Mais uma vez
a conversa dos instrumentos de Tuna[1]
e do que é uma Tuna.
Parecia que,
depois de muitos anos de labuta a
esclarecer, a fornecer informação pelos mais diversos meios (no PortugalTunas, pela
PTV, em blogues, através de livros gratuitamente partilhados online, via redes
sociais...), se tinha chegado a um consenso basilar e transversal sobre o que
era uma Tuna e o que a definia como tal ou seja o seu leque instrumental. Um
consenso que não foi imposto, mas que foi aceite em razão da mera observação de
factos documentados ao longo de mais de um século de prática (em Portugal e no
mundo).
Uma definição que ficou catalogada (ver AQUI) e amplamente reconhecida.
Mas parece
que tem vindo a crescer, em gerações mais recentes, um desinteresse por
conhecer e, em virtude disso, um regresso ao ignorar da res tvnae e ao
desvirtuar daquilo que é cerne identitário.
Não nos
vamos referir ao abjecto caso de quem acha que um grupo que só canta é uma
Tuna, pois de nada vale tentar trazer à razão quem é militantemente estúpido[2].
O que está
em causa são os que, algumas vezes sem má intenção e por desconhecimento, acham
lícito e adequado contaminar o leque instrumental da Tuna com aquilo que lhe é
alheio e descaracteriza.
Tal como já
se fazia referência em obras literárias e artigos, dizer que não é o uso
pontual de um instrumento (um trompete ou quejandos) num tema onde é essencial
(porque assim o é na versão original, por exemplo) com o seu uso constante[3].
E não, não é
questão de “evolução”, sobretudo quando colide com uma pedra basilar que define
a Tuna: tradição.
Publicado no contexto do blogue Notas&Melodias, relativo à Tradição Académica/Praxe, este texto, do Eduardo Coelho, adequa-se perfeitamente à Tuna. |
Mas não é
apenas ver em palco instrumentos alheios à Tuna (o que por si só não apenas
desvirtua mas também, de certo modo, discrimina) usado abusivamente e sem
restrição alguma, mas começar a ver cartazes (que publicitam actividades, por
exemplo) onde desaparecem os instrumentos próprios e identificativos de Tuna
para se colocar tunos a tocar saxofone, trombone, bombardino ou quejandos. O
grave é que se perverte a imagem identitária da Tuna e se passa, para o público
menos conhecedor, uma ideia errada.
Já não
bastando o cliché de que tunas são apenas grupos universitários (varrendo,
dolosamente, as tunas dos demais graus de ensino e as tunas populares), surge
agora esta situação gráfica que só vem contribuir para confundir e difundir “fake
news”.
Esta
despreocupação, este “qual é o mal?” é apenas indício de uma geração que chegou
mais recentemente à Tuna sem qualquer background e, pior, sem qualquer hábito
ou preocupação em saber, em se inteirar, tentar compreender o fenómeno. Mesmo
se damos de barato que, durante alguns anos, a comunidade viveu “apavorada” com
o que se previa ser a redução drástica no recrutamento e desinteresse pela Tuna,
levando, porventura, a apertar menos nos critérios de selecção/formação, há
também que reconhecer que é uma marca dos tempos. De facto, esta nova geração
vive de redes sociais e de consumos rápidos, efusivos e efémeros, que não exigem
tempo, esforço e, em suma, preocupação
(compromisso, legado, rigor…) com quem vem a seguir e aquilo que é deixado.
Tínhamos
saído de um tempo de “a minha noção de tuna” resultante dos mitos que
subsistiam e da falta de informação documentalmente credível (mas numa geração
que, geralmente, não virava a cara a provas e factos), para “a minha noção de
tuna” que resulta do desinteresse, do não querer saber (numa geração que,
geralmente, não tem qualquer contacto com conhecimento académico/livresco sobre
a tradição que vivencia e é muito pouco exigente com a pouca informação que
encontra/procura[4]).
Quando não se sabe o que é uma Tuna (mas se acha saber só porque se faz parte de uma), quando se tem a presunção de considerar “a minha noção/conceito/ideia de tuna é” como válido[5]… abre-se a porta ao regresso do obscurantismo tuneril, à diabolização do conhecimento e de quem o transmite.
[1] Vd O Alfabeto
das Tunas, artigo de 03-12-2016.
[2] Vd Ricardo
Tavares - A
Aventura Instrumentalmente Natural. Blogue As Minhas Aventuras na
Tunolândia, artigo de 08-04-2025.
[3] Que
parte normalmente do desejo que fulano ou sicrano que toca X ou Y instrumento
alheio integre a Tuna (ou porque é um tipo porreiro ou porque há falta de
instrumentos e não se quer esperar que alguém aprenda os que fazem falta).
[4] Tanto mais
grave quando se traduz em apresentações/artigos medíocres e pejados de erros
científicos, em “jornadas” sobre Tunas ou em outras intervenções publicadas
online.
[5] Vale a
pena (re)ler Ricardo Tavares, no blogue As
Minhas Aventuras na Tunolândia - A
Aventura do "Eu-É-Que-Sou-O-Plesidente-Da-Junta!", artigo de
25-05-2017 e A
Aventura Dunning-Kruger, artigo de 24-03-2021.