terça-feira, 28 de junho de 2016

A TUNA EM PORTUGAL - pré-existências populares

A TUNA EM PORTUGAL - pré-existências populares


Não podia deixar de partilhar estes dados que encontrei recentemente e que parecem fazer recuar o aparecimento das primeiras estudantinas/tunas, de cariz popular (note-se), bem mais atrás do que se pensava e anteriores ao efeito polinizador da Estudiantina Española de 1878 e da Estudiantina Fígaro que se lhe seguiu.
A referência, no 2.º excerto, a uma tuna de estudantes por volta de 1868 é deveras interessante também.
Partilho aqui 2 excertos de dois textos que são, por si só, verdadeiras pérolas arqueológicas referentes a tunas do Concelho de Santa Maria da Feira e que são, até agora, as mais antigas referências a Tunas em Portugal.

SOBRE A EXISTÊNCIA DE TUNAS populares ANTERIORES A 1878 (ano da visita da Estudiantina Fígaro a Portugal):


"O concelho da Feira durante o século XIX foi impulsionador no aparecimento de várias formações musicais , estando a nossa localidade [Paços de Brandão] como a quarta em que criou a sua tuna , sendo a mais antiga a de Arrifana ( 1803 ) , seguindo-se a de S. M. de Souto ( 1834) , a Tuna do Soqueiro 1839 , a ESTUDANTINA em 1870 , a Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas em 1877 e da Tuna Mozelense em 1879. (...)"

Obviamente que este é um testemunho indirecto e precisa ser filtrado.
Seguramente que existiram grupos musicais em 1803, 1834 e 1839, nas localidades referidas, mas não teriam ainda, nessa altura, a designação "estudantina/tuna" - termos que ainda não tinham entrado para designar tais agrupamentos.
O que sucede é que os que viveram as últimas décadas do séc. XIX referiam-se aos grupos anteriores com as designações entretanto em voga (recordar que a palavra "tuna" só começa a surgir, em Espanha, a partir de ca. 1870).
Os grupos de inícios do século XIX eram antes conhecidos, em Portugal, por charangas.

Nota: a Tuna Musical Mozelense (ainda em actividade) coloca a sua fundação formal em 1890, pelo que a referência a 1979 será a da sua formação primitiva (muitas vezes as tunas derivavam das "Charangas").


Tuna Mozelense em 1934


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 Charanga da Estudantina de Paços de Brandão, em 1893.
(Publicada por Eduardo Rocha em bardodafina.blogspot.pt)
Tuna de Paços de Brandão, fundada em 1870. Ano de 1896
(Publicada por Eduardo Rocha em bardodafina.blogspot.pt)
Troupe (tuna) Brandoense  de J. A. da Rocha, em 1908

Tuna "Nova" de Paços de Brandão, ca. 1910

SOBRE A TUNA "VELHA" DE PAÇOS DE BRANDÃO (mais tarde apelidada de "Tuna Nova", que reactiva a antiga, em 1910):



"A NOSSA TUNA VELHINHA ( 1870-1908 )

Falar da nossa Tuna com dados e datas certinhas , é uma tarefa difícil hoje. Naquele tempo quem saberia ler ou escrevinhar? E dos que sabiam , quem arquivaria algo por escrito ? Apesar da escola primária para rapazes ter sido criada em 1856 , poucos foram os que se iniciaram na aprendizagem , pautando os filhos dos mais abastados , e os da maioria, camponeses ou operários , começavam muito novos a labutar e pouco entusiasmados em aprender a ler ou em escrever. Houve sempre gente curiosa que guardou em agenda ou papeis pessoais certos apontamentos , onde familiares guardaram-nos religiosamente em gavetas , felizmente ficaram longe de velhos bisbilhoteiros. Talvez fosse desses amarelados papeis ou arquivos que chegaram aos nossos dias duas datas : 1870 e 1895. As primeiras alusões escritas da existência duma Orchestra datam de 1896 em artigos dos jornais regionais da Feira e de Espinho , e , de actas da junta de freguesia de 1882 e 1892 , onde na primeira é “ referida a existência dum grupo de locais que adquiriram instrumentos para a Troupe Musical “ e a segunda do pedido da “ criação duma mini Academia de ensino de musica ,consignados por acção de Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo , por autorização do pároco José Castelão e dos membros da junta , Joaquim Rosas e Francisco da Ferreira , ambos membros da dita junta e membros da Troupe “. Por via oral os testemunhos de Aires de Sousa e de Lúcia Rocha , confirmaram por relatos de seus parentes , que esta tuna se denominava de Estudantina. Fora fundada no reinado de Dom Luís , por influencia do Padre José Henrique , pelo feitor da casa da Portela, ti Francisco Rocha ( tio de Joaquim Alves da Rocha ) tocador de violino e por outros entusiastas , onde se encontravam , Augusto Pinto de Almeida, dono da dita casa , formado em Direito e executante de violão. Se existe verdade nisto , não será por acaso a sua denominação de Estudantina, entusiasta que era o Augusto , diziam que “ no dia da sua formatura em 1868 trouxera a esta terra uma tuna de estudantes , que por arrasto converteu os músicos locais que já tocavam em Charangas e teriam conduzido á criação desta tuna “. Na bandeira velhinha está escrita o ano de 1870 : será a data oficial da sua fundação? (...)"


Fonte: Eduardo Rocha in FB "De NOME Brandão" e Blogue "bardodafina"
Consulta adicional:
Site da Academia de Música de Paços de Brandão


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Recordemos que as tunas mais antigas do mundo EM ACTIVIDADE são todas portuguesas, quer as de cariz popular quer estudantil, embora também existam fora de Portugal (nomeadamente Bélgica e França):

1870 - Estudantina - (muda o nome para Tuna Brandoense, em 1910);
1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas;
1890 - Tuna Mozelense;
1892 - Estudiantina Biterroise (França);
1888/1894 - Tuna Académica da Universidade de Coimbra (embora a própria tuna coloque a sua data de fundação em 1888, como herdeira/continuadora da Estudantina de Coimbra). Pasa a aceitar muloheres em 1960;
1896 - Estudiantina Chalon (França);
1900 - Tuna Académica do Liceu de Évora (passa a mista em 1957);
1905 - Estudiantina La Cigale (França);
1912 - Estudiantina de Mons (Bélgica); e Tuna Operária de Sintra (Portugal)


Tuna Esperança em 2012



Tuna de Óis da Ribeira e 1930-31


Tuna Souselense em 1910



Tuna de São Paio de Oleiros em 1956




Tuna de Tavarede em 1915


Tuna de Tavarede em 1933

Tuna de Tavarede em 1946

Tuna Mouronhense em 2015






segunda-feira, 20 de junho de 2016

O termo Magister nas Tunas

"Magister" .
Um termo que, contrariamente ao que seria de esperar, não tem sido entendido nem empregado de forma transversal nas nossas tunas.
Longe de mim impor seja o que for, mas creio pertinente fazer a devida reflexão sobre o uso mais ou menos apropriado do termo, pois mais do que tudo, parece-me de todo incoerente e pouco abonatório que uma mesma comunidade não atribua o mesmo significado a termos e definições que fazem parte da sua cultura quotidiana.
Mas quando é que tal termo entra na gíria tunante?
Ao que sabemos, surge no nosso meio tuneril, a partir dos anos 80, no Porto, por mão TUP.

Sobre isso nos diz Eduardo Coelho que

"Na TUP, por força da estrutura organizativa interna do OUP, o Magister nunca teve funções executivas (do tipo "presidente"). Era o elemento de ligação entre a Direcção e os elementos da tuna, à semelhança dos responsáveis de qualquer outro grupo do OUP. A nível interno, para os tunos, era uma espécie de "dux" (custa-me usar o paralelo, mas talvez se perceba melhor), cabendo-lhe funções de porta-voz e representatividade, uma certa preeminência e precedência protocolar e, enquanto responsável de grupo, um certo ascendente disciplinar nos termos dos estatutos do OUP.
 Não era necessariamente o director musical/regente artístico (no meu caso, assim foi durante algum tempo). Em minha opinião também devia ser, mas se não for não vejo inconveniente."

Como podemos verificar, o uso do termo não recaiu sobre o regente, por força de uma incompatibilidade de organização interna do OUP (de que a TUP era um dos muitos grupo).
Mas o que significa, ou deveria significar, "Magister", de facto?


Atendendo ao significado histórico e linguístico, no âmbito musical e artístico, designará o maestro (ou regente de orquestra).
Embora o termo pudesse, na época romana, designar muitas outras funções (magister equitum, officiorum, Militum palati......), o único que dele deriva no âmbito artístico e musical é maestro.
Significa, pois, que, no contexto musical, e sucedaneamente no tunante (a Tuna define-se no estrito contexto musical e em mais nenhum outro), magister, maestro, ensaiador, director musical, regente são designações sinónimas que apontam para as mesmas funções.
Recordemos que o termo Maestro vem de Magister e que maestro é o único termo daí derivado que se aplica ao âmbito musical (porque há outros).
O maestro é quem ensaia e dirige musicalmente um grupo.
 Não fará, porventura, muito mais sentido, que tal termo designe quem tem efectivamente a função de ensaiar numa tuna (que é um grupo musical), ao invés de designar o presidente da tuna, como acontece em muitos casos?
É um reflexão que se pode, e deve, fazer.
Hhistoricamente, as tunas organizam-se em dois planos: o plano administrativo, composto por Presidente (e, por vezes, vice-presidente), tesoureiro, secretário, vogais, e, depois, o plano artístico, com um maestro/regente, a quem competia ensaiar.

Pretender que a designação Magister Tvnae se aplica inequivocamente àquele que manda é falacioso, dado que é emprestar a "magister" uma significância que embora possa ter, não é do domínio musical a que a tuna pertence.
Creio que um dos erros de concepção está em pretender ler o termo "Magister" não apenas fora do âmbito a que a tuna pertence, mas procurando depois o seu significado original latino também fora dessa área. Ora o que deve ser feito, neste caso, é precisamente o percurso inverso, começando na fonte, percebendo que o termo derivou para várias áreas e designações e procurar aquela que está dentro do espaço a que a tuna pertence: a música.
É que tornar mais ou menos arbitrário o uso de "magister", porque alguns entendem que tem igual "legitimidade" para designar o presidente, aquele que manda...... então é achar que empregar "magister"  tem tanto cabimento e é equivalente (sinónimo) a aplicar "Dux Tvnae", "César Tvnae", "Rex Tvnae", "Consvl Tvnae", "Praetor Tvnae" ou "Generalis Tvnae".


Naturalmente que as Tunas decidem como organizarem-se internamente, e este artigo mais não serve do que para a devida reflexão.
O que não "bate certo" é numa mesma comunidade o mesmo objecto ter entendimentos tão diferenciados, lembrando uma época mais distante em que cada um definia a própria Tuna como lhe dava na real gana.
O que creio ser importante, levando a questão para um plano mais amplo, é que as tunas procurem, agora, fazer o caminho inverso encetado há 25/30 anos, quando se adotpou uma miríade de nomenclaturas romanceadas para as hierarquias e funções na Tuna (algumas sem qualquer nexo, a bem dizer - e contra mim falo), em igual paralelismo com o que sucedeu com organismos e hierarquias praxísticas, porque a Tuna não é tertúlia, não é sociedade secreta ou milícia praxístico-musico-coiso nem trupe-académico-medievalo-coisa-e-tal. Tuna é um grupo musical, ponto.

"Lesse is more" parece-me a receita.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Cartazes plagiados

Já foi bem mais corrente no passado, contudo ainda ocorre, pontualmente, a cópia de cartazes ou de itens tirados da net e plasmados nesses mesmos cartazes (o que até nem seria tão evidente, não fosse eventos diferentes copiarem os mesmos, sem procurarem ver se já tinha sido utilizado).
O problema das imagens avulsas extraídas da net é que na maioria dos casos, não consta a autoria do desenho (ou perdeu-se no processo de plágios sucessivos), dificultando a atribuição dos devidos créditos (ou mesmo evitar o uso).

Mas torna-se certamente mais grave quando o plágio é quase directo entre cartazes cujo desenho original pertence a uma tuna organizadora.
O caso mais recente foi o que sucedeu com o cartaz do I PesqTuna, em São João da Pesqueira, cujo cartaz é plágio do original pertencente à "TransmonTuna" da UTAD. Mais grave ainda quando esse cartaz acaba, depois, reproduzido no sites de organismos oficiais locais.







O plágio é crime, como todos sabem, mas antes de mais um crime moral e um desrespeito pelo trabalho alheio.


Cartaz do II RUPESTUNAS, organizado em 2012 pela Associação Juvenil Gustavo Filipe (sediada em Foz Coa - Guarda), contém uma figura copiada ilegalmente e sem consentimento.

Como poderão verificar no cartaz, a figura/imagem em causa, representando um Tuno a tocar, é pertença da ANTÚNIA.


O uso de um desenho bastante comum na net e que nem sequer corresponde a tuna, mas a grupo de fados de Coimbra.


Mais um item copiado da net e replicado em diversos cartazes.

O uso indevido do logo da TAFUL.



A cultura de respeito pelos direitos autorais é algo que ainda tem muito caminho para fazer.
No caso estrito das Tunas, um caminho que não passa apenas por cartazes, mas igualmente pela execução ou publicação de temas de terceiros que não são devidamente identificados como tal.



São casos a que se deve prontamente acudir, alertando e fazendo o devido reparo a quem prevarica (e acredito que, na maioria das vezes, por incauta ingenuidade) ou, em última instância, accionando os mecanismos de defesa dos direitos autorais para que se faça justiça.

sábado, 11 de junho de 2016

Partiu o Tó Zé, sem avisar.

Estou incrédulo. Faleceu repentinamente o meu amigo António Gomes Santos, companheiro de estudos (embora de outro curso) na UCP, companheiro de farras, colega no Orfeon Académico, na Associação Académica e na Tuna....... um amigo, antes de mais.
Demasiado novo, deixando filhos pequenos.......que injusta partida....um choque.
Faltam-me as palavras................


Descansa em paz.