quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Patrono das Tunas


(Texto de 2010).

Não deixa de ser estranho, e sobre isso já tinha reflectido várias vezes, que a arte tunante, com mais de um século de história, desde os remotos tempos das bigórnias e estudantinas até hoje, nunca tenha eleito um santo patrono.
Em Portugal, poderíamos anuir que, sendo a Tuna uma cultura importada (adoptada e adaptada), seria normal que , a haver padroeiro/a,  seria precisamente o/a mesmo/a que em Espanha, daí que seria escusado procurar um nos anais dos santos lusitanos.

Mas, pasme-se (ou não), nunca os nuestros hermanos elegeram qualquer patrono da sua arte tunante (nem eles nem os tunos da América Latina), pelo que todos os tunos do mundo estão "orfãos" de santo protector - pelo menos que se saiba.


Alguns seriam possíveis, desde a escolha, mais ou menos óbvia de Santa Cecília, padroeira dos Músicos e da Música em geral, mas também dos tocadores de instrumentos de corda, embora, em boa verdade, uma larga maioria dos tunos nunca foram ou são (ou serão) músicos de facto.
Também, em termos de romantismo histórico (e apenas isso), poder-se-ia apontar Santo Aleixo, protector dos Mendicantes (mendigos), mas parece algo forçado.


Estando, actualmente, a Tuna quase entendida como configuração musical de estudantes do Ensino Superior, caberia São Tomás de Aquino, protector dos Universitários, mas que fazer com as tunas de liceu (como a de Évora) ou as inúmeras que são populares e são também tunas?
Além disso, as tunas começaram por ser agrupamentos de estudantes, sem distinção de grau.
Assim penso que o São Tomás de Aquino não se adequa plenamente.
Então, assim sendo, quiçá Santa Brígida, padroeira dos Escolares. Pois..., mas escolares não se definem como também sendo músicos, ou seja não é uma qualidade inata a qualquer estudante e, depois, já nem todos os tunos são escolares. Caberia grosso modo, mas é demasiado generalista para a especificidade do mester tunante.


Sobrariam, do vasto leque de padroeiros, a Santa Catarina de Bolonha, padroeira das Artes e o São Gregório Magno, padroeiro dos Cantores. A tuna é uma forma de arte, pelo que se enquadra, mas é apenas uma das muitas existentes. O São Gregório até teve honras de tema no CD da FAN-Farra de Coimbra, mas era por analogia ao "gregoriar alcoólico" (vomitar = gregoriar). Além disso, os tunos não são unicamente cantores (as tunas começaram por serem apenas grupos que executavam peças instrumentais), nem me parece muito pertinente a ligação alcolémica (seja a este ou outro qualquer padroeiro cervejeiro ou etílico - como os há também).

Bem vistas as coisas, todos, ou quase, poderiam assumir-se como candidatos, mas encontramos neles tanto de adequado como de desajustado.


Mas há ainda um grupo possível, quiçá mais adequado.

S. Genésio (de Roma), S. Julião (de Mans) ou S. João Hospitalário, todos eles patronos dos músicos ambulantes.
Outro possível seria S. Benedito José Labre, padroeiro dos mendigos e viajantes, era chamado de "Vagabundo de Deus" ou ainda "O Cigano de Cristo". Alimentava-se apenas de pão e ervas, passando a noite ao relento, rezando e meditando.


O que julgo, ainda assim, apresentar-se como mais forte candidato, até pela sua ligação histórica aos estudantes e tunos é São Tiago Maior (de Compostela)

S. Tiago, padroeiro da cidade que primeiro viu formalizar-se uma estudantina/tuna, e patrono dos peregrinos ( ligação de podemos estabelecer aos músicos ambulantes, sempre em "peregrinação", mas também aos mendicantes - os quais também peregrinavam ao longos dos caminhos de São Tiago e na própria cidade, em torno da catedral). Além disso, a inequívoca ligação da cidade, e seu patrono que lhe dá nome, à Universidade e Colégios Mayores, ou seja aos estudantes (desde os sopistas, capigorrones e afins), desde há centenas de anos e, destes, os muitos do "correr la tuna".


Por outro lado, é já uma tradição a romagem das tunas, pelo menos do lado de lá da fronteira, a Santiago, como que "baptismo" obrigatório. Todas, ou quase todas, se sentiram impelidas a lá ir, pelo menos uma vez, "banharem-se" naquele ambiente tão próprio. Todas, ou quase todas, sentiram a necessidade de, em Santiago, receber como que uma benção histórica, visitar a urbe que viu nascer, formalmente, a 1ª tuna/estudantina, de facto.
Mas também muitas Tunas portuguesas se contam às dezenas, dezenas que responderam a esse apelo da tradição, que sentiram ser uma local especial de passagem, de visita, de banho de tuna - de que a Casa de la Troya é fiel depositária dessas mesmas peregrinações tunantes, guardiã da memória e do misticismo estabelecido em torno da história  e memória da Tuna.


Será essa a razão pela qual São Tiago, independentemente de qualquer conotação religiosa (até porque não lhe consta qualquer atributo ligado à música, ou aos estudos - embora fosse ensinante/apóstolo), será a figura que melhor se perfila para honras de patrono tunante, seja espanhol, sul-americano ou português (e que acaba por sé-lo, embora, ainda, não oficialmente).


Finalmente, e num plano não religioso, poderíamos apontar, por exemplo  Pedro Abelardo, o mais importante filósofo e teólogo do séc. XII, ilustre professor da tradição escolástica, sendo-lhe atribuído o ónus de ter, com os seus ensinamentos "revolucionários", criado os alicerces do ensino universitário. Além disso o seu goliardismo e famosas, e belíssimas, composições à sua amada Heloísa ressoam séculos fora.


Qvid Juris?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

IV CIRTAV 2010 (Rescaldo)

Mais um certame, no qual tenho tido a enorme honra de presidir, ano após ano, ao jurado.
Mais um fim de semana que se torna um verdadeiro oásis na minha agenda.

Bom tempo, um ambiente magnífico e grandes tunas com grandes tunos como é apanágio deste certame de referência.

A registar que, pela primeira vez, não coube no meu traje, tendo sido necessário alargar o botão dos calções.


Aqui ficam algumas recordações.