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domingo, 9 de março de 2025

O que é o CoSaGaPe ?

 O CoSaGaPe foi criado em 2003, como já pudemos AQUI retratar, em artigo dedicado de 2007, a sua génese.

É um grupo de investigadores portugueses e simultaneamente a editora pela qual publicam as suas obras e investigações.



É um grupo que, directamente (como colectivo) ou indirectamente (através de parte dos seus elementos) está hoje associado a diversas iniciativas e publicações:



BIBLIOGRAFIA




INSTITUIÇÕES / INICIATIVAS 


Os membros do CoSaGaPe protagonizam, colaboram ou estiveram associados a diversas iniciativas (para lá de conferências e palestras), de que se destacam as seguintes:

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

De Estudiantinas a Tunas - origem, evolução e conceito.

 EstudiantinaQuando usado como substantivo, este término designa originalmente um grupo de estudantes (chegando a também designar as quadrilhas de estudantes cuja actividade era menos "recomendada" - e que em Portugal se poderiam assemelhar aos arcaicos "ranchos"/trupes").

Quando usado como adjetivo, serve para caracterizar algo ligado aos estudantes ("hambre estudiantina" - fome estudantil; "greve estudiantina" - greve estudantil; "fiesta estudiantina" - festa estudantil, etc.).

 

(Comparsas) Estudiantinas - As estudiantinas surgem em Espanha ligadas a festividades, logo nas primeiras décadas de 1800 (a 1.ª detectada, segundo investigação de Rafael Asencio, é uma estudiantina de San Sebastián del Jueves - no Carnaval de 1816), mas é sobretudo a partir da década de 1830, quando as denominadas "festas de máscaras" passam a ser novamente permitidas, sob o reinado da regente Maria Cristina (a qual dá ao Presidentes de Câmara e Governadores regionais o poder de autorizar esse tipo de festividades), que este tipo de grupos se dissemina.

Essas festas, em que as pessoas se mascaravam e desfilavam em alegres arruadas e cortejos, ocorriam em celebrações periódicas (S. Pedro, S. João, Natal e Carnaval) ou em eventos especiais (nascimento ou casamento real, inaugurações, etc.).

Nessas festas  participavam e desfilavam comparsas, ou seja grupos mais ou menos organizados que se caracterizavam pelo seu lado burlesco, pantomineiro, alegórico (com quadros representativos, a lembrar os momos medievais) e picaresco (onde a crítica social não faltava, por vezes de forma muito mordaz), vestindo-se conforme o tema que queriam retratar (padeiros, padres, clérigos, nobres.... e estudantes).

Ora foi precisamente aos grupos (comparsas) que saíam a retratar ou caricaturar os estudantes que se deu o nome de "estudiantinas", porque os seus membros se vestiam a imitar os estudantes (dentro das possibilidades que cada um tinha de arranjar uma roupagem que fizesse lembrar os trajes estudantis).

Mais tarde, estas estudiantinas, que não tinham, inicialmente, componente musical (como sucediam com as demais) passam a ser sinónimo de comparsa, deixando as estudiantinas de serem apenas grupos que parodiavam os estudantes.

Em algumas localidades, com o tempo, (sobretudo quando a actividade servia objectivos caritativos ou era de maior importância), começaram a contratar bandas para os acompanhar, dando, assim, maior brio e credibilidade ao peditório. Embora não fosse assim em todo o lado, algumas regiões tinham essa particularidade de contratar bandas, pelo que a "estudiantina", nesses casos, não era um agrupamento musical propriamente dito (algo que também ocorre, amiúde, em alguns casos portugueses).

Normal, portanto, que no Carnaval (época em que há inversão de papéis: o rico veste-se de pobre e o pobre de rico), uma das figuras retratadas pelo povo fosse o estudante (classe que gozava de prestígio junto da sociedade).

A partir de determinada altura, as "estudiantinas" são sinónimo de comparsa, imitem ou não o foro estudantil.

Estamos, pois, perante um fenómeno popular festivo, carnavalesco, daí que seja lícito (e factual) dizer que as estudiantinas, como comparsas que eram, nasceram no meio popular.

A transformação desses grupos em orquestras de plectro foi um processo lento, mas muito influenciado pelo movimento orfeónico que se fazia sentir pela Europa (além do facto de ficar mais barato aos protagonistas assumirem as despesas de tocar do que pagar a terceiros) e, sobretudo, por influência da Estudiantina Fígaro.


E os estudantes?

Os estudantes também saíam à rua, mas raramente vestidos como tal, como é natural, pois as festas de máscaras eram precisamente o exercício do jogo de inversão social.

Havia comparsas de estudantes, mas usualmente vestidos com outras temáticas (zuavos, mosqueteiros, Pierrots....).

Embora já existissem pontualmente, só sensivelmente a partir da década de 1870 os estudantes, com traje, decidem, de forma mais regular, assumir-se como tal nessas comparsas (mas cujo número de grupos é ainda reduzido face aos restantes).

Nessa época, porém, as Estudiantinas gozavam de má fama.

Com efeito, eram muitas as que se formavam sob pretensa ideia de caridade, mas depois davam outro destino às esmolas (bebida, comida...), além de a população ficar agastada com os cada vez mais frequentes casos de assédio por parte desses grupos que pediam de forma demasiado insistente (numa versão grotesca do "Tric or treat"), importunavam as pessoas e insistiam "ad nauseam" no "peditório" - e com muitos desses grupos a apresentarem-se falsamente como estudantes, para obterem maior condescendência e convencerem as pessoas a abrirem os cordões à bolsa (o que desagradava a quem era enganado e ainda mais aos estudantes cuja imagem fica em causa).

 



De comparsas a grupos musicais / orquestras de plecro

De "Comparsas-Estudiantinas" a "Estudiantinas-orquestra"

 

A essa má fama era preciso contrapor uma nova imagem que recuperasse a credibilidade.

Uma das formas de o fazer foi transformar esses grupos, deixando de serem meras comparsas de Carnaval, afastando-se desse lado burlesco e pantomineiro e, paulatinamente, deixando de contratar bandas para acompanhar os grupos e encarregando-se os próprios da componente musical.

Surgem, então, as estudiantinas como tipologia orquestral, como grupos artísticos/musicais que se davam em concerto (usualmente em sala).

Apostando em apresentarem-se em concertos e espectáculos em sala, quase sempre para acudir a razões de ordem caritativa (a favor de pobres, de vítimas de desastres naturais, de viúvas e órfãos de guerra....), com repertório trabalhado com qualidade e rigor, as estudiantinas vão-se transformando e ganhando nova identidade.

O grande salto é dado com a Estudiantina Española que vai a Paris, no Carnaval de 1878 (com enorme eco na imprensa mundial), logo seguida pela mais famosa das estudiantinas: a Estudiantina Española Fígaro - um grupo que aproveita a fama do anterior e, trajado como os estudantes (embora se tratasse de um grupo civil), inicia um processo de "polinização" mundial que vai dar novo fôlego ao movimento orfeónico das orquestras de plectro pelo globo e espalhar a designação "estudiantina" como nomenclatura identificativa de grupos formados segundo um determinado leque instrumental (e cujo traje passa a ser copiado pelos grupos estudantis).

Nenhum outro grupo, diga-se, gozou de tamanha fama e teve papel mais preponderante na divulgação e promoção deste tipo de agrupamento (deixando na sua esteira dezenas de estudiantinas que, entretanto, se formaram, por sua influência, um pouco por todo o mundo). 

O repertório das estudiantinas passa a ser quase esmagadoramente instrumental (embora haja temas cantados), privilegiando peças ao gosto do público da época (grandes obras de compositores clássicos, a par de "aires nacionales" e outras  compostas propositadamente pelos respectivos maestros). Para o executar, os grupos passam a eleger instrumentos mais nobres (cordofones plectrados, dedilhados e friccionados, flautas leves...sem esquecer, nos grupos estudantis, a pandeireta). Um fenómeno que se observa em todas as latitudes.

Nessa década de 1870, os estudantes, sentindo-se apoucados, e querendo distinguir-se dos grupos civis, decidem associar o termo "Tuna" aos seus grupos, de modo a identificarem-se como estudiantinas compostas de verdadeiros estudantes.

Recuperam, portanto, um termo ainda muito presente no imaginário colectivo espanhol, onde a figura romantizada do estudante pedinte (que vivia a "correr la tuna") auferia de algum prestígio.

Esse "correr la tuna", no entanto, não fora nunca um exclusivo dos estudantes. 

"Correr la tuna" (que significa "correr/andar atrás de esmola") era algo praticado por todas as frágeis franjas sociais, mas como o estudante gozava, nessa altura, de protecção (foro académico) e de prestígio (porque era letrado), emergiu como figura mais destacada desse modo de vida (sem esquecer os estudantes que, não sendo pobres, professavam esse modo de vida pelo seu lado aventureiro e marginal). Mas fique claro que "tuno" não era sinónimo exclusivo de "estudante", havendo "tunos" que viviam o "correr la tuna" que de estudantes nada tinham.

Nessa época, essa actividade raramente implicava música. Os estudantes destacavam-se dos demais por, graças aos seus conhecimentos literários e científicos, mais facilmente entreterem ou enganarem as pessoas com falsas rezas curativas (numa salgalhada de latim macarrónico e palavras noutras línguas que soubessem), com previsões astrológicas, com algum truque de magia (pelo menos aos olhos do povo ignorante); pessoas essas que, mesmo quando percebiam haver "marosca", tinham para com os estudantes uma postura mais transigente e compassiva.

Recordemos que o termo "correr la tuna" (andar à tuna) ou "tunante" era (e ainda é, em alguns casos) associado, nos dicionários e na imprensa, a vadiagem, extorsão, má vida, fraude, má índole, charlatão, impostor, etc.

Não será despiciente recordar que o adjectivo "gatuno", proveniente do espanhol (e derivado de "gato"), e que também em português significa larápio/ladrão/malicioso, não deixa de ter uma certa similitude com "tuno", estando igualmente ligado ao embuste, engano e roubo.

Tuna não é, pois, um termo da gíria estudantil, ao contrário de "estudiantina", cujo significado remete directamente para o âmbito escolar e pertence à família e área vocabular de "estudante".

Quando, portanto, alguns pretendem que "Tuna" é um exclusivo estudantil, fazem-no por desconhecimento, pois se há termo que realmente designa um grupo de estudantes é "estudiantina/estudantina". O termo "Tuna" não pertence ao âmbito estudantil per si.

 



Tuna - quando o termo começa a ser adoptado, em Espanha, é-o quase sempre colado ao termo "Estudiantina", daí termos grupos apelidados de "Estudiantina Tuna Escolar de....", "Tuna Estudiantina da Faculdade de....", para designar a natureza da estudiantina em causa.

Em Espanha, esse processo de transição leva algumas décadas, sendo preciso esperar praticamente pelo fim da Guerra Civil e instauração do novo regime político (ditadura de Franco) para que os grupos estudantis (universitários, sobretudo) deixassem cair o termo "estudiantina". É, aliás, durante a ditadura franquista  que  as Tunas passam a ter um carácter mais permanente e institucionalizado (muitas das hoje existentes forma fundadas nessa época), ou seja já não são grupos sazonais, mas que desenvolvem uma actividade mais continuada no tempo (a que a organização de certames não é alheia).

Mas não se pense que os grupos civis se ficaram. Também eles, naturalmente, foram adoptando (em Espanha como por cá) essa nova designação, registando-se inúmeros grupos populares (ainda hoje) designados de "Tuna".

Uma das razões para a mudança de designação poderá ser simplesmente por moda, mas acreditamos que também fosse para afastar-se definitivamente da má fama que as comparsas "estudiantinas" gozavam. Os grupos que queria assumir-se como orquestras (restritos a uma actividade artística/musical não resumida a festas de máscaras) teria mais facilidade em se afirmarem como tal, com uma designação que não fizesse lembrar as ditas comparsas carnavalescas.

Esse mesmo processo de adopção do termo "Tuna" também sucedeu em Portugal, só que muito mais rapidamente. Se, já em finais do séc. XIX, nascem grupos com essa denominação, a partir de 1900 já não se registam grupos com a designação "Estudantina" (e todos mudaram ou para "Tuna" ou assim se passaram a chamar quando foram criados, sobretudo por moda e influência espanhola).

Um processo natural de imitação e troca de influências que sempre ocorreu.

Por esse mundo fora, o processo teve 2 caminhos distintos.

Na Europa e algumas outras geografias, sobretudo (mas não só) por influência da "Fígaro", e desde finais do séc. XIX, encontramos milhares de orquestras de plectro desginadas de estudiantinas.

Vamos, aliás, encontrá-las como categoria instrumental (tipologia orquestral), nos inúmeros concursos internacionais de música, a partir da década de 1880, em que, a par com concursos para fanfarras, filarmónicas, coros, orquestras de câmara, etc., há-os também para "Estudiantinas" (tanto com esse nome como com outros sinónimos: mandolinatas, circolo mandolinístico, orquestra de bandolins, tuna...), com regulamentos muito rígidos quanto à composição instrumental e, assim, definindo o que era e não era Estudiantina (ou seja Tuna). Regulamentos que são transversais em França (onde chega a existir uma Federação Nacional de Estudiantinas e uma União Federal de Estudiantinas Manolinísticas e Guitarristas, inseridas na Federação Musical de França), Itália, Bélgica, Luxemburgo, Suiça, países do Magreb ... e que alicerçam a definição estrita deste tipo de grupos.

Na América Latina, onde também encontramos estudiantinas (civis e escolares/académicas) desde, pelo menos, a 2.ª metade do séc. XIX (por influência da emigração espanhola e, mais tarde, pela passagem da "Fígaro"), só a partir, grosso modo, da década de 1960 o termo "Tuna" começa a ser usado, fruto da influência das visitas de algumas tunas universitárias espanholas (sobretudo madrilenas) àquele continente. Até lá, usa-se comummente a designação "Estudiantina de la Universidad/de la Faculdad/del Instituto ..." (como ainda hoje as há assim designadas e que são tão tuna quanto as demais).

Essa chegada e adopção tardia do termo induziu muito gente daquelas latitudes na ideia que "Tuna" era uma designação exclusiva de grupos universitários.

O termo "Tuna", portanto, como designativo de grupo artístico (sinónimo de "estudiantina"), só se disseminou inicialmente (e até à década de 1960) na Península Ibérica.

Nota: em 1914, o termo "Tuna" surge no Dicionário de Autoridade da Academia Espanhola (p. 1017) como sinónimo de estudiantina (sendo aliás o 2.º signiticado do termo, após o de "vida holgazana, libre y vagamunda").




Em Portugal

(Vd. documentário "À Descoberta da Tuna Portuguesa")

Se, em Espanha, fruto das condicionantes políticas e de organização social impostas pelo regime, se destacam as Tunas de feição escolar (com o tempo, cada vez mais coladas ao contexto universitário), relegando para uma espécie de "limbo" as tunas civis, já em Portugal as estudiantinas/tunas não ficam sujeitas a qualquer "apartheid" social ou político.

Portugal, aliás, é um caso singular em que quer as primeiras estudantinas  são civis (como em Espanha), quer os primeiros grupos a chamar-se "Tuna" também o são.

Não significa que haja uma grande distancia temporal, mas as primeiras evidências encontradas apontam para isso.

Mesmo sabendo-se que, numa primeira fase (os indícios levam-nos a crer que as primeiras estudantinas civis surgem a partir da 2.ª metade do séc. XIX), eram grupos sazonais,  só se tem constância de estudantinas formadas por estudantes a partir de finais da década de 1870 (de 1878 em diante), embora de cariz efémero.

Quando o processo começa a consolidar-se, ocorre primeiro em grupos civis e, pouco depois, no foro escolar - este último a partir de finais da década de 1880, iniciando-se, aí, o 1.º "boom" de Tunas Académicas (muito impulsionado pelas visitas da Tuna Compostelana, em 1888, 1890, 1895, 1901, 1904, 1906; Tuna de Madrid, em 1889 e 1906; Tuna de Salamanca, em 1890, 1907, 1908 e 1909; Tuna de Sevilha, em 1891; Tuna de Zamora em 1892; Tuna de Valhadolid, em 1902 e 1910; Tuna de Valência, em 1905 e Tuna de Córdova, em 1905).

Em Portugal, as primeiras Tunas são, portanto, populares.

Mais tarde, surgem os grupos escolares (alguns de natureza  universitária - embora em menor número), sobretudo no meio liceal.

Esse fenómeno escolar atravessa todo o século XX, sendo que, a partir de 1945 (depois de extinta a TAL - Tuna Académica de Lisboa), só 2 tunas universitárias subsistem (a TAUC -Tuna Académica da Universidade de Coimbra e a TUP - Tuna Universitária do Porto) no meio do contingente de tunas de liceu.

O fenómeno tuneril português é, pois, maioritariamente composto de grupos civis e grupos escolares não universitários (de colégios e de liceus).

Só a partir de meados da década de 1980 é que as tunas universitárias emergem em força (e se inicia o considerado 2.º "boom" de tunas académicas), num contexto em que as tunas de liceu quase desaparecem (subsistindo a TALE - Tuna Académica do Liceu de Évora) e as tunas populares acabam por ficar muito reduzidas (já depois de terem sofrido uma enorme diminuição na década de 1960, fruto, entre outras coisas, da emigração e da guerra colonial).




O lugar das Mulheres

 

Desde o início que as estudiantinas aparecem formadas também com mulheres, e também com crianças.

Sendo grupos não sujeitos a regras rígidas (até porque de cariz festivo e carnavalesco e, por isso, propícios a troca de papéis), é normal que encontremos nesses grupos mulheres, homens e crianças, ora misturados ora organizados distintamente.

Mesmo depois, com a evolução para grupos artísticos, vamos encontrar estudiantinas formadas de modo misto ou, então, só por mulheres ou só por jovens/crianças.

Desde o séc. XIX que há estudiantinas/tunas de mulheres.

O que não há ainda são Tunas Universitárias femininas, em razão apenas do facto de o n.º de mulheres na Universidade só mais tardiamente ser expressivo e poder alimentar a criação de grupos  exclusivamente femininos. O que vamos ver aparecendo, nomeadamente em Espanha, a partir sobretudo da década de 1940, são Tunas masculinas em que começam a aparecer algumas mulheres pelo meio (mistas, portanto), para, alguns anos depois (década de 1950 em diante), surgirem os primeiros grupos universitários exclusivamente femininos.

Tunas ou Estudantinas escolares e/ou universitárias com mulheres são, há pelo menos um século, uma realidade, portanto tão legítima quanto os grupos apenas compostos por homens.



 

RESUMINDO

 

- Tudo começa em Espanha, com as Comparsas das festas de máscaras  (sem cariz musical), sobretudo no Carnaval.

Algumas dessas comparsas, por caricaturarem os estudantes, passam a designar-se Estudiantinas.

- Aos poucos, essas estudiantinas transformam-se em grupos artísticos e abandonam o seu carácter carnavalesco.

- O modelo é sobretudo disseminado por um grupo civil vestido de estudantes: a Estudiantina Española Fígaro, que servirá de referência quer na indumentária quer no repertório e tipologia instrumental.

- Os estudantes, a partir de 1870, querem distinguir as suas estudantinas e repescam um termo não estudantil para as designar: Tuna.

Estamos pois perante estudiantinas de estudantes, mas com uma nova designação adicional. Trata-se, contudo, da mesma tipologia.

- Apesar da intenção em distinguir esses grupos estudantis, o termo é também apropriado pelos grupos civis (um processo com maior penetração em Portugal).

- Em Espanha, por força do controlo estatal da ditadura franquista da vida académica, e não só, e com vista a exportar uma ideia de Espanha hidalga e secular, as Tunas são apresentadas como expoente de uma centenária tradição universitária, relegando todas as demais a meras "estudiantinas" (é nessa altura que se consolida e cristaliza uma narrativa ficcionada e romantizada da Tuna como algo proveniente da idade média, exclusiva da Universidade e de varões, com vista a conferir uma centenária "história" brasonada à mesma).

- Pelo mundo fora, a partir de finais do séc. XIX alicerça-se o conceito e significado de "estudiantina" como designativo de orquestra de plectro.

- Na América Latina (hispano-americana, sobretudo), onde há "estudiantinas" desde as primeiras décadas do séc. XIX,  o termo "Tuna" só se começa a implementar na década de 1960, após a visita de várias tunas universitárias espanholas (dando a ideia errónea de ser uma tipologia diferente de "estudiantina" e, portanto, exclusiva de grupo universitário).

- Na prática, uma Tuna é uma estudantina, e em nada dela diferindo senão (em teoria) pelos membros que a formam (e que poderão usar um traje mais identificativo dessa natureza). Não são pois os ritos que definem uma tuna ou estudantina, nem praxis interna que dá chancela tunante.

Ambas as designações remetem para uma tipologia orquestral que é rigorosamente a mesma.

- Em Portugal, nunca houve atritos ou tentativas de expurgar os grupos populares ou não universitários, sendo que ninguém se arrogou detentor da designação "Tuna".

Por essa mesma razão é que os grupos compostos por estudantes (chamem-se eles "Estudantina" ou "Tuna") adendam a essa designação os termos "Académica", "Universitária", "da Faculdade...", etc., bastando isso para distinguir a natureza do grupo (a par do traje).

São, aliás, portuguesas as Tunas mais antigas com actividade ininterrupta, quase todas elas civis (embora também apresentando as mais antigas Tunas escolares e as mais antigas Tunas de cariz universitário).

- As Tunas / Estudantinas compostas por mulheres (mas também as mistas) são tão legítimas, histórica e socialmente, quanto as apenas formadas por varões, tendo mais de 1 século de existência.

 


REFERÊNCIAS:

ASENCIO GONZÁLEZ, Rafael  - Las Estudiantinas del Antiguo Carnaval Alicantino - Origen, contenido lírico y actividad benéfica (1860-1936). Cátedra Arzobispo Loazes, Universidad de Alicante, 2013.

----------------------------------------  - De las comparsas de estudiantes a las Estudiantinas. Ponência (vídeo no Youtube), Málaga 2014.

----------------------------------------  - El Origen de las Tunas y Estudiantinas Parte I e Parte II. Conferência (vídeo no Youtube) promovida pela Asssociação Tunos Decanos de Iberoamerica, Agosto de 2020.

COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12.

MARQUES, Rui Filipe Duarte - TUNAS EM PORTUGAL, ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO, NEGOCIAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA MÚSICA. Um estudo sobre a Tuna Souselense. Universidade de Aveiro, 2019.

MARTÍNEZ DEL RIO, Roberto; ASENCIO, Rafael [et al.] – Tradiciones en la antigua Universidad: Estudiantes, matraquistas y tunos. Alicante: Ediciones Universidad de Alicante, 2004.

RAMÓN RICART, Andreu – Estudiantinas Chilenas. Origen, desarrollo y vigencia (1884 1955). Santiago de Chile: Ed. Fondart, 1995.

RENDÓN MARIN, Hector – De liras a cuerdas. Una historia social de la música através de las estudiantinas, 1940 1980. Medellín: Universidad Nacional de Colombia, 2009.

SARDINHA, José Alberto - Tunas do Marão. Tradisom, 2005 

SÁRRAGA, Félix O. Martin - Mitos y evidencia histórica sobre las Tunas y Estudiantinas. TVNAE MVNDI, Cauces Editores. Lima, Perú, 2016.

---------------------------------------  - Las Tunas españolas anteriores a las del S.E.U. no tuvieron actividad continuada demostrada en el tiempo. Tvnae Mvndi, (Artigo de 2016).

SILVA, Jean-Pierre - A França das Estudiantinas - Francofonia de um fenómeno nos séc. XIX e XX. CoSaGaPe, Lisboa, 2019.

----------------------- - Al Descubrimiento de la Tuna Portuguesa (1.ª Parte). Conferência (vídeo no Youtube) promovida pela Asssociação Tunos Decanos de Iberoamerica, Agosto de 2020.

TRUJILLO, José Carlos Belmonte - Evolución organológica y de repertorio en la Estudiantina o Tuna en España desde el fin de la Guerra Civil española. La influencia de 'uda y vuelta' entre España y Latinoamérica - Tese de Doutoramento na Universidade da Extremadura, 2015. 

YCARDO, José Mateo e GONZÁLEZ, Rafael Asencio - História Completa de las Tunas y  Estudiantinas de Cataluña, Siglos XIX y XX . 2020.



quinta-feira, 11 de novembro de 2021

LIVRO: A Tuna Académica da Escola Politécnica de Lisboa

Este novo livro procura retratar a história, actividade e protagonistas da antiga Tuna Académica da Escola Politécnica de Lisboa, fundada em 1901.

Um livro em tamanho A4 com 170 páginas e dezenas de imagens documentais.


"A Tuna Académica da Escola Polytechcnica de Lisboa surge num contexto de forte expansão deste tipo de agrupamentos, sobretudo no âmbito escolar, contribuindo para um fenómeno ainda pouco valorizado: o da importância das tunas na democratização da música e o seu papel de destaque no grande movimento mundial das orquestras de plectro.

O prestígio alcançado, o número invulgar de temas e peças apresentado, bem como a relevância social alcançada colocam esta tuna como uma das mais importantes no que poderíamos chamar de "1.º boom" de tunas académicas; uma história que merecia, portanto, ser mais detalhadamente percorrida e dada à estampa."


DOWNLOAD GRATUITO (PDF):

https://drive.google.com/file/d/1d3-M3rTYgY5fHjcp_wOnR8GlH0g5i3O9/view?usp=sharing



EXEMPLAR EM PAPEL (23€): Compra na Euedito.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Investigação Tuneril - Uma tarefa de, e para, todos.

É certo que, nos últimos 20 anos, a investigação tuneril deu um enorme salto e garantiu a maioridade, com uma profusa produção de obras sobre a Tuna (em termos historiográficos) e sobre tunas (na vertente biográfica).

Nas últimas duas décadas, em termos de historiografia tunante, passou a imperar um critério de rigor e de metodologia investigativa já não compaginável com pseudo-estudos polvilhados de ideologias e narrativas ficcionadas, onde os autores moldavam e talhavam os factos à medida das suas próprias crenças (pese embora ainda haver disso, nomeadamente em Espanha).

Mas está ainda muito por fazer.

No estrito caso português, e apesar do trabalho meritório e ímpar traduzido na obra "Qvid Tvnae?", é virtualmente impossível chegar a todo o lado - mesmo sendo Portugal um país geograficamente pequeno.

Lamentavelmente, grande parte dos fundos e arquivos locais não está acessível à distância (falta de medidas políticas e investimento subsequente) - e muitos desses fundos e arquivos nem digitalizados estão. Nesse ponto, vivemos verdadeiramente na cauda da Europa.

Se mais não sabemos sobre a nossa história tuneril, não é apenas por este tipo de questões técnicas, mas por uma enorme falta de mobilização da comunidade tunante para estas questões. 

A preservação e valorização do património e  tradição tuneril é algo que, quase sempre, serve apenas de chavão para "inglês ver". As Tunas não podem preservar e defender uma tradição que desconhecem (estando mais aptas, portanto, a desvirtuar o que dizem promover). Chega a ser caricato que os protagonistas, os que militam e exercem o mester tunante, sejam, grosso modo, tão ignorantes sobre o fenómeno como outro qualquer leigo, alheio às Tunas.

Neste últimos 20 anos, foram produzidas diversas obras biográficas sobre tunas, mas salvo a lançada pelo João Paulo Sousa, em 2001[1], nenhuma das demais procurou sequer urdir uma introdução histórica que trouxesse a lume alguns aspectos históricos das tunas que outrora existiram na sua geografia local. As Tunas não nasceram na década de 1980, e muito menos a "tradição" se resume àquela que cada um bebeu empiricamente, absorveu "de ouvido" ou, pior, decidiu inventar com base no "achismo".

Se em cada localidade onde há uma Tuna, alguém tivesse tido a boa ideia de fazer alguma pesquisa histórica, teria certamente suprido a evidente impossibilidade de algum investigador de Faro conseguir aceder a informações sobre Braga (ou alguém de Viana poder consultar acervos em Beja).


Difícil, mesmo impossível, portanto, urdir um estudo mais completo da Tuna portuguesa (em termos de pormenor), quando os que a isso se propõem são poucos e não têm, obviamente, o dom da ubiquidade.

Complicado, dadas as limitações técnicas, aceder a acervos que não foram digitalizados e partilhados na web (apesar de já haver muita coisa).

Ainda assim, já muito se conseguiu desde o lançamento do "Qvid" em 2011-12 (e ampliará substancialmente a dimensão da sua nova versão)[2], mas o que demora uma década a fazer-se seria em muito encurtado ou, então, teria produzido muito mais dados, se mais gente houvesse com gosto em saber (descalçando os  cómodos chinelos).

Mas mesmo no que respeita a fontes ao alcance de um click, os investigadores deparam-se com uma titânica tarefa de busca.

Ao contrário do que sucede com outros acervos online, quase tudo o que existe digitalizado em Portugal não permite pesquisa por palavras, pois essa digitalização omitiu o reconhecimento OCR e não foram criados motores internos de busca. Tal obriga, na prática, a ter de ler tudo de fio a pavio, materializando-se a empreitada no ditado "procurar uma agulha num palheiro".

E quando são poucos a empreender investigação, tudo leva anos e anos, porque uma mão de pares de olhos não dá conta de algo que precisaria de mais implicados, de muitos mais olhos, distribuídos geograficamente.


Visitar o arquivo ou hemeroteca local é um exercício simples. Pedir para consultar jornais antigos, tomar notas e/ou tirar fotos de dados encontrados e registar cronologicamente o que se encontra não é tarefa complicada, se o âmbito da pesquisa for muito localizado geograficamente (mais ainda se, colaborativamente, dividirem a tarefa com mais 2 ou 3, distribuindo limites cronológicos).

Mas imaginem ter de fazer isso para um país inteiro, ao largo de mais de 100 anos, com apenas uma mão cheia de pessoas (e, ainda, abarcar outros territórios). 

O desafio é simples: quando decidirem publicar uma obra biográfica sobre a vossa tuna, procurem enriquecê-la com uma introdução histórica que recupere a memória passada da vossa cidade/região, ofereçam aos leitores algo mais, algo que, muitas vezes, será uma descoberta inédita e conferirá outra importância ao que apresentam.

Para que, no futuro, outros tratem esta nossa época com rigor, cuidado e carinho, convirá que demos esse mesmo exemplo, deixando-o como testemunho aos vindouros. Uma tarefa que é de todos, tanto mais quanto seja feita para todos.



[1] A obra "10 Anos de Infantuna", inseriu, num capítulo introdutório de  10 páginas, uma contextualização histórica onde apresenta dados de uma investigação feita a jornais antigos, trazendo à tona notícias de uma Tuna Académica de Viseu de finais do séc. XIX.

[2] Para além das investigações do grupo CoSaGaPe, há a salientar o trabalho de Rui Marques, resultando numa Tese de Doutoramento em Etnomusicologia dedicada à Tuna em Portugal

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

LIVRO: A Tuna nas Trincheiras da Grande Guerra (1914-1918)

 Uma obra inédita que se debruça sobre o fenómeno das Tunas/Estudiantinas que se constituíram nos cenários da frente ocidental da I Guerra Mundial.


DOWNLOAD GRATUITO (Pdf):

https://drive.google.com/file/d/1CEzyMddV2dtXROdC3J00t0BaQuugzLrC/view


DIZEM DO LIVRO:

"Un magnífico estudio que ya había recomendado y ahora vuelvo a hacerlo por su calidad y solvencia investigativa."

Rafael Asencio

"En la gran Historia de la Tuna hay capítulos que ni siquiera seríamos capaces de imaginar. Uno de ellos es precisamente el que recoge en su nuevo libro el gran investigador Jean-Pierre Silva "A Tuna nas trincheras da Grande Guerra (1914-1918)". Trabajo que nos regala en su versión online ¿Quién podría decirnos que la Tuna podría estar relaciona con uno de los acontecimientos más importantes de la humanidad, como fue la Primera Guerra Mundial?"

                                                                Legajos de Tuna (Revista)

"Magnífico trabajo que aporta una visión totalmente distinta de la Tuna y del conflicto."

                                                               Héctor Valle Marcelino




COMPRA DE EXEMPLAR EM PAPEL: 

https://www.euedito.com/a-tuna-nas-trincheiras-da-grande-guerra-1914-1918.html









sábado, 3 de outubro de 2020

Estudiantina "La Palladienne" (Foto e artigo em jornal de 1933)

 Apesar dos estudos já publicado na obra "A França das Estudiantinas" (2019), é sempre importante complementar, a partir das pesquisas que se fazem e dos dados que vão aparecendo.

Um olhar sobre esta Estudiantina "La Palladienne" que herda a experiência de um primeiro grupo, formado em 1866, soba  denominação "Estudiantina Toulousaine" e de um outro (também na cidade de Toulouse), criado em 1895, sob a denominação de "Les Gay Troubadours" (os alegres trovadores).

O artigo parece, contudo, enfermar alguns lapsos, pois afirma que os dois grupos se fundem em 1898, dando lugar à sociedade "La Palladienne" (em honra de um templo romano dedicado a Pallas que outrora existira na cidade), para depois dizer que as origens da Estudiantina "La Palladienne" remontam a 1886 (ano em que a Estudiantina Toulousaine está em actividade - assim permanecendo até aos dias de hoje- pelo que não é possível tratar-se do mesmo grupo).

Tendo em conta que não é inédito, em França, a criação de grupos com o mesmo nome (numa mesma localidade ou localidades diferentes), poderá ser o caso, embora este artigo de 1933 torne confusa a questão (e não estando isento de imprecisões).

O que o artigo também traz é uma foto inédita do grupo e alguns dados sobre as suas proezas artísticas com 38 primeiros prémios em diversos concurso de música, uma foto do maestro e o anúncio de que dará concerto retransmitido na rádio.

Os dados até agora conhecidos, colocam a "Estudiantina La Palladienne" em 1903, não havendo dela rasto antes dessa data nos periódicos e documentos investigados.


La  Dépêche, N.º 23744, 21 de Agosto de 1933, p.6.




terça-feira, 19 de maio de 2020

A centenária Tuna Tramagalense


Um destaque, hoje, para uma tuna popular: A Tuna Tramagalense (Tramagal - Abrantes), fundada há mais de um século e cuja actividade, depois de um período de interregno, retomou há já várias décadas.

Na senda das tunas populares, esta agremiação é mais um exemplar da tradição tuneril no foro civil em que as populações fundavam associações de recreio (Ateneu, Orfeão, Círculo, Centro...), muitas vezes sn a designação estudantina/tuna, mas onde não apenas a orquestra de cordofones pontificava, mas, igualmente, outras actividades culturais, educativas, lúdicas (e por vezes políticas, como sucedia, especialmente no meio urbano, com os Centros Republicanos, muitos deles também com tunas).



Sobre a sua história, transcrevemos:

"Em 15 de abril de 1915 foi criada a Tuna Tramagalense. Assinalam-se hoje 104 anos.
A Sociedade do Cordel , da iniciativa de Manuel Lopes Martins, Manuel Manana Júnior e outros, em 1912, havia estado na génese da Tuna Tramagalense.

A atividade musical na Tuna, conjunto de cordas, sob a direção e entusiasmo do Professor, Artur Pinto, e a atividade teatral, tendo como ensaiador, o médico, Dr. João José Alves Mineiro, marcam os primeiros anos da Tuna Tramagalense.

O Dr. João José Alves Mineiro, mais tarde eleito Presidente Honorário e o Prof. Artur Pinto são figuras marcantes dos primeiros tempos.

Um pavoroso incêndio em 1924 consome a sede da Tuna, por ocasião de um baile, em que perecem 9 pessoas, trágico acontecimento que abala a estrutura e atividade da associação.

Em 1942 à Tuna Tramagalense sucede o Teatro Tramagalense, Lda., com uma fórmula suscetível de mobilizar os meios financeiros necessários à construção da nova Sede, na Estrada Nacional, com sala de espetáculos com cinema, clube e esplanada ao ar livre para festas e cinema, assim como ringue de patinagem."[1]



A Tuna Tramagalense nos anos 1940.
(Foto obtida no FB da tuna)

A Tuna Tramagalense nos anos 1940-50.
(Foto obtida no FB da tuna)


Sobre esse famoso incêndio de 1924, na sede da Tuna, e que ceifou a vida a várias pessoas, deixamos estas 2 imagens.

 
Evocação do incêndio que destruiu a sede da Tuna Tramagalense, em 1924, matando e ferindo diversas pessoas.
(Foto obtida no FB da tuna)


[1] In Página de FB da Tuna Tramagalense. Consulta a 18-05-2029