terça-feira, 25 de abril de 2023

Quantas Tunas há em Portugal?

A pergunta é impossível, à data, de se responder com rigor e um número exacto.

Porque Tuna não se resume a grupos escolares (universitários ou não), não conseguimos quantificar quantas Tunas existem na actualidade, muito menos quantas houve no passado, desde que o fenómeno espoletou no nosso país, a partir da década de 1870 do séc. XIX.

Segundo José Alberto Sardinha[1], entre finais do séc. XIX e 1960, poucas terão sido as localidade rurais que não terão tido a sua Tuna (por vezes mais que uma) - isto sem contar as grandes urbes que, por sua vez, contaram com dezenas de agrupamentos - ao longo da história[2].


Os únicos dados objectivos que existem referem-se às Tunas Académicas (sobretudo as de natureza universitária), havendo um estudo[3] que fez o recenseamento efectivo (e único à data) de todas as tunas que terão existido entre 1983 e 2016, o QVOT TVNAS?.

Segundo esse estudo, publicado em 2019, foram fundadas, entre 1983 e 2016, 455 Tunas (segundo os dados hoje disponíveis, acresceriam mais duas[4]), que se somaram às já existentes[5], sendo que, em 2016, havia 284 Tunas activas em Portugal[6].

Os dados[7] também revelam que o ano de 2012 foi aquele que mais Tunas activas registou, com 304.

Também se fica a saber que, em termos de género, o auge de Tunas masculinas dá-se em 2012, com 130 grupos; o das Tunas femininas ocorre em 2010, com 96 grupos (que passam a ser mais numerosas que as mistas entre 1997 e 2015), e o das tunas mistas tem lugar em 2015, com 86 grupos (ano em que ultrapassam definitivamente o n.º de tunas femininas activas).

De 2016 até hoje, não existem dados documentados, mas o nosso conhecimento do meio, que continuamos a acompanhar de perto, permite-nos avançar que, embora se tenham formado novas tunas nos últimos anos, parece haver claramente um decréscimo de Tunas Académicas activas em Portugal, podendo-se arriscar que se cifrarão ligeiramente acima das 250, mais coisa menos coisa, embora sejam números carentes de uma verificação rigorosa e efectiva.

Obviamente que, falando da Tuna portuguesa (grupos civis e académicos), apenas nos podemos arriscar a fazer um exercício de estimativa, com base nas informações com que os investigadores se vão cruzando, já que uma grande parte dos grupos vão deixando rasto nas redes sociais ou em alguma notícia que apanhamos na comunicação social online.

Assim, cremos não andar muito longe se dissermos que existirão aproximadamente meia centena de tunas civis activas no nossos país (poderão até ser mais), pelo que colocar a possibilidade de termos actualmente, e pecando (porventura) por defeito, umas  300 Tunas (entre grupos civis e académicos), em Portugal, terá, provavelmente, uma margem de erro grosso modo aceitável, mas é uma estimativa a considerar com cautela e apenas como uma suposição plausível.

O que sabemos é que Portugal é o país que possui as mais antigas Tunas do mundo, com actividade ininterrupta, sejam elas de cariz civil/popular ou sejam de cariz académico (liceal e universitário), apresentando uma diversidade que vai da feição orquestral (tocando sentada) à feição mais em voga de tocar de pé (que vemos nas tunas estudantis). Eis algumas[8]:

1870 - Estudantina Brandoense  (Portugal) > Tuna Brandoense (1910);

1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas (Portugal);

1879 – Estudantina Mozelense  (Portugal)> Tuna Mozelense (1890)

1886 - Estudiantina de Toulouse (França),

1890 – Tuna Mouzelense > Tuna Musical Brandoense e Tuna Universitária do Porto (Portugal);

1892 - Estudiantina Biterroise (França);

1893 - Mandolinata (Estudiantina) de Genève (Suíça);

1888/1894  - Tuna Académica da Universidade de Coimbra (Portugal);

1896 - Chalon-Estudiantina (França);

1897 - Tuna de Óis da Ribeira (Portugal);

1900 - Tuna Académica do Liceu de Évora (Portugal);

1901 - Estudiantina Ajaccienne (França);

1904 – Tuna Juvenil de Sermonde (Portugal); Estudiantina d'Annecy (França) e Royal Estudiantina "La Napolitaine" (Bélgica);

1905 - Estudiantina "La Cigale, Isère (França);

1906 - Estudiantina "Donibandarrak" de Saint-Jean de Luz (França);

1908 - Tuna Recreativa "A Juventude Chelense" (Portugal);

1909 - Società Musicale Estudiantina Casalmaggiore (Itália);

1910 - Tuna Souselense, Tuna Musical Brandoense e Tuna S. Paio de Oleiros (Portugal); Estudiantina Bergamasca (Itália) ;

1911 - Tuna de Tavarede (Portugal);

1912 – Tuna Orfeão de Grijó (Portugal); Estudiantina de Mons / Cercle Royal des Mandolinistes Montois (Bélgica), Estudiantina de Ciboure de St. Jean de Luz (França) e Tuna Operária de Sintra (Portugal);

1914 - Tuna Mouronhense (Portugal);

1915 – Tuna Tramagalense (Portugal);



[1] SARDINHA, José Alberto - Tunas do Marão. Tradisom, 2005.

[2] Vd. SILVA, Jean-Pierre - À Descoberta da Tuna Portuguesa. AHT, 2022 e COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo. - QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-2012.

[3] SILVA, Jean-Pierre y COELHO, Eduardo. - QVOT TVNAS? Censo de Tunas Académicas em Portugal, 1983- 2016. CoSaGaPe. Lisbo e Porto, 2019.

[4] Descobriu-se, recentemente, a Goliarda – Tuna da Universidade Moderna de Lisboa, fundada em 1993 (inicialmente mista e passado a masculina em 1996)) e a Tuna Saias, também da mesma instituição, fundada em 1997.

[5] TAUC, Tuna do OUP eTALE

[6] Convém, de facto, distinguir o que são tunas inventariadas das que estão efectivamente activas em cada ano, pois são números e aspectos totalmente díspares; um exercício de rigor e transparência que bem teríamos gostado de ter vistor da parte de Tvnae Mvndi que, no seu pseudo- Censo Mundial de Tunas (2016), repertoriou 340 tunas portuguesas (sem nunca conseguir justificar como chegou a esse número, ainda por cima sem ajuda de nativos).

[7] Op. Cit. pp. 76-77.

[8] Foi na revista Legajos de Tuna N.º 1, Junho de 20117, no artigo intitulado Portugal - Un Museo vivo de la Tradición Tunantesca, pp. 35-39, que pela primeira vez se deu a conhecer a lista das mais antigas tunas do mundo com actividade ininterrupta.