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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

ENTretanto, fala-se numa edição em 2020


Fala-se, ainda quase como que "boato", do regresso do ENT (Encontro Nacional de Tunos) para este ano de 2020, ainda sem saber quando nem onde.
O ENT, como sabemos, teve a sua primeira edição em Évora, em 2003 e, daí em diante, outras 8 edições tiveram lugar, tendo a última sido o IX ENT, em Vila Real, em 2013.

O ENT, salvo o ano de 2008 e 2012 (em que não houve edição), foi anual, tendo percorrido quase todo o território continental (e com duas edições sucessivas, em 2010 e 2011, em Bragança), de norte a sul e do litoral para o interior.
Mas ficaram algumas academias de relevo sem serem visitadas (o caso mais evidente será o Porto).
De 2013 até agora passaram-se 7 anos sem qualquer edição (algumas boas intenções houve, mas que não passaram disso).

Se agora teremos uma edição, é de se louvar. Louvar a coragem e o empreendedorismo de quem decide prestar este verdadeiro serviço público à comunidade, mesmo se a larga maioria da mesma passa ao lado.


Razões haverá para que este não seja um evento muito participado nem algo que as tunas mostrem especial vontade em organizar. Bem sabemos que não dá prémios e bem sabemos que a busca por informação e formação é ainda cultura muito pouco desenvolvida. E, para debater, a maioria prefere passar adiante ou ficar-se pelo cómodo teclado de casa. É a costumeira "Lei de Murphy". O ENT nunca foi para massas, mas para quem de facto quer pensar, quer saber e reconhece o valor da reflexão crítica daquilo que se faz.

Ao longo das 9 edições do ENT, pouco ou nada ficou por discutir, sendo que uma das enormes virtudes do ENT foi precisamente acompanhar a actualidade (trazendo para o debate o que estava na ordem do dia das preocupações da comunidade - como o caso das praxes Vs Tunas, por exemplo) e permitir o estabelecer de contactos e a partilha de experiências que enriqueceram quem esteve.

Passados todos estes anos, o que há, afinal, para preencher um programa de um ENT em 2020?



Nem que seja de cor, creio que todos podemos dizer que, em 7 anos, há certamente muita coisa que aconteceu e merece análise, debate, partilha, reflexão.

Assim que me lembre (e a maioria a serem tratados por 2, 3 intervenientes ao mesmo tempo, em jeito de conversa, evitando, tanto quanto possível, palestras a solo):

- A Tuna na Web (Plataformas informativas e formativas[1], as páginas de FB das Tunas, a qualidade do que é posto no youtube[2], o streaming de festivais, as tendências e hábitos da comunidade na web);

- A investigação e o conhecimento (o estado da investigação/conhecimento, o que tem sido publicado, as dificuldades, o feed-back do que é publicado[3]....);

- A produção fonográfica (aproveitando, por exemplo, o trabalho do Museu Fonográfico Tuneril), evolução, problemas encontrados, divulgação, preservação da memória....;

- O estado da nação tuneril em termos estatísticos/sociais (aproveitando a obra Qvot Tvnas e o II Censo do PortugalTunas), desde o "boom" dos anos 1980 (tipologia dos grupos, vigência, dificuldades que hoje se apresentam...).

Mas outras questões prementes merecem igualmente atenção (englobando algumas das supra-referidas) que se prendem, por exemplo, com a imagem da Tuna (e do que é) que hoje temos:

- Identidade "Tuna", como questão da definição balizadora que, depois, infere em critérios musicais nos certames, em cartazes de festivais onde se vai perdendo a iconografia identitária, o desconhecimento/receio que leva à ausência de um pequeno historial do fenómeno nas páginas das tunas (antes existia, mas cheios de erros; agora há alguns, mas em páginas que nem sequer são de tunas - e também com erros)[4], a instrumentação utilizada (os abusos/desvios).
A ainda existente relação entre algumas tunas e as praxes (que levam a questões de nomenclatura, de praxes internas e, até, de traje - proibidos a caloiros, que ou originam problemas graves ou levam os grupos a práticas pouco consentâneas[5]);


Claro está que o leitor atento e informado logo pensará que um dos problemas inerentes ao ENT é que grande parte da produção de conteúdos, sobre os quais assenta este tipo de eventos, sai da lavra "sempre dos mesmos", mas é algo que não pode ser imputada a esses mesmos "de sempre" se, afinal, são os poucos que se dedicam a outras vertentes do mester tuneril.
Não há lugares reservados para quem quer trabalhar. Portanto, quem não se chega, não pode depois queixar-se de quem o faz. Ainda assim, há sempre gente nova que aparece com bons contributos (lembro-me, assim, de repente, do Daniel Sousa e do Rui Marques, com trabalhos académicos sobre Tunas) e a quem deve ser dada a oportunidade de partilhar e enriquecer-nos.


Volto a reiterar, na minha óptica, que é de se evitar palestras a solo (salvo se excepcionalmente pertinente), mas antes optar por um modelo  em jeito de painel, pois é muito mais interessante para o público seguir uma conversa onde a diversidade  e os ritmos de vários interlocutores evitam a monotonia e garante não se colocar sempre o tom em monocórdicas exposições.

Outra questão muito debatida, noutros tempos, era a pertinência dos "ateliers", que acabaram sendo considerados, e bem a meu ver, como algo de que pouco se retirava, sendo antes preferível o convívio tertuliar que prolongava os temas das palestras para fora do auditório (e não se confinava a ser mero pretexto para uma "borga" descomprometida).

E sublinho, para terminar, essa mais-valia do convívio que o ENT também proporciona(ava), muito para além do imediatismo de beber uns copos e tocar informalmente umas modas (para festinhas não há pachorra).
Se num certame não temos como escolher as pessoas com quem vamos estar (porque cada organização convida as tunas que bem quer), já o ENT permite uma maior escolha e disponibilidade para estarmos com as pessoas, sem stress de ter de afinar, de reunir Magister(s), de fazer check-sound, de ensaiar uma última vez........
O ENT não dá prémios (que são vaidades efémeras), mas dá outras coisas porventura bem mais importantes e perenes.






[1] O PortugalTunas, os blogues, sites dedicados à informação/formação - o que oferecem, as dificuldades, as críticas, o trabalho por detrás dessas páginas.....
[2] Que pode abordar o estado qualitativo do que se faz nas Tunas.
[3] Não apenas livros, mas também teses de mestrado e doutoramento.
[4] Significa que os protagonistas, também com dever de promoção e defesa da identidade, se demitem dessa tarefa
[5] Equivocadas sobre o que é Tradição, o que é próprio, resultante de desconhecerem o porquê das coisas (em matéria de praxe como de Tuna).

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Panegírico a Ricardo Tavares

Não deve haver, no meio tuneril português, pelo menos, quem não conheça o Tavares, Ricardo Tavares, o nosso estimado "Sabanda".
Personagem singular pelo seu percurso ímpar no meio tuneril português, faz parte daquele punhado de tunos que perpassa gerações e cujo percurso tunante é ele próprio património tunesco nacional.

Foi fundador da TAULP, com a qual gravou “TAULP” (1993) e “Luar da Ribeira” (2000), com alguns temas da sua lavra, estando igualmente na organização das 12 primeiras edições do certame da referida Tuna.

Produtor e apresentador do primeiro programa radiofónico inteiramente dedicado a Tunas, "Noite de Tunas"(anos 90), é  Templarium Honoris Causa da Tuna Templária de Tomar e Tuno de Honra da Tuna Universitária de Beja, tendo recebido, igualmente, a beca da Tuna de Direito de Oviedo, da Tuna de Ingenieros de Telecomunicación de Valência e da Tuna Cautitlan (México).

Em 2003, cria, em co-autoria com o José Rosado e Hélder Passos, o PortugalTunas, administrando o portal desde essa altura até hoje e, assim, imprimindo, com igual destaque e qualidade, o seu nome no mundo digital  - participação que se tornará reforçada através dos seus escritos nos blogues “As Minhas Aventuras naTunolândia” e “Portvscale Tvnae”, dedicados ao fenómeno tunante, onde, uma vez mais, espelha a mestria com que esgrima argumentos e faculta ao leitor as pistas para melhor perceber e entender o que é isso de Tunas.


Em 2005 funda a Tuna do Distrito Universitário do Porto, tornando-se no seu 1.º Magister e comprovando, com esse projecto de sucesso, toda a competência e saber que lhe são inteiramente reconhecidos em Portugal e além fronteiras. Aliás, e sem desprimor para nenhum dos demais elementos fundadores da TDUP que com ele edificaram esse projecto, não há como negar que grande parte desse brilho emana das qualidades humanas e tunantes emprestadas por Ricardo Tavares (conhecido igualmente no meio tuneril como "Sabanda"), cujo recente CD , com título homónimo, (lançado a 31 de Outubro), bem como o projecto do seu 1º festival, o "Vintage", evidenciam, também, o seu toque de Midas.

Resultado desse reconhecimento como homem que sabe destas coisas de Tunas como poucos, foi orador convidado para o II, III, IV, VI e VIII e IX ENT, e integrou diversos júris em certames por todo país (assinalando-se que muitos dos regulamentos hoje utilizados nos certames derivam daquele que ele lavrou há uns anos largos).

Membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante, consagrou, em co-autoria com Eduardo Coelho, João Paulo Sousa e comigo próprio, todo esse património vivenciado e investigado, na, até agora, única obra de referência sobre Tunas em Portugal, "QVID TVNAE? A Tuna Estudantil emPortugal", editada em 2011-12.
Mais recentemente, torna-se membro colaborador da associação internacional "TVNAE MVNDI".

Também aqui, o papel pedagógico que teve ao longo de anos revela a têmpera de quem tem um olhar arguto, holístico e perspicaz do fenómeno tunante e nunca se coibiu de riscar a direito onde tantos preferiram o nacional-porreirismo dos riscos enviesados ou oportunas borrachas.

Um currículo invejável que demonstra enorme versatilidade e uma preocupação em conhecer e perceber o que se pratica e faz, precisamente para fazer bem e, consequentemente, bem fazer.
Não tenho de todo de ser isento, até porque nem é preciso: a obra fala pro si própria, mas não posso deixar de acrescentar que faz parte daquele círculo muito restrito de fraternos e fiéis amigos que só elegemos face a pessoas muito especiais.




Esta minha homenagem certamente que pecará por defeito, mas importa que se faça, para memória futura (e porque as homenagens se fazem em vida), para que se perceba da grandeza e importância que este grande Tuno tem na história recente da Tuna em Portugal, porque falar de Tunas em Portugal é falar de Ricardo Tavares, é falar de uma personagem a quem muito deve a defesa da Tuna como património a (re)descobrir e a promover na sua genuína tradição.

Num país onde todos só são consensualmente bons depois da morte, fica esta homenagem merecida e o reconhecimento devido, em vida, por mais que isso possa melindrar os que são pouco dados a respeitarem e reconhecerem a grandeza alheia, em razão da sua miopia de carácter.

Hoje, Ricardo Tavares está retirado da vida mais activa dos palcos, mas com novos projectos tunantes, sem esquecer que continua a investigar e a pensar a Tuna (actividades que fazem igualmente parte do magistério tunante).

Saúde, caro amigo!