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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Instrumentos de Tuna, a definição de Tuna.

Mais uma vez a conversa dos instrumentos de Tuna[1] e do que é uma Tuna.

Parecia que, depois de muitos anos de  labuta a esclarecer, a fornecer informação pelos mais diversos meios (no PortugalTunas, pela PTV, em blogues, através de livros gratuitamente partilhados online, via redes sociais...), se tinha chegado a um consenso basilar e transversal sobre o que era uma Tuna e o que a definia como tal ou seja o seu leque instrumental. Um consenso que não foi imposto, mas que foi aceite em razão da mera observação de factos documentados ao longo de mais de um século de prática (em Portugal e no mundo).

Uma definição que ficou catalogada (ver AQUI) e amplamente reconhecida.

Mas parece que tem vindo a crescer, em gerações mais recentes, um desinteresse por conhecer e, em virtude disso, um regresso ao ignorar da res tvnae e ao desvirtuar daquilo que é cerne identitário.

Não nos vamos referir ao abjecto caso de quem acha que um grupo que só canta é uma Tuna, pois de nada vale tentar trazer à razão quem é militantemente estúpido[2].

O que está em causa são os que, algumas vezes sem má intenção e por desconhecimento, acham lícito e adequado contaminar o leque instrumental da Tuna com aquilo que lhe é alheio e  descaracteriza.


Tal como já se fazia referência em obras literárias e artigos, dizer que não é o uso pontual de um instrumento (um trompete ou quejandos) num tema onde é essencial (porque assim o é na versão original, por exemplo) com o seu uso constante[3].

E não, não é questão de “evolução”, sobretudo quando colide com uma pedra basilar que define a Tuna: tradição.

Publicado no contexto do blogue Notas&Melodias, relativo à Tradição Académica/Praxe,
este texto, do Eduardo Coelho, adequa-se perfeitamente à Tuna.

Mas não é apenas ver em palco instrumentos alheios à Tuna (o que por si só não apenas desvirtua mas também, de certo modo, discrimina) usado abusivamente e sem restrição alguma, mas começar a ver cartazes (que publicitam actividades, por exemplo) onde desaparecem os instrumentos próprios e identificativos de Tuna para se colocar tunos a tocar saxofone, trombone, bombardino ou quejandos. O grave é que se perverte a imagem identitária da Tuna e se passa, para o público menos conhecedor, uma ideia errada.

Já não bastando o cliché de que tunas são apenas grupos universitários (varrendo, dolosamente, as tunas dos demais graus de ensino e as tunas populares), surge agora esta situação gráfica que só vem contribuir para confundir e difundir “fake news”.

Esta despreocupação, este “qual é o mal?” é apenas indício de uma geração que chegou mais recentemente à Tuna sem qualquer background e, pior, sem qualquer hábito ou preocupação em saber, em se inteirar, tentar compreender o fenómeno. Mesmo se damos de barato que, durante alguns anos, a comunidade viveu “apavorada” com o que se previa ser a redução drástica no recrutamento e desinteresse pela Tuna, levando, porventura, a apertar menos nos critérios de selecção/formação, há também que reconhecer que é uma marca dos tempos. De facto, esta nova geração vive de redes sociais e de consumos rápidos, efusivos e efémeros, que não exigem tempo, esforço e, em suma,  preocupação (compromisso, legado, rigor…) com quem vem a seguir e aquilo que é deixado.

Tínhamos saído de um tempo de “a minha noção de tuna” resultante dos mitos que subsistiam e da falta de informação documentalmente credível (mas numa geração que, geralmente, não virava a cara a provas e factos), para “a minha noção de tuna” que resulta do desinteresse, do não querer saber (numa geração que, geralmente, não tem qualquer contacto com conhecimento académico/livresco sobre a tradição que vivencia e é muito pouco exigente com a pouca informação que encontra/procura[4]).

Quando não se sabe o que é uma Tuna (mas se acha saber só porque se faz parte de uma), quando se tem a presunção de considerar “a minha noção/conceito/ideia de tuna é” como válido[5]… abre-se a porta ao regresso do obscurantismo tuneril, à diabolização do conhecimento e de quem o transmite. 

 



[1] Vd O Alfabeto das Tunas, artigo de 03-12-2016.

[2] Vd Ricardo Tavares -  A Aventura Instrumentalmente Natural. Blogue As Minhas Aventuras na Tunolândia, artigo de 08-04-2025.

[3] Que parte normalmente do desejo que fulano ou sicrano que toca X ou Y instrumento alheio integre a Tuna (ou porque é um tipo porreiro ou porque há falta de instrumentos e não se quer esperar que alguém aprenda os que fazem falta).

[4] Tanto mais grave quando se traduz em apresentações/artigos medíocres e pejados de erros científicos, em “jornadas” sobre Tunas ou em outras intervenções publicadas online.

[5] Vale a pena (re)ler Ricardo Tavares, no blogue  As Minhas Aventuras na Tunolândia -  A Aventura do "Eu-É-Que-Sou-O-Plesidente-Da-Junta!", artigo de 25-05-2017 e A Aventura Dunning-Kruger, artigo de 24-03-2021.

 

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Fake Reels sobre Tunas no The Portuguese Dictionary

Infelizmente, o advento das redes sociais permitiram que o idiota da aldeia pudesse ter voz e espalhasse as suas idiotices. O pior é haver quem coma gato por lebre.

Não custava assim tanto pesquisar, sobretudo perante a responsabilidade de pretender publica e credivelmente ensinar ou informar. Ora, diz o ditado que "quem não tem competência, não se estabelece!
O que é dito sobre as Tunas, por parte desta página auto-intitulada de "The Portuguese Dictionary" (presente no Instagram e FB) é mais um hino à mediocridade e com a agravante de viralizar junto de pessoas pouco avisadas.
Pois nós republicamos o vídeo com alguns comentários nossos.




terça-feira, 25 de abril de 2023

Quantas Tunas há em Portugal?

A pergunta é impossível, à data, de se responder com rigor e um número exacto.

Porque Tuna não se resume a grupos escolares (universitários ou não), não conseguimos quantificar quantas Tunas existem na actualidade, muito menos quantas houve no passado, desde que o fenómeno espoletou no nosso país, a partir da década de 1870 do séc. XIX.

Segundo José Alberto Sardinha[1], entre finais do séc. XIX e 1960, poucas terão sido as localidade rurais que não terão tido a sua Tuna (por vezes mais que uma) - isto sem contar as grandes urbes que, por sua vez, contaram com dezenas de agrupamentos - ao longo da história[2].


Os únicos dados objectivos que existem referem-se às Tunas Académicas (sobretudo as de natureza universitária), havendo um estudo[3] que fez o recenseamento efectivo (e único à data) de todas as tunas que terão existido entre 1983 e 2016, o QVOT TVNAS?.

Segundo esse estudo, publicado em 2019, foram fundadas, entre 1983 e 2016, 455 Tunas (segundo os dados hoje disponíveis, acresceriam mais duas[4]), que se somaram às já existentes[5], sendo que, em 2016, havia 284 Tunas activas em Portugal[6].

Os dados[7] também revelam que o ano de 2012 foi aquele que mais Tunas activas registou, com 304.

Também se fica a saber que, em termos de género, o auge de Tunas masculinas dá-se em 2012, com 130 grupos; o das Tunas femininas ocorre em 2010, com 96 grupos (que passam a ser mais numerosas que as mistas entre 1997 e 2015), e o das tunas mistas tem lugar em 2015, com 86 grupos (ano em que ultrapassam definitivamente o n.º de tunas femininas activas).

De 2016 até hoje, não existem dados documentados, mas o nosso conhecimento do meio, que continuamos a acompanhar de perto, permite-nos avançar que, embora se tenham formado novas tunas nos últimos anos, parece haver claramente um decréscimo de Tunas Académicas activas em Portugal, podendo-se arriscar que se cifrarão ligeiramente acima das 250, mais coisa menos coisa, embora sejam números carentes de uma verificação rigorosa e efectiva.

Obviamente que, falando da Tuna portuguesa (grupos civis e académicos), apenas nos podemos arriscar a fazer um exercício de estimativa, com base nas informações com que os investigadores se vão cruzando, já que uma grande parte dos grupos vão deixando rasto nas redes sociais ou em alguma notícia que apanhamos na comunicação social online.

Assim, cremos não andar muito longe se dissermos que existirão aproximadamente meia centena de tunas civis activas no nossos país (poderão até ser mais), pelo que colocar a possibilidade de termos actualmente, e pecando (porventura) por defeito, umas  300 Tunas (entre grupos civis e académicos), em Portugal, terá, provavelmente, uma margem de erro grosso modo aceitável, mas é uma estimativa a considerar com cautela e apenas como uma suposição plausível.

O que sabemos é que Portugal é o país que possui as mais antigas Tunas do mundo, com actividade ininterrupta, sejam elas de cariz civil/popular ou sejam de cariz académico (liceal e universitário), apresentando uma diversidade que vai da feição orquestral (tocando sentada) à feição mais em voga de tocar de pé (que vemos nas tunas estudantis). Eis algumas[8]:

1870 - Estudantina Brandoense  (Portugal) > Tuna Brandoense (1910);

1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas (Portugal);

1879 – Estudantina Mozelense  (Portugal)> Tuna Mozelense (1890)

1886 - Estudiantina de Toulouse (França),

1890 – Tuna Mouzelense > Tuna Musical Brandoense e Tuna Universitária do Porto (Portugal);

1892 - Estudiantina Biterroise (França);

1893 - Mandolinata (Estudiantina) de Genève (Suíça);

1888/1894  - Tuna Académica da Universidade de Coimbra (Portugal);

1896 - Chalon-Estudiantina (França);

1897 - Tuna de Óis da Ribeira (Portugal);

1900 - Tuna Académica do Liceu de Évora (Portugal);

1901 - Estudiantina Ajaccienne (França);

1904 – Tuna Juvenil de Sermonde (Portugal); Estudiantina d'Annecy (França) e Royal Estudiantina "La Napolitaine" (Bélgica);

1905 - Estudiantina "La Cigale, Isère (França);

1906 - Estudiantina "Donibandarrak" de Saint-Jean de Luz (França);

1908 - Tuna Recreativa "A Juventude Chelense" (Portugal);

1909 - Società Musicale Estudiantina Casalmaggiore (Itália);

1910 - Tuna Souselense, Tuna Musical Brandoense e Tuna S. Paio de Oleiros (Portugal); Estudiantina Bergamasca (Itália) ;

1911 - Tuna de Tavarede (Portugal);

1912 – Tuna Orfeão de Grijó (Portugal); Estudiantina de Mons / Cercle Royal des Mandolinistes Montois (Bélgica), Estudiantina de Ciboure de St. Jean de Luz (França) e Tuna Operária de Sintra (Portugal);

1914 - Tuna Mouronhense (Portugal);

1915 – Tuna Tramagalense (Portugal);



[1] SARDINHA, José Alberto - Tunas do Marão. Tradisom, 2005.

[2] Vd. SILVA, Jean-Pierre - À Descoberta da Tuna Portuguesa. AHT, 2022 e COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo. - QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-2012.

[3] SILVA, Jean-Pierre y COELHO, Eduardo. - QVOT TVNAS? Censo de Tunas Académicas em Portugal, 1983- 2016. CoSaGaPe. Lisbo e Porto, 2019.

[4] Descobriu-se, recentemente, a Goliarda – Tuna da Universidade Moderna de Lisboa, fundada em 1993 (inicialmente mista e passado a masculina em 1996)) e a Tuna Saias, também da mesma instituição, fundada em 1997.

[5] TAUC, Tuna do OUP eTALE

[6] Convém, de facto, distinguir o que são tunas inventariadas das que estão efectivamente activas em cada ano, pois são números e aspectos totalmente díspares; um exercício de rigor e transparência que bem teríamos gostado de ter vistor da parte de Tvnae Mvndi que, no seu pseudo- Censo Mundial de Tunas (2016), repertoriou 340 tunas portuguesas (sem nunca conseguir justificar como chegou a esse número, ainda por cima sem ajuda de nativos).

[7] Op. Cit. pp. 76-77.

[8] Foi na revista Legajos de Tuna N.º 1, Junho de 20117, no artigo intitulado Portugal - Un Museo vivo de la Tradición Tunantesca, pp. 35-39, que pela primeira vez se deu a conhecer a lista das mais antigas tunas do mundo com actividade ininterrupta.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Da qualidade musical das tunas académicas portuguesas.

Um parêntesis para um artigo de opinião/reflexão.

 

Quando nos pomos a reflectir sobre esta questão, amiúde mencionada, já, por diversas pessoas (nomeadamente em podcasts ou similares), acabamos, quase, sempre por bater no mesmo destino: a qualidade das tunas portuguesas melhorou e é muito boa.

Mas será que corresponde totalmente ou não estará essa ideia "contaminada"? Cliché, meia verdade ou facto comprovado?

É certo, e de comum senso, creio, que as nossas tunas académicas melhoraram significativamente a qualidade do seu trabalho musical, se compararmos o que foi a época do "boom" da década de 1980-90, com fases posteriores ao mesmo.

Há, de uma maneira geral, uma evolução positiva, passada que foi a época experimentalista e amadora do fenómeno em pleno ressurgimento.

Parece generalizada a ideia de já estarmos bastante distantes das coisas feitas mais por carolice e improvisação em que os critérios de "draft", para integrar uma tuna, colocavam a par o ser-se bom músico com o ser-se um tipo fixe, cheio de espírito académico (mesmo que fosse um zero em termos artísticos). Longe parece estarmos  dos repertórios rudimentares e dos cordofones tocados como se fossem presuntos.

Tenderia a concordar, pois há evidências disso.

Essa melhoria que se foi registando, era tanto mais comprovada pelo facto de, a partir de determinada altura, as tunas portuguesas começarem a figurar mais vezes como vencedoras de prémios do que as suas congéneres espanholas (ou de outros países) que, durante largos anos, limpavam tudo, quando participavam.

A partir de determinada altura, foi precisamente o inverso que se começou a registar e confirmar. Também não é menos verdade que, nessa época, se começou a registar uma cada vez menor participação de tunas estrangeiras nos nossos certames (e vice-versa), fruto, também, de questões financeiras. 

Seja como for, esses feitos, a que muito ajudou, igualmente, a opção por um repertório mais variado/ecléctico (quando comparado com o repertório tunante espanhol), reforçaram a ideia de qualidade das nossas tunas, e com razão.

Mas foi algo transversal a toda a comunidade?

 

Será que foi, e é, tudo assim tão líquido para esta ideia globalmente aceite que coloca a qualidade média da tuna portuguesa no topo de desempenho musical?

Grosso modo, e generalizando, teríamos a tentação de dizer que sim, pois é fácil e apetecível a sinédoque (tomar a parte pelo todo), só que valerá a pena fazer um "zoom out", antes de "embandeirar em arco" e fazer bengala de clichés que, por mais que possam ser reconfortantes, podem induzir em equívocos.

Ao longo das últimas décadas (desde 1983 em diante), Portugal contou, em média, com 200 tunas activas (mais coisa menos coisa) - sempre acima desse n.º, a partir de 1998 (Vd. Qvot Tvnas,2019).

Será que podemos, tacitamente, afirmar que, pelo menos, metade delas (100) esteve sempre num nível superior de qualidade? Que essa metade, em média, era superior, em qualidade, à média do que faziam tunas de outros países (nomeadamente do país vizinho)?

Tenho sérias dúvidas disso. Até por uma razão: a larga maioria das tunas espanholas ou de outros países são ilustres desconhecidas para a maioria das pessoas (portanto eram considerandos feitos a olho, tomando, também aqui, a parte pelo todo), onde me incluo. Também neste particular, temos tendência a tomar a parte pelo todo (e, devido a questões financeiras, não olvidemos que cada vez menos tunas estrangeiras têm pisado terras lusas e cada vez menos tunas portuguesas têm participado em certames fora do país).

Creio que vivemos demasiado de uma ideia de "grande qualidade das tunas portuguesas" que, afinal, poderá apenas dizer respeito a um punhado de tunas, essas sim, de superior, e consensual, valia em termos artísticos.

Nestas coisas, contudo, é sempre difícil (mesmo impossível) quantificar com exactidão (nem é esse o intuito), sobretudo quando, pela quantidade de certames portugueses (até pelo menos à pandemia, não deve ter havido tuna que não fosse premiada com o 1.º lugar, mesmo que, em muitos casos, fosse eleger o melhor do pior.

Houve, aliás, quem tivesse, há uns anos, a presunção de propor rankings tuneris - coisa néscia e ridícula.

Ainda assim, mesmo que pegássemos nessas listagens tontas, estaríamos a falar, quando muito, de umas 50 tunas, mais coisa menos coisa (se a memória não me falha), com as devidas flutuações (tunas que ora estão uns anos no topo ora definham ora fazem travessia no deserto antes de voltar a ter destaque).

Será que podemos, de facto, afirmar que a qualidade das tunas académicas portuguesas é, em média, boa (ou muito boa) ou não estaremos, porventura, a usar uma amostra que não é assim tão representativa do todo?

Que temos tunas "do outro mundo", capazes de ombrear com o que de melhor se faz noutros países, isso sabemos. Temos várias; são bastantes, mas, no bolo total de tunas existentes, ao longo das últimas 3 décadas, essa ideia de "grande qualidade" não terá sido, antes, excepção do que regra?

Não nos andámos a iludir e a cavalgar em cima de clichés, numa lógica futebolística de pueril afirmação?

Da experiência que tenho e do que vou auscultando, quando é preciso pedir a alguém que identifique as melhores tunas que conhece, normalmente a lista começa a esgotar-se a partir das duas dezenas de nomes. Normalmente, também, é-se tendencioso (muitas vezes incluindo a sua própria - numa aferição feita mais com o coração que com a razão).

Todos acabamos por coincidir numa determinada quantidade de tunas como referências de qualidade (momentânea ou que perdura ao longo dos anos), mas a lista é sempre demasiado curta para suportar uma generalização que temos tendência a fazer, quando toca a comparar a realidade lusitana com outras.

Se, nestas coisas, a questão de gosto é sempre algo relativo, não deixa de ser possível inserir critérios, mais ou menos balizados, para atestar da qualidade musical (pelo menos quando se tem alguma formação musical), mas é algo que implica uma nem sempre fácil isenção.

A qualidade do arranjo, a qualidade literária (quase totalmente ignorada), a qualidade de execução/interpretação ..... são aspectos sempre a ter em conta, em detrimento de "shows visuais" que, tendo seu lugar, podem tolher a apreciação estritamente musical.

Seja presencialmente nos certames e demais espectáculos, seja visualizando pela net ou ouvindo os trabalhos fonográficos que possuo (MFT), são diversos os caminhos que possibilitam apreciar o trabalho que se veio fazendo, e se faz.

Não tenho assim tanta certeza que a nossa Tuna académica possa ser inequivocamente rotulada de muito boa (e mesmo de "boa" tenho fortes reservas), pois se, pessoalmente, reconheço haver muita qualidade nas nossas tunas, esta acaba por ficar reduzida a uma amostra bastante reduzida face ao n.º de grupos no activo.

Poderemos dizer que, em muitos casos, isso não é o mais importante. Poderá não ser. Depende, é verdade, dos propósitos de cada grupo e da forma de cada um encara a participação no mesmo. Uns privilegiam mais o convívio, outros a música, outros isto ou aquilo.

Mas como a Tuna é, em primeiro lugar (e acima de tudo) uma expressão musical, creio ser mais natural que os critérios de exigência musical sejam prioritários (pelo menos para alguns - e daí resultando que esses, acabam, precisamente, por ser tidos como exemplo de qualidade).

Não ignoro que cada qual também só faz omeletes conforme a disponibilidade de ovos. Há quem os tenha e faça. Há quem tenha poucos e faça em função disso; há quem tenha 3 ou 4 e ache que vai dar para uma omelete que alimente 10 pessoas .... e quem pretenda fazer omeletes sem ovos ou nem saiba sequer cozinhar.

Há de tudo, como é normal.

Aliás, ainda bem que não é a qualidade que define o que é uma tuna, pois cada um faz conforme pode e sabe, com as ferramentas que dispõe. Todos, à sua medida, contribuem para a vitalidade e continuidade do fenómeno. Haver margem de progressão permite, precisamente, que o que hoje é fraco se possa a tornar forte amanhã.

O que devemos evitar é cair nessa fabulação, e nessa ideia feita, que a Tuna portuguesa tem uma grande qualidade, metendo tudo no mesmo saco (num politicamente correcto que é ilusório e pode promover a apatia face a um necessário olhar crítico e auto-crítico).

Portanto, o que não podemos, nem devemos, creio, é encher a boca com clichés, quando não correspondem (ou podem não corresponder) à realidade, por mais cativantes que possam parecer.

Temos das melhores tunas do mundo, mas a amostra, quanto a mim, não permite afirmar que a Tuna Portuguesa tem uma qualidade globalmente boa ou muito boa, pois não é bem isso que tenho registado no que ouço e vejo ao longo dos últimos 30 anos.


Se, a partir de 1998, Portugal registou um n.º de tunas académicas sempre acima das 250, tenho cá para mim que, quando muito (e são contas por excesso), teremos um lote de umas 50 tunas elegíveis como acima da média para daí se fazer a selecção "gourmet"  (pessoalmente fico-me por umas duas dezenas -um quinto, portanto, e se tanto, do total).

Cada um faça a sua reflexão.

Prefiro, assim, a segurança de dizer que Portugal tem muito boas tunas, das melhores do mundo, mas não comungo da ideia que isso representa a realidade da Tuna portuguesa como um todo (que considero, artisticamente, mediana e, em demasiados casos, musicalmente medíocre).

Mas isso sou eu.