sábado, 19 de outubro de 2024

IA (Inteligência Artificial) e a Tuna

 

Estamos ainda longe, de podermos considerar a IA (inteligência Artificial) como uma ferramenta credível para trabalhos académicos.

E porque sabemos que no Ensino Superior são vários os alunos que, ao longo dos anos, fizeram trabalhos, teses e artigos sobre Tunas (de forma mais ou menos indirecta)… e porque certamente continuarão a ser produzidos tais trabalhos é que quisemos, de forma sucinta e sem recorrer a versões profissionais pagas, saber se as ferramentas gratuitas de IA eram uma mais-valia para fazer trabalhos sobre Tunas sem ler ou estudar patavina do assunto.



E porque qualquer trabalho que aborde tunas tem sempre uma contextualização histórica e explicativa das origens é que questionámos 2 serviços dos mais conhecidos.

A pergunta era simples: “Trace a origem e história das Tunas Académicas [recorrendo a fontes credíveis consultáveis online].”


No ChatGPT, quase nada corresponde aos factos históricos. Depois diz que é preciso fazer consultas adicionais, mas não fornece qualquer orientação digna desse nome.

Nesta outra versão do ChatGPT, o resultado é quase idêntico, com excepção das fontes que não pedimos. É uma sucessão de erros e falsidades históricas em que, ainda hoje, muitos caem por militante ignorância e economia de intelecto.

Os resultados foram simplesmente decepcionantes. Salvo o caso do Gemini, que ainda conseguiu ir buscar alguma coisa à Wikipédia (de que parte do texto foi por nós actualizado) e ao site da Estudantina de Castelo Branco (a um texto já antigo, da lavra do Ricardo Tavares) que, ainda assim, estão algo desactualizados, o resto é a pobreza “franciscana” nas fontes. O texto do Gemini é, ainda assim, o melhorizinho dentro do mau que é produzido artificial e incompetentemente, mas nem esse escapa a uma avaliação negativa.


Embora com menos erros, afirmar que a 1.ª tuna académica foi a TAUC (e 1888 é quando nasce a Estudantina de Coimbra) e que só a partir daí nascem as demais é falso. Tunas Académicas já as havia. A TAUC será a primeira tuna de feição universitária (a actual TUP é fundada em 1890, mas ainda não havia Universidade no Porto)

Já antes tínhamos colocado uma pergunta mais simples e genérica, "O que são Tunas?", com os mesmos resultados medíocres e erróneos.


Tendo em conta que a maioria dos livros mais recentes e credíveis estão em “Open Space”, nomeadamente nos livros da Google, no Academia.edu ou no Issu.com (entre outros), não se percebe a “inteligência” desta IA que parece o paradigma da preguiça e ineficiência.

Esqueçam o ChatGPT e quejandos! 

Na hora de fazerem trabalho científicos para a escola/faculdade, esqueçam a inteligência que não seja a inteligência natural, a inteligência humana optimizada pelo estudo e leitura, pelo espírito crítico e empirismo isento.

Lembrem-se: mesmo depois da chegada do aspirador, a vassoura continua por cá e é muito mais utilizada e fiável.


NOTA: Não usámos versões pagas, provavelmente com melhores ferramentas e capacidades. Sabemos igualmente que a IA dá bons resultados em áreas muitos comuns e generalizadas e terá mais dificuldade em assuntos mais restritos e especializados. Seja como for, critica-se o facto desta ferramenta, supostamente inteligente, mostrar tão pouca na hora de seleccionar fontes (omitindo informação existente e acessível na própria Net).


Lista de Fontes acessíveis online:

1- COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. CoSaGaPe, 2011-12.

2- SILVA, Jean-Pierre - A Grande Tuna Feminina de Alfredo Mântua - Breve Contributo Documental (1907-1913). CoSaGaPe, Lisboa, 2018.

3- SILVA, Jean-Pierre & COELHO, Eduardo - QVOT TVNAS? Censo de Tunas Académicas em Portugal, 1983-2016. CoSaGaPe, Lisboa, 2019.

4- SILVA, Jean-Pierre - A França das Estudiantinas - Francofonia de um fenómeno nos séc. XIX e XX. CoSaGaPe, Lisboa, 2019. 

7- SILVA, Jean-Pierre - A Estudiantina Fígaro em Portugal (1878) e no Brasil (1885 e 1888). CoSaGaPe, Lisboa, 2023.

8- SILVA, Jean-Pierre - Portugal, Um Museu vivo da tradição tunantesca - Legajos de Tuna, n.º 1 - Revista, Ano 1, de Junho de 2017, pp. 35-39.

9- SILVA, Jean-Pierre - Museu Fonográfico Tuneril de Portugal. Legajos de Tuna n.º 2 - Revista, Ano 1, de Dezembro de 2017, pp. 51-55.

10- SILVA, Jean-Pierre - De Estudiantina a Tuna - Breves apuntes de una Historia lusitana. Legajos de Tuna n.º 4 - Revista, Ano 2, de Dezembro de 2018, pp. 6-13.

13- MARQUES, Rui Filipe Duarte - TUNAS EM PORTUGAL, ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO, NEGOCIAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA MÚSICA. Um estudo sobre a Tuna Souselense. Universidade de Aveiro, 2019.

14- ASENCIO GONZÁLEZ, Rafael - Las Estudiantinas del Antiguo Carnaval Alicantino - Origen, contenido lírico y actividad benéfica (1860-1936). Cátedra Arzobispo Loazes, Universidad de Alicante, 2013.

15- MARTÍNEZ DEL RIO, Roberto; ASENCIO, Rafael [et al.] – Tradiciones en la antigua Universidad: Estudiantes, matraquistas y tunos. Alicante: Ediciones Universidad de Alicante, 2004.

16- RAMÓN RICART, Andreu – Estudiantinas Chilenas. Origen, desarrollo y vigencia (1884 1955). Santiago de Chile: Ed. Fondart, 1995.

17- RENDÓN MARIN, Hector – De liras a cuerdas. Una historia social de la música através de las estudiantinas, 1940 1980. Medellín: Universidad Nacional de Colombia, 2009.


20- SÁRRAGA, Félix O. Martin - Mitos y evidencia histórica sobre las Tunas y Estudiantinas. TVNAE MVNDI, Cauces Editores. Lima, Perú, 2016.

21- TRUJILLO, José Carlos Belmonte - Los Sones de la Estudiantina. Universidad de Extremadura. Cáceres, 2022.

1 comentário:

isabel rei disse...

Muitos parabéns pelo seu blogue. Hoje saiu um artigo onde está citado nas referências e no texto do artigo. Por favor, confira aqui: https://www.mundoclasico.com/articulo/42279/A-Casa-da-Tróia-Primeira-parte