terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O Ano Tuneril de 2020 em revista.

 

Começo este artigo de opinião relembrando as palavras de João Paulo Sousa que, no antigo fórum do PortugalTunas (já lá vai uma boa década), falava na necessidade de um ano sabático de festivais, para separar o trigo do joio  e fomentar uma reflexão mais crítica sobre o(s) caminho(s) que a Tuna estava a seguir.

Nunca se pensou foi que tal viria por força de uma pandemia que deixou o nosso mundo virado do avesso.

Sempre subscrevi, a par com tantos outros, essa ideia que a "festivalite", apesar de trazer ganhos (melhoria global da qualidade musical), também sufocaria um pouco a própria Tuna na sua ligação  à sociedade, e a tornaria demasiado dependente da efémera premiação (afunilando discernimentos e fechando a Tuna sobre si própria).


Este ano de 2020 foi, por força das circunstâncias, um ano que marcará a história da humanidade e, consequentemente, a do fenómeno tuneril.

As Tunas viram-se impossibilitadas quer de festivais, de iniciativas várias, quer do convívio em ensaios e outros contextos.

Há quem veja isso como algo negativo, eu vejo-o como uma oportunidade para mudar as coisas, reflectir e pensar melhor o que se tem vindo a fazer. "Não há males que não venham por bem", diz o ditado, se soubermos, de facto, tirar o melhor partido desta janela de oportunidades que, espero, tenha obrigado muito boa tuna a planear diferente, a planear melhor e, sobretudo, a valorizar o essencial.

Os aspectos negativos desta pandemia são sobejamente conhecidos. Sejam os aspectos do nosso quotidiano, os problemas da nossa economia, questões de emprego (sobretudo da sua perda) e, acima de tudo, as perdas humanas que, mais de perto ou não, nos tocaram.

No mundo tuneril, o maior impacto (mais visível, visto de fora) registou-se sobretudo na questão dos certames. Mas, bem vistas as coisas, também não se perdeu assim tanto, se pensarmos, com honestidade, que as tunas não podem estar dependentes nem resumir a sua existência a tal aspecto (porque se for o caso, então é que não se perdeu mesmo nada, muito pelo contrário).

A maior perda foi sobretudo o contacto inter-pessoal, o convívio, o escape que a Tuna propicia, a possibilidade de desenvolver muitas outras acções e actividades que vão além da cegueira da "festivalite". Nesse ponto, as Tunas, como tudo o resto, sofreram imenso; e mais ainda com a perda irreparável do Paulo Cunha Martins (o "Paulão") da Estudantina Universitária de Coimbra, uma das figuras mais icónicas da nossa comunidade e da história tuneril portuguesa dos últimos 40 anos.

Não esqueço, igualmente, que muitas tunas não puderam comemorar efemérides importantes da sua história (os seus 25 ou 30 anos)[1], algumas com programas ambiciosos e sempre importantes para a preservação da memória, assim como a edição do ENT,, previsto para Braga (e a cargo da Tuna Universitária do Minho).



Mas este ano de 2020 não se quedou por todos esses aspectos negativos e nem tudo foi choro e ranger de dentes.

Durante esta pandemia, floresceram inúmeras iniciativas que mostraram que as Tunas também se sabem reinventar e adaptar, que (algumas) o sabem fazer com criatividade e bom gosto, transformando este tempo numa antecâmara de uma renovada projecção e/ou reconfiguração.

Nestes meses que passaram, assistimos ao recuperar de muitas memórias, com publicação de vídeos e fotos inéditas (sobretudo em Espanha), ao fomento de encontros online que permitiram que, cada tuna (as que o fizeram), desse maior espaço às relações pessoais (sem o constrangimento de um calendário de ensaios e actividades que, por vezes, tolhe esse espaço mais descontraído de diálogo), mas igualmente a "novas" metodologias de trabalho/ensaio, optimizando os actuais recursos tecnológicos.

Em termos nacionais, destacam-se algumas iniciativas impactantes, começando por apontar aos vídeos musicais (as "quadrículas") que muitas tunas foram produzindo (com especial referência ao vídeo da Estudantina de Coimbra - com honras de telejornal) e ajudaram, numa primeira fase, a potenciar a imagem das Tunas.

Também de salientar o documentário "Vontade de Ser - 25 Anos", referente à TUIST (Tuna do Instituto Superior Técnico de Lisboa).

Haveria alguns outros vídeos de interesse, mas seria fastidioso a todos enumerar (mesmo se não são assim tantos, de jeito, que pudessem sê-lo), completando o vasto lote, uma quantidade apreciável de "quadrículas" que nasceram como cogumelos.

Claro está que, a partir de determinada altura, foi pior a cura que a doença, e rapidamente se passou de uma boa dose de Tuna (com excelentes apontamentos) para um enfartamento ad nasea (repetindo a fórmula que, em finais dos anos 90, se registara com a presença algo "anárquica" de tunas na TV) de "musiquinhas aos quadradinhos" algumas sem qualquer filtro crítico de qualidade.

Na verdade, muito daquilo a que assistimos na net, feito com a melhor das intenções (não duvido), redundou num tiro no pé, já que, em muitos casos (não todos, evidentemente), serviu mais como "prova de vida" do que como prova de vitalidade, como se a existência da Tuna dependesse de likes virtuais.

Seja como for, é necessário, também, colocar as coisas em contexto, e o contexto foi propício a tudo isso: a coisas muito boas e ao seu reverso.

Dentro das iniciativas muito boas, temos necessariamente de colocar o trabalho estóico do PortugalTunas que, a partir de finais de Março, estreia o seu canal televisivo no youtube, com emissões regulares do seu famoso programa "Tunices" (a par com o programa "Tuna Portugal"), e sobre o qual já aqui se tinha dado um primeiro eco.

É de se lhe tirar o chapéu e render a justa homenagem aos seus dois timoneiros: Ricardo Tavares (porventura a mais relevante figura tuneril, em Portugal, desde o "boom") e José Rosado (também uma das maiores referências da nossa praça).

O PortugalTunas TV fez o que mais ninguém conseguiu fazer (nem teria, creio, bagagem e saber para fazer), e que foi "entreter-nos" com uma programação de qualidade (mesmo se, amiúde, houvesse uma ou outra emissão menos interessante) que ajudou, até certo ponto, a fazer esquecer a inactividade forçada da comunidade e foi contributo inestimável para a formação e informação.

Tenho necessariamente de destacar a 1.ª temporada, porque a mais concorrida, a que reuniu (por força da disponibilidade existente à época) um casting mais rico e diversificado, e propôs temas mais "sumarentos".


Uma pedra no charco e um anti-depressivo como nenhum outro (chegando a ter, no início, 3 emissões semanais), fruto da qualidade e saber do Tavares e do Rosado (mais tarde secundados por outros colaboradores).

A 2.ª temporada, também por força das circunstâncias, foi, quanto a mim, menos conseguida (há vários motivos que a isso concorrem), mas essencial neste processo de maturação e consolidação de um espaço e formato que marca indelevelmente a história da Tuna.

O "Tunices"[2], e demais rubricas e programas promovidos pelo PortugalTunas TV, é um legado ad aeternvm, constituindo-se, também, como documento histórico incontornável que se pode revisitar no canal em causa.

Só isso bastaria para fazer pender o prato da balança do ano 2020 para o lado positivo.

Similar, mas noutra vertante, tivemos igualmente as emissões, via Facebook, do "Quarentunos em quarentena", promovidas pela Tuna Veterana da Universidade Portucalense, e conduzidas pelo Paulo Saraiva e Adélio Silva, propondo temas mais "inside" (no contexto das quarentunas e tunas de veteranos), e que merecem, também, nota positiva como mais uma alternativa para preencher os dias de confinamento.

Mas, por cá ainda, outras iniciativas tiveram a sua relevância (e não só de mundo virtual se viveu); e embora pontuais, foram, dentro deste tunantesco deserto quaresmal que vivemos, de grande valia (e sê-lo-iam, mesmo sem pandemia): falo de um festival, de um livro e de um CD.

Começo pela edição presencial do XXXIV FITU do Porto, único certame que de facto ocorreu durante a pandemia, em Portugal, e que, com todos os caldos e cautelas (e muitas limitações), teve lugar nos jardins do Palácio de Cristal.

Só o facto de ter sido realizado, é, per si, um feito ímpar, conseguindo aliar uma janela temporal propícia com um trabalho meritório do OUP e da direcção da TUP (e abertura sensata das instituições públicas).

A outra iniciativa foi a da publicação do livro "A Tuna nas Trincheiras da Grande Guerra (1914-1918)" (com download gratuito em Pdf), embora tenha sido algo secundarizado[3], até por quem não devia. Uma obra que aborda um contexto geográfico e histórico até agora inexplorados, trazendo dados e factos inéditos que alargam os horizontes geográficos do fenómeno tuneril.

Já mais no final deste ano, e para terminar, referir o lançamento de um novo trabalho dicográfico da Azeituna, com o CD "Azul", prova da vitalidade que caracteriza o grupo (sendo a Tuna com mais trabalhos editados em Portugal[4]).

A nível internacional, há a destacar, para começar, a publicação, num exemplar, dos n.º 6 e 7 da revista "Legajos de Tuna" (juntando a edição de Dezembro de 2019 com a de Junho de 2020).

Depois, temos o início formal das actividades da associação internacional TUDI (Tunos Decanos de Iberoamérica), com um ciclo de conferências (também disponíveis no seu canal de youtube) que abordaram a história e evolução da Tuna na sua diáspora (a cargo de um painel de tunólogos reconhecidos), mais tarde seguida de um conjunto de emissões de cariz "inside" com a designação "TUDI Live" (sem grande relevância e interesse para o grande público, diga-se, já que de consumo interno dos membros da associação).

Outro feito notável foi o lançamento da obra "História Completa de las Tunas y Estudiantinas de Cataluña, siglos XIX e XX)" de Rafael Asencio González e José Mateo Ycardo. Uma obra com 6 centenas de páginas, tão densa quanto rica e de grande qualidade, que minuciosamente apresenta toda a história do fenómeno naquela região autónoma.

Do outro lado do charco, a Radio Folclor de Chile, levou a cabo algumas emissões dedicadas à Tuna, sob a designação "Tunos de Chile y el mundo", embora sem grande rigor histórico e com narrativas ainda muito contaminadas.

Também na esfera tuneril mundial (hispano-americana, para sermos precisos), muita da actividade passou pelas redes sociais e pela video-conferência, com especial destaque para os "conversatórios/charlas"  e para os encontros/certames (com base em vídeos pré-gravados e editados ou em vídeos já existentes, repescados ao youtube).

Globalmente (e abarcando também Portugal), penso ter sido a opção menos bem conseguida, cuja qualidade foi não apenas discutível, como ainda mais discutível o uso de vídeos já existentes na net como forma de participação.

Mesmo com coisas preparadas, gravadas e editadas para o efeito, perde-se da espontaneidade, de alguma veracidade que a performance presencial implica. Seria quase como fazer um certame com base em discos editados[5].

Há, de facto, aspectos da prática tunante que não são passíveis de formatos online, e não cabe o argumento que "é melhor isso que nada", pois a reboque desse tipo de falácia, promove-se a mediocridade e se banaliza todo o processo (e, contrariamente ao que alguns possam pensar, não massifica nem promove exponencialmente a Tuna junto da sociedade).

Uma "batota" que se compreende, pela necessidade de contornar e dar a volta à situação, mas também expressa a tal dependência de festivais e deixa a pálida imagem que a Tuna quase resume a sua existência a festivais.

O que ficou provado é que muita da vida tuneril passa pela net. Já passava antes, mais passou agora. E é por isso imperativo que se tenha conseguido, neste tempo de "paragem", reflectir seriamente também naquilo que se anda a produzir para consumo, na imagem que se pretende dar por esses meios (revisitáveis e muito mais facilmente "virais"), desde logo apostando num maior critério de qualidade e ponderação sobre vídeos que se colocam na web[6], reflexão aliás aqui já feita (em 2016) e, de certa maneira, reforçada no programa do "Tunices" (com o saudoso Paulão), dedicado à "Tuna nos Media/Internet - Produção de palco nos eventos Tuneris".


Contas feitas, e face aos verdadeiros dramas que esta pandemia causou na sociedade, a vida tuneril ter sofrido este forçado ano sabático é de irrisória monta, pois que, infelizmente, há quem tenha verdadeiras e legítimas razões para se queixar, quem tenha sofrido verdadeiros dramas e perdas irreparáveis, em razão do Covid-19.

Quero acreditar que algum joio tenha finalmente claudicado e que aquilo que é de cepa resista e consiga marcar a diferença; que se faça melhor - ao invés do costumeiro e atabalhoado "mais" ou "muito", de forma a reencaminharmos a Tuna para o essencial, reabilitando o seu prestígio junto da sociedade (que não apenas o nicho de público já afecto).


A toda a comunidade tuneril ficam os votos de um feliz e próspero ano de 2021, cheio de saúde, de alegrias e de uma renovada vitalidade.

 



[1] Embora tenham tido o devido destaque, em várias emissões do "Tunices", já que o PortugalTunas, e muito oportunamente, trouxe a terreiro as tunas que comemoravam os seus 30 anos.

[2] Houve quem quisesse imitar esse tipo de formato, mas sem o know how e a necessária qualidade e elevação que tal iniciativa pressupõe, redundando num fiasco (e por isso não passou das primeiras emissões).

[3] Não mereceu, pelo menos, o devido tratamento e "prime time", quando comparado a outras "parangonas efémeras", quedando-se em mera referência "en volant".

[4] Vd. página Facebook do Museu Fonográfico Tuneril.

[5] Ainda ninguém se lembrou de fazer uma palermice destas: um concurso de discografia.

[6] Que resultam de uma deficiente e pouco cuidada captação e tratamento, contribuindo para uma péssima imagem e publicidade das tunas.

domingo, 1 de novembro de 2020

Livros sobre Tunas (Libros de Tuna)

LIVROS SOBRE TUNAS /LIBROS DE TUNA (de acesso gratuito)

 Eis alguns livros/obras que é possível descarregar gratuitamente e que ajudam a compreender o fenómeno das Tunas/Estudantinas.

(Actualização de Março 2023)



CLIQUE NA IMAGEM DO LIVRO QUE PRETENDE.























sexta-feira, 30 de outubro de 2020

LIVRO: A Tuna nas Trincheiras da Grande Guerra (1914-1918)

 Uma obra inédita que se debruça sobre o fenómeno das Tunas/Estudiantinas que se constituíram nos cenários da frente ocidental da I Guerra Mundial.


DOWNLOAD GRATUITO (Pdf):

https://drive.google.com/file/d/1CEzyMddV2dtXROdC3J00t0BaQuugzLrC/view


DIZEM DO LIVRO:

"Un magnífico estudio que ya había recomendado y ahora vuelvo a hacerlo por su calidad y solvencia investigativa."

Rafael Asencio

"En la gran Historia de la Tuna hay capítulos que ni siquiera seríamos capaces de imaginar. Uno de ellos es precisamente el que recoge en su nuevo libro el gran investigador Jean-Pierre Silva "A Tuna nas trincheras da Grande Guerra (1914-1918)". Trabajo que nos regala en su versión online ¿Quién podría decirnos que la Tuna podría estar relaciona con uno de los acontecimientos más importantes de la humanidad, como fue la Primera Guerra Mundial?"

                                                                Legajos de Tuna (Revista)

"Magnífico trabajo que aporta una visión totalmente distinta de la Tuna y del conflicto."

                                                               Héctor Valle Marcelino




COMPRA DE EXEMPLAR EM PAPEL: 

https://www.euedito.com/a-tuna-nas-trincheiras-da-grande-guerra-1914-1918.html









sábado, 3 de outubro de 2020

Estudiantina "La Palladienne" (Foto e artigo em jornal de 1933)

 Apesar dos estudos já publicado na obra "A França das Estudiantinas" (2019), é sempre importante complementar, a partir das pesquisas que se fazem e dos dados que vão aparecendo.

Um olhar sobre esta Estudiantina "La Palladienne" que herda a experiência de um primeiro grupo, formado em 1866, soba  denominação "Estudiantina Toulousaine" e de um outro (também na cidade de Toulouse), criado em 1895, sob a denominação de "Les Gay Troubadours" (os alegres trovadores).

O artigo parece, contudo, enfermar alguns lapsos, pois afirma que os dois grupos se fundem em 1898, dando lugar à sociedade "La Palladienne" (em honra de um templo romano dedicado a Pallas que outrora existira na cidade), para depois dizer que as origens da Estudiantina "La Palladienne" remontam a 1886 (ano em que a Estudiantina Toulousaine está em actividade - assim permanecendo até aos dias de hoje- pelo que não é possível tratar-se do mesmo grupo).

Tendo em conta que não é inédito, em França, a criação de grupos com o mesmo nome (numa mesma localidade ou localidades diferentes), poderá ser o caso, embora este artigo de 1933 torne confusa a questão (e não estando isento de imprecisões).

O que o artigo também traz é uma foto inédita do grupo e alguns dados sobre as suas proezas artísticas com 38 primeiros prémios em diversos concurso de música, uma foto do maestro e o anúncio de que dará concerto retransmitido na rádio.

Os dados até agora conhecidos, colocam a "Estudiantina La Palladienne" em 1903, não havendo dela rasto antes dessa data nos periódicos e documentos investigados.


La  Dépêche, N.º 23744, 21 de Agosto de 1933, p.6.




segunda-feira, 14 de setembro de 2020

HISTÓRIA COMPLETA DAS TUNAS E ESTUDANTINAS DA CATALUNHA SÉCULOS XIX E XX, de José Mateo Ycardo e Rafael Asencio González "Chencho ".

 HISTÓRIA COMPLETA DAS TUNAS E ESTUDANTINAS DA CATALUNHA SÉCULOS XIX E XX, de José Mateo Ycardo e Rafael Asencio González "Chencho ".

O livro é colocado à venda pelo preço de 30 € mais 7,7€ de despesas de envio para Portugal e Espanha.
Para obtê-lo, poderá contactar: jmateoy@infonegocio.com

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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

À Descoberta da Tuna Portuguesa, Ep. 1 (Conferência)

Embora com problemas de som (dada a distância entre Portugal - emissor e América do Sul - receptor que faz a gravação), procurou-se explicar o mais sucintamente possível em que consistiu a génese e história da Tuna Portuguesa até 1970.

A conferência teve como destinatário o mundo hispano-americano.

Exposição e debate inseridos no ciclo de conferências promovidas por TUDI (Tunos Decanos de Iberoamérica).



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Tunas Portuguesas em Espanha (1890-1962)

 Muitos estarão familiarizados com o facto de Portugal ter sido visitado por estudantinas/tunas espanholas, sobretudo no virar do séc. XIX para o XX.

Também alguns leitores terão ideia de que existiram visitas de estudantinas/tunas portuguesas a Espanha.

É precisamente este último aspecto que aqui relatamos, numa listagem o mais completo possível.

Já existia anteriormente uma listagem deste género (publicada numa web espanhola), contudo imprecisa (e com referências bibliográficas nem sempre correctas ou devidamente completas). Dizemos "imprecisas", porque, como o exige o método científico e o rigor histórico, é imperativo aferir os dados que são detectados e confirmar se efectivamente as tunas se deslocaram aos locais previstos (e não confundir tal com "está a organizar-se uma tuna para ir...", "está prevista a chegada", "chega no próximo dia...", "é esperada a tuna de...", etc) e se a identificação das mesmas está correcta (para não as confundir e erradamente as nomear ou, até, considerar haver 2 tunas diferentes quando se trata da mesma).


Os dados que aqui se apresentam, foram devidamente escrutinados, aferindo se as deslocações tiveram efectivamente lugar ou não passaram de viagens previstas (e anunciadas) que, por alguma razão, acabaram por não se realizar (e há vários casos desses - que alguns, precipitadamente, colocam como facto consumado).

Eis, pois, a lista da presença das Tunas/Estudantinas portuguesas em Espanha, desde o séc. XIX até 1962 (ou seja até antes do luto académico e do posterior "boom tunante" da década de 1980 ).

Poderá (e é muito provável) estar incompleta, pelo que sempre em aberto para actualizações, assim tenhamos dados devidamente documentados que as validem.

Como se notará, a partir da década de 1930, as visitas e tunas a Espanha vão desaparecendo, a que não será alheio o contexto social e político vivido sob o regime do "Estado Novo" (com o cercear de muitas liberdades e do isolacionismo que caracterizou essa prolongada época de ditadura).

Também é evidente que a larga maioria das deslocações é realizada por 3 tunas: TAUC, TUP e TAL, as tunas de cariz universitário com maior prestígio e longevidade nessa época.


1890

Estudantina/Tuna Portuense em Madrid e Salamanca[1].

 

1891

TAUC (Tuna Académica da Universidade de Coimbra) em Salamanca[2].

 

1892

Tuna Académica do Porto em Santiago de Compostela[3].

 

1895

TAL (Tuna Académica de Lisboa) em Madrid[4].

 

1897

Tuna Académica do Porto em Villagarcía e Santiago[5] .

TAL em Vigo e Tuy[6].

 

1898

TAUC em Villagarcía, Pontevedra e Santiago[7].

Tuna Académica do Porto em Salamanca[8].

 

1900

TAUC em Salamanca  e Valladolid[9].

 

1902

Tuna Académica do Porto em Santiago, La Coruña y  Pontevedra[10];

TAUC em Lugo e Orense[11].

TAL em Salamanca e Valladolid[12].

Tuna Académica do Liceu de Évora em Badajoz e Mérida[13].

 

1903

TAL em Valladolid, Pontevedra e Vigo[14]

 

1904

Tuna Académica do Porto em La Coruña, Santiago e Ferrol[15].

 

1905

Tuna Académica do Porto em La Coruña e Santiago[16]; bem como a Córdoba, Salamanca e Sevilla[17].

TAUC em  Santiago, Ferrol e La Coruña[18].

 

1906

TAL em  Madrid[19].

Tuna Académica do Porto em Vigo[20]

Tuna Académica do Liceu da Guarda em Salamanca e Zamora[21].

TAUC em León, Zamora, Salamanca e Valladolid[22].

Tuna Farense (Faro) em Ayamonte[23].

 




1907

Tuna Académica do Porto em Vigo[24].

TAL em Badajoz[25].

Tuna Farense em Higuerita,Huelva, Cádiz y San Fernando (Andaluzia)[26].

 

1908

Tuna Académica do Porto em Salamanca[27].

TAUC na Galiza[28].

TAL em Salamanca e Valladolid[29].

 

1909

Tuna Aacdémica do Porto em Ferrol[30].

TAL em Salamanca e Valladolid[31].

 

1911

TAUC em Cuidad Rodrigo, Valladolid, Salamanca, Zamora e Badajoz[32].

 

1913

Tuna Académica do Porto em Tuy e La Coruña[33].

 

1923

Tuna Universitaria do Porto em Madrid[34].

TAUC em Valladolid e Madrid[35].

 

1924

Tuna da Escola Politécnica do Porto na Galiza[36].

Tuna Universitaria do Porto em Santiago, La Coruña[37] e Madrid[38].

Tuna da Universidade de Lisboa (será a TAL) em Madrid[39].

 

1925

TAUC em Sevilla, Huelva e Cádiz[40]

 

1926

TAUC em Santiago e Orense[41].

 

1927

TAUC em San Sebastián[42], Valladolid[43] e Bilbao[44]; bem como em  Santander e Salamanca[45] 

 

1928

Tuna Universitaria do Porto em Valladolid, Reus, Tarragona,  Barcelona e Zaragoza[46].

 

1929

Tuna Universitaria do Porto em La Coruña

TAL em Valladolid[47].

 

1930

 TAUC em Vigo[48]

 

1931

TAUC em Orense y Santiago de Compostela[49].

 

1962

TAUC no Certame de Tunas de Oviedo[50].






[4] La Iberia, Año XLII, N.º 14.378, 29 de Dezembro de1895, p. 3; Defensor do Povo, 1.º Ano, N.º 69, de 26 de Dezembro de 1895, p.2.; La Correspondencia de España, Ano XLVI, N.º 13840, de 28 de Dezembro de 1895, p. 1 e N.º 13841, de 29 de Dezembro de 1895, p. 3.; Defensor do Povo, 1.º Ano, N.º 73, de 09 de Janeiro de 1896, p.2.

[6] DN, 43.º Ano, n.º 14.812, 18 de Fevereiro de 1907, p. 3.

[7] Resistência (Coimbra), Ano III, N.º 312, de 17 de Fevereiro de 1897, p.2.; A Liberdade (Viseu), 18 Fevereiro 1898, Ano XXVIII, N.º 1699.; NASCIMENTO e NASCIMENTO – Estudantes de Coimbra em Orquestra: TAUC (1888-1913),  2010, p. 101; Resistência (Coimbra), Ano III, N.º 316, de 03 de Março de 1897, p.2.

[11] Resistência (Coimbra), Ano VIII, N.º 686, de 03 de Abril de 1902, p.2 e N.º 688, de 10 de Abril de 1902, p.3.

[13] ZACARIAS, Adília & MENDES, Isilda Mourato - Tuna Académica do Liceu de Évora - 100 Anos, história e tradições. Évora, TALE, 2012; La Correspondencia de España, Ano liii, n.º 16.391, 23 de Dezembro de 1902, p. 2.; El Imparcial, Ano xxxvi, n.º 12.830, 23 de Dezembro de 1902, p. 4; Correio Nacional, Ano XI, N.º 3230, de 15 de Dezembro de 1903, p.1.

[18] Resistência (Coimbra), Ano X, N.º 981, de 19 de Fevereiro de 1905, p.2 e N.º 982, de 23 de Fevereiro de 1905, p.3.

[21] El Lábaro, xxvi Ano, n.º 8.662, 6 de Fevereiro de 1906.; El Adelanto, 17 de Fevereiro de 1909, p. 1; El Lábaro, 21 Fevereiro de1906, p. 4; El Lábaro, Año X, N.º 2714, de 26 de Fevereiro de 1906, p. 3; La Época. Ano lviii, n.º 19.961, 26 de Fevereiro de 1906, p. 4; El Lábaro, Ano X, N.º 2716, de 28 de Fevereiro de 1906, p. 2.

[24] Diário de Notícias, 43.º Ano, N.º 14.807, de 12 de Fevereiro de 1907, p. 4 e El País (Madrid), Ano XXI, N.º 7129, de 11 de Fevereiro de 1907, p.5.

[28] Qvid Tvnae (2012).

[32] Qvid Tvnae (2012)

[34] El Sol (Madrid), Ano VII, N.º 1779, de 22 de Abril de 1923, p.2 refere que, em Maio, esteve o orfeão do Porto (e, muito provavelmente, supomos, a Tuna); El Orzán, Ano VI, N.º 1552, de 20 de Abril de 1923, p.1.

[35] Gazeta de Coimbra, N.º 898, II Série, 5 Maio 1923, p. 556., La Época, Ano LXXV, N.º 25985, de 10 de Abril de 1923, p.1., La Libertad (Madrid), Ano V, N.º 1048, de 11 de Abril de 1923, p.4.,  e em vários clichés, constantes no Museo Internacional del Estudiante. A TAUC deixou dívidas em Valladolid que foram pagas pelo Cônsul.

[38] SÉRGIO, Octávio - FONSECA, Élio. Blogue Guitarras de Coimbra (Parte II); artigo de 21 de Setembro de 2008. Consulta de 17 de Setembro de 2009.; Revista ORFEÃO, N.º Único do 45.º Aniversário da Fundação do Orfeão Académico e 20.º do Orfeão Universitário do Porto. OUP, Abril de 1957, p.8.

[40] O Algarve, 17.º Ano, N.º 879, de 08 de Fevereiro de 1925, p.2; Diário de Cádiz, 18-02-1925, p.3; ABC, Año XXI, N.º 6906 de 19 de Fevereiro de 1925, p.1 e p.21; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e La Voz (Madrid), Año VI, N.º 1353, de 19-02-1925, p.2; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e La Voz (Madrid), Año VI, N.º 1353, de 19-02-1925, p.2; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e 4; Diário de Cádiz, 20-02-1925, p.2 e 3; Diário de Cádiz, 21-02-1925, p.2.; El Noticiero Gaditano,Año VII, N.º 1932, de 16-02-1925, p.1.; El Sol, Año IX, N.º 2353, de 21-02-1925, p.8.; El Imparcial, Año LIX, N.º 20313, de 18-02-1925, p.5.;

[47] Imagem da revista Nuevo Mundo, de 29 de Abril de 1909 [Acervo pessoal de Jean-Pierre Silva].

[49] El Orzán, Año XIII, N.º 3539, de 19 de Fevereiro de 1931, p.2

[50] Existe cliché do grupo, tirado na viagem de regresso (entre Cuidad Rodrigo e Vilar Formoso), publicado no Blogue Guitarra de Coimbra V; artigo de 13-11-2013