sábado, 23 de fevereiro de 2019

Purismos tunantes


O purismo exacerbado que se verifica noutras geografias tunantes é, pelo menos do lado de cá da fronteira (cuja tradição tuneril é a mais rica pela diversidade e historicidade), algo risível e...ridículo. 

Uma honesta investigação à génese das tunas não pode, depois, pretender eleger o que lhe agrada e omitir os dados históricos que não lhe convêm.
Mas é precisamente isso que ocorre, com estudiosos cujo trabalho de investigação se reconhece, mas que, depois, truncam e desvirtuam esses mesmos factos, para lhes impor uma visão que não tem por base o mesmo rigor histórico que, supostamente, aplicam no seu labor - antes a sua visão pessoal.

Portanto, há quem diga que "Tuna" só corresponde a grupos universitários e, depois, para os demais grupos, afirme que se devem, quando muito, apelidar de "rondallas" ou, pasme-se, "estudiantinas".

Desde logo esse raciocínio está equivocado e perverte os factos históricos, quando sabemos que Tuna e Estudantina são a mesmíssima coisa, sendo que primeiro surgiram as "estudiantinas" (de estudantes e de não estudantes) e, depois, surge o termo "Tuna", num esforço para distinguir as "estudiantinas" compostas exclusivamente de estudantes das demais. Em momento algum se pode afirmar que foi para distinguir grupos civis de grupos universitários, mas, sim, distinguir apenas grupos civis de grupos estudantis (que podiam ser, ou não, universitários).
É isso que os factos históricos dizem: distinguir estudantinas (Tunas) de estudantes das demais. E estudantes não eram, nem são, apenas e só universitários.



Portanto, afirmar-se que só é "Tuna" um grupo universitário é falso.
Tanto é falso que continuaram a existir quer estudantinas quer tunas a nível popular (civil), assim como de outros graus de ensino (liceus, principalmente) sendo que, em alguns casos, algumas são já instituições centenárias, ou seja com maior legitimidade histórica que qualquer tuna universitária criada seja no tempo do SEU (Sindicato Español Universitário), seja depois disso. E isso é um facto histórico que desagrada aos puristas.

É de uma desonestidade a todos os níveis, essa presunçosa mania de distorcer a história, para caber em concepções pessoais  e pretender impor uma visão apócrifa de Tuna.

Mas ainda mais estranho é pretender que outros grupos não universitários não podem/deviam usar a denominação "Tuna" e que, quando muito, se deveriam chamar de "estudiantinas". Mas o que são "estudiantinas"?

Em rigor, são grupos de estudantes. É esse o significado do termo, que depois passa também a designar as orquestras de estudantes a que mais tarde  se chamará de tunas.
Se, para esses iluminados, só os grupos universitários se podem chamar "Tunas", então significa que os grupos universitários que se designam "estudiantina" não são Tuna?
Ou querem agora vir com a lata de afirmar que os universitários têm o direito de usar ambas as designações, porque moral e historicamente mais legítimos, e todos os demais grupos escolares (ou mesmo civis) não?

É que este raciocínio afunilado e cego quase roça a mesquinhez argumentativa.

E para o leitor compreender o paradoxo desses iluminados, estes, chegam mesmo a pretender que só há tunas a partir do SEU (que é quando, segundo eles, se cristalizam regras e ritos e a tuna ganha como que um formalismo). Ou seja, enchem páginas a afirmar que a Tuna nasce no séc. XIX (e dizem bem), mas depois afirmam que só são tunas as que são universitárias e seguem o modelo estilizado a partir do SEU espanhol (grosso modo, a partir dos anos 1950 em diante).

Ficou confuso o leitor? Natural, pois é contradição em cima de contradição.
É como pretender que só há espanhóis a partir do franquismo ou que só há portugueses depois, por exemplo, da implantação da República.

Discordamos em absoluto dessa visão redutora e que perverte os factos históricos.
Uma coisa é haver tunas ou estudantinas universitárias e outra é haver tunas e estudantinas que o não são.
Para além disso, aplicar conceitos actuais a factos passados, ignorando contexto e factos é um exercício falacioso; tal como seria falacioso afirmar-se que só há tecnologia a partir da revolução industrial ou com a invenção do chip.
Discordamos ainda mais do chauvinismo que pretende elevar o modelo "Tuna del SEU" como paradigma quer para classificar tunas em Espanha quer noutros países, como Portugal.

Bem sabemos que, num purismo estrito, estudantinas e tunas remetem para o cariz estudantil (e não apenas universitário). Ninguém no seu perfeito juízo pode pôr em causa isso. 
Mas a verdade é que  essa intenção denominativa (a de atribuir uma designação exclusiva aos grupos estudantis), iniciada ca. 1870, acabou por não surtir o efeito pretendido e que a criação de grupos, com essa designação, por parte da sociedade civil, ocorreu logo de seguida.
Portanto, uma coisa é o que gostaríamos que fosse (ou tivesse sido) e outra é o que de facto aconteceu. E isso não pode ser apagado, porque estamos a falar de mais de 1 século de história.
Além disso, essa coisa do purismo exacerbado parece ignorar as muitas apropriações ao meio civil que o foro estudantil preconizou.

A cegueira e fundamentalismo são tais, que esses mesmos "puristas" chegam ao supremo desplante chauvinista de considerar que as centenárias tunas portuguesas não são Tunas. Sim, leram bem: afirmam, por exemplo, que  a Tuna Académica do Liceu de Évora (fundada em 1902 e até hoje existente) não é tuna, à luz do conceito "hispano-SEU-Tuneril", segundo critérios truncados e erróneos para, assim, poderem legitimar os seus devaneios e reescrever a história conforme lhes apraz.

Bem sabemos que o facto de Portugal possuir a mais longa tradição tuneril ininterrupta, quer para tunas escolares, universitárias ou populares, provoca incómodo nesses puristas de meia tigela. E como esse facto é pedra no sapato que desmonta os seus pés de barro, vai de excluir o caso português, para só considerar que há tunas em Portugal quando (agora pasmem) se começam a parecer com as espanholas (a partir da década de 1980).
Ou seja, a suprema presunção chauvinista de que só há um paradigma tuneril puro e verdadeiro (o hispano-franquista) e que só se considera tuna o que for parecido ou seguir o modelo espanhol "criado" a partir do SEU.
Para azar dos puristas, e usando da mesma medida argumentativa, as tunas mais puras (no sentido de mais perto do modelo secular e original) são portuguesas, são centenárias. Quem, então, se desviou da tradição?

Ah, claro que a tradição também ela se vai renovando e enriquecendo, e é isso mesmo que Portugal pode igualmente apresentar, pois temos tunas segundo o modelo original, tal como temos tunas posteriores e, em tempos mais recentes,  tunas mais similares às actuais tunas espanholas. Não faz de umas, em relação às outras, mais ou menos tunas. E é isso que alguns puristas não conseguem entender - quando por cá foi sempre pacífica a convivência com a história.


Goste-se ou não, estudantinas e tunas são grupos que encontramos, desde o séc. XIX, em vários países pelo mundo fora.
E a concepção generalizada que foi atribuída a esses grupos (por mais imprecisa que estivesse nessa época) é que são apelidados de "Estudiantina" ou "Tuna" em função não dos elementos que compõem esses grupos, mas do leque instrumental que os caracteriza.
É isso que a história comprova documentalmente e é exactamente isso que a musicologia afirma e defende - algo que esses "puristas" querem abafar, menorizar ou mesmo desconsiderar.

O purismo que defende que "Tuna" é uma designação que apenas diz respeito a grupos universitários é uma "visão" de décadas, iniciada a partir do SEU espanhol, no intuito de dar maior visibilidade e "pedigree" a esses grupos (daí também ser nessa época que se inventam as origens medievais, goliardescas e trovadorescas da Tuna - tudo no intuito de conferir um áurea histórica de séculos e uma tradição pura de cariz exclusivamente universitária). E são exactamente os tunos que foram assim formatados que, mesmo perante as evidências históricas (apesar de, há já alguns anos, alguns, um pouco mais sérios, rejeitarem as origens medievais) continuam a ter uma visão classista e discriminatória de Tuna e, assim, a ignorar o que as evidências documentais apresentam (ou truncando-lhes o sentido e pertinência ).

Falar em rigor e metodologia para depois apresentar esse argumentário é decididamente algo paradoxal.
Mas ter a presunção de possuir um qualquer ascendente moral para policiar as tunas, determinando quem é Tuna e quem não é, constitui uma falácia que não se entende.
Uma coisa é distinguir entre tunas académicas e tunas civis. Uma coisa é perceber que tunas académicas não são as estritamente universitárias (só um néscio não percebe que o termo "Académico/a" não é exclusivo de universidade), mas outra é impor dogmaticamente que só umas e não outras são verdadeiras, sendo as demais falsas, apócrifas, de contrafacção.

Portanto, se os puristas querem defender o que é genuíno na Tuna Universitária, então que se dediquem apenas a isso e se deixem de tratar daquilo que não é de cariz universitário, respeitando-o e não se achando donos do mundo tvnae, vestindo o inquisidor papel de "Torquemadas de pacovia", de index em riste, ditando e determinando do alto da cátedra de barro.

É que esses tiques ditatoriais chegam depois aos tiques da censura e perseguição, como se pode ver nesta página (abaixo apresentamos imagem da mesma), criada especialmente para a "caça às bruxas" e onde se incita à delação. Parece termos recuado aos tempos da "limpieza de la sangre".
E nem vamos aqui apresentar as desconsiderações que esses "puristas" fazem acerca da Tuna Portuguesa, para não se promover uma escusada inimizade fratricida entre "hermanos", só por causa de uns quantos que se acham reis e senhores da res tvnae a nível mundial e vivem ainda num "franqueirismo bolorento".


Puristas que chegam a criar sites com o intuito único de fazer "caça às bruxas" ou ajustar contas pessoais



Se a tradição tuneril não nasceu por cá (embora surja quase de seguida), a verdade é que a nossa longa tradição (a mais longa em termos de actividade continuada) tem muito a ensinar a esses fundamentalistas.
Tem,  porque foi sempre um fenómeno  que conviveu pacificamente com as suas várias expressões. O que historicamente sempre importou foi diferenciar as tipologias; as tunas/estudantinas académicas (de estudantes) das demais, para isso bastando a designação "Académica", "universitária", "escolar" ou "de liceu".
Sempre foi aceite (são mais de 100 anos de evidência histórica), como noutros países sucedia (e sucede ainda), que "Tuna/Estudantina" era historicamente uma designação de um grupo em função do leque instrumental que o caracterizava.
Nunca houve necessidade de cercear ou constranger outros grupos pelo uso da denominação "Tuna/Estudantina" ou procurar impedir ou desconsiderar tunas/estudantinas não académicas. Para nós bastava, como basta, essa simples distinção.
A preocupação natural dos grupos académicos era que fossem académicos; que os grupos denominados de "universitários" o fossem e que qualquer grupo ostentando a designação "Tuna/Estudantina" possuísse as características históricas desse tipo de agrupamento: o leque instrumental, desde logo.

Não foi preciso arranjar escusas sobre ritos iniciáticos ou quejandos para servir de marca distintiva, porque, afinal, em Portugal, e desde o séc. XIX e até à década de 1980 (tal como em Espanha até 1950), tunas e estudantinas académicas não se definiam pelos ritos (quase inexistentes), como passou a suceder, quando contaminadas pela Praxe ou pelos ritos importados do país vizinho (ritos esses que nasceram poucas décadas antes - a partir dos anos 1950 - e não como tradições seculares como eram "vendidos", ou por cá, romanticamente, interpretados).
Não são os ritos iniciáticos de definem uma tuna estudantil ou universitária. Se os estudantes decidirem não os ter é opção que não condiciona que sejam tuna (como sucedia nas tunas de antanho). Se os estudantes universitários de hoje prescindirem de ter hierarquia e nomes pomposos, não quiserem ser apadrinhados (como tantas aliás não o são), fazer geminações ou baptismos de tuna, preferindo, por exemplo, uma organização mais pragmática (como uma qualquer orquestra onde apenas imperam critérios musicais), isso não significa que a sua tuna universitária seja menos tuna.

Não são os ritos que definem uma tuna como tal. Aliás, desconhece-se alguma cartilha que seja seguida à risca por todas as tunas eleitas como tal pelos "puristas". Todas as tunas procedem ao mesmo baptismo (devidamente regulamentado nas fórmulas e procedimentos, como sucede num baptismo católico)? Todas seguem rigorosa e escrupulosamente os mesmos critérios hierárquicos e o mesmo modus faciendi?
Pode haver uma ideia de algo que é comum e parecido, mas a verdade é que há tantas nuances como tunas.
O que é que, contudo, todas as tunas possuem que historicamente as identifica desde a génese? Os instrumentos que lhes são próprios. E, no caso das tunas académicas, o traje e pandeireta (instrumento iconográfico das tunas estudantis).

Vai já bem longa esta reflexão crítica. Agradece-se, desde já, aos leitores que chegaram aqui ainda acordados, até porque alguns poderão sentir-se algo fora do contexto, mas fique o leitor ciente de uma coisa: sabemos distinguir entre opiniões pessoais e evidências históricas e nunca subordinaremos as segundas em função das primeiras.






sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Haja Bom Censvs


Não é de hoje que a comunidade tuneril se questiona, entre outras coisas, sobre a quantificação da sua expressão.
Há já umas boas 2 décadas que era costume vermos, no sites de tunas, listas de existências que podiam ser apenas nacionais (ora divididas por tipologia ora/e também por distritos) e, até, incluir tunas "estrangeiras", tudo bem arrumadinho com sinalética ou bandeiras, conforme o gosto estético dos webmasters de então.
Com o fim da era dos websites, essas listas quase desapareceram, dado que as novas plataformas escolhidas (por serem gratuitas) não possibilitavam a colocação dessas rubricas (e, também, porque, na verdade, se perdeu o interesse nesse ponto, sempre carente de actualizações). Por outro lado, também, o facto de muitas destas listas apresentarem o nome das tunas hiperligadas a sites que, passado uns tempos, ficavam offline, levou muitas tunas a abandonar a ideia de continuar a apresentar listas de tunas (dado o trabalho ingrato de continuamente ter de estar a alterar).

Há alguns anos a esta parte, contudo, alguns sites, nomeadamente fora de Portugal, voltaram a apresentar listagens de tunas, chegando, inclusive, a designar as mesmas de "Censo" ou, mais longe ainda, pretendendo fazer censos tuneris a nível mundial.
 Não deixa de causar estranheza que haja quem pretenda conseguir fazer um censo mundial de tunas "comme il faut". 



Afirmar que se consegue fazer um censo mundial de tunas com rigor, sem ser a partir de censos nacionais validados, é de uma presunção enorme e, sejamos claros, uma falácia a todos os títulos.

É que a simples tarefa de fazer um censo nacional já é um trabalho que leva muito tempo e exige um conhecimento da realidade nacional que só quem está nesse país pode conseguir (e nunca sozinho), quanto mais recensear as tunas a nível mundial (e pior quando feito à revelia  dos próprios nativos).

A nível nacional, fazer um censo que pretenda, por exemplo, apresentar simplesmente, e dentro de um certo período temporal, as tunas  que existiram (quantas existiam no início desse período, quantas se fundaram a partir daí, quantas se extinguiram....até chegar ao n.º de existências activas, ano a ano, até ao que encerra o estudo), onde e quando ... é algo que se averba difícil e exige mais do que apenas listar existências.

Se o método é abrir inscrições para que cada tuna voluntariamente se registe, então a margem de erro é enorme. Enorme porque não se garante que todas as tunas se inscrevem e muito menos se pode assegurar que não sejam inscritas tunas que nem sequer existam (extintas, inactivas ou mesmo inventadas). Imaginem a margem de erro quando se faz isso para tunas de outro país que não o nosso!
Se é coligir o máximo de tunas, pesquisando em diversas fontes, pois é possível obter-se uma lista de existências, mas apenas e só.
É um começo, mas isso não é propriamente um censo, mas um mero levantamento, pois que haverá que distinguir que tunas estão activas ou não, quando e onde, para, então sim, se tratar de um censo de tunas, mesmo que este "apenas" procure saber quantas, em que período e localidade. A margem de erro continua a ser vasta, se não houver mecanismos e  meios apropriados de validação dos dados obtidos.

E se o tratamento de dados pretender saber outras coisas (n.º de elementos, instrumentos, etc...), então estamos a falar numa tarefa quase impossível, porque muitas tunas não possuem um inventário ou registo histórico detalhado para fornecer, para além das muitas que já não existem e de que se perde o rasto com facilidade (isto para não falar daquelas que não possuem pegada digital).

Portanto, se já é uma tarefa hercúlea recensear tunas num determinado período (os últimos 30 ou 40 anos, por exemplo, para não ir mais longe) e no nosso próprio país, e só, por exemplo, para saber a data de fundação e extinção (se caso disso, porque essencial para determinar se está activa ou não), a sua tipologia (masculina, feminina ou mista) e pertença (instituição e cidade)........... quanto mais fazer tudo para um país que não o nosso e, pasme-se,  a nível mundial.
Se já a um português é tarefa árdua  conseguir esse feito para Portugal, porque de enorme complexidade, quanto mais pretender fazé-lo noutros paises onde, por mais infos de que se disponha ou aceda na Net, não se tem um conhecimento empírico e contactos que possibilitem aferir e verificar com rigor o que nos aparece.

É que, caros leitores, é essencial confirmar cada informação recolhida e não fiar-se no que uma lista, um dado publicado ou uma incrição apresentam. É imperativo, portanto, cruzar dados,  de modo a que a validação seja o mais criteriosa possível e o exercício não seja o de nesciamente somar tunas que aparecem e produzir resultados enfermos de rigor.

Listar um conjunto de tunas e produzir conclusões, baseados unicamente na participação voluntária de quem se inscreve, não é um censo, mas uma sondagem. Ora para satisfazer os requisitos de uma sondagem, basta uma amostra - e serve, portanto, a metodologia que tem por base a participação voluntária a pedido de quem promove a recolha de informação.
Contudo, para satisfazer os requisitos de um censo, tal não é aceitável, porque arrasta consigo uma margem de erro demasiado significativa (ainda mais quando não verificados e confirmados os dados e se tudo se resume a somar tunas inscritas, ou pescadas por aí, e nada mais).

Nada contra a elaboração de listas de tunas, note-se, mas haja algum cuidado na designação, para não induzir em erro ou comprometer quem publica.
Como o dissemos no início, haver listas de tunas é normal e de salutar, mas não passam disso: de listas. Não são levantamentos exaustivos e tratados com o rigor que um censo, por exemplo, exige.
Com efeito, quando confrontados com censos tunantes e com as respectivas listas (quando as há - sim, porque há quem os elabore, mas recuse apresentar mesmo que apenas a lista das tunas - o que por si só "cheira a esturro") a pergunta que se faz, entre outras, é "Estas tunas estão todas activas"? 
Um levantamento estrito de tunas portuguesas produziria mais de 4 centenas delas. Pode-se dizer que há mais de 400 tunas em Portugal? Não, não pode!




Perante um censo de tunas, anunciado como tal, queremos ter a possibilidade de confirmar a veracidade do mesmo (especialmente quando é promovido por alguém que não é uma entidade oficialmente creditada na área), pelo menos confirmar se a nossa tuna consta, se está bem caracterizada (quanto à tipologia), se os dados sobre a mesma (cidade, fundação, extinção...) conferem.
E para isso, meus caros, só com a apresentação pública desses mesmos dados (que não carecem de autorizações legais, porque divulgar o nome de uma tuna, seu ano de fundação e tipologia não é dado sensível, mas público - aqui, na China ou em Marte).

Parece preciosismo, mas a verdade é que há quem depois afirme que no país tal há X tunas e, vai-se a ver e, afinal, esse número está totalmente errado, porque há uma parte delas que já não existe há muito. Ora isso não é um censo, mas um faz de conta dele.
Se o que se pretende é apresentar as tunas existentes num determinado período, há que aplicar filtros, para que estejamos a falar de tunas que efectivamente estão em funcionamento, de modo a diferenciar as que já não estão (quando, onde...).
Para um censo ser um censo a sério, é imperativo que se apresente não apenas o período abarcado, mas todas as nuances ocorridas durante o mesmo (tunas que se fundaram, tunas que deixaram de estar activas ou se extinguiram e as que mantiveram actividade), para se chegar a um número válido para aquele momento. E isso passa, acima de tudo, por apresentar a lista das tunas em causa (nome, ano de fundação, extinção, tipologia e origem).
A isso é que se chama rigor e metodologia, mas, acima de tudo, honestidade intelectual.

É exactamente isso que estranhamos em censos que pretendem quantificar o caso português.
E de nada vale o argumento de que eram os dados disponíveis à época, porque os números dessa época terão de ser sempre os mesmos, se pesquisados 10 ou 100 anos depois (salvo uma margem de erro residual própria a este tipo de estudo).
Um estudo bem feito no ano de 2000 terá forçosamente de revelar os mesmos valores se for feito, sobre o mesmo período, em 2020 (e não haver diferenças significativas que indiciam que alguém andou a fazer contas de "sumir"). 
As 40 tunas activas que existiam nas Galápagos em 1980 (é um mero exemplo), segundo um censo feito em 2012, terão de ser as mesmas 40 activas em 1980, num censo feito em 2050. 
Voltamos a sublinhar: o ónus da prova é a lista de tunas de que o censo trata; uma lista que obrigatoriamente tem de acompanhar a publicação dos dados recenseados.


O que sabemos é que não basta apregoar rigor e metodologia para, na prática, demonstrar a falta disso mesmo.

Não basta dizer que se fez e apresentar uns gráficos e uns números, produzir conclusões e falar-se em índices de crescimento ou decréscimo, quando o leitor não  tem ideia alguma de onde surgiram esses dados, como foram obtidos e tratados.
Se alguém afirmar que a Tuna Y tem 20 elementos, em 1990, e me mostrar a foto desse ano que o atesta (ou outro documento fidedigno), pois eu posso contar quem figura e confirmar.
Se alguém afirmar que a Tuna H, em 1890, tinha 40 elementos, e apresentar artigos de imprensa que o confirmem ou até mesmo um documento autêntico da relação dos nomes desses elementos, posso igualmente conferir.
Mas se alguém afirma que há 500 tunas no Congo e não apresenta as fontes, a lista dessas tunas, que possibilitem a verificação desse dado, então, estamos perante algo que, muito provavelmente, carece de veracidade e, portanto, não tem credibilidade.

Não basta dizer ou afirmar, com pomposa gala, que se fez um grande recenseamento mundial e fazer alarde de grandes feitos censitários que não resistem ao primeiro esgravatar. Egos assentes em pés de barro, cedo o tarde perdem ares.

O termo "censo" é muitas vezes utilizado com o significado prático de "lista de tunas" e não com o sentido científico. Bem o sabemos.
Não é um crime de lesa pátria esse alongamento do sentido "Censo", nem isso mereceu estas linhas.
O que, sim, nos parece forçado, é quem enche o peito com a presunção de fazer censos mundiais, quando nem nacionais consegue fazer, sequer, em condições.

Nada contra quem tem a mania que sabe, se de facto sabe. Com manias podemos nós bem - que todos temos as nossas - mas que o saber seja alicerçado e não construído sobre areia só para polir o espelho de quem cavalga nu por meio mvndi.







sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Teses com Tunas... sem rigor

 Um trabalho publicado na revista "adolesCiência" (Revista Júnior de Investigação) com o título "Fatores que determinam a participação dos estudantes numa Tuna Universitária: um estudo de caso" e no qual, apesar de se socorrer da obra Qvid Tvnae? (que citta algumas vezes), comete um erro crasso: ir buscar uma definição de Tuna que não corresponde, de todo, aos factos históricos documentados e investigados.

No melhor pano cai a nódoa, diz o povo, e com razão.


Já nem pediríamos que fosse usada a definição de Tuna Académica constante em Qvid Tvnae?, mas jamais usar uma definição que é não apenas discriminatória como totalmente falsa, e isto com o argumento de "...por se considerar o mais adequado à realidade tunae."

Mas que realidade Tunae? 

Conhecem, porventura que realidade é essa? 

Sabem os autores que não há apenas tunas universitárias e que nem essas precisam de estar vinculadas a uma instituição de ensino para poderem existir? Não sabem os autores que uma Tuna não precisa de ser boémia para existir e muito menos ter ritos iniciáticos?


Se os autores estão a tratar de uma realidade portuguesa, por que razão foram importar uma definição a um site espanhol; uma definição que supostamente diz respeito apenas aos espanhóis (embora na verdade  até nisso esteja totalmente errada)???

Está documentado, provado e comprovado, que as Tunas não são uma realidade apenas estudantil.

Foi publicada e distribuída gratuitamente, em Novembro passado (2018), uma monografia sobre a Grande Tuna Feminina de Alfredo Mântua. Uma Tuna feminina e civil, em claro confronto com a afirmação proposta ad hoc por Tunae Mundi (que faz, descabidamente, a apologia da Tuna como um exclusivo de universitários).

Se fizeram uso da obra Qvid Tvnae? (já disponibilizada gratuitamente), podem os autores apresentar alguma passagem que afirme que as Tunas são agrupamentos iniciáticos e agregados a uma instituição de ensino, como aspecto definidor de Tuna ou mesmo de Tuna Académica?

Pode parecer "bonito" citar fontes diversas, mas mais importante é aferir das mesmas, confrontando, comparando e/ou (porque não?) pedir opinião a quem sabe (seja no
PortugalTunas, no grupo FB Tunos&Tunas, para não ir mais longe). 


Fica o reparo.