segunda-feira, 11 de julho de 2016

Tunas Populares - Um fenómeno pouco valorizado



O fenómeno das estudantinas/tunas de cariz popular está, como as suas congéneres estudantis, inserido no amplo fenómeno das orquestras de plectro que se difundiram por toda a Europa e pelo mundo, a partir do primeiro quartel do séc. XIX.
São, no nosso país (pelo menos), o mais importante fenómeno de democratização da música erudita e do acesso aos instrumentos antes reservados a bolsas mais fartas e a quem tivesse sustento para estudar música.
A obra de referência sobre tunas populares
Salvo poucos etnomusicólogos, como José Alberto Sardinha, a larga maioria dos sociólogos  e musicólogos ignorou olimpicamente este facto e o impacto que as tunas tiveram, no seu papel cultural, social e musical em Portugal.
Como refere J. A. Sardinha (2005), citado em "Qvid Tunae?" (2011), «...estas formações foram porta de entrada de repertório erudito na tradição oral popular portuguesa[1]

Não há como negar a importância destas orquestras de plectro, de cariz popular, rural e urbano, cuja existência se conta às centenas por todo o país (não havendo quase aldeia ou vila que não tivesse a sua, chegando a haver tunas rivais numa mesma aldeia) e que impulsionaram e representaram um movimento musical ímpar que nem mesmo o fenómeno das filarmónicas terá suplantado.
E foi desse processo de aculturação que se desenvolve aquilo a que se acabará por chamar de "música popular" (tantas vezes, por ignorância, colocado no campo oposto à música dita "erudita" ou "clássica"):


"Durante esse processo, estes agrupamentos foram‑se metamorfoseando em, cruzando com, influenciando e sendo influenciadas por grupos congéneres, como as tocatas dos ranchos folclóricos, acolhendo no seu seio instrumentos estranhos ao modelo original, nomeadamente as violas de arame[2], cavaquinhos e guitarras portuguesas, e, bem assim, toda uma panóplia de instrumentos de percussão regional – sarroncas, púcaros, bombos, tarolas, tamboris, castanholas, adufes, reco‑recos, triângulos, etc.

Por outro lado, os bandolins começaram a aparecer nas tocatas ao lado dos instrumentos tradicionais. A este fenómeno de entrecruzamento não é alheio o facto de quase sempre os executantes da tocata darem uma mãozinha à tuna, e vice‑versa. Assim, tanto o repertório tradicional passou para as tunas como o contrário: os corridinhos começam a ser tocados como «chotiças»[3]; as chulas, como valsas; aparecem os «viras‑valseados», as contradanças e os «balancés», as quadrilhas, os dobrados (pasodobles) e toda uma série de ritmos «novos», que rapidamente ganham foro de «tradicionais» sendo incorporados no fundo musical dito «popular». " [4]

Aqui se deixam algumas imagens e fotos de tunas de cariz popular rural e urbano de finais do séc. XIX e inícios do XX (sem repetir as que já publicadas no artigo dedicado a pré-existências populares).



Bilhete Postal - Tuna Comercial de Lisboa, 1903-04
Publicado na Ilustração Portuguesa Is25, p. 13, de 25 de Abril de 1904 e citado em Qvid Tvnae?, p. 208

Tuna Travanquense, fundada em finais do séc. XIX, aqui em 1909
(Publicado por João Duarte no blogue travancacomhistoria.blogspot.pt)

Bilhete Postal - Tuna Comercial de Lisboa, ed. 1911
Foto publicada também no jornal O Século, de 14 de Outubro de 1906, p. 12,
e em QVID TVNAE?, p. 209

Estudantina Nicolino Milano (disfarçados de tunos espanhóis) no Carnaval de Lisboa,
Ilustração Portugueza, 1ª Ano, Nº 71, de 13 de Março de 1905, p. 294
(Hemeroteca Municipal de Lisboa). B

Grupo Manuel Passos Freitas, Funchal (Madeira), 1918.
(Acervo do Museu de Etnologia de Lisboa)

Grupo musical de amadores apresenta em Cuba, Alentejo, uma tuna masculina de inspiração estudantil.
(Ilustração Portuguesa n.º 698, de Julho de 1919, p. 15)

Postal Ilustrado Nº 17- Serenata Thomarense, junto à porta do Convento de Cristo
(Collecção da Havaneza de Thomar, ca. 1905)

Tuna Amadores de Música Passos de Freitas,
Illustração Portugueza, II Série, Nº 678, de 17 Fevereiro de 1919, p. 138
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna Associação de Empregados Comércio de Santarém,
Illustração Portuguesa, II Série, Nº 414, de 26 Janeiro de 1914, p.127
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna Cartaxerse (Cartaxo),
 Illustração Portugueza, II Série, Nº 600, de 20 Agosto de 1917, p. 159
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna da Associação dos Caixeiros Leirienses,
 Ilustração Portugueza, 2ª série, Nº 907, de 07 Julho de 1923, p.12
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna de Alfaiates, durante a 1ª guerra mundial, ca. 1918
(In hblogue valadodosfradesfotos.blogspot)
publicado em QVID TVNAE?, p. 241 

Tuna de Aradas (Aveiro), ca. 1910 (Acervo de David Paiva Martins)

Tuna de Bandolins da Casa do Povo da Camacha 1947
 (In site bandolins-madeira.net) publicado em QVID TVNAE?, p. 242

Tuna de bandolins do Laranjal, Santo António do Funchal (Madeira), 1938
(Photographia – Museu Vicentes, in bandolins-madeira.net)

Tuna de Benfica do Ribatejo,  1915
(in blogue benficadoribatejo.blogspot.pt)

Tuna de Benfica do Ribatejo, ca 1920
(in blogue benficadoribatejo.blogspot.pt)


Tuna de Empregados do Comércio de Beja, 1906
(Jornal O Século, 10 de Dezembro, p.5 - Arquivo Nacional Torre do Tombo)
publicado em QVID TVNAE?, p. 240

Tuna Peroselo (Penafiel), ca. 1910

Tuna de Redondo, 1903 (Coleção particular Luís Mocho)

Tuna do Atheneu Commercial de Lisboa,
 Ilustração Portugueza, II Ano, Nº 85, de 19 de Junho de 1905, p.523
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Tuna do Club Ginástico Portuguez do Rio de Janeiro,
Illustração Portuguesa, II Série, Nº 429, de 11 Maio de 1914, p.598
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna dos Caixeiros de Guimarães, c. 1900
(Recolha de Manuel Soares)

Tuna Empregados Comércio Penamacor (ca. 1919)

Tuna Empregados de Comércio de Loanda,
Illustração Portuguesa, II Série, Nº 445, de 31 Agosto de 1914, p.269
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna Louletana,
Illustração Portuguesa, II Série, Nº 388, de 28 Julho de 1913, p.127
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

Tuna Riomaiorense (Rio Maior), ca. 1920
(Fernando Duarte in "História de Rio Maior")


Tuna Orfeão de Silvalde (São Tiago de Silvalde - Aveiro), ca. 1920

Troupe Freitas Gazul, 1893
(Revista - O António Maria Vol. IX, de 23Fevereiro)
publicado em QVID TVNAE?, p. 205

Troupe Gounod, 1894
(O António Maria, 28 Dezembro, p.174)
publicado em QVID TVNAE?, p. 205

Tuna do Ateneu Comercial, 1905, Someiro,
Revista Occidente,  Vol. 28, nº 960, p. 189
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).
publicado em QVID TVNAE?, p. 209

Tuna do Atheneu Comercial de Lisboa, 1906
(Brasil-Portugal - Lisboa - A. 8, vol. 8, nº 190, 16 Dez., p. 344)
publicado em QVID TVNAE?, p. 210

Tuna Orquestra da União dos Empregados de Comércio do Porto, ca. 1912
(O Tripeiro nº 6, Ano XI de Outubro 1955 p. 172).

Tuna Orquestra da União dos Empregados do Comércio do Porto, 1912
 Illustração Portugueza Nº 330, 17 Junho, p. 785
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)
publicado em QVID TVNAE?, p. 226

Tuna de senhoras, 1907, com cliché de P. Marinho
(Brasil-Portugal. - Lisboa. - A. 9, vol. 9, nº 194, 16 Fev., p. 28-29)
publicado em QVID TVNAE?, p. 211

Investigação pessoal, 2016




[1] José Alberto Sardinha, em entrevista a João Pedro Oliveira, DN (12 de Setembro de 2005).
[2] Nas suas múltiplas designações regionais: braguesas, amarantinas, campaniças, toeiras, beiroas, bandurras, da terra, etc.
[3] Corruptela popular de schottische (escocesa).
[4] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA João Paulo - QVID TVNAE? A Tuna estudantil em Portugal - Euedito, 2011, pp.301-302.

sábado, 9 de julho de 2016

Actriz morre em palco perante Estudantina de Salamanca (Porto, 1908)

Em festival promovido pelo centro académico do Porto em honra da Estudantina de Salamanca, a actriz (já retirada) Emília Eduarda (muito consagrada na época) falece repentinamente, mal acabara de declamar uma poesia, perante a estupefacção dos estudantes portuenses e espanhóis e de todo o público ali presente.

O Século, 01 de Março de 1908 (ANTT)

Origem das Tunas em diário viseense de 1888

Origem da Tuna,
in A Liberdade, 02 Março 1888, 17 Anno, Nº 900 b

Uma Estudiantina Española em Roma (Itália), 1879

Não se trata da Estudiantina Española que esteve no Carnaval de Paris, em 1878.
Tão pouco parece ser a Fígaro, dado que, se assim fosse, o artigo mencioná-lo-ia. 
Trata-se, porventura, de uma estudantina composta de estudantes de Madrid.

Journal des débats politiques et littéraires , 30 Março 1879, p.3 (BNF - Gallica)




La Presse, 44.º Ano, de 26 de Março de 1879, p.2.

















































sexta-feira, 8 de julho de 2016

Tuna Compostelana em Lisboa - 1888

Um grande artigo na primeira página do Diário Illustrado, cheio de ricos pormenores e uma imagem do principal responsável daquela Tuna.
Recordemos que foi a visita da Tuna Compostelana a Portugal (Coimbra, Porto e Lisboa) que marca o início da institucionalização da tuna estudantil no nosso país.


Tuna Compostela em Lisboa (Grande reportagem),
Diário Illustrado, 17.º anno, Nº 5340, de 21 Fevereiro de 1888, p.1

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Panegírico a Eduardo Coelho

Há já muito que devo um artigo a Eduardo Coelho, porque estamos a falar de um dos vultos maiores do pensamento tunante em Portugal e um dos mais ilustres e reputados tunos da nossa praça.
Poderia alguém interpor que há falta de isenção no critério de escolha, por se tratar de um amigo.

Eu responderia que não se trata apenas de um amigo, mas de um grande e fraterno amigo e, contudo, independentemente disso, continuaria a ser um vulto maior da Tuna em Portugal.
Prestar-lhe este justo reconhecimento é não apenas tardio como justíssimo.

O Eduardo começa a sua aventura tuneril em 1987, quando passa a integrar a Tuna Universitária do Porto, da qual se torna director musical e Magister entre 1988 e 1993 (altura em que a TUP se torna a primeira tuna portuguesa a vencer um festival fora de Portugal).

Autor e compositor, o seu nome aparece associado às “Ondas do Douro”, tema que se elevou à categoria de hino na academia portuense, consagrado no LP “Acordes, harpejos… tainadas e beijos” (1991), participando igualmente nos CD “Tuna Universitária do Porto — Um Percurso” e “Academia”. Ainda como integrante da TUP, recebe informalmente a beca da Tun’América (Porto Rico).
Só isso já é, está bom de ver, algo que ilustra um percurso notável.
Retirado da vida activa da TUP, é co-fundador  da Tuna Veterana do Porto, em 1999, sendo um dos seus directores artísticos.
Tem integrado o júri de diversos festivais, nomeadamente o do FITU “Cidade do Porto”, ao qual já teve a honra de presidir, e em cuja organização esteve envolvido desde as primeiras edições.
Eduardo Coelho é um nome indissociável da comunidade tunante, reforçando tal como pensador e estudioso destas matérias, com intervenções de aquilatado recorte literário que fez durante anos no fórum do PortugalTunas, sob o cognome de "o Conquistador". Natural, por isso, encontrá-lo entre os co-autores da primeira obra sobre a Tuna em Portugal, "Qvid Tvnae? A Tuna estudantil emPortugal".

Porque um reputado conhecedor da res tvnae, participa no IV e VIII ENT (Encontro Nacional de Tunos), como orador, sendo um dos autores do Manifestvm Tvnae.
É membro colaborador do Museo Internacional del Estudiante e do Tvnae Mvndi, ultrapassando assim o reconhecimento das suas qualidades além fronteiras.
O currículo do Eduardo não se esgota no âmbito tuneril, porque também muito haveria a descrever e referir no âmbito do fado académico, da Praxe e Tradições Académicas, no OUP, entre outros. Mas ficando a coisa só no contexto da Tuna, basta para atestar o que acima disse: estamos perante um tuno com um percurso de referência.

Foi no contexto do "Qvid Tvnae?" que o conheci pessoalmente, o que veio reforçar ainda mais a admiração e estima por tão insigne pessoa.
Um mestre cujo conhecimento é proporcional à sua enorme humildade, um homem que sabe estabelecer pontes, um vulto ímpar a quem muito deve a comunidade tunante.
A sua clarividência, a sua enorme bagagem intelectual, o rigor, a capacidade de escutar, mas também a firmeza da sua verticalidade e uma incomum capacidade argumentativa, baseada no seu vasto repertório de experiência e estudo apurada, são traços que não deixam indiferente quem com ele cruza dois dedos de conversa, especialmente quando o assunto são tunas ou tradições académicas. E quando abre a boca, faz jus aos seus cabelos brancos e é um deleite ouvi-lo (como recentemente no TUNx) ou ler o que redige.




Contas feita, apesar de o ter conhecido apenas há coisa de uns 10 anos, é como se fosse, já, um daqueles amigos de sempre, de infância, fazendo parte daquela família que escolhemos, daquele restrito grupo de pessoas que passam a fronteira de conhecidos ou colegas: os amigos de/para sempre.
Presto essa singela homenagem, porque elas se fazem em vida, ainda no seu vigor todo, num tempo onde se tornou (mau) hábito só fazer o reconhecimento devido depois de partirem.
Obrigado, Eduardo, por aquilo que és e pela amizade dispensada e por aquilo que também contigo aprendi, e aprendo.



quarta-feira, 6 de julho de 2016

Editorial do PortugalTunas - Napo partiu (Julho 2016)


Um artigo tocante que aplaudo, tal como aplaudo a memória do Napo, o seu exemplo de vida como Tuno.

 
Clique abaixo, para aceder ao artigo
http://www.portugaltunas.com/artigos/id=4169/
 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS

A TUNA EM PORTUGAL - PRÉ-EXISTÊNCIAS ESTUDANTIS


Se em anterior artigo tratámos de pré-existências de cariz popular, desta feita tratamos de evidências estudantis anteriores às já detectadas em "Qvid Tvnae?", que vêm confirmar o que a citada obra já indicava.
Com efeito, se podemos apontar, grosso modo, o ano de 1888 como o que marca a institucionalização da Tuna estudantil em Portugal, já bem antes se registava a existência de grupos deste género, quer de cariz popular quer académico.
No anterior artigo refere-se a existência de uma estudantina de académicos da UC por volta de 1868-69, confirmando que, tal como no país vizinho, estes agrupamentos (por vezes com designações diversas: troupes, academias....) eram de natureza volátil (com especial actividade no carnaval, desmobilizando-se depois), mas bem mais comuns do que se julgava.

Damos à estampa alguns dados, que o blogue Guitarra de Coimbra V publicou em primeira mão sobre o assunto, com evidências documentais preciosas.


"Realiza-se hoje neste teatro o espetáculo anunciado a favor das vítimas andaluzas. O programa não pode ser mais atraente: concerto de bandolins pela estudantina académica do sr. Jayme de Abreu[1]; a comédia em três atos "Os músicos"; concerto de guitarras[2]; e recitação de poesias por Ferreira da Silva, Pinto da Rocha[3] e Eugénio de Castro." [4]

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 12 Janeiro 2016.


"Notícia de uma estudantina de escolares da UC, de existência efémera, que em setembro/outubro de 1884 saiu de Coimbra para o Minho e desceu em jornadas pedestres até ao Algarve. O diário de viagem, com anotações e desenhos seria um documento de inestimável valor. Será que se encontra esquecido no meio de papeis de algum dos herdeiros?
Além de organizar caçadas e peditórios, este grupo fazia serenatas e organizava entradas musicais nas terras visitadas, com momentos de canto e teatralizações (dança em coluna/círculo/cadeia, diálogos recitados e cantados, crítica social e ditos cómicos).
Não se pode afirmar que tenha havido uma relação direta entre este tipo de estudantinas portuguesas/espanholas e os grupos de populares que ainda hoje se organizam pelo carnaval no Baixo Alentejo (Amareleja, Barrancos), alvo dos estudos da antropóloga Dulce Simões. Mas a colocação dessa hipótese não é descabida. Esta estudantina de 1884 deve ter deixado fortes marcas no imaginário."


Correspondência de Coimbra, n.º 73, 3.ª feira, 16.09.1884
(pesquisa de José Nascimento)
Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 19 de Abril 2016




"Notícia de imprensa sobre as estudantinas de escolares que entre março e junho animavam as ruas da alta de Coimbra trazendo às janelas e varandas muitos curiosos. A febre das estudantinas serenateiras vinha de trás mas foi incrementada no primeiro semestre de 1880 devido à programação associada ao tricentenário de Camões que em junho desse ano foi jubilosamente celebrado. Em janeiro de 1880 tinha sido constituída uma comissão de estudantes, presidida por A. Henriques da Silva, de que era relator o músico, compositor, estudante de Direito e regente do Orfeon Academico João Marcelino Arroyo. Em março já estava devidamente ensaiada e pronta a começar as rondas pela alta (quando parasse de chover) uma estudantina de guitarras, violas de arame, violões, rabecas e flautas e violoncelos. Alguns dos instrumentistas agregados a este formação primaveril eram os guitarristas José Júlio de Oliveira, Calheiros (?), Matos Silva e Campos (?).
Uma destas estudantinas tinha cerca de quarenta instrumentistas (alguns dos quais asseguravam vozes e coros), exibia guitarras, violões, violas de arame, flautas, rabecas e violoncelos e era regida por um "Sr. Guerra"[5], cuja identificação não conseguimos apurar. Esta estudantina era iluminada por archotes, fazia paragens para interpretar repertório instrumental e canções de homenagem às portas das autoridades locais e levava por junto cerca de duzentos curiosos.
Algumas destas formações participaram na serenata fluvial que em 26 de maio encheu o Mondego com músicas, bandeirolas multicolores e balões venezianos."



 O Tribuno Popular, n.º 2531, de 12.05.1880

Fonte: Octávio Sérgio/A. M. Nunes in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis), artigo de 27 de Março 2016







[1] Jayme de Abreu, mais conhecido por Jayme Peralta ou Jayme da guitarra, natural de Fornos de Algodres, fez em Coimbra o liceu e a Faculdade de Direito/UC. Executante de bandolim e de guitarra, cantor de fados e serenateiro. Manteve durante a década de 1880 a direção de uma estudantina com a qual deu concertos e serenatas de rua. O seu estilo performativo foi imitado por Augusto Hylario.
[2] Instrumentistas não identificados. Nas décadas de 1880-1890 os grupos de guitarras de concerto incluíam frequentemente três a quatro guitarras com diferentes tamanhos e encordoamentos e um número variável de violas francesas.
[3] Artur Pinto da Rocha, estudante jurista natural do Brasil, viveu longos anos em Coimbra, tendo-se repartido por múltiplas atividades. Foi presidente do primeiro Orpheon (dado a verificar) e da TAUC, ator amador no Teatro Académico, membro da Sociedade Filantrópica e declamador. Regressou em Brasil onde exerceu atividade forense e onde recebeu a sua TAUC no verão de 1925.
[4] O Tribuno Popular, n.º 3021, de 28 de Janeiro de 1885
[5] Admitindo que era estudante, nos livros de matrículas referentes ao ano letivo de 1880-1881 encontra-se Silvano Alberto Gomes GUERRA, natural de Valongo de Milhais, concelho de Murça, distrito de Vila Real, a frequentar o 3.º ano da FD/UC, que talvez possa ser o nosso regente. Agradecemos ao Adamo Caetano mais esta colaboração.

domingo, 3 de julho de 2016

Hasta siempre, Napoléon



Faleceu, após doença prolongada, o nosso bem conhecido e estimado Napoléon, Juan María Félix Santos Gayoso de seu nome, e que era o presidente da Cuarentuna la Coruña. Tinha 75 anos.



Um amigo de quem guardo, para sempre, um carta que me enviou desde a Corunha (agradecendo a amizade e hospitalidade, aquando do II CIRTAV, em 2008) e um quadro com o emblema da "Cuarentuna La Coruña" que me ofereceu juntamente com um pin feito por ele (uma miniatura de um bicórnio com letra N a dourado).






Aqui deixo o meu pesar e condolências à família e amigos mais chegados.
Uma pessoa inolvidável pela sua alegria de viver e a gentileza dos seus gestos e palavras.
Muchas gracias por todo y hasta siempre, Napo! 

sábado, 2 de julho de 2016

Tunas, vídeos e Net

VIDEOS DE TUNAS NA NET



Basta uns cliques e podemos aceder a centenas, senão milhares, de vídeos das nossas tunas.

 O Youtube é o local preferido para a publicação, daí derivando as partilhas em tudo quanto é rede social.

 O que este pequeno apontamento pretende é reflectir sobre a qualidade técnica desses mesmos vídeos.

Com efeito, parece-me, e de há uns largos anos a esta parte (e já uma vez abordei este tema), é que há muito pouco cuidado naquilo que se publica, com vídeos sem qualquer qualidade sonora ou de imagem, quase sempre por deficiente captação (uso de aparelhos que não têm definição mínima para obter-se algo minimamente aceitável) a que assoma, depois, o pouco critério na divulgação de um ficheiro sem a exigível qualidade.

Para quem, como nós, gosta de ver e ouvir tunas (muitas vezes através da net, por manifesta falta do dom da omnipresença), certamente desejaria ver e ouvir sem barulhos de plateia, com imagem e som mais nítidos, próximos, fidedignos..........

 Contudo, o que mais pulula na net são filmagens que são o oposto de tudo isso, e acabando, indirectamente, por transmitir uma imagem menos simpática.

E quando o conteúdo é fraco, certamente que não se perde nada (e também temos disso aos magotes, infelizmente- e aí é mais grave porque nem critério técnico nem musical), mas é uma pena, quando o que a Tuna interpreta tem qualidade musical.

Há que pensar que o vídeo publicado urbi et orbi se torna cartão de visita de uma Tuna e, demasiadas vezes, perde-se, e muito, quando esse mesmo vídeo não permite apreender e apreciar plenamente o que a tuna filmada está a interpretar.

Não creio ser necessário recorrer a serviços profissionais para filmar actuações, mas quiçá um maior cuidado na escolha quer dos aparelhos (hoje há smartphones ou mesmo câmaras de gama média que permitem obter muito bons resultados) e do próprio local de onde se obtêm as filmagens (fundamental, até mesmo com aparelhos profissionais).

O número de vídeos de baixa qualidade sonora e pictórica, publicados, nomeadamente no Youtube, chega a ser assustador e poucos são os que, de facto, apresentam uma qualidade de captação que nos encha as medidas e dignos de servirem para promover e divulgar uma Tuna.

 Estando nós na era da tecnologia, parecem muitos vídeos bem mais amadores do que os vídeos caseiros que se faziam há 20 anos, o que é um paradoxo.

E já nem falo no acesso e conhecimento mais generalizado a software e conhecimentos de edição de imagem.

O conselho/pedido é simples (e quem gosta de Tunas agradece, certamente): promovam a vossa tuna com vídeos de qualidade (falo de imagem e som), usando de maior cuidado e critério para que não se desista de ver, passados os primeiros segundos (coisa que me sucede na maioria das vezes que abro um vídeo replicado no meu mural de Facebook).




sexta-feira, 1 de julho de 2016

Em 1888, o regente da Estudantina foi roubado.








Em 1888, na estação da Campanhã, Porto, o regente da Estudantina de Coimbra foi roubado, quando o grupo se preparava para tomar o combóio de regresso a Coimbra.

(Jornal do Porto, XXX ANNO, N.º 295, de 13 de Dezembro de 1888, p.2)