O
ENT, como sabemos, teve a sua primeira edição em Évora, em 2003 e, daí em
diante, outras 8 edições tiveram lugar, tendo a última sido o IX ENT, em Vila
Real, em 2013.
O
ENT, salvo o ano de 2008 e 2012 (em que não houve edição), foi anual, tendo
percorrido quase todo o território continental (e com duas edições sucessivas,
em 2010 e 2011, em Bragança), de norte a sul e do litoral para o interior.
Mas
ficaram algumas academias de relevo sem serem visitadas (o caso mais evidente
será o Porto).
De
2013 até agora passaram-se 7 anos sem qualquer edição (algumas boas intenções
houve, mas que não passaram disso).
Se agora teremos uma edição, é de se louvar. Louvar a coragem e o empreendedorismo de quem decide prestar este verdadeiro serviço público à comunidade, mesmo se a larga maioria da mesma passa ao lado.
Razões
haverá para que este não seja um evento muito participado nem algo que as tunas
mostrem especial vontade em organizar. Bem sabemos que não dá prémios e bem
sabemos que a busca por informação e formação é ainda cultura muito pouco
desenvolvida. E, para debater, a maioria prefere passar adiante ou ficar-se
pelo cómodo teclado de casa. É a costumeira "Lei de Murphy". O ENT nunca foi para massas, mas para quem de facto quer pensar, quer saber e reconhece o valor da reflexão crítica daquilo que se faz.
Ao
longo das 9 edições do ENT, pouco ou nada ficou por discutir, sendo que uma das
enormes virtudes do ENT foi precisamente acompanhar a actualidade (trazendo
para o debate o que estava na ordem do dia das preocupações da comunidade -
como o caso das praxes Vs Tunas, por exemplo) e permitir o estabelecer de contactos e a
partilha de experiências que enriqueceram quem esteve.
Passados
todos estes anos, o que há, afinal, para preencher um programa de um ENT em 2020?
Nem
que seja de cor, creio que todos podemos dizer que, em 7 anos, há certamente
muita coisa que aconteceu e merece análise, debate, partilha, reflexão.
Assim
que me lembre (e a maioria a serem tratados por 2, 3 intervenientes ao mesmo tempo, em jeito de conversa, evitando, tanto quanto possível, palestras a solo):
- A
investigação e o conhecimento (o estado da investigação/conhecimento, o que tem
sido publicado, as dificuldades, o feed-back do que é publicado....);
- A
produção fonográfica (aproveitando, por exemplo, o trabalho do Museu Fonográfico Tuneril), evolução, problemas encontrados, divulgação, preservação da memória....;
- O
estado da nação tuneril em termos estatísticos/sociais (aproveitando a obra
Qvot Tvnas e o II Censo do PortugalTunas), desde o "boom" dos anos
1980 (tipologia dos grupos, vigência, dificuldades que hoje se apresentam...).
Mas
outras questões prementes merecem igualmente atenção (englobando algumas das
supra-referidas) que se prendem, por exemplo, com a imagem da Tuna (e do que é)
que hoje temos:
-
Identidade "Tuna", como questão da definição balizadora que, depois,
infere em critérios musicais nos certames, em cartazes de festivais onde se vai
perdendo a iconografia identitária, o desconhecimento/receio que leva à
ausência de um pequeno historial do fenómeno nas páginas das tunas (antes
existia, mas cheios de erros; agora há alguns, mas em páginas que nem sequer
são de tunas - e também com erros),
a instrumentação utilizada (os abusos/desvios).
A
ainda existente relação entre algumas tunas e as praxes (que levam a questões
de nomenclatura, de praxes internas e, até, de traje - proibidos a caloiros,
que ou originam problemas graves ou levam os grupos a práticas pouco
consentâneas);
Claro
está que o leitor atento e informado logo pensará que um dos problemas inerentes
ao ENT é que grande parte da produção de conteúdos, sobre os quais assenta este
tipo de eventos, sai da lavra "sempre dos mesmos", mas é algo que não
pode ser imputada a esses mesmos "de sempre" se, afinal, são os poucos que se dedicam a outras vertentes do mester tuneril.
Não
há lugares reservados para quem quer trabalhar. Portanto, quem não se chega,
não pode depois queixar-se de quem o faz. Ainda assim, há sempre gente nova que aparece com bons contributos (lembro-me, assim, de repente, do Daniel Sousa e do Rui Marques, com trabalhos académicos sobre Tunas) e a quem deve ser dada a oportunidade de partilhar e enriquecer-nos.
Volto a reiterar, na minha óptica, que é de se evitar palestras a solo (salvo se excepcionalmente pertinente), mas antes optar por um modelo em jeito de painel, pois é muito mais interessante para o público seguir uma conversa onde a diversidade e os ritmos de vários interlocutores evitam a monotonia e garante não se colocar sempre o tom em monocórdicas exposições.
Outra
questão muito debatida, noutros tempos, era a pertinência dos
"ateliers", que acabaram sendo considerados, e bem a meu ver, como
algo de que pouco se retirava, sendo antes preferível o convívio tertuliar que
prolongava os temas das palestras para fora do auditório (e não se confinava a ser mero pretexto para uma "borga" descomprometida).
E
sublinho, para terminar, essa mais-valia do convívio que o ENT também
proporciona(ava), muito para além do imediatismo de beber uns copos e tocar
informalmente umas modas (para festinhas não há pachorra).
Se
num certame não temos como escolher as pessoas com quem vamos estar (porque
cada organização convida as tunas que bem quer), já o ENT permite uma maior
escolha e disponibilidade para estarmos com as pessoas, sem stress de ter de
afinar, de reunir Magister(s), de fazer check-sound, de ensaiar uma última
vez........
O
ENT não dá prémios (que são vaidades
efémeras), mas dá outras coisas porventura bem mais importantes e perenes.