terça-feira, 28 de junho de 2016

A TUNA EM PORTUGAL - pré-existências populares

A TUNA EM PORTUGAL - pré-existências populares


Não podia deixar de partilhar estes dados que encontrei recentemente e que parecem fazer recuar o aparecimento das primeiras estudantinas/tunas, de cariz popular (note-se), bem mais atrás do que se pensava e anteriores ao efeito polinizador da Estudiantina Española de 1878 e da Estudiantina Fígaro que se lhe seguiu.
A referência, no 2.º excerto, a uma tuna de estudantes por volta de 1868 é deveras interessante também.
Partilho aqui 2 excertos de dois textos que são, por si só, verdadeiras pérolas arqueológicas referentes a tunas do Concelho de Santa Maria da Feira e que são, até agora, as mais antigas referências a Tunas em Portugal.

SOBRE A EXISTÊNCIA DE TUNAS populares ANTERIORES A 1878 (ano da visita da Estudiantina Fígaro a Portugal):


"O concelho da Feira durante o século XIX foi impulsionador no aparecimento de várias formações musicais , estando a nossa localidade [Paços de Brandão] como a quarta em que criou a sua tuna , sendo a mais antiga a de Arrifana ( 1803 ) , seguindo-se a de S. M. de Souto ( 1834) , a Tuna do Soqueiro 1839 , a ESTUDANTINA em 1870 , a Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas em 1877 e da Tuna Mozelense em 1879. (...)"

Obviamente que este é um testemunho indirecto e precisa ser filtrado.
Seguramente que existiram grupos musicais em 1803, 1834 e 1839, nas localidades referidas, mas não teriam ainda, nessa altura, a designação "estudantina/tuna" - termos que ainda não tinham entrado para designar tais agrupamentos.
O que sucede é que os que viveram as últimas décadas do séc. XIX referiam-se aos grupos anteriores com as designações entretanto em voga (recordar que a palavra "tuna" só começa a surgir, em Espanha, a partir de ca. 1870).
Os grupos de inícios do século XIX eram antes conhecidos, em Portugal, por charangas.

Nota: a Tuna Musical Mozelense (ainda em actividade) coloca a sua fundação formal em 1890, pelo que a referência a 1979 será a da sua formação primitiva (muitas vezes as tunas derivavam das "Charangas").


Tuna Mozelense em 1934


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 Charanga da Estudantina de Paços de Brandão, em 1893.
(Publicada por Eduardo Rocha em bardodafina.blogspot.pt)
Tuna de Paços de Brandão, fundada em 1870. Ano de 1896
(Publicada por Eduardo Rocha em bardodafina.blogspot.pt)
Troupe (tuna) Brandoense  de J. A. da Rocha, em 1908

Tuna "Nova" de Paços de Brandão, ca. 1910

SOBRE A TUNA "VELHA" DE PAÇOS DE BRANDÃO (mais tarde apelidada de "Tuna Nova", que reactiva a antiga, em 1910):



"A NOSSA TUNA VELHINHA ( 1870-1908 )

Falar da nossa Tuna com dados e datas certinhas , é uma tarefa difícil hoje. Naquele tempo quem saberia ler ou escrevinhar? E dos que sabiam , quem arquivaria algo por escrito ? Apesar da escola primária para rapazes ter sido criada em 1856 , poucos foram os que se iniciaram na aprendizagem , pautando os filhos dos mais abastados , e os da maioria, camponeses ou operários , começavam muito novos a labutar e pouco entusiasmados em aprender a ler ou em escrever. Houve sempre gente curiosa que guardou em agenda ou papeis pessoais certos apontamentos , onde familiares guardaram-nos religiosamente em gavetas , felizmente ficaram longe de velhos bisbilhoteiros. Talvez fosse desses amarelados papeis ou arquivos que chegaram aos nossos dias duas datas : 1870 e 1895. As primeiras alusões escritas da existência duma Orchestra datam de 1896 em artigos dos jornais regionais da Feira e de Espinho , e , de actas da junta de freguesia de 1882 e 1892 , onde na primeira é “ referida a existência dum grupo de locais que adquiriram instrumentos para a Troupe Musical “ e a segunda do pedido da “ criação duma mini Academia de ensino de musica ,consignados por acção de Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo , por autorização do pároco José Castelão e dos membros da junta , Joaquim Rosas e Francisco da Ferreira , ambos membros da dita junta e membros da Troupe “. Por via oral os testemunhos de Aires de Sousa e de Lúcia Rocha , confirmaram por relatos de seus parentes , que esta tuna se denominava de Estudantina. Fora fundada no reinado de Dom Luís , por influencia do Padre José Henrique , pelo feitor da casa da Portela, ti Francisco Rocha ( tio de Joaquim Alves da Rocha ) tocador de violino e por outros entusiastas , onde se encontravam , Augusto Pinto de Almeida, dono da dita casa , formado em Direito e executante de violão. Se existe verdade nisto , não será por acaso a sua denominação de Estudantina, entusiasta que era o Augusto , diziam que “ no dia da sua formatura em 1868 trouxera a esta terra uma tuna de estudantes , que por arrasto converteu os músicos locais que já tocavam em Charangas e teriam conduzido á criação desta tuna “. Na bandeira velhinha está escrita o ano de 1870 : será a data oficial da sua fundação? (...)"


Fonte: Eduardo Rocha in FB "De NOME Brandão" e Blogue "bardodafina"
Consulta adicional:
Site da Academia de Música de Paços de Brandão


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Recordemos que as tunas mais antigas do mundo EM ACTIVIDADE são todas portuguesas, quer as de cariz popular quer estudantil, embora também existam fora de Portugal (nomeadamente Bélgica e França):

1870 - Estudantina - (muda o nome para Tuna Brandoense, em 1910);
1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas;
1890 - Tuna Mozelense;
1892 - Estudiantina Biterroise (França);
1888/1894 - Tuna Académica da Universidade de Coimbra (embora a própria tuna coloque a sua data de fundação em 1888, como herdeira/continuadora da Estudantina de Coimbra). Pasa a aceitar muloheres em 1960;
1896 - Estudiantina Chalon (França);
1900 - Tuna Académica do Liceu de Évora (passa a mista em 1957);
1905 - Estudiantina La Cigale (França);
1912 - Estudiantina de Mons (Bélgica); e Tuna Operária de Sintra (Portugal)


Tuna Esperança em 2012



Tuna de Óis da Ribeira e 1930-31


Tuna Souselense em 1910



Tuna de São Paio de Oleiros em 1956




Tuna de Tavarede em 1915


Tuna de Tavarede em 1933

Tuna de Tavarede em 1946

Tuna Mouronhense em 2015






segunda-feira, 20 de junho de 2016

O termo Magister nas Tunas

"Magister" .
Um termo que, contrariamente ao que seria de esperar, não tem sido entendido nem empregado de forma transversal nas nossas tunas.
Longe de mim impor seja o que for, mas creio pertinente fazer a devida reflexão sobre o uso mais ou menos apropriado do termo, pois mais do que tudo, parece-me de todo incoerente e pouco abonatório que uma mesma comunidade não atribua o mesmo significado a termos e definições que fazem parte da sua cultura quotidiana.
Mas quando é que tal termo entra na gíria tunante?
Ao que sabemos, surge no nosso meio tuneril, a partir dos anos 80, no Porto, por mão TUP.

Sobre isso nos diz Eduardo Coelho que

"Na TUP, por força da estrutura organizativa interna do OUP, o Magister nunca teve funções executivas (do tipo "presidente"). Era o elemento de ligação entre a Direcção e os elementos da tuna, à semelhança dos responsáveis de qualquer outro grupo do OUP. A nível interno, para os tunos, era uma espécie de "dux" (custa-me usar o paralelo, mas talvez se perceba melhor), cabendo-lhe funções de porta-voz e representatividade, uma certa preeminência e precedência protocolar e, enquanto responsável de grupo, um certo ascendente disciplinar nos termos dos estatutos do OUP.
 Não era necessariamente o director musical/regente artístico (no meu caso, assim foi durante algum tempo). Em minha opinião também devia ser, mas se não for não vejo inconveniente."

Como podemos verificar, o uso do termo não recaiu sobre o regente, por força de uma incompatibilidade de organização interna do OUP (de que a TUP era um dos muitos grupo).
Mas o que significa, ou deveria significar, "Magister", de facto?


Atendendo ao significado histórico e linguístico, no âmbito musical e artístico, designará o maestro (ou regente de orquestra).
Embora o termo pudesse, na época romana, designar muitas outras funções (magister equitum, officiorum, Militum palati......), o único que dele deriva no âmbito artístico e musical é maestro.
Significa, pois, que, no contexto musical, e sucedaneamente no tunante (a Tuna define-se no estrito contexto musical e em mais nenhum outro), magister, maestro, ensaiador, director musical, regente são designações sinónimas que apontam para as mesmas funções.
Recordemos que o termo Maestro vem de Magister e que maestro é o único termo daí derivado que se aplica ao âmbito musical (porque há outros).
O maestro é quem ensaia e dirige musicalmente um grupo.
 Não fará, porventura, muito mais sentido, que tal termo designe quem tem efectivamente a função de ensaiar numa tuna (que é um grupo musical), ao invés de designar o presidente da tuna, como acontece em muitos casos?
É um reflexão que se pode, e deve, fazer.
Hhistoricamente, as tunas organizam-se em dois planos: o plano administrativo, composto por Presidente (e, por vezes, vice-presidente), tesoureiro, secretário, vogais, e, depois, o plano artístico, com um maestro/regente, a quem competia ensaiar.

Pretender que a designação Magister Tvnae se aplica inequivocamente àquele que manda é falacioso, dado que é emprestar a "magister" uma significância que embora possa ter, não é do domínio musical a que a tuna pertence.
Creio que um dos erros de concepção está em pretender ler o termo "Magister" não apenas fora do âmbito a que a tuna pertence, mas procurando depois o seu significado original latino também fora dessa área. Ora o que deve ser feito, neste caso, é precisamente o percurso inverso, começando na fonte, percebendo que o termo derivou para várias áreas e designações e procurar aquela que está dentro do espaço a que a tuna pertence: a música.
É que tornar mais ou menos arbitrário o uso de "magister", porque alguns entendem que tem igual "legitimidade" para designar o presidente, aquele que manda...... então é achar que empregar "magister"  tem tanto cabimento e é equivalente (sinónimo) a aplicar "Dux Tvnae", "César Tvnae", "Rex Tvnae", "Consvl Tvnae", "Praetor Tvnae" ou "Generalis Tvnae".


Naturalmente que as Tunas decidem como organizarem-se internamente, e este artigo mais não serve do que para a devida reflexão.
O que não "bate certo" é numa mesma comunidade o mesmo objecto ter entendimentos tão diferenciados, lembrando uma época mais distante em que cada um definia a própria Tuna como lhe dava na real gana.
O que creio ser importante, levando a questão para um plano mais amplo, é que as tunas procurem, agora, fazer o caminho inverso encetado há 25/30 anos, quando se adotpou uma miríade de nomenclaturas romanceadas para as hierarquias e funções na Tuna (algumas sem qualquer nexo, a bem dizer - e contra mim falo), em igual paralelismo com o que sucedeu com organismos e hierarquias praxísticas, porque a Tuna não é tertúlia, não é sociedade secreta ou milícia praxístico-musico-coiso nem trupe-académico-medievalo-coisa-e-tal. Tuna é um grupo musical, ponto.

"Lesse is more" parece-me a receita.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Cartazes plagiados

Já foi bem mais corrente no passado, contudo ainda ocorre, pontualmente, a cópia de cartazes ou de itens tirados da net e plasmados nesses mesmos cartazes (o que até nem seria tão evidente, não fosse eventos diferentes copiarem os mesmos, sem procurarem ver se já tinha sido utilizado).
O problema das imagens avulsas extraídas da net é que na maioria dos casos, não consta a autoria do desenho (ou perdeu-se no processo de plágios sucessivos), dificultando a atribuição dos devidos créditos (ou mesmo evitar o uso).

Mas torna-se certamente mais grave quando o plágio é quase directo entre cartazes cujo desenho original pertence a uma tuna organizadora.
O caso mais recente foi o que sucedeu com o cartaz do I PesqTuna, em São João da Pesqueira, cujo cartaz é plágio do original pertencente à "TransmonTuna" da UTAD. Mais grave ainda quando esse cartaz acaba, depois, reproduzido no sites de organismos oficiais locais.







O plágio é crime, como todos sabem, mas antes de mais um crime moral e um desrespeito pelo trabalho alheio.


Cartaz do II RUPESTUNAS, organizado em 2012 pela Associação Juvenil Gustavo Filipe (sediada em Foz Coa - Guarda), contém uma figura copiada ilegalmente e sem consentimento.

Como poderão verificar no cartaz, a figura/imagem em causa, representando um Tuno a tocar, é pertença da ANTÚNIA.


O uso de um desenho bastante comum na net e que nem sequer corresponde a tuna, mas a grupo de fados de Coimbra.


Mais um item copiado da net e replicado em diversos cartazes.

O uso indevido do logo da TAFUL.



A cultura de respeito pelos direitos autorais é algo que ainda tem muito caminho para fazer.
No caso estrito das Tunas, um caminho que não passa apenas por cartazes, mas igualmente pela execução ou publicação de temas de terceiros que não são devidamente identificados como tal.



São casos a que se deve prontamente acudir, alertando e fazendo o devido reparo a quem prevarica (e acredito que, na maioria das vezes, por incauta ingenuidade) ou, em última instância, accionando os mecanismos de defesa dos direitos autorais para que se faça justiça.

sábado, 11 de junho de 2016

Partiu o Tó Zé, sem avisar.

Estou incrédulo. Faleceu repentinamente o meu amigo António Gomes Santos, companheiro de estudos (embora de outro curso) na UCP, companheiro de farras, colega no Orfeon Académico, na Associação Académica e na Tuna....... um amigo, antes de mais.
Demasiado novo, deixando filhos pequenos.......que injusta partida....um choque.
Faltam-me as palavras................


Descansa em paz.

terça-feira, 5 de abril de 2016

LIVRO - Mitos y evidencia histórica sobre las Tunas y Estudiantinas

Uma obra de referência do amigo Félix Martin Sárraga, reputado investigador e presidente de Tvnae Mvndi.

Trabalho de investigação que analisa os mitos relacionados com a origem, composição e repertório das Tunas e Estudantinas assim como outras particularidades, e que chegaram distorcidas até ao séc. XXI. Apresenta 171 imagens e 14 cronogramas que ilustram e acompanham a informação trazido pelo texto.

Sustentado por 514 fontes documentais directas e mais de 1000 fontes que suportam artigos previamente publicados pelo autor e cujos resultados são utilizados neste trabalho.



Parabéns pelo contributo.






quinta-feira, 3 de março de 2016

LIVRO - Orfeones, Tunas y Rondallas en Salamanca a comienzos del siglo XX


Uma obra que uma boa base de pesquisa, com referências à Tuna de Coimbra, da Guarda e de Lisboa.


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Mas contém uma monumental gralha ao apresentar, na página 140, uma imagem, atribbuindo-a como sendo de "Académicos da Tuna Escolar de Coimbra, 1905", com suposta fonte no Museo Internacional del Estudiante.




Ora, não apenas a imagem não corresponde, de todo, a membros da Tuna de Coimbra (nada há sequer que o comprove), como o próprio documento (do lado direito) apresenta a legenda "COIMBRA Costumes Académicos (Serenata)".



Mas mais: indo à fonte que o autor refere (MIE), a imagem que lá encontramos também não permite a colocação de "1905" (quando apenas há menção de "ca. 1900"), e em momento algum afirmar que se tratam de membros de uma Tuna.
O documento publicado na página do Museo Internacional del Estudiante apenas reproduz a informação já constante no documento original.

A foto, quanto a ela, será de 1901.

É um duplo erro que, à partida, põe em causa o rigor da obra. 
Do que nela lemos, nada mais encontrámos, até agora, a apontar (mas há aspectos que só outros investigadores locais poderão corroborar ou descartar).








quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

QVID TVNAE citado em proposta de resolução parlamentar contra as praxes



Na sequência do Projecto de Resolução n.º 124/XIII/1ª, enviámos aos deputados subscritores a seguinte tomada de posição:


Exm.ºs Senhores Deputados João Torres, Diogo Leão, Ivan Gonçalves e Pedro Delgado Alves:

Os autores da obra «Qvid Tvnae? – A Tuna Estudantil em Portugal», tendo sido citados no Projecto de Resolução n.º 124/XIII/1.ª, desejando contribuir de forma construtiva para que o debate em torno da Praxe Académica seja feito com a urgência e profundidade que se impõem, mas com o esclarecimento e a objectividade necessárias, gostariam de partilhar com V. Ex.ªs as seguintes reflexões:

1. A obra citada por V. Ex.ªs incide sobre um fenómeno cultural que nada deve à Praxe Académica. A partir dos anos 80 do séc. XX, o fenómeno das tunas acompanha de perto a (re)implantação da Praxe, sendo frequentemente protagonizado por actores que se situavam em ambas as esferas (tunas e praxe académica). Esta circunstância, reforçada por um elemento comum, o traje académico (académico, não praxístico), contribuiu para cimentar a ideia errada, inclusivamente nos próprios, de que os fenómenos são indissociáveis, o que não corresponde, de todo, à realidade histórica comprovável. Uma das razões que nos levaram à investigação condensada em «Qvid Tvnae?» foi, justamente, a desmistificação deste erro.

2. Fomos, nos nossos tempos de estudantes, praxistas activos e actuantes nos estabelecimentos de ensino que frequentámos, grosso modo entre os anos de 1985-1995, tendo contribuído, em maior ou menor medida, para o restabelecimento das Tradições Académicas nas nossas instituições.

3. A Praxe Académica constitui, como V. Ex.ªs acertadamente referem no projecto de resolução, um sistema informal de regulação das relações sociais entre estudantes de uma mesma academia, desenvolvido na academia de Coimbra e cristalizado no Código da Praxe da Academia de Coimbra, de 1957, que serviu de paradigma à difusão/implementação a todo e em todo o país daquilo a que se chama actualmente e abusivamente “Praxe” – na maior parte dos casos, com total desconhecimento e desvirtuamento dos fundamentos da mesma.

4. Frequentemente, assiste-se a uma confusão perigosa entre “tradições académicas” e “praxe académica”. Esta representa apenas uma parte daquelas, que englobam um conjunto de práticas e cerimónias que vão muito para além da simples interacção entre “doutores” e “caloiros” – o gozo ao caloiro: referimo-nos, p. ex., a serenatas e a todo um conjunto de iniciativas lúdico-culturais de comemoração do fim de curso/ano lectivo, como a queima das fitas. De forma abusiva, alguns conjuntos de indivíduos têm procurado fomentar essa confusão, rotulando indevidamente de “praxe” o conjunto das práticas tradicionais, numa tentativa de colocarem sob a sua esfera de influência todo e qualquer acto que se pratique usando o traje académico; não é só histórica e culturalmente errado: é, repetimos, abusivo e perigoso.

5. É igualmente errada e redutora a confusão que geralmente se faz entre “praxe” e “gozo ao caloiro”. Se a praxe é apenas uma parte das tradições académicas, o gozo ao caloiro é uma parte menor da praxe, se bem que a que tem maior visibilidade e ampliação no meio social.

6. Temo-nos manifestado de forma pública e veemente, assumindo uma postura fortemente crítica e pedagógica em blogues, conferências e nas redes sociais, contra o estado deplorável a que a praxe e a tradição académicas chegaram, fruto de uma subordinação destas ao gozo ao caloiro, por ignorância dos próprios promotores e “responsáveis”, e onde campeiam invenções a bel-prazer, desmandos, prepotência e ganância de conjuntos de indivíduos que, usando das “prerrogativas” que se lhes são conferidas no contexto ínfimo do gozo ao caloiro, exercem, em nome da praxe, verdadeira coacção física e psicológica (quando não praticam crimes) sobre os colegas do 1.º ano (mas não só), a coberto de uma noção completamente distorcida de “integração”, promovendo a estigmatização dos que (sendo ou não “caloiros”) não pactuam com este estado de coisas, dos que questionam, dos que se insurgem, dos que não se intimidam nem se deixam intimidar. O número de vozes críticas é cada vez maior.

7. Somos a favor da Praxe Académica assente nos princípios e valores democráticos e meritocráticos que lhe subjazem, conscientes de que a própria Praxe foi evoluindo sempre no mesmo sentido da civilização: cada vez menos violenta e humilhante, cada vez mais acolhedora e integradora, promotora de espírito de independência, e não castradora da vontade individual. Somos por uma Praxe que, para ser levada a sério, só pode ser levada a brincar. Repudiamos, como a maioria dos praxistas, todas as formas de violência física, de coacção psicológica ou de extorsão económica.

8. Deploramos que tenha sido necessário chegar-se ao ponto de a Assembleia da República ter de se pronunciar sobre estas matérias, mas compreendemos e apoiamos todas as iniciativas políticas que visem pôr cobro a práticas inaceitáveis e conjugações de interesses que gravitam em torno da Praxe Académica e que distorcem os valores e princípios que enformam as Tradições Académicas reduzindo-as à sua expressão menos interessante e mais dispensável: as praxes.

Cordialmente, apresentamos os mais respeitosos cumprimentos.


Eduardo Coelho, Jean-Pierre Silva, João Paulo Sousa e Ricardo Tavares.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Faleceu o Prof. Doutor Aureliano da Fonseca

Faleceu o Prof. Doutor Aureliano da Fonseca, o autor da música "Amores de Estudante" e um Tuno que foi, durante décadas, uma referência.
Um homem com uma longevidade invulgar (100 anos feitos) e cuja obra, a vida e o exemplo certamente perdurarão.
Investigador, homem de ciência ( clínico pioneiro no tratamento da psoríase em Portugal), foi igualmente um compositor, um músico.... um artista multifacetado para sempre ligado à Tuna através do Orfeão Universitário do Porto.
Não é apenas a academia portuense que está de luto, mas toda a academia nacional.
Obrigado, mestre Aureliano, pelo testemunho que deixa a apontar caminhos de excelência in saecula saeculorum.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

TUNA - A história por detrás da tradição, por Eduardo Coelho


Palestra dada pelo amigo Eduardo Coelho, co-autor de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal", durante o 1.º TUNx, organizado pela TAFDUP - Tuna Académica da Faculdade de Direito do Porto, e que decorreu na reitoria da Universidade do Porto, a 4 de Dezembro (2015).




quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

I TUNx Conferência sobre Tunas (2015)

Uma iniciativa a não perder para a malta do Porto e arredores.
Com a presença de 2 grandes especialistas da nossa praça, Eduardo Coelho e Ricardo Tavares, e um programa apetecível.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A ventura da amizade

Tenho mais é que ficar grato pelas palavras que me foram discernidas no blogue "As Minhas Aventuras na Tunolândia".
Quero crer ser merecedor da amizade por detrás do texto e penhoradamente regozijar-me por ter amigos tão distintos e ilustres.
Quanto ao conteúdo, se for metade do que descreve, tenho mais é que humildemente alegrar-me, mesmo se não me sinto merecedor de tamanho libelo.


sábado, 14 de novembro de 2015

No I FITU de Lamego

Foi um belíssimo sábado bem passado em Lamego como parte integrante do júri do I FITU organizado pela Estudantina Académica de Lamego.
E subir ao palco com esta malta, para formar o "TunaJúri", foi de salutar.








sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Tunas com orquestras

Embora não seja novo, temos assistido, cada vez mais, a pontuais, e felizes encontros entre Tuna e Orquestras, conferindo maior beleza a muitos temas, uma sonoridade bem diferente e enriquecida.
Eis alguns exemplos:


Tuna Universitária do Minho, Braga.




TUIST, Lisboa



Quantuna de Coimbra



domingo, 27 de setembro de 2015

O que fundamenta a Tuna - Invenções da "praxe" de Leiria

Estupefacção.
A ignorância e mediocridade do conteúdo dispensam mais considerandos.
"Bem Aventurados os pobres de espírito....."; "Pai, perdoa-lhes que não sabem o que fazem".


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

domingo, 30 de agosto de 2015

Panegírico a João Paulo Sousa

Hoje o meu panegírico destaca o João Paulo Sousa, conhecido no meio tunante viseense por "o mestre" e que, na verdade, dispensa grandes apresentações públicas, porque um dos nomes cimeiros do fenómeno tunante em Portugal e porventura o maior na cidade de Viriato.

Em 1888, integra a Secção de Fados da AAC e ingressa na E.U.C (Estudantina Universitária de Coimbra) em 1989, com a qual grava os discos “Estudantina Passa” (1989) e “Canto da Noite” (1992).
Em 1991, é fundador da Infantuna de Viseu, e membro do Conselho Artístico até 1995, onde é também Presidente da Assembleia Geral.

Autor e compositor, encontramos os seus temas no “Indo Eu”, disco editado pela Infantuna em 1995 (e onde encontramos a sua voz de solista nos conhecidos temas "Ai, Viseu" ou "A Tua Canção"), bem como  nos CD editados pelo Grupo de Fados, “Toada Coimbrã”, onde se destaca o tema “Balada do 5.º Ano Jurídico de 89”, sucesso maior das baladas de despedida, que eleva o seu nome ao Olimpo do imaginário académico.
É Membro de Honra da Tuna de Arquitectura de Valhadolid e foi membro da administração do portal PortugalTunas.
Membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante, foi orador no II, III, IV ENT - coordenando a organização deste último -  bem como na V e VIII edições.
Em 2002, lança o Livro “10 Anos de Infantuna” onde ensaia os primeiros estudos sobre o fenómeno tunante.
Tem integrado diversos júris em certames por todo país, sendo presidente do Júri do FITUV, em cuja organização participa desde início.
Natural, por isso, encontrar o seu nome entre os autores do "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal", primeira obra nacional sobre o fenómeno, história e evolução das Tunas em Portugal.

Muito mais haveria certamente para dizer, da sua rica e diversificada actividade artística e cultural fora do âmbito das tunas, mas o leitor fica já com uma ideia de estarmos perante outro incontornável da história tunante em Portugal dos últimos 30 anos.

Daria para vários parágrafos contextualizar e explicar o como e quando nos conhecemos. Vai para mais de 2 décadas e atalharia dizendo que, durante longo tempo, éramos algo como "o cão e o gato".
Com efeito, fruto das rivalidades tuneris locais e dos juízos de valor feitos mais na base do "dizem que" ou "parece que", ambos ressentíamos uma certa urticária um para com o outro, isto apesar de, factualmente, nunca termos, nesses tempos idos dos anos 90, privado um com o outro de modo a descartar quaisquer mal entendidos que houvesse.
As rivalidades acirradas entre grupos (ele na Infantuna e eu na Tuna da UCP e Real Tunel) promoveram sempre, deste lado de cá, a ideia de um João Paulo como sendo um sobranceiro "lobo mau" e, certamente, do lado de lá, a ideia de outro sobranceiro garnizé.

Estranho, portanto, que após anos de soslaios juízos mútuos e de, a priori, estarmos irremediavelmente votados a militar em campos opostos (por vezes antagónicos) de actividade tunantesca, viéssemos a firmar uma amizade acima das iniciais e infantis querelas que se alimentavam, no despontar do fenómeno tuneril em Viseu ainda muito imaturo.
Estranho, fundamentalmente, em alguns sectores dos nossos respectivos círculos de amigos e grupos tunantes, onde cada um estava já devidamente rotulado e catalogado. Mas a verdade é que o tempo e a maturidade adquiridas trocaram as emancipações pueris por uma visão mais ecuménica, levando a uma paulatina aproximação entre "facções", dos nossos grupos, sobrepondo-se as amizades que existiam, e eram comuns, às desconfianças e rótulos precipitados ou inadequadamente atribuídos.


E essa aproximação, iniciada nos ENT, teve como epílogo o contexto do "Qvid Tvnae?", quando, com o Ricardo Tavares, e sem hesitar sequer, apontámos, cada qual, a pessoa que melhor completaria a equipa para a aventura de investigar e publicar um livro sobre a origem e evolução da Tuna; o Ricardo com o nome do Eduardo Coelho e, da minha parte o João Paulo.

Uma amizade que traz em si uma importantíssima lição de vida, quanto a emitir juízos de valor dogmáticos sobre outrem, sem o conhecer pessoalmente (coisa que implica tempo, contacto e convívio regulares). Se muitas vezes as primeiras impressões são acertadas, muitas outras são passíveis de redundar em erro. Foi o caso. Ainda bem, contudo, que tal lapso foi remediado e que tenho a honra, privilégio e alegria de ter o João Paulo como um grande amigo; uma amizade forjada a ferro e fogo, e de que muito me orgulho. Por vezes é mesmo bom realizarmos que estávamos errados e espero poder continuamente compensar a nossa amizade por anos de pueril desperdício.




João Paulo Sousa nunca foi uma pessoa consensual, fruto da sua inquebrantável firmeza de convicções, da sua coerência e da sua desarmante  frontalidade (num tempo onde se troca tão facilmente isso por hipócritas meias tintas). Há quem não goste dessa verticalidade, mas muitos, como eu, admiram esses traços de carácter e preferem a honesta franqueza a camaleónicas prestações teatrais, independentemente da forma.
E os grandes homens dificilmente são consensuais; conheço poucos, aliás. E os grandes não têm de ser perfeitos, mas as suas virtudes e qualidade superarem, de longe, as suas imperfeições, como é o caso.

Este meu encómio ao JPS é igualmente um tributo à amizade que se conquista, o reconhecimento do seu percurso como Tuno (quando tal nem sempre é assim visto por outros mais devedores), como figura de proa do negro magistério e um agradecimento muito pessoal por aquilo que também sou, graças a ele.





sexta-feira, 24 de julho de 2015

DEFINIÇÃO DE TUNA (QVID TVNAE)

Sem grandes introitos, apenas salientar que a obra "QVID TVNAE?" (2012) foi muito meticulosa e criteriosa na análise e apresentação da evolução do significado de Tuna/Estudantina, desde as várias teorias sobre a origem do termo, até ao grafado, ao longo dos séculos, nas principais enciclopédias e mais conceituados dicionários ibéricos (generalistas, etimológicos, de musicologia...).

Toda essa análise linguística (semântica e etimológica) rigorosa pode ser encontrada no citado livro (pp.65-84), disponível gratuitamente aqui:
https://drive.google.com/file/d/1HnbZrKgcb7zhwoD9KApuA9UogUvmwLew/view?fbclid=IwAR1q7d6lRQDq5bg6ZfrRnqulW9BvCToWH6K-FRG2njGG4SbezbGaaE_-um4

Daí resultou, ponderando a análise histórica e social em simbiose com o conhecimento empírico dos autores, a seguinte definição que aqui se transcreve:


"Tuna/Estudantina - Tendo surgido inicialmente em Espanha em meados/finais do séc. xix com a designação de estudiantinas, as tunas são agrupamentos musicais tanto de âmbito popular (urbano e rural) como estudantil. São constituídos essencialmente por instrumentos de cordas (cordofones) plectrados, dedilhados e friccionados, acompanhados de acordeão, flautas e percussão ligeira. Nos agrupamentos de cariz estudantil, a pandeireta é ícone histórico indispensável.

As tunas podem apresentar‑se em palco tanto sentadas (em disposição orquestral clássica) como de pé. Interpretam um repertório eclético, do erudito ao popular, acompanhando a execução instrumental com canto (a solo ou em coro), característica mais visível nos agrupamentos estudantis.

As tunas de cariz estudantil, e em especial as do foro universitário, envergam o traje da academia em que se integram ou indumentária própria (usualmente baseado na tradição das tunas do país vizinho e/ou evocativo do património cultural local). São normalmente constituídas por estudantes e antigos estudantes, recebendo a designação de «tunas de veteranos» ou «quarentunas» quando são exclusivamente compostas por estes últimos."[1]








[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA João Paulo - QVID TVNAE? A Tuna estudantil em Portugal - Euedito, 2012, p.84.