuna portuguesa e pelo qual está de parabéns a RaussTuna, um jovem tuna com 10 anos, mas já com muito andamento.

NOTA:  Um agradecimento à RaussTuna pelo envio generoso de um exemplar da obra e CD evocativos da efeméride do seu X aniversário.




[1] Em Torre de Moncorvo, em inícios dos séc. XX, há uma estudantina/tuna do Colégio de Santo António. Vd. SOUSA, Fernando - Moncorvo. Da Tradição à Modernidade. Edições Afrontamento. Porto, 2009, p.54.
[2] SOUSA, João Paulo - 10 Anos de Infantuna.  Palimage, 2002.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Livro - A França das Estudiantinas


Uma obra publicada em Outubro deste ano de 2019, e que aborda uma realidade até agora inexplorada, ao longo de mais de 200 páginas em formato A4.
O fenómeno das estudiantinas no território francês, mas igualmente nas suas antigas colónia e na francofonia.

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Mais de meio milhar de grupos detectados só em França (fora os demais países), com cerca de 300 documentos iconográficos a acompanhar, este é um livro inédito que revela um pouco mais sobre o amplo movimento que constituíram as orquestras de plectro com a designação "estudiantina" (que não se confinou à esfera Ibero-Americana nem sequer ao meio estudantil) em todo o mundo.

Feita breve nota à origem das estudiantinas, inicia o percurso pela presença (numa listagem por anos e locais visitados) da presença de estudiantinas españolas em França (trabalho pioneiro nesse capítulo), seguindo depois pelos primórdios dos grupos e apresentando o conceito musical que cedo balizou o significado de "estudiantina" como grupo musical com características próprias e como tipologia objectivamente circunscrita.


 

Posteriormente (e após abordar as muitas centenas de festivais musicais locais, nacionais e internacionais de/ com estudiantinas), apresenta, naquilo que será um segundo grande capítulo, a lista de evidências, por anos, encontradas de grupos com a designação "estudiantina" (desde a década de 1880 até finais do séc. XX).
Ainda neste grande capítulo, o tema do reportório e da discografia.

Uma terceira parte poderá englobar o caso das antigas colónias (especialmente do Magreb, embora chegue até ao Vietnam ou mesmo ao Canadá), o que alarga os horizonte e as balizas do que, até agora, se pensava ser o alcance do fenómeno.


O epílogo faz um súmula e apresenta números, por países, a par com alguns outros dados estatísticos (que não enfadam), e estabelece a ligação existente entre grupos apelidados de "estudiantina" e outros que, apesar de terem outras designações, fazem
parte da mesma família (tratando-se do mesmo embora com nomes diferentes).
Importante, também a lista que elenca, até inícios do séc. XX, os mais antigos grupos (Estudiantinas/Tunas) ainda em actividade - onde claramente se verifica que Portugal e França apresentam a mais antiga tradição ininterrupta.