quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Seja de pé ou sentada, é Tuna.

Já houve quem fosse desclassificado, off the record, por a sua 1.ª fila ter tocado sentada, decorrente da curiosa ideia de que isso era contra-natura, de que era contra a tradição.

Em Espanha, nos dias de hoje, dificilmente se concebe uma tuna (ou parte dela) tocar sentada, desde que, nomeadamente a partir do franquismo, se estilizou o paradigma da tuna a tocar de pé (que importámos aquando do boom dos anos 80, pois, até aí, a tunas apresentavam-se sentadas).

Entre nós, para alguns, será igualmente estranho (para outros mais atentos, não), porque quase caiu em desuso e muitos nunca assistiram ou observaram tal disposição (embora existam no nosso meio académico). 
Contudo, isso não significa que tenha deixado de ser válido e lícito.
Vai para 30 e poucos anos que, com o boom, veio a moda de tocar de pé, como faziam já os espanhóis, abandonando por completo o modelo até aí vigente (mas quase, já, desconhecido).
Mas apesar do facto da esmagadora maioria das nossas tunas tocarem de pé, não significa isso que seja dogma e muito menos possa ser tido como uma tradição exclusiva ou característica hermética da Tuna.


Tuna de Veteranos da Corunha (in FB da tuna)


Nada há que determine que a tuna não possa tocar sentada, fique claro.
Salvo as arruadas carnavalescas ou algum desfile (que estão na génese das estudantinas canavalescas que dão, depois, lugar às formações tuneris estáveis), desde os primórdios (séc. XIX) que as tunas davam os seus concertos sentadas, em composição orquestral. Foi sempre esse o seu DNA e paradigma (que ainda perdura, embora quase extinto no foro escolar), fruto do tipo de espectáculo (e repertório), cuja postura sentada se coadunava melhor a esse propósito.
Não há registo de, ao longo de todas essas décadas, haver qualquer menção de que só se podia tocar sentado. Não se percebe, pois, que tenha havido, ou eventualmente possa ainda haver, quem pretenda que só de pé as tunas podem actuar.

Tuna Académica do Liceu de Évora em 1991
(In TALE 100 história e tradições, de Adília Zacarias e Isilda Mendes, 2012)

Tuna  da Associação dos antigos tunos de Coimbra
(In blogue "Guitarra de Coimbra (Parte I)", publicação de 09 Julho de 2005)

Sessentuna, Tuna da AAOUP, 2004.
(In http://aaoup.up.pt/sessentuna.php)

TAUC em 2017
(in https://tunauc.wordpress.com/)


TDUP, 2015
(In canal do youtube da TAISEL)


Ainda hoje subsistem tunas e estudantinas (em Portugal e no estrangeiro) que há mais de 100 anos continuam a tocar sentadas.


Tuna Mouronhense, com mais de 100 anos, já.

Estudiantina Chalon, fundada em 1896 (com mais de 120 anos, portanto).
(In http://www.info-chalon.com)

Cercle Royal des Mandolinistes  - Estudiantina de Mons, Bélgica.
(in Qvid Tvnae, 2012)

Estudiantina albigeoise (Midi-Pyrénées), França, fundada em 1929.
(In http://www.ladepeche.fr/)
L'Estudiantina de Ciboure, fundada em 1912.
(In http://www.sudouest.fr)
Estudiantina Bergamo, Itália, fundada em 2009.
(In Youtube)


Portanto, seja de pé, seja sentada, seja um misto das duas posturas, nenhuma tuna é menos Tuna por qualquer uma dessas opções, ao contrário do que entenderam alguns sandeus com excesso de zelosa ignorância, há uns anos (e porventura ainda entendem alguns mais distraídos).






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