Não
deixa de ser estranha a questão que se tem vindo a levantar em algumas
geografias tuneris sobre a suposta pertença exclusiva de "Tuna" ao
meio académico.
Com
efeito, corre tinta, em abundância, sobre a teoria de que "Tuna" é coisa exclusiva de estudantes.
Mais: que é coisa exclusiva de universitários.
Por
outro lado, essa mesma corrente de pensamento, acha normal que tunas que não
sejam universitárias usem a denominação "estudiantina", até mesmo as
que nem estudantis são.
Antes
de mais, convenhamos que "Estudiantina" e "Tuna" são dois
nomes para uma mesma realidade. São factos históricos e documentados
indesmentíveis (grupos houve que, no passado, até ostentaram, concomitantemente, ambas as
designações).
Paradoxo, porque se há um termo que é, pela sua natureza e origem, identificativo e remete, directamente, para o meio
académico/estudantil, é precisamente a denominação "estudiantina", a qual, originalmente, designava (e designa) grupo de estudantes e, mais tarde, os grupos musicais
compostos desses mesmos estudantes.
Por que razão, então, os "puristas" admitem o uso de "Estudiantina" a grupos que podem nem ter estudantes nas suas fileiras, mas, depois, afirmam, peremptoriamente, que "Tuna" é coisa exclusivamente académica (ou, numa visão ainda mais fundamentalista, exclusivamente de foro universitário)?
Responderão
que, como ainda no séc. XIX o meio popular copiou e se apropriou da
designação "estudiantina", então os estudantes cambiaram para outra
designação: Tuna (para identificar grupos estritamente académicos e
diferenciá-los dos populares).
Só
que esquecem, esses "puristas", que também a designação
"Tuna" sofreu do mesmo processo, e isso desde a segunda metade do
séc. XIX, ou seja, ambas as designações "Estudiantina" e
"Tuna" foram, quase simultaneamente, adoptadas e apropriadas pelas
classes populares. Aliás, em Portugal, por exemplo, o termo "Tuna"
enraíza-se mais rapidamente do que noutros países. Com efeito, ainda o termo
"Estudiantina" era vulgarmente utilizado em inícios do séc. XX, em
Espanha e outros países, e já em Portugal tinha como que desaparecido (e já só havia "Tunas").
Mas
olhemos a outro aspecto deste paradoxo: sabe-se que os estudantes adoptaram o
termo "Tuna" para distinguirem as suas "estudiantinas" das que eram compostas por populares ou falsos estudantes.
Adoptaram
um termo que remetia directa e exclusivamente para o meio académico? Não!
O
termo "Tuna" que, simplificando, designava originalmente
esmola/dinheiro, está muito ligado ao que é conhecido por "correr la
tuna", ou seja à vida ociosa e vagabunda de quem vivia de expedientes para se
governar (arranjar sustento).
Ora esse "correr la tuna", e as próprias pessoas a que se dava o cognome de "tunos", não era coisa exclusivamente de estudantes. A maioria nem o seria, porventura.
Ora esse "correr la tuna", e as próprias pessoas a que se dava o cognome de "tunos", não era coisa exclusivamente de estudantes. A maioria nem o seria, porventura.
Claro
está que nos chegam essencialmente exemplos de estudantes, dado o prestígio e o
romantismo criado em torno de uma figura que gozava de privilégios e de fama,
mas a verdade é que o termo "Tuna" nunca foi exclusivo do foro
académico.
Portanto,
quando os estudantes adoptaram o termo "Tuna", não se apropriaram de
uma designação que não lhes pertencia em exclusivo? Não copiaram uma designação que em termos da
filologia, não tem qualquer relação com estudantes, de algo que não tem foro estritamente académico?
Então,
por que razão temos "puristas" a reclamar "pureza de tuna"? Estamos novamente a reeditar os velhos tempos da "pureza de sangre"?
Com que legitimidade os "puristas" defendem a "Tuna" como coisa universitária, ignorando a história e património de tunas/estudiantinas com mais de um século de existência ininterrupta?
Com que legitimidade os "puristas" defendem a "Tuna" como coisa universitária, ignorando a história e património de tunas/estudiantinas com mais de um século de existência ininterrupta?
É
muito estranho, para não dizer incoerente, portanto, que se defenda que "Tuna"
é do universo exclusivo do meio académico (e que alguns radicais pretendem
circunscrever ao meio universitário), mas se abandone o termo que, historica e
significativamente é, até, o mais correcto e genuíno, para designar grupos
musicais estudantis.
Não
tem qualquer fundamento, nem faz qualquer sentido, com efeito.
Que
importa que existam tunas populares chamadas "Tunas" (e que existem há mais tempo que qualquer tuna universitária)?
É essa a preocupação ou não será, na verdade, o facto de haver tunas a fazerem-se passar por universitárias não o sendo? Então a questão não é o uso de "Tuna", mas de quem se disfarça daquilo que não: universitária/académica.
Por alguma razão as tunas académicas utilizam designações adicionais (de faculdade, académica, universitária, etc.) para se identificarem.
Significa que existem tunas que não são académicas, que não são universitárias, de faculdade, de distrito.... mas que são tunas, porque são grupos de cordofones.
É essa a preocupação ou não será, na verdade, o facto de haver tunas a fazerem-se passar por universitárias não o sendo? Então a questão não é o uso de "Tuna", mas de quem se disfarça daquilo que não: universitária/académica.
Por alguma razão as tunas académicas utilizam designações adicionais (de faculdade, académica, universitária, etc.) para se identificarem.
Significa que existem tunas que não são académicas, que não são universitárias, de faculdade, de distrito.... mas que são tunas, porque são grupos de cordofones.
Parece-me,
a mim, muito mais inconsistente que haja estudantinas compostas por não
estudantes, dado que a própria designação estudantina implica uma natureza
académica, e mesmo assim, até nesse caso, basta adicionar "académica", "universitária" ou outra, para se distinguir perfeitamente a natureza do grupo e
diferenciá-lo de um qualquer oriundo de outro meio.
Já
a teoria de que "Tuna" é exclusivo dos universitários, e de que só
deveria designar grupos universitários, é algo ridículo, porque colide com a
história, com os factos documentados da existência de tunas académicas, dos
mais variados níveis de ensino, desde o séc. XIX (e até hoje).
Temos
pena que a história de alguns seja muito curta (ou a queiram encurtar; ou mesmo
deturpar), mas o facto é que temos estudiantinas populares com mais de 100 anos
ainda existentes (com essa designação encontramo-las em França, Bélgica...), assim como tunas populares ou de liceu, também elas
centenárias, a atestar que há certas teorias discriminatórias que não têm pés
nem cabeça.
A
história das "estudiantinas/tunas" não se começou a escrever e a
validar há meia dúzia de décadas.
Tem mais de um século de património e não podem alguns ter a presunção de (re)fazer a história, escolhendo apenas o que convém, obliterando tudo aquilo que lhes puxa o tapete.
Tem mais de um século de património e não podem alguns ter a presunção de (re)fazer a história, escolhendo apenas o que convém, obliterando tudo aquilo que lhes puxa o tapete.
Rigor
e metodologia não se apregoam, mas exemplificam-se com isenção e honestidade
intelectuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário