sábado, 14 de junho de 2025

A Tuna a Património Cultural Imaterial de Espanha

A Tuna Espanhola merece, sem dúvida, ser reconhecida como Património Cultural Imaterial de Espanha, e é nesse sentido que o processo foi agora iniciado formalmente, mas é lamentável que isso seja feito à custa de mentiras históricas. Não há fundamento para afirmar que a Tuna seja produto de sopistas e trovadores, muito menos que seja tão antiga quanto as universidades em Espanha e que a Tuna tenha existido antes do século XIX.

Ver documento completo AQUI.


É triste e lamentável que os mais importantes investigadores hispano-americanos do fenómeno tuneril tenham sido totalmente ignorados, simplesmente para deturpar os factos e distorcer a verdade histórica da Tuna. A Tuna Espanhola só surgiu no século XIX, mas teimam em querer viver na fantasia e na mentira.

Não havia necessidade de falsificar a história para tentar alcançar o reconhecimento desejado, mas, vindo de quem veio, nada mais se poderia esperar. 

Algumas fontes essenciais e primárias sobre a investigação da Tuna foram deliberadamente omitidas (e aqui só mencionamos as que estão acessíveis na web sobre as falsas origens da Tuna):

Roberto Martínez, Rafael Asencio, Raimundo Gomez e Enrique Pérez - Tradiciones en la Antigua Universidade; Estudiantes, matraquistas ytunos. Univerisdad de Alicante, 2004.

COELHO, Eduardo; SILVA, Jean-Pierre, SOUSA, João Paulo e TAVARES, Ricardo - QVID TUNAE?, A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12.

Félix O. Martín Sarraga - Mitos y evidencia históricasobre las Tunas y Estudiantinas. Tvnae Mvndi, 2017.

Rafael Asencio González - Las Estudiantinas del AntiguoCarnaval Alicantino; Origén, contenido y actividad benéfica (1860-1936). Universidad de Alicante, 2013.

Los escolares en las Partidas de Alfonso X. RevistaLegajos de Tuna, n.º 2, de Diciembre de 2017.

La Sopa Boba y los Sopistas (I). Revista Legajos de Tuna,n.º 3, de Junio de 2018

La Sopa Boba y los Sopistas (II). Revista Legajos de Tuna,n.º 4, de Diciembre de 2018

EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS I

EL ORIGEN DE LAS TUNAS Y ESTUDIANTINAS II

Estudantinas/Tunas em Espanha - 1.ª parte.

Estudantinas/Tunas em Espanha - 2.ª parte.


Além disso, algumas instituições de investigação tunante, com as quais os principais tunólogos do mundo colaboram, foram propositadamente ignoradas:

Nenhuma de essas três instituições  de referência subscreve as mentiras expressas no capítulo sobre "origens documentadas". Essas origens não estão documentadas e baseiam-se em distorções e interpretações abusivas das fontes. Mais grave ainda: o Museu Internacional de Estudantes é mencionado para engalanar, embora não apoie a narrativa fictícia e falsa de que a Tuna tem origens medievais ou é tão antiga quanto as universidades espanholas.

As demais explicações apresentadas estão repletas de imprecisões e erros, e não há fontes fiáveis conhecidas que sustentem muitas das afirmações constantes.

Fala-se de cerca de 260 tunas na Espanha, mas nenhum censo ou estudo exaustivo e rigoroso foi jamais realizado sobre o assunto (nem há qualquer fonte fiável que o ateste). [1]Pasme-se que é tão ridículo o número que essa afirmação faz de Portugal o país com mais tunas no mundo.

Fala-se "tanto da historiografia quanto de vários autores clássicos", mas sem mencionar  as obras e quais os ditos autores; e sem fazer nenhum trabalho real para distinguir o que é narrativa ficcional do que é pesquisa e factos objetivamente documentados e comprovados pelos investigadores mais conceituados. 

Estranhamente, ignoraram, até, o único documento sobre historiografia tunante: uma palestra dada online (para o grande auditório de TUDI - Tunos Decanos de Iberoamérica) para todos os países ibero-americanos, pelo historiador/tuno Héctor Valle Marcelino (ver AQUI). 

E, já agora, sublinhar que se é facto que a Tuna tem expressão fora de Espanha, é quase só em Portugal (que, pelas contas que eles fizeram, até terá mais Tunas que Espanha) e América Latina. Em França só existe a Tuna de Pau, no Canadá só há a Luso-Can Tuna (de matriz portuguesa) e nos Países Baixos algumas tunas (quase só só resistindo a de Eindhoven). Não existem tunas na Bélgica, Alemanha, China ou Japão, como falsamente referido no capítulo da "Dimensão Internacional" (e estranhamente nem referem a Suíça, onde existe a Tuna Herlvética - também de feição lusitana). Existiram Estudiantinas em várias partes do mundo e subsistem algumas, mas não são de cariz universitário nem o conceito de Tuna defendido pelos proponentes é compatível com considerar esses grupos como Tunas - caso contrário teriam de englobar as suas próprias orquestras de "pulso y púa" (e a proposta fala apenas, recordemos, de Tunas Universitárias, deixando de fora todas as demais escolares e todas as civis). Enfim, um rodilho de incoerências fruto da incompetência do(s) proponente(s).

Aqueles que prometeram que a Tuna seria considerada Património Imaterial da HUMANIDADE (pela UNESCO) terão ainda terão de cumprir a sua promessa, propalada “urbi et orbi” de fazer da Tuna património mundial[2]. O ridículo é esta candidatura continuar a receber o apoio dos mesmos que foram postos fora da equação, as mesmas pessoas que achavam que a candidatura iria englobar os seus próprios países e tunas (foram bem comidos), quando é simplesmente impossível englobar tantos países.
Outra coisa importante: se, e quando, a declaração vier a ser promulgada, ela só vinculará Espanha. Tuna Portuguesa, Tuna Chilena, Tuna Mexicana... ou Tuna "francesa" não estarão englobadas (e muito menos vinculadas). E seria preciso que em cada país onde há tunas houvesse o mesmo processo de reconhecimento da Tuna como património cultural imaterial, para, remotamente, ser possível falar-se na candidatura da Tuna como Património da UNESCO. O que os tótós ainda não perceberam é que há muito mais probabilidade de a Tuna Espanhola vir a ser, uninominal mente. Património da UNESCO do que a Tuna no seu conceito mundial (englobando os demais países). E esse reconhecimento, a acontecer, não é extensível a terceiros mas exclusivo de um só país!

É uma boa notícia que a Tuna possa vir a ser considerada património cultural imaterial da Espanha? Sim, mas não à custa da verdade e certamente não para promover mentiras e o seu promotor.

Esperemos que, a partir de agora, haja mais rigor na análise das fake news que constam da candidatura e que não seja tudo resumida ao facto  “cunha”, onde valem mais as “connections” e conhecimentos pessoais do que o real rigor do conteúdo. Esperemos que não se repita o chauvinismo do franquismo onde o que importava era enaltecer e valorizar a cultura espanhola de qualquer jeito (a qualquer custo), mesmo que cavalgando mitos, narrativas ficcionadas e mentiras absolutas. Mas duvido que, face á tentação do facilitismo e do ganho "nacionalista", muitos olhos se fechem. Afinal, uma mentira bonita sempre é mais interessante que uma verdade aborrecida.

Tenho, pois, sérias dúvidas que sejam colocados entraves de cariz científico, face ao sentimento nacionalista que estas coisas suscitam nos decisores políticos. Continua a valer mais a fantasia que engana os crédulos e preguiçosos do que a história real que exige verticalidade e honestidade intelectual.

Por princípio, todos os tunos apoiam a candidatura (sejam espanhóis ou não). Por honestidade, todos deveriam criticar os fundamentos em que a mesma assenta e recusar a mesma nestes moldes envoltos em "fake news"! Questão de honestidade intelectual e valores! 

Alguns virão com o argumento que se está a menorizar quem fez e que quem nada fez critica. Mas não basta "fazer", se é para fazer mal, quando todo documento e pressupostos assentam em erros científicos clamorosos, falsidades e mentiras históricas lamentáveis.
Todos certamente apoiamos o resultado final de a Tuna Espanhola vir a ser Património de Espanha (desengana-se quem acha que vai estender-se a outros países), mas não vale tudo! Os fins não justificam nunca os meios. A falta de honestidade intelectual, o falsear factos e introduzir dados inventados (como o n.º de tunas existentes) é uma metodologia inaceitável num contexto de Ensino Superior.  Para fazer mal feito, qualquer um faz! E se deste lado há crítica, bastaria, apenas e só, comparar o que já foi feito pro quem "critica" e o nada quem foi feito por quem quer agora destaque sem pergaminho algum nestas matérias! É essa a diferença! 

[1] Só Portugal o fez, à data.

[2] E até alvo de alguns alertas feitos no PortugalTunas: Do Fracasso de uma Proto-Candidatura à UNESCO (26-09-2019), Sobre uma qualquer propositura à UNESCO (27-07-2021).

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