"Magister" .
Um termo que, contrariamente ao que seria de
esperar, não tem sido entendido nem empregado de forma transversal nas nossas
tunas.
Longe de mim impor seja o que for, mas creio
pertinente fazer a devida reflexão sobre o uso mais ou menos apropriado do
termo, pois mais do que tudo, parece-me de todo incoerente e pouco abonatório
que uma mesma comunidade não atribua o mesmo significado a termos e definições
que fazem parte da sua cultura quotidiana.
Mas quando é que tal termo entra na gíria tunante?
Ao que sabemos, surge no nosso meio tuneril, a
partir dos anos 80, no Porto, por mão TUP.
Sobre isso nos diz Eduardo Coelho que
"Na TUP, por força da estrutura organizativa interna do
OUP, o Magister nunca teve funções executivas (do tipo "presidente").
Era o elemento de ligação entre a Direcção e os elementos da tuna, à semelhança
dos responsáveis de qualquer outro grupo do OUP. A nível interno, para os
tunos, era uma espécie de "dux" (custa-me usar o paralelo, mas talvez
se perceba melhor), cabendo-lhe funções de porta-voz e representatividade, uma
certa preeminência e precedência protocolar e, enquanto responsável de grupo,
um certo ascendente disciplinar nos termos dos estatutos do OUP.
Não era
necessariamente o director musical/regente artístico (no meu caso, assim foi
durante algum tempo). Em minha opinião também devia ser, mas se não for
não vejo inconveniente."
Como podemos verificar, o uso do termo não
recaiu sobre o regente, por força de uma incompatibilidade de organização
interna do OUP (de que a TUP era um dos muitos grupo).
Mas o que
significa, ou deveria significar, "Magister", de facto?
Atendendo ao
significado histórico e linguístico, no âmbito musical e artístico, designará o
maestro (ou regente de orquestra).
Embora o termo pudesse,
na época romana, designar muitas outras funções (magister equitum, officiorum,
Militum palati......), o único que dele deriva no âmbito artístico e musical é
maestro.
Significa, pois,
que, no contexto musical, e sucedaneamente no tunante (a Tuna define-se no
estrito contexto musical e em mais nenhum outro), magister, maestro, ensaiador,
director musical, regente são designações sinónimas que apontam para as mesmas
funções.
Recordemos que o
termo Maestro vem de Magister e que maestro é o único termo daí derivado que se
aplica ao âmbito musical (porque há outros).
O maestro é quem
ensaia e dirige musicalmente um grupo.
Não fará, porventura, muito mais sentido, que
tal termo designe quem tem efectivamente a função de ensaiar numa tuna (que é
um grupo musical), ao invés de designar o presidente da tuna, como acontece em
muitos casos?
É um reflexão
que se pode, e deve, fazer.
Hhistoricamente,
as tunas organizam-se em dois planos: o plano administrativo, composto por
Presidente (e, por vezes, vice-presidente), tesoureiro, secretário, vogais, e,
depois, o plano artístico, com um maestro/regente, a quem competia ensaiar.
Pretender que a
designação Magister Tvnae se aplica inequivocamente àquele que manda é
falacioso, dado que é emprestar a "magister" uma significância que
embora possa ter, não é do domínio musical a que a tuna pertence.
Creio que um dos
erros de concepção está em pretender ler o termo "Magister" não
apenas fora do âmbito a que a tuna pertence, mas procurando depois o seu
significado original latino também fora dessa área. Ora o que deve ser feito,
neste caso, é precisamente o percurso inverso, começando na fonte, percebendo
que o termo derivou para várias áreas e designações e procurar aquela que está
dentro do espaço a que a tuna pertence: a música.
É que tornar
mais ou menos arbitrário o uso de "magister", porque alguns entendem
que tem igual "legitimidade" para designar o presidente, aquele que
manda...... então é achar que empregar "magister" tem tanto cabimento e é equivalente (sinónimo)
a aplicar "Dux Tvnae", "César Tvnae", "Rex
Tvnae", "Consvl Tvnae", "Praetor Tvnae" ou
"Generalis Tvnae".
Naturalmente que
as Tunas decidem como organizarem-se internamente, e este artigo mais não serve
do que para a devida reflexão.
O que não "bate
certo" é numa mesma comunidade o mesmo objecto ter entendimentos tão diferenciados,
lembrando uma época mais distante em que cada um definia a própria Tuna como
lhe dava na real gana.
O que creio ser
importante, levando a questão para um plano mais amplo, é que as tunas
procurem, agora, fazer o caminho inverso encetado há 25/30 anos, quando se
adotpou uma miríade de nomenclaturas romanceadas para as hierarquias e funções
na Tuna (algumas sem qualquer nexo, a bem dizer - e contra mim falo), em igual
paralelismo com o que sucedeu com organismos e hierarquias praxísticas, porque
a Tuna não é tertúlia, não é sociedade secreta ou milícia praxístico-musico-coiso
nem trupe-académico-medievalo-coisa-e-tal. Tuna é um grupo musical, ponto.
"Lesse is
more" parece-me a receita.
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