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terça-feira, 3 de setembro de 2019

Comunidado de Apoio a um Investigador da Tuna

Terça-feira, 03-09-2019.

COMUNICADO DE APOIO A UM INVESTIGADOR DA TUNA:

Nos últimos dias, tivemos conhecimento de um conjunto de factos lamentáveis que merecem todo o nosso repúdio. O protesto legítimo perante uma situação injusta, feito em privado, por parte de um dos mais antigos e prestigiados investigadores da História da Tuna, e a exigência que fez de que lhe fosse apresentado um pedido de desculpas público deram lugar a uma grotesca campanha de assédio ao investigador visado através das redes sociais.

Ao publicar no Facebook um texto no qual se esquiva às responsabilidades e, portanto, sem apresentar as desculpas devidas, a outra parte implicada – a saber, Félix O. Martín Sárraga – deu origem a que mais de uma dezena de indivíduos tenham enviado mensagens insultuosas ao agravado.

Assim, nós, os investigadores abaixo assinados, manifestamos por este meio o nosso apoio ao nosso companheiro, assim como o nosso repúdio à forma de actuar do Presidente de Tvnae Mvndi ao longo do tempo, neste e noutros casos, nos quais distorce a verdade a seu favor, sem reconhecer os seus muitos e reincidentes erros de forma e conteúdo.

Assinado:
Ramón Andreu Ricart
José Carlos Belmonte Trujillo
Eduardo Coelho
Juan Antonio Díaz Sánchez
Fernando Fernández Martín
Jean Pierre Silva
João Paulo Sousa
Ricardo Tavares
Héctor Valle Marcelino

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Estudiantina Clásica Española em Paris, 1900.


O labor investigativo leva-nos, forçosamente, a "tropeçar" em informações que, nem sempre sendo o âmbito da nossa pesquisa, não deixam de ser pertinentes e podem ajudar a complementar o trabalho de outros investigadores, numa partilha colaborativa própria à comunidade de investigadores da Tuna.

É o que sucede, neste caso, com a dúvida levantada por Félix O. Martín Sárraga, no seu artigo "La Estudiantina Clásica Española anunció su visita a la Exposición Universal de París de 1900 pero no hallamos pruebas de que lo hiciera", publicado em Tvnae Mvndi, em Agosto de 2018.

Pois bem, ficam desfeitas as dúvidas e confirma-se, de facto, de tal estudantina, anunciada como "Estudiantina Clássica Espanhola, grupo Escolar com representação de todas as universidades de Espanha" esteve em Paris, no ano de 1900, inserida na Exposição Universal desse mesmo ano[1].

Esteve presente ao longo de todo o mês de Outubro, em diversos locais da capital, como o ilustram os seguintes recortes da imprensa da época.

(Le Figaro, n.º 274, de 01 de Outubro de 1900, p.5)

(Le Figaro, n.º 276, de 03 de Outubro de 1900, p.2)

(Le Figaro, n.º 276, de 03 de Outubro de 1900, p.4)

(Le Figaro, n.º 280, de 07 de Outubro de 1900, p.4)


Le Figaro, n.º 299, de 26 de Outubro de 1900, p.3.)





[1] Abriu a 15 de Abril de 1900 e terminou a 12 de Novembro desse mesmo ano.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Nova Estudiantina em Madrid, 1895

Uma nova estudantina é formada em Madrid, em Março de 1895.
Com cerca de 100 pessoas, tem em vista dar espectáculos em benefício das classes operárias.

 A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1512, de 13 de Março de 1895, p.1.

Tuna Compostelana em Portugal, 1895

Em 1895, a Tuna Compostelana veio a Portugal, passando por Coimbra, Porto, Braga e Viana, e regressando depois a Espanha.
Aqui ficam alguns artigos publicados sobre essa viagem.


A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1503, de 02 de Março de 1895, p.1.

A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1504, de 03 de Março de 1895, p.1.



A Voz Pública, 6.º Anno, n.º 1508, de 08 de Março de 1895, p.2.

domingo, 16 de setembro de 2018

Andar à Tuna, no Porto de 1890.


"Andar à Tuna" é uma expressão que ainda se usava em finais do séc. XIX, para designar aquelas pessoas que vagueavam pelas ruas, fugidas de casa.
A essas pessoas se atribuía igualmente a designação de "tunante", como vimos em artigo anterior.
Uma vez mais, são situações que ocorrem no Porto, onde esse tipo de terminologia tem maior longevidade.
Os casos que aqui apresentamos já não respeitam a crianças fugidas de casa, mas a senhoras, sendo que uma delas é uma criada (serviçal) que fugiu aos patrões e foi apanhada no meio de grevistas[1].


A República, I Anno, N.º 89 de 12 de Julho de 1890, p.1.

A República, I Anno, N.º 167 de 03 de Outubro de 




[1] Estamos, nesse ano de 1890, em plena efervescência républicana, atiçada pela questão do ultimatum inglês.

Tuna de Señoritas Espanholas no Porto, 1896


Sabemos bem que as estudantinas/tunas femininas não são coisa recente[1], sendo que as encontramos no séc. XIX quer em Espanha quer na América Latina[2], bem como em Portugal (embora com menos incidência).
Este é um desses casos, mas de um grupo que vem actuar a Portugal - mais precisamente ao Porto.
Não deixa de ser algo, porventura, inédito, dado que, no contexto social e cultural da época, grupos deste tipo não tinham a mesma facilidade em viajar que os homens.
Não se trata de um grupo estudantil, mas um das muitas estudantinas/tunas civis que se detectam no panorama tuneril há mais de 100 anos. Não foi possível averiguar a proveniência do grupo.

A Voz Pública, 7.º Anno, N.º 1816, de 05 de Março de 1896, p.2.





[1] SÁRRAGA, Félix O. Martín - Sociedad, Universidad, Mujer y Tuna a lo largo de la historia. Tvnae Mvndi, 2013-2017. [Em linha: http://www.tunaemundi.com/index.php/publicaciones/sabias/7-tunaemundi-cat/175-sociedad-universidad-mujer-y-tuna-a-lo-largo-de-la-historia]


[2] OROZCO, Adriana Meluk - La mujer en la tuna: Del balcón a la calle. I Congreso Iberoamericano de Tunas, Múrcia, 2012. [Em linha: https://issuu.com/tunaemundi/docs/la_mujer_en_la_tuna__del_balc_n_a_la_calle].

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Memória Portuense de TUNANTE - 1889 e 1890.


TUNANTE - emprego castiço que se vai perdendo na memória.

Em "QVID TVNAE?", a primeira obra a fazer o levantamento da evolução da palavra Tuna - e outras palavras daí derivadas, em dicionários/enciclopédias, verifica-se que palavra "tunante" está claramente ligada à ideia de vadiagem, ociosidade, malandrice, entre outros significados mais ou menos sinónimos. A seguir, transcrevemos, da obra referida[1], o significado que "Tunante" foi apresentando em diversas publicações (não todas), apenas evidenciando a palavra "tunante" (omitindo as outras), para não tornar extensa a exposição.

1739 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 375:
Tunante. part. act. del verbo tunar. El que tuna, ò anda vagando. Lat. vagus, vel vagam vitam agens. ESTEB. cap. 4. Como hombre mas experimentado, con tono fraternal nos informo en la ceremonia, y puntos de la vida tunante.
1879 - Rafael Bluteau (acresc. António de Moraes Silva), Diccionário da Lingua Portugueza, T. II,        L‑Z, p. 497.
Tunante, f. m. o embusteiro, vagamundo que anda vadiando, e comendo o que póde com enganos, e dolos.
1899 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 991 (reed. 1914, p. 1017, 2):
Tunante. p. a. de Tunar. Que tuna. Ù.t.c.s. || 2 adj. Pícaro, bribón, taimado. Ù.t.c.s.
1936 – 1960 - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia                                            Limitada, Lisboa e Rio de Janeiro, Vol. XXXIII:
TUNANTE, adj. e s. 2 gén. Vadio, ocioso; que anda à tuna: “Andaríamos todos, os da minha ronda e eu,…como tunantes de Goya… rebuçados em longas capas negras, que nos cobririam a cara…”, Ramalho Ortigão, Últimas Farpas, cap. 11, p. 188; “Um bêbado tunante, / Pálido, e escalavrado”, Guerra Junqueiro, A Morte de Dom João, III, 3, p. 165; “Numa tasca beberricámos, pois seria imperdoável que tunantes não prestassem seu preito a Baco”, Aquilino Ribeiro, Uma luz ao Longe, cap. 9, p. 180.
2001 - Academia das Ciências de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian, Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Editorial Verbo, II Vol., G‑Z, p. 3652:
Tunante1. Adj. m. e f. (Do cast. tunante) 1. Que anda na malandragem, na vadiagem. ≈ VAGABUNDO. 2. Que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, TRAMPOLINEIRO, TRAPACEIRO. 3. Designação da pessoa, em especial do estudante, que faz parte de uma tuna ou agrupamento musical.(…)
Tunante2. s. m. e f. (Do cast. tunante). 1. Pessoa que anda na vadiagem, na ociosidade. ≈ TUNA, VADIO. Pessoa que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, MAROTO, TRAPACEIRO. 3. Pessoa, especialmente estudante, que faz parte de uma tuna musical (…).
2003 - Instituto António Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Temas e Debates, Lisboa, T. III, Merr‑Zzz, p. 3606:
Tunante adj. 2g.s.2g (1789 cf. MS) 1 que ou quem anda à tuna, vadiando (diz‑se especialmente de estudante), vagabundo, tunador. 2 p. ext. que ou quem faz trapaças, embusteiro, trampolineiro. 3 HIP que ou quem tem má índole (diz‑se de animal). 5 TAUR (1899) que ou o que já conhece a lide e revela má intenção (diz‑se de touro).

Em Portugal, o termo teve, pelo menos desde o séc. XIX, um sentido claramente pejorativo.
Hoje em dia, já quase caiu em desuso, sendo "agora" reabilitado pelas tunas académicas, mas com outro significado.
Contudo, na região norte (periferia do Porto, nomeadamente) ainda há quem utilize ou se lembre de ser utilizado "tunante", empregando-se para classificar outrem como malandro, maroto, mal-comportado, trapaceiro, vadio ou vagabundo.
Segundo testemunha o meu amigo Eduardo Coelho, era ainda corrente, há algumas décadas, nessa zona do país, alguém se referir a outro (sobretudo garotos) dessa forma:
- Ah, seu tunante! [Ah, seu canalha / seu traste, seu malandro...].

Não deixa de ser curioso que a palavra "canalha", usada para definir alguém como pessoa falsa, que não presta (como criminoso, até); também seja utilizada, como substantivo colectivo, para nos referirmos a um grupo crianças pequenas.
Ex. 
A canalha está a brincar na rua [As crianças estão a brincar....]
ou 
A minha canalha está a dormir [os meus filhos estão a dormir]

Por sua vez, "tunante", tal como "canalha", aqui a ser utilizada para mencionar crianças, mas crianças vagabundas, que andam a vadiar na rua porque fugiram de casa dos pais.

Nota: por vezes também se usa "canalha" como substantivo comum singular para designar uma só criança (mas é mais raro), usualmente do sexo masculino: "Aqui o meu canalha [filho/filhote] gosta de legumes!"

E é isso mesmo que aqui se traz como assunto: o facto de surgir em periódicos, o termo "Tunante" (dando título aos artigos), para relatar precisamente a prisão de jovens que fugiram de casa e deambulavam pelas ruas e foram apanhados (para depois serem entregues, pelas autoridades, aos pais).

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 218, de 14 de Setembro de 1889, p.1.

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 231, de 29 de Setembro de 1889, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 57, de 8 de Março de 1890, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 48, de 26 de Fevereiro de 1890, p.2.



É um caso assaz curioso, pela forma como um jornal utiliza tal expressão  (e não outra), e que se deve precisamente ao facto do termo ter prevalecido no uso quotidiano do Porto (e sua região), contrariamente a Lisboa, por exemplo, onde não se encontra tal designação para estes casos.

Fica esta curiosidade sobre um termo que tantos conhecem, mas certamente desconheciam a sua história e significado original.





[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. Euedito, 2011-12.

domingo, 5 de agosto de 2018

A COLABORAÇÃO ENTRE INVESTIGADORES É FUNDAMENTAL



De facto, é essencial que assim seja. Mas também pressupõe respeito e honesta partilha. Ou seja, quando um colega descobre e partilha um documento, um dado, um facto...então que os outros que vão utilizar essa informação mencionem quem a descobriu e partilhou.

Para que haja colaboração, tem de haver partilha honesta, ou seja não negarmos dados que nos são pedidos e referir os colegas que nos facultaram informação.

Tenho sido confrontado com algumas situações menos simpáticas de quem usa o que investigo, escrevo, partilho e publico - sem contudo haver as devidas referências - e, depois, nega partilhar comigo informações que lhe peço.
E não sou só eu que notei isso, tal como não sou o único a sofrer do mesmo problema.

"Alguns são grandes, mas ao ombro de gigantes", diz o ditado; e longe de me achar um Golias, também agradeço que, quando me usam como degrau, tenham a gentileza devida. 

Usar os outros e o seu trabalho exige, pelo menos, um mínimo de urbanidade.

"A colaboração entre investigadores é fundamental", a que se responde com o ditado: "Bem o prega Frei Tomás que o diz mas não o faz".

sábado, 14 de julho de 2018

A palavra Tuna (andar à tuna) - Primeira referência num dicionário.


A palavra Tuna (andar à tuna) - Primeira referência num dicionário.



A primeira vez que a palavra "Tuna"  aparece grafada num dicionário, com o significado de vida "holgazana" (vadiagem, ócio, vagabundagem - maganear: "andar à boa vida") é num dicionário português, em 1713.
Este dado é, demasiadas vezes, ignorado por uma comunidade internacional tuneril, a começar pelos seus investigadores, muito centrada na matriz da diáspora espanhola (que constitui a esmagadora maioria das tunas estudantis no mundo).



Para quem não pertence a esse universo, poderá, porventura, cair no equívoco de, ao ler os estudos existentes e diversas publicações que aparecem pela Net sobre o assunto, ficar a pensar que o vocábulo "Tuna", com o sentido de vadiagem e vida livre e de folguedos, aparece inicialmente no Diccionario de Autoridades ou qualquer outro em Espanha. 
Aliás, o mesmo risco corre a comunidade Hispano-americana (dado que, como é natural, lê preferencial, e quase exclusivamente, o que vem publicado na língua de Cervantes - onde esta informação está omissa).

Portanto, em abono de um esclarecimento correcto, holístico e isento, que elucide qualquer pessoa, sejam tunos ou não, independentemente da sua geografia, fica aqui essa informação:

A primeira vez que o termo "Tuna" surge num dicionário, ligado a "andar à tuna" ("vida holgazana y libre"), é em 1713, na obra de Rafael Bluteau:  Vocabulario Portuguez e latino (Volume VIII de T-Z), p. 325:

"TUNA. Andar à tuna. Andar maganeando[1]. Vid. Maganear. Vid. Tonante."



Vocabulario Portuguez e latino (Volume VIII de T-Z) de 1713. Rafeal Bluteau Edição impressa de 1721, p. 32.


Vocabulario Portuguez e latino (Volume 08 de  Ta Z). Bluteau, Rafael (1713). Edição impressa de 1721.


O que é muito interessante é que, para além de remeter para "Tonante", o mesmo dicionário estabelece claramente que "Tonante" está co-relacionado com "Tunante" (apresenta-os como sinónimos, até), com o significado de "andar à tuna" que, no contexto da época, em castelhano, mas também em português, remete para burlão, embusteiro (o significado de "embuste", volta a ser sublinhado na edição de 1789 do mesmo Rafael Bluteau), no intuito de arranjar sustento (seja como simples pedinte, seja através de enganos, entre outros) e que, na língua francesa aponta para "Truand" (pedinte, vadio, bandido), estabelecendo uma clara relação com a origem de Tuna em "Thune", conforme tese explicada e documentada em Qvid Tvnae? (2012).


Apresentamos, de seguida, a parte desse dicionário que apresenta o significado de maganear (e família), na edição portuguesa de 1728,  que expressa o sentido de "andar à tuna", com uma carga pejorativa (andar "à boa vida" nas tavernas, com prostitutas; ser pessoa de má índole, pouco recomendável pela vida libertina que leva):
Vocabulário Portuguez e Latino, Rafael Bluteau - volume 5, 1728, p. 245.

Em 1739, surge no Diccionário de Autoridades (Espanha), com o tal significado de "vida holgazana, libre y vagamunda" e com a palavra Tunar e Tunante ligadas a esse significadode andar a vaguear de lugar em lugar

Em 1789, consta do Dicionário da Língua Portugueza (sucedâneo dos anteriores dicionários portugueses).



Diccionario da Lingua Portugueza (Reformado e Accrescentado por António Moraes Silva). Tomo II, L-Z. Lisboa, 1789.


Interessante, igualmente, é que, ao contrário do que sucede com o Diccionario de Autoridades (Real Academia Espanhola) de 1884, onde a "vida holgazana" surge como a segunda acepção, depois de primeiramente se referir ao fruto e, mais tarde à planta (figueira da Índia - um cacto que produz um fruto similar a um figo), no dicionário de Rafale Bluteau (1713), a primeira acepção é "andar à tuna /maganeando".
Significará isso, porventura, que a acepção de "andar à Tuna", em Portugal, sempre teve precedente de antiguidade sobre o significado de planta/fruto (Figueira da Índia), ou seja que o termo "Tuna" esteve primeiramente ligado ao "tunar" e só depois se descobre e insere o nome do fruto/planta que os espanhóis descobriram na América.

Nota: No país vizinho, e segundo a investigação de Félix O. Martín Sárraga[2], o famoso fruto chamado de "Tuna" (nopal), já teria constância num dicionário de 1609, de Hiersome Victor Bolonou[3], editado em Genebra.
Curiosamente, enquanto no país vizinho, o termo consta inicialmente com a designação do fruto e só depois (1739), também, a planta; em Bluteau já tinha ambos significados.
Segundo o alemão Alexander von Humboldt, geógrafo e naturalista, o termo original seria "opuntia", palavra oriunda da língua dos Taínos (povo da região das Bahamas, Antilhas e Caribe) absorvida pela língua espanhola por volta de 1500.


No ano de 1831, temos o 2.º tomo do Diccionário da Língua Portugueza de Moraes Silva, que contém a palavra Tuna e Tunante. Nada de novo, senão que o termo "tunante" expressa mais claramente o que já tínhamos referido: andar vadiando e comendo o que pode com enganos e dolos.



Diccionário da Língua Portugueza. Moraes Silva. Tomo II, F-Z. Lisboa, 1831.

Diccionário da Língua Portugueza. Moraes Silva. Tomo II, F-Z. Lisboa, 1831, p. 847.


No Brasil, em 1832, no Diccionário de Língua Brasileira, de Luiz Maria da Silva Pintoo significado aponta igualmente para a vadiagem, vida de ócio, ou seja "andar à tuna", sendo que "Tunante" vai no mesmo sentido sinónimo: embusteiro, vadio.
A novidade é que o fruto/planta Figueira da Índia passa a ter a designação de "Tunal"


Diccionario da língua brasileira. Pinto, Luiz Maria da Silva, 1832.

No ano de 1843, o Diccionário Academia Usual (da Real Academia Española), p. 723, não apresenta novas singificâncias, mas surge com o término "Tunanton", como sinónimo de "tunante" (aquele que anda à tuna).

No ano de 1849, surge também a palavra Tuna, associada à vadiagem a ser mandrião e a palavra Tunante como aquele que "tuna", ou seja que é mandrião, embusteiro, vadio, vagamundo, miliante (parasita, até). É o que podemos ler no Novo Diccionário da Língua Portugueza, obra de Eduardo Faria.


Novo Diccionário da Língua Portugueza por Eduardo Faria .
Vol. III. Typographia Lisbonense. Lisboa, 1849.

Novo Diccionário da Língua Portugueza por Eduardo Faria .Vol. III. Typographia Lisbonense. Lisboa, 1849, p. 470.



Um outro significado, bem conhecido em Portugal, sinónimo de "andar à tuna" é o de "vida airada" (sem preocupações, na "boa vai ela". Assim ainda se entendia, por exemplo, sobre os estudantes de Coimbra que, e passamos a citar:

"... vivendo por tanto fora da clausura e da communidade dos Collegios, entregavam-se à vida airada, à tuna, nome talvez derivado dos nocturni grassatores, que andavam provocando rixas com os burguezes, fiados na impunidade de um foro privilegiado [Foro Académico]" 
(In Theophilo Braga - História da Universidade de Coimbra. Tomo I. Lisboa, 1892, p. 83.)

Não maçamos mais o leitor com a história da palavra tuna nos dicionários, bastando que, caso esteja interessado, consulte a obra "Qvid Tvnae?", onde o toda esse caminho está devidamente catalogado até aos dias de hoje.


Portanto, e resumindo, a palavra Tuna, ainda antes de surgir em qualquer dicionário em língua espanhola com o sentido de "andar à tuna", de "vida vagamunda" .... já tinha surgido em dicionário português, e com significativa frequência em vários outros vários dicionários portugueses e do Brasil . 


Fica este apontamento que, como referido, é demasiadas vezes omitido, mesmo quando os estudos publicados estão mais vocacionados para falantes do mundo hispânico.
A história da Tuna não pode ficar compartimentada por fronteiras geográficas ou culturais, já que é um fenómeno que atravessa continentes. Um património que inclui,  portanto, a realidade lusitana e, assim sendo, deve ser tida em conta, quando se publica para toda essa comunidade internacional.

Certamente que um artigo redigido sob o título "É em 1890 que palavra Estudantina surge, num dicionário, associada a grupos musicais de estudantes.", estaria incorrecto. Incorrecto porque surge primeiro em Espanha esse significado. Portanto, para evitar que o título induzisse em erro, colocar "em Portugal" ou "num dicionário português" seria essencial, independentemente do público alvo.
O mesmo se aconselha aos artigos publicados por nuestros hermanos, sobre uma realidade geográfica específica.







[1] O significado de maganeando é o de vadiar. Vid. Vocabulário Portuguez & Latino, Rafael Bluteau - volume 5, 1728, p. 245.
[2] Tuna, significado del vocablo a través del tiempoTvnae Mvndi, 2015 [Em linha: http://tunaemundi.com/index.php/component/content/article/7-tunaemundi-cat/555-tuna-significado-del-vocablo-a-traves-del-tiempo]. Ver também La palabra 'Tuna' no significaba lo mismo en el siglo XVIII que en la actualidadTvnae Mvndi, 2012. [Em linha: http://tunaemundi.com/index.php/publicaciones/sabias/1159-la-palabra-tuna-no-significaba-lo-mismo-en-el-siglo-xviii-que-en-la-actualidad].
[3] Tesoro de las tres lenguas francesa, italiana y española. Genève, Philippe Albert &Alexandre Pernet, 1609, pp. 605.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal", Porto (2011), Euedito. ISBN 978-989-97538-0-8

segunda-feira, 12 de março de 2018

Estudiantina Española Fígaro em Constantinopla - Turquia (1886)


Um artigo que comprova a presença da Fígaro por terras turcas em 1886.
O artigo inicia-se com o título sugestivo de que o sultão, que os recebeu, terá feito algo bizarro / estranho.
Com efeito, para além de lhes entregar uma considerável quantia em dinheiro, honrou cada membro com a Medalha das Ciências e das Artes (condecoração que, como diz o periódico, é raramente atribuída).

Diário de Notícias (RJ - Brasil), Anno II, N.º 322, de 25 de Abril de 1886, p.1

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Estudantina Portugueza em 1880




Há, com efeito, coisas surpreendentes e curiosas, quando se faz investigação.
Foi o que me sucedeu hoje, numa das minhas investigações na Biblioteca Nacional.

Desta feita, a notícia de uma Estudantina Portugeza que, de acordo com o cartaz que anuncia o espectáculo, refere que fez sucesso na sua digressão por Espanha.

Sabemos, como aliás se confere em "Qvid Tvnae" (2012), que diversas tunas que se deslocavam à vizinha Espanha eram normalmente apelidadas de "Tuna Portuguesa" ou "Estudiantina Portuguesa", omitindo-se, diversas vezes, a sua origem geográfica (o que nem sempre facilitou, nem facilita, ainda hoje, a tarefa dos investigadores).

Esta "Estudantina portugueza" é anunciada no Coliseu de Lisboa como sendo um grupo que fez uma digressão relevante por toda a Espanha.
De onde seria tal estudantina?
O anúncio não faz menção do repertório apresentado (apenas  refere aquele que é tocado, no salão, pela Orquestra 24 de Junho), pelo que mais difícil se torna.

O que se sabe é que, a 23 de Junho de 1880,  esteve uma estudantina portuguesa a tocar nos jardins do Coliseu de Lisboa.

De que grupo se trata, não sabemos. É possível que fosse de cariz estudantil, dado que há registo de estudantinas de estudantes em Coimbra desde finais da década de 1860[1].
Tratar-se-ia, já nessa altura, da a famosa estudiantina coimbrã, dirigida pelo estudante Jayme Abreu - que é detectada em 1885 a dar concerto em favor das vítima andaluzas?[2] Não o podemos garantir.
 É, portanto, também possível que fosse de natureza civil urbana, dado já existirem vários grupos do género.

Na verdade, não o sabemos. É assunto a merecer mais aturadas pesquisas.
Seja como for, fica este dado partilhado.


(BNP - Colecção Lamberti, Vol.1)


 Diário Ilustrado, 9.º anno, N.º 2550, de 23 de Junho de 1880, p.4


Diário Ilustrado, 9.º anno, N.º 2551, de 24 de Junho de 1880, p.2

Diário Ilustrado, 9.º anno, N.º 2552, de 25 de Junho de 1880, p.4



[1] SILVA, Jean-Pierre, in Blogue "Além Tunas" - A Tuna em Portugal,  Pré-Existências Populares. Artigo de 28-06-2016 [Em linha: http://alemtunas.blogspot.com/2016/06/a-tuna-em-portugal-pre-existencias.html], citandoa página FB "De NOME Brandão" (30-06-2013).
[2] NUNES, António Manuel - Estórias que a bandeira da [Estudantina]/TAUC conta. Bolgue "Guitarra de Coimbra V", artigo de 28 de Setembro 2015. [Em linha: http://guitarradecoimbra4.blogspot.com/2015/09/estudantina-de-coimbratauc-em-dezembro.html ]. Última consulta de 07-08-2018