quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Cartazes sem Tuna



O título é provocador, mas a intenção é precisamente essa: pôr as pessoas a criticamente reflectir.
É uma opinião, e vale o que vale; mas assenta na constatação.

Quem prestar alguma atenção à iconografia presente nos cartazes de encontros/festivais/certames de Tunas em Portugal, certamente que já se terá deparado com uma imagética cuja qualidade é indesmentível do ponto de vista do design e do trabalho por detrás da concepção desses mesmos cartazes.

Está na moda, de há uns larguíssimos anos a esta parte, criar cartazes baseados em trabalhos que são alterações a cartazes de filmes, séries e afins.
Também está na moda pôr em evidência temáticas diversas, através das imagens/desenhos de vária índole (locais emblemáticos, referências históricas....), procurando "tunalizá-las" (ou, pelo menos, usá-las em benefício do "marketing tuneril" - nem sempre alinhadas com as comuns regras publicitárias).
São evidências.

Mas, no meio disto, há um enorme senão.
Passando o olhos por muitos desses cartazes (belíssimos trabalhos do ponto de vista do design e mestria na área do desenho e modulação de imagens), algo salta imediatamente à vista: pouco ou nada (quase sempre nada) referente à Tuna em cada vez mais cartazes que se vão produzindo.
Há cartazes que se não tivessem escrito "Festival/Encontro de Tunas" e tivessem a info escrita das tunas participantes, em nada situariam o evento no mundo tuneril.
De tanto se querer "inovar", chega-se ao ponto de despir o cartaz da iconografia essencial: a Tuna.
Do ponto de vista das regras publicitárias, poderíamos dizer que tal retira eficácia. Do ponto de vista estritamente tuneril....... porventura também.

E, verdade seja dita, tal só nos empobrece.
São cada vez menos os cartazes cuja imagem, cuja iconografia remete directamente para Tunas.
Tirem a componente escrita e o cartaz deveria, ainda assim, passar a mensagem de que se trata de Tunas. Mas a verdade é que, quase sempre, o que fica, retirado o "lettering", é algo sem sentido algum neste contexto, sem qualquer identificação à res tvnae.

E independentemente do facto do certame possuir uma designação própria (referente a uma cidade, uma personagem histórica...), a iconografia deveria sempre ter a Tuna em destaque, porque o desenho não é cartaz do posto de turismo, produto de uma empresa qualquer, headline de bilheteira de cinema ou associação de defesa do património.
De tanto se querer inovar, a Tuna é muitas (demasiadas) vezes omitida, como se ao serviço avulso de um conceito subliminar.

E quando não temos imagens totalmente despropositadas com o mundo tuneril, temos muitas outras a centrar-se em generalidades que também não são inequívocas (desenhos com guitarra ou notas de música, com imagens de fado/fadistas, estudantes trajados), porque servem igualmente a outros (fado, tradições académicas/Praxe, Música/grupos musicais de todo o tipo....), pese embora mais próximas (e melhor que o "nada a ver" que cada vez mais vemos).

Claro que ainda vamos tendo cartazes com imagens (fotos) de tunas em destaque, e ainda (mas já mais raros, com desenhos alusivos directamente à Tuna/Tuno). Valha-nos isso!
Mas são cada vez mais os cartazes onde nada, mesmo nada, remete para aquilo que estão a promover e o contexto em que se situam.
Não apenas do ponto de vista formal, em termos publicitários, deixa a desejar, mas pouco contribui para a promoção da comunidade, creio.



Em Espanha, os cartazes de eventos tuneris primam por pôr em evidência, na sua iconograifa, o universo tuneril; e o desenho/pintura ainda é uma arte muito acarinhada para representar o mester tunante (sendo algumas peças verdadeiras obras de arte).


O que tem vindo a desaparecer é o desenho propriamente dito, criado expressamente para o efeito.Desenho de tunas, de tunos. Ainda os há, mas parecem em extinção. E não é por falta de talento, estou seguro.
São opções. Mas são opções benéficas? O leitor que ajuíze.

Por oposto, no país vizinho (e não só), há uma aposta forte no desenho, 
 sinal de que ele ainda tem a sua importância - e com maior probabilidade de sobreviver no tempo (e se tornarem peças de referência e de colecção).

Depois dos atropelos cada vez mais constantes no que respeita aos instrumentos próprios à Tuna, parece que o tema do cartazes evidencia, também ele, um sintoma de que algo precisa de ser repensado, creio, face ao que, em muitos casos, consubstancia um afastamento cada vez maior da Tuna em relação a si mesma, correndo o risco de desenraizar a sua identidade, diluindo-a em sofismas evolutivo-coiso por força de modas que a Tuna tem, supostamente, de acompanhar e responder.

O risco é que possamos  ter cada vez mais "Tunas de lettering", cuja imagem e o que delas se observa, de facto, se distancia cada vez mais da matriz que as enquadra, legitima e alimenta.

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