Hoje
o meu panegírico destaca o João Paulo Sousa, conhecido no meio tunante viseense
por "o mestre" e que, na verdade, dispensa grandes apresentações
públicas, porque um dos nomes cimeiros do fenómeno tunante em Portugal e porventura
o maior na cidade de Viriato.
Em
1888, integra a Secção de Fados da AAC e ingressa na E.U.C (Estudantina Universitária de Coimbra) em 1989, com a qual
grava os discos “Estudantina Passa” (1989) e “Canto da Noite” (1992).
Em
1991, é fundador da Infantuna de Viseu, e membro do Conselho Artístico até 1995,
onde é também Presidente da Assembleia Geral.
Autor
e compositor, encontramos os seus temas no “Indo Eu”, disco editado pela
Infantuna em 1995 (e onde encontramos a sua voz de solista nos conhecidos temas
"Ai, Viseu" ou "A Tua Canção"), bem como nos CD editados pelo Grupo de Fados, “Toada
Coimbrã”, onde se destaca o tema “Balada do 5.º Ano Jurídico de 89”, sucesso maior das baladas
de despedida, que eleva o seu nome ao Olimpo do imaginário académico.
É
Membro de Honra da Tuna de Arquitectura de Valhadolid e foi membro da
administração do portal PortugalTunas.
Membro
colaborador do Museo Internacional del
Estudiante,
foi orador no II, III, IV ENT - coordenando a organização
deste último - bem como na V e VIII edições.
Em
2002, lança o Livro “10 Anos de Infantuna” onde ensaia os primeiros
estudos sobre o fenómeno tunante.
Tem
integrado diversos júris em certames por todo país, sendo presidente do Júri do
FITUV, em cuja organização participa desde início.
Natural,
por isso, encontrar o seu nome entre os autores do "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal",
primeira obra nacional sobre o fenómeno, história e evolução das Tunas em
Portugal.
Muito
mais haveria certamente para dizer, da sua rica e diversificada actividade
artística e cultural fora do âmbito das tunas, mas o leitor fica já com uma ideia
de estarmos perante outro incontornável da história tunante em Portugal dos
últimos 30 anos.
Daria
para vários parágrafos contextualizar e explicar o como e quando nos
conhecemos. Vai para mais de 2 décadas e atalharia dizendo que, durante longo
tempo, éramos algo como "o cão e o gato".
Com
efeito, fruto das rivalidades tuneris locais e dos juízos de valor feitos mais
na base do "dizem que" ou "parece que", ambos ressentíamos
uma certa urticária um para com o outro, isto apesar de, factualmente, nunca
termos, nesses tempos idos dos anos 90, privado um com o outro de modo a
descartar quaisquer mal entendidos que houvesse.
As
rivalidades acirradas entre grupos (ele na Infantuna e eu na Tuna da UCP e Real
Tunel) promoveram sempre, deste lado de cá, a ideia de um João Paulo como sendo
um sobranceiro "lobo mau" e, certamente, do lado de lá, a ideia de
outro sobranceiro garnizé.
Estranho,
portanto, que após anos de soslaios juízos mútuos e de, a priori, estarmos
irremediavelmente votados a militar em campos opostos (por vezes antagónicos)
de actividade tunantesca, viéssemos a firmar uma amizade acima das iniciais e
infantis querelas que se alimentavam, no despontar do fenómeno tuneril em Viseu ainda muito imaturo.
Estranho,
fundamentalmente, em alguns sectores dos nossos respectivos círculos de amigos e
grupos tunantes, onde cada um estava já devidamente rotulado e catalogado. Mas
a verdade é que o tempo e a maturidade adquiridas trocaram as emancipações
pueris por uma visão mais ecuménica, levando a uma paulatina aproximação entre
"facções", dos nossos grupos, sobrepondo-se as amizades que existiam, e eram comuns, às
desconfianças e rótulos precipitados ou inadequadamente atribuídos.
E
essa aproximação, iniciada nos ENT, teve como epílogo o contexto do "Qvid Tvnae?",
quando, com o Ricardo Tavares, e sem hesitar sequer, apontámos, cada qual, a
pessoa que melhor completaria a equipa para a aventura de investigar e publicar um livro sobre a origem e evolução da Tuna; o Ricardo com o nome do Eduardo Coelho e, da minha parte o João
Paulo.
Uma
amizade que traz em si uma importantíssima lição de vida, quanto a emitir
juízos de valor dogmáticos sobre outrem, sem o conhecer pessoalmente (coisa que
implica tempo, contacto e convívio regulares). Se muitas vezes as primeiras
impressões são acertadas, muitas outras são passíveis de redundar em erro. Foi
o caso. Ainda bem, contudo, que tal lapso foi remediado e que tenho a honra,
privilégio e alegria de ter o João Paulo como um grande amigo; uma amizade
forjada a ferro e fogo, e de que muito me orgulho. Por vezes é mesmo bom
realizarmos que estávamos errados e espero poder continuamente compensar a
nossa amizade por anos de pueril desperdício.
João
Paulo Sousa nunca foi uma pessoa consensual, fruto da sua inquebrantável
firmeza de convicções, da sua coerência e da sua desarmante frontalidade (num tempo onde se troca tão
facilmente isso por hipócritas meias tintas). Há quem não goste dessa
verticalidade, mas muitos, como eu, admiram esses traços de carácter e preferem
a honesta franqueza a camaleónicas prestações teatrais, independentemente da
forma.
E
os grandes homens dificilmente são consensuais; conheço poucos, aliás. E os
grandes não têm de ser perfeitos, mas as suas virtudes e qualidade superarem,
de longe, as suas imperfeições, como é o caso.
Este
meu encómio ao JPS é igualmente um tributo à amizade que se conquista, o
reconhecimento do seu percurso como Tuno (quando tal nem sempre é assim visto
por outros mais devedores), como figura de proa do negro magistério e um agradecimento
muito pessoal por aquilo que também sou, graças a ele.
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