quinta-feira, 30 de abril de 2020

Vontade de ser....TUIST

Com já mais de 1 mês de confinamento, há que honestamente dizer que já pouca coisa empolga nas iniciativas tuneris online.
Aliás, estamos agora não apenas a ficar mesmo fartos de confinamento, como enfartados de "mais do mesmo".
Das poucas iniciativas que jogam num patamar superior, temos o já referido "TUNICES" (abordado no anterior artigo), bem como, a título de exemplo, o vídeo da Tuna Veterana do Porto (que não se limitou a mais do mesmo, mas produziu algo feito efectivamente "em directo" - sem playbacks corriqueiros, com dinamismo e com letra adaptada, com graça, à situação vivida).
Mas o que surgiu (e não foi programado em função da pandemia), como pedra no charco, foi o magnífico documentário sobre os 25 anos da TUIST (Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico, de Lisboa), sob o título "Vontade de ser - 25 anos TUIST".

E é, hoje, o assunto deste artigo, apropriadamente sob a designação "Vontade de ser...TUIST" (ser como ela, parecido com ela, parte dela, inspirado por ela..... conforme o ângulo ou todos eles).




Não há muito mais para dizer do que aquilo que já foi soberbamente abordado no "TUNICES"  de ontem).
Cabe, aqui, apenas mencionar alguns aspectos que distinguem este documentário de outras produções multimédia tuneris que pululam na net.

O primeiro de todos é a autoria.
Não foi a tuna que escreveu o guião, o produziu, orientou ou decidiu que imagens, planos e aspectos retratar.
Inteligentemente, a TUIST deu carta branca à realizadora, Patrícia Pedrosa, daí resultando uma pequena obra de arte. Que sabia que estava em boas mãos é igualmente ilustrativo do critério de qualidade na escolha das pessoas com quem a tuna labora.
Tal permitiu um olhar exógeno, de fora para dentro, captando (e note-se a importância) aquilo que mais interessa ao público (algo que nem sempre se compatibiliza com o que interessa aos tunos/tunas).

Depois, a simplicidade narrativa, ora em zoom in ora em zoom out, onde se materializa plenamente aquele velho chavão de "gostava de ser mosca para ter visto".
Neste documentário somos mesmo essa mosca curiosa, discreta e, ao contrário das comuns, em nada perturba. Somos quase que levados a vestir a pele de um membro da TUIST e a vivenciar, como que presencialmente, os bastidores daquilo de que são feitas as grandes tunas.

A autora não caiu na tentação de mostrar vitrines de prémios, de elencar currículos, de pavonear grandes actuações em certames.
Procurou, antes sim, em diversos momentos, deixar adivinhar, quase que em jeito spoiler, o que rigor, organização, cumplicidade e compromisso inevitavelmente vão produzir.
Não se procurou, daí a importância da liberdade absoluta dada à autora, mostrar lugares comuns, entrevistar tudo e mais um par de botas, fazer do documentário um museu virtual de feitos e conquistas.
Procurou a autora captar o genuíno, o espontâneo e, de modo simples - mas genial, identificar-nos (levar a revermo-nos em muitas daquelas circunstancias) com os protagonistas.



Mais: não há personagens principais.
Apesar de mais ou menos destaque numa ou noutra figura, fica claramente a ideia de que é a TUIST o verdadeiro protagonista principal, não apenas nos momentos públicos, mas a TUIST em casa, sem máscaras.

Não menos importante está a necessária referência à qualidade da imagem e do som.
Apesar de vivermos na era digital e dos gadgets tecnológicos à disposição, não é menos verdade que a esmagadora maioria daquilo que é publicado nas redes sociais (sobretudo no youtube) é de péssima qualidade no que concerne à captação e edição.
Já a isso nos referimos em artigo, bem como mereceu especializada tertúlia no passado dia 13 de Abril.
"Vontade de ser" não é mais um vídeo, não é mais um documentário. É um trabalho feito com grande qualidade técnica, mais um dos raros oásis no deserto que caracteriza a produção multimédia tunante nacional.

Vasco da Câmara Pereira (o eterno "Véspera") ainda ontem dizia que, a isso, muito ajudou terem reconhecido os erros do passado (referindo-se ao menos conseguido trabalho sobre os 20 anos da TUIST), fomentando o desejo de produzir algo melhor.
E quando assim é, quando se tiram criticamente lições do passado, como disso é prova este magnífico documentário, apenas podemos aplaudir algo que ilustra igualmente a qualidade humana das pessoas.

O documentário serve também outro propósito: fazer memória.
Com efeito, houve preocupação em criar algo para memória futura, aspecto tão arredado da maioria da comunidade tunante.

"Vontade de ser" não podia ter sido melhor escolhido para título deste trabalho.
Depois de visto, dá vontade de rever (da minha parte vou em 3) e, creio, que certamente suscitará e inspirará, em muitas tunas e tunos, a vontade de "ser assim", de viver assim a tuna, de fazer desse modo.
Acredito igualmente, que possa despertar, em muitos estudantes ou futuros estudantes do IST,  a vontade de ser membro da TUIST, de ser (e fazer) parte da sua história, comungar da sua mística e experienciar o que o documentário tão bem soube traduzir da imagem que se pretende da Tuna Portuguesa.

Parabéns à TUIST e um enorme abraço a todos os seus membros,  de hoje e de ontem...amigos de sempre.

terça-feira, 28 de abril de 2020

TUNICES - A Tertúlia que COnVIDa TUNA


"Há males que vêm por bem."

Poderia ser o chavão popular usado para caracterizar o novo programa que o PortugalTunas tem promovido desde 27 de Março.
Em tempos de confinamento, devido à pandemia pelo vírus Covid-19, temos assistido a um crescimento exponencial da actividade nas redes sociais, a que as tunas não passaram ao lado. Têm, aliás, redobrado em iniciativas nesse domínio (algumas de grande qualidade), mesmo se o modelo dos vídeos musicais (entre outros) possa já estar a atingir um ponto de saturação.

São muitas e variadas as formas que as tunas encontraram para se reinventarem nesta época, mas é indubitavelmente o "TUNICES" que apresenta uma programação de maior qualidade e utilidade à comunidade. Verdadeiro serviço público tuneril, iniciou por ser diário, sempre às 22h00, estabilizando, após as primeiras tertúlias, em emissões à 2.ª, 4.ª e 6.ª[1].

Espaço onde os assuntos são abordados, de forma leve, bem disposta e em ambiente de verdadeira tertúlia, e que já passaram por muitos temas (dos mais técnicos aos  mais históricos, dos mais anedóticos aos mais sensíveis, dos que pareciam, à partida, pouco ter para espremer e, depois, deram sumo inesperado).
Ricardo Tavares e José Rosado (recentemente entrevistados sobre o programa e percurso de 18 anos do PTunas) emprestam toda a sua competência e saber, como anfitriões, recebendo personagens diversas do panorama tuneril, com quem estabelecem um diálogo que faz esquecer as horas.

O "TUNICES" vai já em 15 emissões.
Tem ainda muito tema por explorar, muitos ângulos para pôr os assuntos em perspectiva, muitos convidados para nos ajudarem a passar bons momentos, como até aqui tem sucedido.

A receita é de sucesso, mesmo se sabemos que grande parte do público alvo se está nas tintas, como sempre esteve (seja para corresponder ao Census Tuna do Ptunas, a participar nos ENT, a ler, a debater...), mais interessado em publicidades efémeras, em likes de ocasião e vaidades de instagram.

O "TUNICES" é uma das poucas iniciativas tunantes da actualidade que merece efectivo destaque, seja pela qualidade do programa em si (e dos seus animadores) seja pelo formato televisivo, via youtube, que permite aprender e reflectir sobre a Tuna, de forma lúdica.
Um programa para quem gosta de Tunas a sério, em todas as suas dimensões e facetas.
Se não estamos perante a descoberta da pólvora, estamos, certamente, perante um dos tiros mais certeiros dos últimos anos.

Não podemos senão parabenizar o PortugalTunas pela iniciativa e aguardar, ansiosamente, pelas próximas emissões, neste que se tornou, para alguns, a sua "novela" (quase) diária.




[1] E como ele alterna a emissão "Quarentunos em quarentena".

terça-feira, 21 de abril de 2020

Gerações Tuneris

Ouve-se, de quando em vez, no nosso meio tuneril, falar-sem em gerações de tunos, não poucas vezes num sentido pouco consentâneo com os factos.
Com efeito, é comum ouvir um tuno de 25 anos falar patriarcalmente de outro seu colega de tuna mais novo (porventura caloiro) como pertencendo a outra geração.
Este tipo de conversa quase nos remete para os inícios do "boom" onde havia uma desenfreada busca por antiguidade.
O uso, nem sempre adequado, da noção de geração resulta, quase sempre, de uma formulação que visa como que uma emancipação, a ideia de se ter atingido o estatuto de veterano (a que não é alheia a nomenclatura hierárquica da Praxe) face a outro ligeiramente mais novo.
Não será certamente necessário passar em revista as teorias sociais sobre gerações da década de 1920 (Ortega y Gasset, 1923; Mannheim, 1928), de 1960 (Feuer, 1968; Mendel 1969) ou de 1990 (Tapscott 1998; Chisholm, 2005) ou, até, aprofundar as formulações positivistas de Augusto Comte, a abordagem histórica de Dilthey ou, ainda, a formulação sociológica de Manheim.


O que convirá ter em atenção é que, no estrito âmbito tuneril, o que se observa, de forma cada vez mais clara, é que as nossas tunas, salvo raras excepções, apresentam grupos muito heterogéneos onde convivem pessoas de várias faixas etárias.
E é precisamente isso que importa reter: faixas etárias nem sempre correspondem propriamente (para o caso que aqui importa) a diferentes gerações.
 
Claro está que podemos falar em gerações históricas (como sucedeu com o movimento académico coimbrão, conhecido por "Geração de 70", formado por Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão,entre outros), no sentido em que determinado grupo de pessoas viveram/protagonizaram um conjunto de acontecimentos marcantes, contudo, e simplificando, é mais plausível e sensato apreender o sentido de "geração" como a que estabelece um distanciamento cronológico suficientemente lato para que se possa observar sociologicamente uma diferença clara.
Ora, e sempre simplificando, nada mais objectivo do que esta espécie de regra de três simples que é: a nova geração é aquela que tem idade para ter sido gerada biologicamente pela anterior, ou seja um hiato de cerca de 30 anos (seguindo a observação de A. Comte).

Há hoje, portanto, no nosso meio tuneril, e contando a partir do "boom" (de 1985 em diante), 2 gerações, grosso modo: são, hoje, os abeirados dos 50 anos e mais, e, depois, os que actualmente formam a faixa etária com idade para ter sido gerada biologicamente pela primeira.

Obviamente que nem tudo é preto e branco, e há que contemporizar as zonas cinzentas formadas por todos aqueles que se encontram no meio.
E aqui entram as diversas abordagens sociológicas que, desde a década de 1920, se debruçam sobre estes assuntos de "gerações".

No meio tunante, podermos, face à questão dos que "ficam pelo" meio, falar igualmente na geração tuneril do séc. XX  e, depois, o que entraram nesse mundo já no séc. XXI (pese embora as tais zonas cinzentas entre um tuno ingressado, por exemplo, em 1998 não ser propriamente de uma geração distinta de outro ingressado, por exemplo, em 2001).
Outros sentidos podem, sabemos, ser emprestados, em contexto tuneril (e não só) ao conceito de "geração", mas quase sempre parece ser importante haver um observável distanciamento cronológico que não parece, de todo, poder ser inferior a 10/15 anos e em concomitância com divisórias históricas (como defende Dilthey).

 Falar, portanto, em "gerações", no meio tuneril, é algo que deve merecer cautelas, acima de tudo para evitar conceitos ad hoc, talhados à medida, e que, de quando em vez, acabam por ser pouco lógicos (quando não são algo risíveis), quando ouvidos na boca de um jovem que fala de colegas com tão pouca diferença de idade.

A nossa comunidade tunante, numa análise simples e objectiva, terá 2 gerações, assente na ideia de "geração" determinada pela sucessão de "pais" e "filhos" - a forma mais pragmática de olhar a coisa.