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sábado, 15 de outubro de 2016

Uma foto da TAUC no Brasil, 1925


Trazemos a terreiro uma foto, até agora desconhecida para nós, da presença da Tuna Académica da Universidade de Coimbra em São Paulo (Brasil), em 1925.


A sociedade paulistana reunida junto ao coreto do Jardim da Luz, ouvindo tocar a TAUC, em 1925


Fonte: OHTAKE, Ricardo e DIAS, Carlos - Jardim da Luz, Um Museu a Céu Aberto. Senac São Paulo / Edições Sesc SP, 2011.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS


Se em anterior artigo tratámos de pré-existências de cariz popular, desta feita tratamos de evidências estudantis anteriores às já detectadas em "Qvid Tvnae?", que vêm confirmar o que a citada obra já indicava.
Com efeito, se podemos apontar, grosso modo, o ano de 1888 como o que marca a institucionalização da Tuna estudantil em Portugal, já bem antes se registava a existência de grupos deste género, quer de cariz popular quer académico.
No anterior artigo refere-se a existência de uma estudantina de académicos da UC por volta de 1868-69, confirmando que, tal como no país vizinho, estes agrupamentos (por vezes com designações diversas: troupes, academias....) eram de natureza volátil (com especial actividade no carnaval, desmobilizando-se depois), mas bem mais comuns do que se julgava.

Damos à estampa alguns dados, que o blogue Guitarra de Coimbra V publicou em primeira mão sobre o assunto, com evidências documentais preciosas.


"Realiza-se hoje neste teatro o espetáculo anunciado a favor das vítimas andaluzas. O programa não pode ser mais atraente: concerto de bandolins pela estudantina académica do sr. Jayme de Abreu[1]; a comédia em três atos "Os músicos"; concerto de guitarras[2]; e recitação de poesias por Ferreira da Silva, Pinto da Rocha[3] e Eugénio de Castro." [4]

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 12 Janeiro 2016.


"Notícia de uma estudantina de escolares da UC, de existência efémera, que em setembro/outubro de 1884 saiu de Coimbra para o Minho e desceu em jornadas pedestres até ao Algarve. O diário de viagem, com anotações e desenhos seria um documento de inestimável valor. Será que se encontra esquecido no meio de papeis de algum dos herdeiros?
Além de organizar caçadas e peditórios, este grupo fazia serenatas e organizava entradas musicais nas terras visitadas, com momentos de canto e teatralizações (dança em coluna/círculo/cadeia, diálogos recitados e cantados, crítica social e ditos cómicos).
Não se pode afirmar que tenha havido uma relação direta entre este tipo de estudantinas portuguesas/espanholas e os grupos de populares que ainda hoje se organizam pelo carnaval no Baixo Alentejo (Amareleja, Barrancos), alvo dos estudos da antropóloga Dulce Simões. Mas a colocação dessa hipótese não é descabida. Esta estudantina de 1884 deve ter deixado fortes marcas no imaginário."


Correspondência de Coimbra, n.º 73, 3.ª feira, 16.09.1884
(pesquisa de José Nascimento)
Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 19 de Abril 2016




"Notícia de imprensa sobre as estudantinas de escolares que entre março e junho animavam as ruas da alta de Coimbra trazendo às janelas e varandas muitos curiosos. A febre das estudantinas serenateiras vinha de trás mas foi incrementada no primeiro semestre de 1880 devido à programação associada ao tricentenário de Camões que em junho desse ano foi jubilosamente celebrado. Em janeiro de 1880 tinha sido constituída uma comissão de estudantes, presidida por A. Henriques da Silva, de que era relator o músico, compositor, estudante de Direito e regente do Orfeon Academico João Marcelino Arroyo. Em março já estava devidamente ensaiada e pronta a começar as rondas pela alta (quando parasse de chover) uma estudantina de guitarras, violas de arame, violões, rabecas e flautas e violoncelos. Alguns dos instrumentistas agregados a este formação primaveril eram os guitarristas José Júlio de Oliveira, Calheiros (?), Matos Silva e Campos (?).
Uma destas estudantinas tinha cerca de quarenta instrumentistas (alguns dos quais asseguravam vozes e coros), exibia guitarras, violões, violas de arame, flautas, rabecas e violoncelos e era regida por um "Sr. Guerra"[5], cuja identificação não conseguimos apurar. Esta estudantina era iluminada por archotes, fazia paragens para interpretar repertório instrumental e canções de homenagem às portas das autoridades locais e levava por junto cerca de duzentos curiosos.
Algumas destas formações participaram na serenata fluvial que em 26 de maio encheu o Mondego com músicas, bandeirolas multicolores e balões venezianos."



 O Tribuno Popular, n.º 2531, de 12.05.1880

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 27 de Março 2016







[1] Jayme de Abreu, mais conhecido por Jayme Peralta ou Jayme da guitarra, natural de Fornos de Algodres, fez em Coimbra o liceu e a Faculdade de Direito/UC. Executante de bandolim e de guitarra, cantor de fados e serenateiro. Manteve durante a década de 1880 a direção de uma estudantina com a qual deu concertos e serenatas de rua. O seu estilo performativo foi imitado por Augusto Hylario.
[2] Instrumentistas não identificados. Nas décadas de 1880-1890 os grupos de guitarras de concerto incluíam frequentemente três a quatro guitarras com diferentes tamanhos e encordoamentos e um número variável de violas francesas.
[3] Artur Pinto da Rocha, estudante jurista natural do Brasil, viveu longos anos em Coimbra, tendo-se repartido por múltiplas atividades. Foi presidente do primeiro Orpheon (dado a verificar) e da TAUC, ator amador no Teatro Académico, membro da Sociedade Filantrópica e declamador. Regressou em Brasil onde exerceu atividade forense e onde recebeu a sua TAUC no verão de 1925.
[4] O Tribuno Popular, n.º 3021, de 28 de Janeiro de 1885
[5] Admitindo que era estudante, nos livros de matrículas referentes ao ano letivo de 1880-1881 encontra-se Silvano Alberto Gomes GUERRA, natural de Valongo de Milhais, concelho de Murça, distrito de Vila Real, a frequentar o 3.º ano da FD/UC, que talvez possa ser o nosso regente. Agradecemos ao Adamo Caetano mais esta colaboração.

sábado, 11 de julho de 2015

A TAUC quanto ao ano da sua fundação


A confusa data da fundação da TAUC.

Nota: este artigo tem actualizações importantes de 03 de Janeiro de 2020, onde também se deve considerar o recente artigo produzido (ver AQUI)

Tem ocorrido, ao longo de anos, um possível equívoco no que concerne à ideia milhares de vezes repetida de que a TAUC foi fundada em 1888.

Nada me move contra a TAUC, fique claro. É uma instituição que muito respeito e admiro.
Contudo, como investigador e curioso do fenómeno tunante, de há 2 décadas a esta parte, foi aquando da investigação e publicação da obra "QVID TVNAE" que tropecei (conjuntamente com os co-autores) em dados que não coincidiam com a versão corrente e amplamente divulgada e que, por isso, necessitavam de revisão e investigação mais aprofundadas (sempre em aberto, note-se).

Vamos lá, então.


Ao contrário do que é propalado, a TAUC não terá nascido, como tal, em 1888, mas alguns anos mais tarde, quando se apresenta formalmente sob a designação TAUC, depois de a antiga Estudantina se ter extinto, fruto, muito plausivelmente, de uma cisão por parte de elementos que quereriam livrar-se daqueles que não fossem estudantes/universitários.
Com efeito, ao que tudo indica, a Estudantina de Coimbra, fundada em 1888, extingue-se abruptamente em 1890, tendo sido a sua última aparição formal em Junho de 1890, por ocasião do casamento de um dos seus principais dinamizadores e primeiro presidente, Artur Pinto da Rocha (que foi um dos fundadores da AAC em 1887).

Houve, em 1891, uma tentativa de ressurgimento da "tuna":

" Corria o ano de 1891 e o boémio Jayme Leal fazia despertar num grupo de rapazes alegres e joviais a simpática ideia da formação de uma Tuna exclusivamente composta de académicos. Esta ideia foi recebida com as mais vivas manifestações de júbilo e entusiasmo por todos os estudantes de Coimbra, e não levou muito tempo a converter-se em realidade. Dentro em breve a Tuna estava fundada, e de dia para dia sentia engrandecer-se por um selecto conjunto de aptidões, que no seu seio se aperfeiçoavam e desenvolviam. "[1]

Nada se sabe, à data, de que tal empreendimento tenha ido avante (mais à frente voltaremos a este ano de 1891, com mais dados), mas note-se a passagem: "... a simpática ideia da formação de uma Tuna exclusivamente composta de académicos.", o que reforça a ideia, já acima avançada, de que se pretendia, na época, algo totalmente diferente da Estudantina de 1888: um grupo só de estudantes, preferencialmente universitários.
O mesmo com "Dentro em breve estava fundada..." o que sempre é diferente de "refundada" ou "reorganizada".

Tal está bem explicado na obra "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal" (pp.173-175), a qual também tem por referência a obra dos irmãos Nascimento, "Estudantes de Coimbra em Orquestra - TAUC - 1888-1913" (pp.37-45).
A verdade é que tem sido algo complicado desfazer este imbróglio, por me parecer ter havido, ao longo de anos, uma espécie de "recalendarização", motivada, porventura, pelo desejo de conferir antiguidade, muitas vezes mais com base na interpretação que mais jeito dava dos factos, como sucede a muitas tunas académicas da época do "boom" dos anos 80-90.

Veja-se, a título de exemplo, que o Notícias de Coimbra de 1940[2]  refere, na página 5, que a TAUC irá festejar os seu 50º aniversário, colocando a fundação não em 1888 mas em 1890 (o ano em que precisamente se terá extinto)!!!
António José Soares, em "Saudades de Coimbra, 1934-1949 (Vol. III)"[3]  também refere festejos do 50º aniversário da TAUC ocorrido em Abril de 1940, e que teve participação dos, então, actuais e antigos tunos em sarau promovido no Teatro Avenida.




 
Estranha-se tal, dado que estes informes colidem quer com a ideia da fundação em 1888, quer com as provas documentais que parecem apontar para 1894.
Concedendo, até, que o 50.º aniversário só tenha sido possível ser celebrado no ano seguinte ao que era suposto, não bate certo com 1888.

O ano de 1890 seria precisamente o último ano de actividade da Estudantina de Coimbra, fundada 2 anos antes, pelo que parece haver aqui alguma confusão ao colocar a fundação do grupo no seu último ano de actividade. Esta flutuabilidade de datas reforça a ideia de que, nos anos 40, já se andava "aos papéis" por falta de confirmação dos papéis (leia-se fontes fidedignas e documentais).
Por que razão, os tunos da TAUC, em 1940, apontaram para o ano de 1890?
Em rigor, não sabemos.

O que sabemos é que nos anos de 1891,1892 e 1893 não há, que saibamos, notícia de qualquer actividade ou existência da Estudantina de Coimbra (salvo uma fugaz referência tunante em 1891, e outra em 1892 - que adiante se tratará, e se explicará).
Até prova em contrário, impera o que é lógico: a Estudantina de Coimbra parece ser algo diferente e díspar da TAUC, por mais que esta última se tenha, a partir de determinada altura, assumido herdeira do grupo fundado em 1888 (e a que terá ajudado o facto de, na linguagem comum da época e dos jornais, este tipo de agrupamentos receber tanto a designação de estudantina como tuna, de forma indistinta e, muitas vezes, concomitante).

O que se pode afiançar, com segurança, é que a TAUC, com a estrutura e organização que até hoje foi perdurando, é um organismo que terá surgido apenas em 1894 e que o fez precisamente de forma distinta da experiência da anterior Estudantina (designação não retomada e que evidencia o corte e natureza díspar do grupo).
Isso se comprovará, documentalmente, um pouco mais à frente.


Desenho do maestro Simões Barbas assinada por Rafael Bordalo Pinheiro.
In A Paródia n.º 29, de 01 de Agosto de 1900.



Quando a TAUC é fundada, apenas o seu regente e uma peça do seu repertório (o Hino Académico[4]) "transitaram" da antiga estudantina, a par com o estandarte (reutilização do mesmo que existia em 1888, conforme cliché da época o atesta).

"18 de Março – “Conta já mais de 60 executantes a tuna académica que nesta cidade vai constituir-se, de cuja regência se encarregou o laureado maestro dr. Simões Barbas.
Os ensaios começarão activamente depois das férias de Páscoa numa casa que o sr. Reitor da Universidade tenciona ceder para esse fim.”[5]

Como se pode ler, não se fala em reconstituir, refundar, reorganizar, mas constituir.


Recentemente, fomos encontrar notícia de uma Estudiantina de Coimbra em Salamanca (Espanha), em Abril de 1891 a qual era regida por Simões Barbas. 
O periódico espanhol não dá outros detalhes nem encontrámos, na nossa investigação a outros jornais do país vizinho, referências a esta notícia. Disso demos conta em artigo que pode ver AQUI. 


De 1892, temos um dado curioso que indica a estar a organizar-se  uma Tuna, dirigida por Simões Barbas, expressamente criada (ao que tudo indica) para uma récita em Viseu (e se desfaria em seguida, como era comum).

Commercio do Minho, 20.º Ano, N.º 2946, de 29 de Novembro de 1892, p. 2.


O Defensor do Povo, Ano I, N.º 39 de 01 de Dezembro de 1892, p.3.



O Povo de Aveiro, Ano XI, N.º 588, de 04 de Dezembro de 1892, p. 2.


Neste caso, não encontrámos, à data, nos periódicos viseenses, qualquer notícia dessa idealizada passagem por Viseu de uma estudantina/tuna de Coimbra, o que também leva a crer que tal iniciativa acabou por não ir adiante.

Nota: Num artigo publicado no jornal viseense "A Liberdade", datado de 31 de Janeiro de 1893, fala-se no desejo de ida a Viseu (sem referir quando), da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, juntamente com alguns outros estudantes, entre os quais Augusto Hilário, para representar "comedias e scenas comicas". Mas, também aqui, não se encontrou, posteriormente, qualquer artigo a referir tal deslocação ou realização do espectáculo.

O que o leitor facilmente intuirá é que se trata, a terem existido, da formação de grupos efémeros, os quais duraram o tempo do propósito para que foram criados, desfazendo-se em seguida - tal como nos confirmam vários artigos de 1893 e 1894 que a seguir apresentamos. 
Uma coisa é estar-se a organizar (com ensaios e tudo o mais) e outra bem diferente é aparecer e actuar em público (que é o único modo de atestar a existência formal de um grupo).

Do ano de 1893, temos 2 artigos que referem uma nova tuna em formação (e que se estreia em 1894), distinguindo-a de quaisquer outras do género formadas anteriormente.



O Defensor do Povo, Ano II, N.º 147, de 14 de Dezembro de 1893, p.2.


O Defensor do Povo, Ano II, N.º 149, de 21 de Dezembro de 1893, p.2.

Note-se a referência explícita que coloca este novo grupo como algo díspar de quaisquer outros anteriores, tal como temos indicação de que Simões Barbas estava habituado a dirigir tunas (e não apenas a Estudantina de 1888), significando, pois, que teria dirigido (ou tentado dirigir) outros grupos do género - os tais antes citados de 1891 e 1892 (ou mesmo 1893), mas que não terão passado de malogradas tentativas de voltar a ter uma tuna académica, com carácter mais permanente e institucionalizado, na Universidade de Coimbra.
 
Mas revela-se de pormaior importância a passagem que diz "...em nada será inferior á que se fundou ha cinco annos, e que tão agradaveis recordações nos deixou, na sua quasi ephemera duração".
Em 1893, portanto, estava-se a tentar formar uma nova tuna, em nada inferor há que formara 5 anos antes, ou seja em 1888. 
Não parece haver espaço para dúvidas.

Atente-se, uma vez mais, ao que é referido pelo seguinte artigo, datado de Março de 1894, onde não se menciona qualquer refundação, reactivação reorganização ou um retomar da actividade após interregno, mas de "...organisar uma tuna á semelhança da que ha annos aqui se formou...":


Defensor do Povo, Ano II, N.º 173, de 16 de Março de 1894, p.2.

Organizar uma tuna (ou seja criar uma) do mesmo tipo (à semelhança) da que há anos se formou só pode ser entendido como formar uma similar a outra que já não existe (se existisse, era nomeada).

Ainda desse ano, mas num artigo de Dezembro, podemos ler um seguinte excerto dedicado a Simões Barbas, regente da TAUC, no qual se refere expressamente ser esta a 2.ª tuna [formal] por ele orientada:


O Defensor do Povo, Ano III, N.º 249, de 06 de Dezembro de 1894, p.3.


Estamos, ao que tudo indica, perante a formação de um grupo totalmente novo, criado de raiz.
Se assim não fosse, não se falaria em "2.ª tuna" dirigida por Simões Barbas, muito menos se faria distinção entre o grupo de 1888 e este, agora organizado, em 1894.

Pelos dados existentes na citada obra dos irmãos Nascimento, e que pode pecar por defeito (não garantimos que não apareça um documento perdido no arquivo da TAUC a contrariar), comparando o elenco dos membros da Estudantina em 1888-89 com a TAUC formada em 1894 (de que só dispomos dos órgãos directivos), nenhum elemento referido do grupo de 1894 fez parte da formação anterior (isto apesar de alguns serem alunos do 4º ano (como o presidente, Francisco Joaquim Fernandes ou o sub-regente José Cochofel - com anos de universidade suficientes para poderem ter estado na estudantina extinta em 1890).
No elenco detalhado dos membros da TAUC de 1895, nenhum nome coincide com a lista de elementos da antiga Estudantina.
Faltam-nos esses dados para uma comparação mais segura.
TAUC em 1894.

 
Mas olhemos os seguintes excertos que são suficientemente ilustrativos, datados de 1894:

“Devido aos esforços de meia dúzia de rapazes da nossa Universidade acha-se de novo organizada a Tuna Académica, tendo-se realizado na terça-feira passada [10 de Abril] o primeiro ensaio.”[6]

Para sermos sérios e honestos, nada permite inferir da passagem "... acha-se de novo organizada a Tuna Académica" como tratando-se da Estudantina de 1888, até porque nem sequer o termo "estudantina" é usado.
A dúvida surge com o determinante "a" (de a Tuna Académica), como se ele fosse quase pronominal da Estudantina de 1888, quando poderá ser genérico e significativamente sinónimo de "uma" (está de novo organizada "uma" Tuna Académica  - como já existiu).
Pelo menos os artigos anteriormente apresentados comprovam tal.

Seja como for, até a imprensa da época tem de ser lida dentro de um contexto: usava-se indiscriminadamente o termo "Tuna" e "Estudantina" para se referirem à mesma coisa, o que torna difícil perceber exactamente aquilo que o jornalista que redigiu a notícia quereria dizer, e se estava, ou não, a fazer distinção. 

Aliás, a TAUC era igualmente apelidada de "Estudantina"[7] , fosse porque era termo sinónimo, fosse porque ressoava ainda o enorme êxito do grupo de 1888 (uma extensão vocabular que ocorreu, por exemplo, com o termo "batina", que continuou a ser usado para designar a casaca do traje estudantil, embora não se tratando da velha "abatina").

Recordemos, também, que a notícia sai no mês seguinte à que relatou que “Conta já mais de 60 executantes a tuna académica que nesta cidade vai constituir-se, de cuja regência se encarregou o laureado maestro dr. Simões Barbas." que transcrevemos acima, ainda há pouco.
Direcção da TAUC em Valadolid, apelidada em Espanha,
como usual era, de "Estudiantina". Fonte: Nuevo Mundo. 4-4-1900.

Outra citação:

“Apresenta-se hoje [13 de Maio] pela primeira vez a tocar na Universidade em obséquio ao sr. Reitor, a tuna académica, dirigida pelo sr. dr. Simões Barbas.”[8]

Se a referida apresentação de dia 13 de Maio ao reitor teve lugar não sabemos.
Mas concedemos que assim tenha sido. O facto é que é apenas em Maio de 1894 que a TAUC vê a luz do dia como tal.
Com efeito, em finais de Maio (dias 26 e 27) dá concerto em Aveiro (este, sim, com notícia de que se realizou).
Tudo isso pode ser confirmado na obra citada, nas páginas 44-46 da versão digital[9], cujo endereço aqui está (e pode ser livremente descarregada) AQUI.

Um outro artigo, desta vez de 1895, a propósito da deslocação da TAUC a Viseu, refere claramente que "Não é a primeira vez que a academia de Coimbra visita a de Vizeu, a antiga tuna academica tambem se fez ouvir naquella cidade e um curso do 5.º anno juridico já ali foi tambem dar a sua tradiccional recita de despedida.".

Fala-se na "antiga" tuna", por oposição à esta "nova" (isto num espaço que dista de uns 5 anos). 
Por que razão tal, se fosse a mesma agremiação que apenas tivesse sofrido um interregno?


O Defensor do Povo, Ano III, N.º 256, de 03 de Janeiro de 1895, p.3.



Outro dado nos chega pelo periódico conimbricense "Resistência" que, em 1903, reproduz uma notícia de um outro jornal (o "Novidades") dizendo que a notícia e cronologia  estão errados. Contudo, não adianta mais sobre o assunto, não esclarecendo o que é que está errado (se a data de realização do jantar, se é o programa ou se é o 10.º aniversário). Não tendo sido exercido contraditório por parte do periódico, não temos como tecer outros quaisquer considerandos que não seja hermeneuticamente estabelecer a plausível ligação aos demais dados anteriormente apresentados.


Resistência, 9.º Ano, N.º 813, de 05 de Julho de 1903, p.2.


São os factos à data, passíveis de sofrer alterações mediante novos factos documentados.
Já fui atacado por alguns tunos da TAUC por expor o que acima escrevi, mas são os dados que existem e não podem ser ignorados.
Os factos podem não ter graça nenhuma, bem sabemos.







[1] NASCIMENTO, António José S.e NASCIMENTO, José António S. – Estudantes de Coimbra em Orquestra: Tuna Académica da Universidade de Coimbra (1888 1913). Coimbra: Bubok Publishing S.L., 1.ª ed., 2010, pp.42 e 43 (versão impressa), p.41.
[2] Notícia de Coimbra, edição de 12 de Abril de 1940.
[3] Quem não possui, está à venda: http://www.bertrand.pt/ficha/saudades-de-coimbra-i-i-i-1934-1949?id=38988 (são 3 volumes).
[4] Que aliás era tocado por quase todas as tunas estudantis.
[5] NASCIMENTO, op. cit.
[6] NASCIMENTO, op. cit.
[7] Situação que se prolongou até inícios do séc. XX, sobretudo na imprensa do país vizinho que referia qualquer Tuna portuguesa como "estudiantina" ou "tuna portuguesa".
[8] Nascimento, op. cit.
[9] Página 43 da versão impressa.