segunda-feira, 20 de junho de 2016

O termo Magister nas Tunas

"Magister" .
Um termo que, contrariamente ao que seria de esperar, não tem sido entendido nem empregado de forma transversal nas nossas tunas.
Longe de mim impor seja o que for, mas creio pertinente fazer a devida reflexão sobre o uso mais ou menos apropriado do termo, pois mais do que tudo, parece-me de todo incoerente e pouco abonatório que uma mesma comunidade não atribua o mesmo significado a termos e definições que fazem parte da sua cultura quotidiana.
Mas quando é que tal termo entra na gíria tunante?
Ao que sabemos, surge no nosso meio tuneril, a partir dos anos 80, no Porto, por mão TUP.

Sobre isso nos diz Eduardo Coelho que

"Na TUP, por força da estrutura organizativa interna do OUP, o Magister nunca teve funções executivas (do tipo "presidente"). Era o elemento de ligação entre a Direcção e os elementos da tuna, à semelhança dos responsáveis de qualquer outro grupo do OUP. A nível interno, para os tunos, era uma espécie de "dux" (custa-me usar o paralelo, mas talvez se perceba melhor), cabendo-lhe funções de porta-voz e representatividade, uma certa preeminência e precedência protocolar e, enquanto responsável de grupo, um certo ascendente disciplinar nos termos dos estatutos do OUP.
 Não era necessariamente o director musical/regente artístico (no meu caso, assim foi durante algum tempo). Em minha opinião também devia ser, mas se não for não vejo inconveniente."

Como podemos verificar, o uso do termo não recaiu sobre o regente, por força de uma incompatibilidade de organização interna do OUP (de que a TUP era um dos muitos grupo).
Mas o que significa, ou deveria significar, "Magister", de facto?


Atendendo ao significado histórico e linguístico, no âmbito musical e artístico, designará o maestro (ou regente de orquestra).
Embora o termo pudesse, na época romana, designar muitas outras funções (magister equitum, officiorum, Militum palati......), o único que dele deriva no âmbito artístico e musical é maestro.
Significa, pois, que, no contexto musical, e sucedaneamente no tunante (a Tuna define-se no estrito contexto musical e em mais nenhum outro), magister, maestro, ensaiador, director musical, regente são designações sinónimas que apontam para as mesmas funções.
Recordemos que o termo Maestro vem de Magister e que maestro é o único termo daí derivado que se aplica ao âmbito musical (porque há outros).
O maestro é quem ensaia e dirige musicalmente um grupo.
 Não fará, porventura, muito mais sentido, que tal termo designe quem tem efectivamente a função de ensaiar numa tuna (que é um grupo musical), ao invés de designar o presidente da tuna, como acontece em muitos casos?
É um reflexão que se pode, e deve, fazer.
Hhistoricamente, as tunas organizam-se em dois planos: o plano administrativo, composto por Presidente (e, por vezes, vice-presidente), tesoureiro, secretário, vogais, e, depois, o plano artístico, com um maestro/regente, a quem competia ensaiar.

Pretender que a designação Magister Tvnae se aplica inequivocamente àquele que manda é falacioso, dado que é emprestar a "magister" uma significância que embora possa ter, não é do domínio musical a que a tuna pertence.
Creio que um dos erros de concepção está em pretender ler o termo "Magister" não apenas fora do âmbito a que a tuna pertence, mas procurando depois o seu significado original latino também fora dessa área. Ora o que deve ser feito, neste caso, é precisamente o percurso inverso, começando na fonte, percebendo que o termo derivou para várias áreas e designações e procurar aquela que está dentro do espaço a que a tuna pertence: a música.
É que tornar mais ou menos arbitrário o uso de "magister", porque alguns entendem que tem igual "legitimidade" para designar o presidente, aquele que manda...... então é achar que empregar "magister"  tem tanto cabimento e é equivalente (sinónimo) a aplicar "Dux Tvnae", "César Tvnae", "Rex Tvnae", "Consvl Tvnae", "Praetor Tvnae" ou "Generalis Tvnae".


Naturalmente que as Tunas decidem como organizarem-se internamente, e este artigo mais não serve do que para a devida reflexão.
O que não "bate certo" é numa mesma comunidade o mesmo objecto ter entendimentos tão diferenciados, lembrando uma época mais distante em que cada um definia a própria Tuna como lhe dava na real gana.
O que creio ser importante, levando a questão para um plano mais amplo, é que as tunas procurem, agora, fazer o caminho inverso encetado há 25/30 anos, quando se adotpou uma miríade de nomenclaturas romanceadas para as hierarquias e funções na Tuna (algumas sem qualquer nexo, a bem dizer - e contra mim falo), em igual paralelismo com o que sucedeu com organismos e hierarquias praxísticas, porque a Tuna não é tertúlia, não é sociedade secreta ou milícia praxístico-musico-coiso nem trupe-académico-medievalo-coisa-e-tal. Tuna é um grupo musical, ponto.

"Lesse is more" parece-me a receita.

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