quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Estudiantina e a Belle Otero, Théatre Marigny, Paris 1900.


Não é propriamente uma novidade, pois a foto da famosa Otero ("La Belle Otero") acompanhada de uma estudiantina, durante um espectáculo dado no Teatro Marigny (Paris), em Outubro de 1900, já tinha sido publicada anteriormente em Tvnae Mvndi e encontramo-la no jornal Ahora (n.º 1359, de 5 de Maio de 1935, p. 19).
A novidade é mesmo a de apresentar o documento completo no qual a foto se insere.
Com efeito, nem mesmo as bibliotecas de referência, como a BnF - Gallica, possuem exemplares da publicação em causa ("Le Théatre") para consulta. Face a isto, a opção é comprar a dita foto avulso[1] ou, como fizemos, comprar a publicação[2] em site de vendas online.

Não faz qualquer sentido que os investigadores fiquem limitados no acesso a documentos históricos desta natureza e que seja necessário pagar por algo que deveria fazer parte do espólio da Biblioteca Nacional e estar à disposição da comunidade.

Aqui fica, portanto, o documento em causa[3], abaixo apresentando a capa da publicação e, depois, as páginas referentes à peça "Une Fête à Seville", na qual toma parte Carolina Otero (no papel de Mercedes) e que, a determinada altura, é acompanhada por uma estudiantina[4]. Parece haver erro tipográfico na numeração das páginas.

São fotos, pelo que a qualidade é inferior a uma digitalização.




Le Théatre, N.º 43, Octobre - I, 1900
(Acervo de J.Pierre Silva)

Le Théatre, N.º 43, Octobre - I, 1900, pp. 20-21.
(Acervo de J.Pierre Silva)


Le Théatre, N.º 43, Octobre - I, 1900, p.20.
(Acervo de J.Pierre Silva)



Le Théatre, N.º 43, Octobre - I, 1900, p.22 (a página ao lado está em branco)
(Acervo de J.Pierre Silva)


Le Théatre, N.º 43, Octobre - I, 1900, p.23 (a página da esquerda não está numerada)
(Acervo de J.Pierre Silva)
















[1] Só a muito custo se consegue encontrar especificamente foto da bela Otero acompanhada de estudiantina.
[2] A revista é de tamanho A3.
[3] O exemplar obtido não tem um bom estado de conservação.
[4] Não há, até à data, indicações que permitam identificar o grupo.

domingo, 21 de julho de 2019

Estudiantina espanhola vai parar à prisão, Madrid 1904


Uma notícia assaz curiosa, sobre uma estudiantina madrilena que, em Fevereiro de 1904, é presa e, depois, metida no cárcere.

Já em Qvid Tvnae, se tinha levantado a questão da politização das estudiantinas/Tunas e do papel que teriam tido nos movimentos republicanos. Parece cada vez mais clara a teoria de que muitas estariam alinhadas com os ideais republicanos e com algum activismo subversivo. 

(Le Stéphanois, 4.º Ano, N.º 8486, de 07 de Fevereiro de 1904, p.2)

Neste caso, o artigo refere que, em Madrid,  uma estudiantina se tinha disposto a fazer uma Serenata, sob a janela do presidente do círculo republicano.
Contra o que seria expectável, pôs-se a tocar "Marselhesa" (hino francês, adoptado em diversos países como uma espécie de  hino republicano).
A polícia deu então ordens para cessar tal "afronta".

A estudiantina em causa, obedecendo, foi tocar o hino dentro de portas, pelo que se gerou a consequente confusão, com a polícia, por um lado, a invadir o local e os republicanos presentes (e a estudiantina), por outro, a entoarem novamente o dito hino.

No final, segundo reza o artigo, o inspector de polícia prendeu o presidente da estudiantina, o presidente do círculo republicano e levou-os para o posto de polícia, seguidos dos manifestantes que entoavam coplas políticas (recentemente proibidas nos teatros).

A polícia prendeu diversos manifestantes, assim como o presidente do círculo da juventude escolar republicana.

Termina o artigo dizendo que os estudantes (da estudiantina) presos foram metidos na cadeia.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Uma Estudantina Portuguesa em França, em 1893.

A estupefacção é partilhada, caros leitores.
Não tínhamos, nem temos, dados da presença de qualquer estudantina/tuna portuguesa em França nessa época.

O mistério é tanto maior quanto o facto de não haver qualquer menção à proveniência e constituição deste grupo.


La République du Midi, 46.º Ano, N.º 86, de 27 de Março de 1893, p.3.



Apenas se sabe, pelo relato indireto, que um grupo de pessoas da vila francesa de Pézenas (região de Hérault), após terem visto actuar a dita estudiantina portugesa, no Circo Pinder, decidiram, também eles, formar a sua.

Que estudantinas fossem contratadas para se associarem a espectáculos itinerantes (circos, teatros de variedades, etc.), já se sabia. Mas que uma estudantina portuguesa o tivesse feito, é novidade.

NOTA: Já agora, em adenda, referir que o "Circo Pinder", de pendor equestre, foi criado em Inglaterra, em 1854, pelos irmãos George e William Pinder, dando o seu primeiro espectáculo em França no ano de 1868. Dado que o número de deslocações era muito elevado, decidiram fixar-se em França em 1904, sob a direcção de Artur Pinder, filho de William.

Quem é esta "estudiantina portugaise"?
Não o sabemos. 
Muito provavelmente, é um grupo de foro civil (já que se fossem estudantes é certo que isso seria mencionado), certamente criada para o efeito (algo comum nesta época e contexto de espectáculos itinerantes de variedades). 
Ainda assim subsiste  o mistério.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

sexta-feira, 5 de julho de 2019

QVOT TVNAS - Censo de Tunas Académicas em Portugal (1983-2016)

Edição de Abril de 2019 (embora lançado apenas entre Maio/Junho), esta é uma obra pioneira no que se refere a censos de Tunas, seja a nível nacional quer mesmo a nível internacional.


Pioneira pela metodologia e rigor, mas igualmente, no caso de Portugal, porque se trata do primeiro recenseamento objectivo e exaustivo da evolução do chamado "Boom de Tunas", preenche uma lacuna que há muito precisava de resposta: conhecermo-nos melhor em termos de expressão numérica (uma ferramenta que permite olhar e compreender o fenómeno sob vários prismas) e acabar com números atirados ao calhas.










Nota: Uma pequena gralha na Nota Introdutória que refere 458 Tunas referenciadas, quando são 459.


O livro estabelece um estudo meticuloso do quando, quantas e que tipo de Tunas académicas existiram em Portugal entre 1983 e 2016.
Com 459 Tunas inventariadas (455 delas fundadas a partir de 1983), chega-se a 2016 com 284 grupos activos, tendo ficado pelo caminho 175 que, entretanto, desapareceram.
É tudo isso que se pode descobrir, passando os olhos por tabelas, gráficos e textos que contextualizam, e que possibilita perceber como aqui chegámos.

















Rigoroso e transparente, apresenta a lista de todas as tunas repertoriadas, os respectivos anos de fundação e, no caso de muitas, de extinção ou suspensão de actividade, num levantamento por cidades e regiões, bem como por tipologia (masculinas, femininas e mistas).

Um contributo para a preservação da memória e para futuros estudos sobre as Tunas académicas em Portugal, mas, também, demonstração cabal de que não basta fazer listas de tunas e chamar-lhe "Censo" (como sucede com certos "Censos Mundiais de Tunas", cuja metodologia e dados apresentados são, no mínimo, de duvidosa competência), pois não basta coligir informação tirada da net às 3 pancadas, mas saber também tratá-la, conferi-la e compará-la com fontes diversificadas, sem medo de apresentar as fontes e os dados para o leitor os poder conferir (a isso se chama honestidade, transparência e credibilidade).

Abaixo apresentamos a entrevista publicada na revista Legajos de Tuna, N.º 5 (Ano III, de Junho de 2019), pp.106-107:












quinta-feira, 4 de julho de 2019

Estudantina de Lisboa em Paris, 1994

Uma referência encontrada em periódico francês "Univers Cité", sobre a presença da Estudantina Universitária de Lisboa em Paris.

Univers Cité, N.º 5, de Abril de 1994, p.5.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Estudiantina "La Regadera Lírrica", 1908

A Estudiantina "La Regadera Lírica", de visita à redacção do periódico "La Alegria", em 1908.

La Alegria, 2.º Ano, N.º 50, de 19 de Fevereiro de 1908, pp.9-10.

Estudiantina de Zaragoza, 1908


Estudiantina de Zaragoza, em cliché de 1908.


domingo, 23 de junho de 2019

Director da Estudiantina Pignatelli de 1900, dirige a Estudiantina Lombarde de Paris, 1902.

A presença da Estudiantina de Zaragoza (Pignatelli) na Exposição Universal de Paris não é, para quem segue o trabalho publicado pelos diversos tunólogos da nossa comunidade ibéroamericana, uma novidade, por  si mesmo.

(Imagem  da Estudiantina de Zaragoza - Pignatelli, na Expo de Paris, em 1900, 
retirada de uma curta metragem dos Irmãos Lumière - Catalogue Lumière)

O que aqui trazemos de novo, complementando a informação já avançada por Félix Sárraga, no seu artigo "La Estudiantina Pignatelli, otra agrupación que viajó a América en el siglo XIX" (Tvnae Mvndi, 2014-19), é que o referido J. Sancho, director do dito agrupamento, passa a dirigir a Estudiantina Lombarde, de Paris, em 1902.


Le Journal, 11.º Ano, N.º 3672, de 22 de Outubro de 1902, p.6.

Em 1903, temos novamente notícia de que J. Sancho dirige a Estudiantina Lombarde de Paris.

Le Journal, 12.º Ano, N.º 8819,  de 10 de Março de 1903, p.2.

Estudiantina em Buenos Aires, 1880

Notícia e imagem de uma estudiantina em Buenos Aires.


Le Monde Illustré, 24.º Ano, N.º 1200,  de 27 de Março de 1880, pp. 196 e 198.

sábado, 15 de junho de 2019

Estudiantina(s) Espanhola(s) no teatro Nouveau Cirque, "Foire de Seville", em Paris



A presença de estudiantinas no teatro "Nouveau Cirque", em Paris, pode ser rastreada desde, pelo menos, 1885, inseridas muitas vezes em grandiosos espectáculos de variedades, como aliás disso faz referência Rafael Asencio González , em seu artigo "La Estudiantina en la circense 'pantomima española' con especial atención a 'La Foire de Seville' de 1887 en el 'Nouveau Cirque' de París ", publicado em 2014 por Tvnae Mvndi.

Havia um especial gosto pela cultura espanhola e eram inúmeras as companhias que levavam dansas,  artes, música e costumes castelhanos até ao público francês.

Apresentamos, abaixo, 3 cartazes que ilustram essa presença ao longo de finais da década de 1880, complementando e actualizando a data de edição dos mesmos (já publicados no acima mencionado artigo citado de Rafael Asencio).


1885



(BNF)

                                                   1889

(BNF)

                                                   1890


(BNF)



Pormenor interessante é que o espectáculo com a designação "Foire de Séville" (Feira de Sevilha) é apresentado em Lisboa em 1891 contando também com estudiantina.

Commercio de Portugal, XIII Ano, N.º 3509, de 31 de Março de 1891, p.2.


segunda-feira, 10 de junho de 2019

Estudiantina Fígaro em Paris, 1890

Encontrou-se um cartaz de um espectáculo da "Troupe Chivo", dado em Março/Maio de 1890[1], em Paris[2], em que uma das gravuras vem legendada como sendo a Estudiantina Fígaro - inserida, portanto, nesse espectáculo de feira de Sevilha, com danças andaluzas e dansas com ciganas de Granada.







domingo, 5 de maio de 2019

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Estudiantinas e Tunas, uma propriedade pública.


Não deixa de ser estranha a questão que se tem vindo a levantar em algumas geografias tuneris sobre a suposta pertença exclusiva de "Tuna" ao meio académico.
Com efeito, corre tinta, em abundância, sobre a teoria de que  "Tuna" é coisa exclusiva de estudantes. Mais: que é coisa exclusiva de universitários.

Por outro lado, essa mesma corrente de pensamento, acha normal que tunas que não sejam universitárias usem a denominação "estudiantina", até mesmo as que nem estudantis são.

Ora, meus caros, isso assume um paradoxo absoluto. E já o abordámos aqui, em Fevereiro passado.

Antes de mais, convenhamos que "Estudiantina" e "Tuna" são dois nomes para uma mesma realidade. São factos históricos e documentados indesmentíveis (grupos houve que, no passado, até ostentaram, concomitantemente, ambas as designações).

Paradoxo, porque se há um termo que é, pela sua natureza e origem, identificativo  e remete, directamente, para o meio académico/estudantil, é precisamente a denominação "estudiantina", a qual, originalmente, designava (e designa) grupo de estudantes e, mais tarde, os grupos musicais compostos desses mesmos estudantes.


Por que razão, então, os "puristas" admitem o uso de "Estudiantina" a grupos que podem nem ter estudantes nas suas fileiras, mas, depois, afirmam, peremptoriamente, que "Tuna" é coisa exclusivamente académica (ou, numa visão ainda mais fundamentalista, exclusivamente de foro universitário)?

Responderão que, como ainda no séc. XIX o meio popular copiou e se apropriou da designação "estudiantina", então os estudantes cambiaram para outra designação: Tuna (para identificar grupos estritamente académicos e diferenciá-los dos populares).

Só que esquecem, esses "puristas", que também a designação "Tuna" sofreu do mesmo processo, e isso desde a segunda metade do séc. XIX, ou seja, ambas as designações "Estudiantina" e "Tuna" foram, quase simultaneamente, adoptadas e apropriadas pelas classes populares. Aliás, em Portugal, por exemplo, o termo "Tuna" enraíza-se mais rapidamente do que noutros países. Com efeito, ainda o termo "Estudiantina" era vulgarmente utilizado em inícios do séc. XX, em Espanha e outros países, e já em Portugal tinha  como que desaparecido (e já só havia "Tunas").

Mas olhemos a outro aspecto deste paradoxo: sabe-se que os estudantes adoptaram o termo "Tuna" para distinguirem as suas "estudiantinas" das que eram compostas por populares ou falsos estudantes.
Adoptaram um termo que remetia directa e exclusivamente para o meio académico? Não!

O termo "Tuna" que, simplificando, designava originalmente esmola/dinheiro, está muito ligado ao que é conhecido por "correr la tuna", ou seja à vida ociosa e vagabunda de quem vivia de expedientes para se governar (arranjar sustento). 

Ora esse "correr la tuna", e as próprias pessoas a que se dava o cognome de "tunos", não era coisa exclusivamente de estudantes. A maioria nem o seria, porventura.
Claro está que nos chegam essencialmente exemplos de estudantes, dado o prestígio e o romantismo criado em torno de uma figura que gozava de privilégios e de fama, mas a verdade é que o termo "Tuna" nunca foi exclusivo do foro académico.

Portanto, quando os estudantes adoptaram o termo "Tuna", não se apropriaram de uma designação que não lhes pertencia em exclusivo? Não copiaram uma designação que em termos da filologia, não tem qualquer relação com estudantes, de algo que não tem foro  estritamente académico?

Então, por que razão temos "puristas" a reclamar "pureza de tuna"? Estamos novamente a reeditar os velhos tempos da "pureza de sangre"?
Com que legitimidade os "puristas" defendem a "Tuna" como coisa universitária, ignorando a história e património de tunas/estudiantinas com mais de um século de existência ininterrupta?

É muito estranho, para não dizer incoerente, portanto, que se defenda que "Tuna" é do universo exclusivo do meio académico (e que alguns radicais pretendem circunscrever ao meio universitário), mas se abandone o termo que, historica e significativamente é, até, o mais correcto e genuíno, para designar grupos musicais estudantis.

Não tem qualquer fundamento, nem faz qualquer sentido, com efeito.

Que importa que existam tunas populares chamadas "Tunas" (e que existem há mais tempo que qualquer tuna universitária)? 
É essa a preocupação ou não será, na verdade, o facto de haver tunas a fazerem-se passar por universitárias não o sendo? Então a questão não é o uso de "Tuna", mas de quem se disfarça daquilo que não: universitária/académica.
Por alguma razão as tunas académicas utilizam designações adicionais (de faculdade, académica, universitária, etc.) para se identificarem.

Significa que existem tunas que não são académicas, que não são universitárias, de faculdade, de distrito.... mas que são tunas, porque são grupos de cordofones.

Parece-me, a mim, muito mais inconsistente que haja estudantinas compostas por não estudantes, dado que a própria designação estudantina implica uma natureza académica, e mesmo assim, até nesse caso, basta adicionar "académica", "universitária" ou outra, para se distinguir perfeitamente a natureza do grupo e diferenciá-lo de um qualquer oriundo de outro meio.

Já a teoria de que "Tuna" é exclusivo dos universitários, e de que só deveria designar grupos universitários, é algo ridículo, porque colide com a história, com os factos documentados da existência de tunas académicas, dos mais variados níveis de ensino, desde o séc. XIX (e até hoje).

Temos pena que a história de alguns seja muito curta (ou a queiram encurtar; ou mesmo deturpar), mas o facto é que temos estudiantinas populares com mais de 100 anos ainda existentes (com essa designação encontramo-las em França, Bélgica...), assim como tunas populares ou de liceu, também elas centenárias, a atestar que há certas teorias discriminatórias que não têm pés nem cabeça.

A história das "estudiantinas/tunas" não se começou a escrever e a validar há meia dúzia de décadas. 
Tem mais de um século de património e não podem alguns ter a presunção de (re)fazer a história, escolhendo apenas o que convém, obliterando tudo aquilo que lhes puxa o tapete.
Rigor e metodologia não se apregoam, mas exemplificam-se com isenção e honestidade intelectuais.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Livro FITU, 30 anos de História




O FITU é o certame de tunas mais antigo em Portugal (este ano realiza a sua 33.ª edição) e já parte do património tuneril português.
Para além de edições discográficas, lançadas no passado, o OUP decidiu, este ano, lançar um livro evocativo sobre os 30 anos de história do FITU (1987-2016).

Um livro que recebemos hoje, ofertado pelo querido e fraterno amigo Eduardo Coelho, a quem se renovam os penhorados agradecimentos.

Um belo livro que recorda parte do que foram estas 3 décadas de FITU (e dizemos "parte", porque cada FITU, certamente encheria um livro de memórias), além do testemunho dado por quem nele participou.
Bem recheado de imagens e dados, é sem dúvida uma homenagem merecida à memória colectiva de todos, mesmo se ficou a faltar a lista de prémios atribuídos em cada edição (embora se perceba que adicionaria mais umas quantas páginas).




Um belo presente, sem dúvida, e uma obra que passa a ser imprescindível para quem gosta destas coisas, isto apesar de conter algumas imprecisões[1].


O FITU é o mais antigo festival de tunas em Portugal. Um facto que, por si só, bastaria para o inscrever na história, mas é também um certame com uma reputação construída sobre a experiência de bem fazer, convidando, ao longo destes anos todos, grandes tunas, e com um público aficionado que confere a magia necessária a um evento que se rejuvenesce constantemente.
Parabéns ao OUP, à TUP, a todos os que fizeram, e fazem, do FITU o grande certame que é.
E, uma vez mais, obrigado, Eduardo Coelho, por me teres feito chegar às mãos este precioso livro.




[1] Na p. 13, afirma-se que a Tuna Académica do Porto [nessa altura, também designada de Estudantina] data de 1891, quando é anterior; e afirma-se, na p. 32, que o FITU é o mais antigo festival de tunas ininterrupto do mundo, algo que não corresponde, de todo, aos factos (sendo muitos os certames mais antigos com actividade ininterrupta, desde logo em Espanha, mas não só).


sábado, 23 de fevereiro de 2019

Purismos tunantes


O purismo exacerbado que se verifica noutras geografias tunantes é, pelo menos do lado de cá da fronteira (cuja tradição tuneril é a mais rica pela diversidade e historicidade), algo risível e...ridículo. 

Uma honesta investigação à génese das tunas não pode, depois, pretender eleger o que lhe agrada e omitir os dados históricos que não lhe convêm.
Mas é precisamente isso que ocorre, com estudiosos cujo trabalho de investigação se reconhece, mas que, depois, truncam e desvirtuam esses mesmos factos, para lhes impor uma visão que não tem por base o mesmo rigor histórico que, supostamente, aplicam no seu labor - antes a sua visão pessoal.

Portanto, há quem diga que "Tuna" só corresponde a grupos universitários e, depois, para os demais grupos, afirme que se devem, quando muito, apelidar de "rondallas" ou, pasme-se, "estudiantinas".

Desde logo esse raciocínio está equivocado e perverte os factos históricos, quando sabemos que Tuna e Estudantina são a mesmíssima coisa, sendo que primeiro surgiram as "estudiantinas" (de estudantes e de não estudantes) e, depois, surge o termo "Tuna", num esforço para distinguir as "estudiantinas" compostas exclusivamente de estudantes das demais. Em momento algum se pode afirmar que foi para distinguir grupos civis de grupos universitários, mas, sim, distinguir apenas grupos civis de grupos estudantis (que podiam ser, ou não, universitários).
É isso que os factos históricos dizem: distinguir estudantinas (Tunas) de estudantes das demais. E estudantes não eram, nem são, apenas e só universitários.



Portanto, afirmar-se que só é "Tuna" um grupo universitário é falso.
Tanto é falso que continuaram a existir quer estudantinas quer tunas a nível popular (civil), assim como de outros graus de ensino (liceus, principalmente) sendo que, em alguns casos, algumas são já instituições centenárias, ou seja com maior legitimidade histórica que qualquer tuna universitária criada seja no tempo do SEU (Sindicato Español Universitário), seja depois disso. E isso é um facto histórico que desagrada aos puristas.

É de uma desonestidade a todos os níveis, essa presunçosa mania de distorcer a história, para caber em concepções pessoais  e pretender impor uma visão apócrifa de Tuna.

Mas ainda mais estranho é pretender que outros grupos não universitários não podem/deviam usar a denominação "Tuna" e que, quando muito, se deveriam chamar de "estudiantinas". Mas o que são "estudiantinas"?

Em rigor, são grupos de estudantes. É esse o significado do termo, que depois passa também a designar as orquestras de estudantes a que mais tarde  se chamará de tunas.
Se, para esses iluminados, só os grupos universitários se podem chamar "Tunas", então significa que os grupos universitários que se designam "estudiantina" não são Tuna?
Ou querem agora vir com a lata de afirmar que os universitários têm o direito de usar ambas as designações, porque moral e historicamente mais legítimos, e todos os demais grupos escolares (ou mesmo civis) não?

É que este raciocínio afunilado e cego quase roça a mesquinhez argumentativa.

E para o leitor compreender o paradoxo desses iluminados, estes, chegam mesmo a pretender que só há tunas a partir do SEU (que é quando, segundo eles, se cristalizam regras e ritos e a tuna ganha como que um formalismo). Ou seja, enchem páginas a afirmar que a Tuna nasce no séc. XIX (e dizem bem), mas depois afirmam que só são tunas as que são universitárias e seguem o modelo estilizado a partir do SEU espanhol (grosso modo, a partir dos anos 1950 em diante).

Ficou confuso o leitor? Natural, pois é contradição em cima de contradição.
É como pretender que só há espanhóis a partir do franquismo ou que só há portugueses depois, por exemplo, da implantação da República.

Discordamos em absoluto dessa visão redutora e que perverte os factos históricos.
Uma coisa é haver tunas ou estudantinas universitárias e outra é haver tunas e estudantinas que o não são.
Para além disso, aplicar conceitos actuais a factos passados, ignorando contexto e factos é um exercício falacioso; tal como seria falacioso afirmar-se que só há tecnologia a partir da revolução industrial ou com a invenção do chip.
Discordamos ainda mais do chauvinismo que pretende elevar o modelo "Tuna del SEU" como paradigma quer para classificar tunas em Espanha quer noutros países, como Portugal.

Bem sabemos que, num purismo estrito, estudantinas e tunas remetem para o cariz estudantil (e não apenas universitário). Ninguém no seu perfeito juízo pode pôr em causa isso. 
Mas a verdade é que  essa intenção denominativa (a de atribuir uma designação exclusiva aos grupos estudantis), iniciada ca. 1870, acabou por não surtir o efeito pretendido e que a criação de grupos, com essa designação, por parte da sociedade civil, ocorreu logo de seguida.
Portanto, uma coisa é o que gostaríamos que fosse (ou tivesse sido) e outra é o que de facto aconteceu. E isso não pode ser apagado, porque estamos a falar de mais de 1 século de história.
Além disso, essa coisa do purismo exacerbado parece ignorar as muitas apropriações ao meio civil que o foro estudantil preconizou.

A cegueira e fundamentalismo são tais, que esses mesmos "puristas" chegam ao supremo desplante chauvinista de considerar que as centenárias tunas portuguesas não são Tunas. Sim, leram bem: afirmam, por exemplo, que  a Tuna Académica do Liceu de Évora (fundada em 1902 e até hoje existente) não é tuna, à luz do conceito "hispano-SEU-Tuneril", segundo critérios truncados e erróneos para, assim, poderem legitimar os seus devaneios e reescrever a história conforme lhes apraz.

Bem sabemos que o facto de Portugal possuir a mais longa tradição tuneril ininterrupta, quer para tunas escolares, universitárias ou populares, provoca incómodo nesses puristas de meia tigela. E como esse facto é pedra no sapato que desmonta os seus pés de barro, vai de excluir o caso português, para só considerar que há tunas em Portugal quando (agora pasmem) se começam a parecer com as espanholas (a partir da década de 1980).
Ou seja, a suprema presunção chauvinista de que só há um paradigma tuneril puro e verdadeiro (o hispano-franquista) e que só se considera tuna o que for parecido ou seguir o modelo espanhol "criado" a partir do SEU.
Para azar dos puristas, e usando da mesma medida argumentativa, as tunas mais puras (no sentido de mais perto do modelo secular e original) são portuguesas, são centenárias. Quem, então, se desviou da tradição?

Ah, claro que a tradição também ela se vai renovando e enriquecendo, e é isso mesmo que Portugal pode igualmente apresentar, pois temos tunas segundo o modelo original, tal como temos tunas posteriores e, em tempos mais recentes,  tunas mais similares às actuais tunas espanholas. Não faz de umas, em relação às outras, mais ou menos tunas. E é isso que alguns puristas não conseguem entender - quando por cá foi sempre pacífica a convivência com a história.


Goste-se ou não, estudantinas e tunas são grupos que encontramos, desde o séc. XIX, em vários países pelo mundo fora.
E a concepção generalizada que foi atribuída a esses grupos (por mais imprecisa que estivesse nessa época) é que são apelidados de "Estudiantina" ou "Tuna" em função não dos elementos que compõem esses grupos, mas do leque instrumental que os caracteriza.
É isso que a história comprova documentalmente e é exactamente isso que a musicologia afirma e defende - algo que esses "puristas" querem abafar, menorizar ou mesmo desconsiderar.

O purismo que defende que "Tuna" é uma designação que apenas diz respeito a grupos universitários é uma "visão" de décadas, iniciada a partir do SEU espanhol, no intuito de dar maior visibilidade e "pedigree" a esses grupos (daí também ser nessa época que se inventam as origens medievais, goliardescas e trovadorescas da Tuna - tudo no intuito de conferir um áurea histórica de séculos e uma tradição pura de cariz exclusivamente universitária). E são exactamente os tunos que foram assim formatados que, mesmo perante as evidências históricas (apesar de, há já alguns anos, alguns, um pouco mais sérios, rejeitarem as origens medievais) continuam a ter uma visão classista e discriminatória de Tuna e, assim, a ignorar o que as evidências documentais apresentam (ou truncando-lhes o sentido e pertinência ).

Falar em rigor e metodologia para depois apresentar esse argumentário é decididamente algo paradoxal.
Mas ter a presunção de possuir um qualquer ascendente moral para policiar as tunas, determinando quem é Tuna e quem não é, constitui uma falácia que não se entende.
Uma coisa é distinguir entre tunas académicas e tunas civis. Uma coisa é perceber que tunas académicas não são as estritamente universitárias (só um néscio não percebe que o termo "Académico/a" não é exclusivo de universidade), mas outra é impor dogmaticamente que só umas e não outras são verdadeiras, sendo as demais falsas, apócrifas, de contrafacção.

Portanto, se os puristas querem defender o que é genuíno na Tuna Universitária, então que se dediquem apenas a isso e se deixem de tratar daquilo que não é de cariz universitário, respeitando-o e não se achando donos do mundo tvnae, vestindo o inquisidor papel de "Torquemadas de pacovia", de index em riste, ditando e determinando do alto da cátedra de barro.

É que esses tiques ditatoriais chegam depois aos tiques da censura e perseguição, como se pode ver nesta página (abaixo apresentamos imagem da mesma), criada especialmente para a "caça às bruxas" e onde se incita à delação. Parece termos recuado aos tempos da "limpieza de la sangre".
E nem vamos aqui apresentar as desconsiderações que esses "puristas" fazem acerca da Tuna Portuguesa, para não se promover uma escusada inimizade fratricida entre "hermanos", só por causa de uns quantos que se acham reis e senhores da res tvnae a nível mundial e vivem ainda num "franqueirismo bolorento".


Puristas que chegam a criar sites com o intuito único de fazer "caça às bruxas" ou ajustar contas pessoais



Se a tradição tuneril não nasceu por cá (embora surja quase de seguida), a verdade é que a nossa longa tradição (a mais longa em termos de actividade continuada) tem muito a ensinar a esses fundamentalistas.
Tem,  porque foi sempre um fenómeno  que conviveu pacificamente com as suas várias expressões. O que historicamente sempre importou foi diferenciar as tipologias; as tunas/estudantinas académicas (de estudantes) das demais, para isso bastando a designação "Académica", "universitária", "escolar" ou "de liceu".
Sempre foi aceite (são mais de 100 anos de evidência histórica), como noutros países sucedia (e sucede ainda), que "Tuna/Estudantina" era historicamente uma designação de um grupo em função do leque instrumental que o caracterizava.
Nunca houve necessidade de cercear ou constranger outros grupos pelo uso da denominação "Tuna/Estudantina" ou procurar impedir ou desconsiderar tunas/estudantinas não académicas. Para nós bastava, como basta, essa simples distinção.
A preocupação natural dos grupos académicos era que fossem académicos; que os grupos denominados de "universitários" o fossem e que qualquer grupo ostentando a designação "Tuna/Estudantina" possuísse as características históricas desse tipo de agrupamento: o leque instrumental, desde logo.

Não foi preciso arranjar escusas sobre ritos iniciáticos ou quejandos para servir de marca distintiva, porque, afinal, em Portugal, e desde o séc. XIX e até à década de 1980 (tal como em Espanha até 1950), tunas e estudantinas académicas não se definiam pelos ritos (quase inexistentes), como passou a suceder, quando contaminadas pela Praxe ou pelos ritos importados do país vizinho (ritos esses que nasceram poucas décadas antes - a partir dos anos 1950 - e não como tradições seculares como eram "vendidos", ou por cá, romanticamente, interpretados).
Não são os ritos iniciáticos de definem uma tuna estudantil ou universitária. Se os estudantes decidirem não os ter é opção que não condiciona que sejam tuna (como sucedia nas tunas de antanho). Se os estudantes universitários de hoje prescindirem de ter hierarquia e nomes pomposos, não quiserem ser apadrinhados (como tantas aliás não o são), fazer geminações ou baptismos de tuna, preferindo, por exemplo, uma organização mais pragmática (como uma qualquer orquestra onde apenas imperam critérios musicais), isso não significa que a sua tuna universitária seja menos tuna.

Não são os ritos que definem uma tuna como tal. Aliás, desconhece-se alguma cartilha que seja seguida à risca por todas as tunas eleitas como tal pelos "puristas". Todas as tunas procedem ao mesmo baptismo (devidamente regulamentado nas fórmulas e procedimentos, como sucede num baptismo católico)? Todas seguem rigorosa e escrupulosamente os mesmos critérios hierárquicos e o mesmo modus faciendi?
Pode haver uma ideia de algo que é comum e parecido, mas a verdade é que há tantas nuances como tunas.
O que é que, contudo, todas as tunas possuem que historicamente as identifica desde a génese? Os instrumentos que lhes são próprios. E, no caso das tunas académicas, o traje e pandeireta (instrumento iconográfico das tunas estudantis).

Vai já bem longa esta reflexão crítica. Agradece-se, desde já, aos leitores que chegaram aqui ainda acordados, até porque alguns poderão sentir-se algo fora do contexto, mas fique o leitor ciente de uma coisa: sabemos distinguir entre opiniões pessoais e evidências históricas e nunca subordinaremos as segundas em função das primeiras.