quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Estudiantina Fígaro no Brasil (1885)

 Artigo com actualização de 09-09-2016

Já muito sabemos sobre a Estudiantina Fígaro.
Não iremos aqui falar de todas as investigações realizadas e os artigos publicados (no âmbito do Tvnae Mvndi), resultado dessa investigação, senão apenas referenciar aquele que fala genericamente das diversas digressões que fez pelo mundo e que pode ser AQUI consultado.

Com efeito, de todos os estudos e investigação realizados até hoje, nenhum apontava a presença da Estudiantina Fígaro no Brasil.

Trazemos agora esses dados inéditos que confirmam que esteve 3 meses por terras de Vera Cruz, proveniente da digressão que fizera anteriormente ao Uruguai (embarcando de Montevideu para o Rio, a 2 de Maio de 1885[1]).

Em breve daremos conta de que também em 1888 esteve por aquelas bandas.


Uma gravura inédita e, até à data, a primeira conhecida que foi publicada na América do Sul.
Gazeta da Tarde (RJ), Anno VI, N.º 162, de 18 de Julho de 1885, p.4
Actualização de 09-09-2016


Após ter dado diversos concertos no Rio de Janeiro (e localidades periféricas), viaja para se apresentar na cidade de São Paulo a 21 de Julho[2] e, mais tarde, em finais de Agosto, apresentar-se em Campinas, no estado do Rio Grande do Sul, terminando o seu périplo por terras do Brasil em Porto Alegre, em meados de Setembro desse ano.

Contudo, temos notícia de que os directores da estudiantina só rumaram à Europa em Novembro:


Gazeta da Tarde (RJ), Anno VI, N.º 268, de 20 de Novembro de 1885, p.3




NO RIO DE JANEIRO


O Paiz (Rio de Janeiro - Brasil), Anno I, n.º 211, de 03 de Maio de 1885, p. 1


Diário Portuguez (Rio de Janeiro - Brasil), Anno I, n.º 211, de 12 de Junho de 1885, p. 3


O Fluminense(Niterói - Brasil), Anno VIII, n.º 1111, de 05 de Julho de 1885, p. 1


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - Brasil), Anno 64, n.º 185, de 06 de Julho de 1885, p. 2



Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro - Brasil), Anno XI, n.º 198, de 17 de Julho de 1885, p. 4


Estudiantina Fígaro no Brasil - Diário de Notícias (Rio de Janeiro - Brasil), Anno I, n.º 42, de 18 de Julho de 1885, p. 1

 Diário de Notícias (RJ - Brasil), Anno I, N.º 43, de 19 de Julho de 1885, p.1
Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 249, de 20 de Julho de 1885, p.3


EM SÃO PAULO



 Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8675, de 24 de Julho de 1885, p.1

 Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8675, de 24 de Julho de 1885, p.2

Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8677, de 26 de Julho de 1885, p.1
Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8678, de 28 de Julho de 1885, p.3

Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8680, de 30 de Julho de 1885, p.2

Correio Paulistano, Anno XXXII, N.º 8682, de 01 de Agosto de 1885, p.2


EM CAMPINAS (RIO GRANDE DO SUL)


Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 281, de 21 de Agosto de 1885, p.3


Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 293, de 02 de Setembro de 1885, p.2
Uma crítica feita á falta de rigor jornalístico do periódico "Gazeta de Notícias",
 porque noticia a presença da Estudiantina Fígaro que, afinal, há muito já tinha partido.
Diário do Brazil (RJ - Brasil), Anno V, N.º 220, de 20 de Setembro de 1885, p.2

                     EM PORTO ALEGRE


A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 196, de 29 de Agosto de 1885, p.3

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 199, de 02 de Setembro de 1885, p.2

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 201, de 04 de Setembro de 1885, p.2

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 202, de 05 de Setembro de 1885, p.2

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 203, de 09 de Setembro de 1885, p.2

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 205, de 11 de Setembro de 1885, p.2


Uma nota para os seguintes artigos que retratam a história da Fígaro, recolhida pelo jornalista local, o Sr. Elzevir (artigo dividido por 2 edições):

A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 205, de 11 de Setembro de 1885, p.2


A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 206, de 12 de Setembro de 1885, p.2


A Federação (Porto Alegre), Anno II, N.º 209, de 16 de Setembro de 1885, p.1


ANEXOS


Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 209, de 10 de Junho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 213, de 14 de Junho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 218, de 19 de Junho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 225, de 26 de Junho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 228, de 29 de Junho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 237, de 08 de Julho de 1885, p.3

 Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 238, de 09 de Julho de 1885, p.2

Diário Portuguez (RJ - Brasil), Anno I, N.º 243, de 14 de Julho de 1885, p.2







[1] O Paiz (Rio de Janeiro - Brasil), Anno I, n.º 211, de 03 de Maio de 1885, p. 1
[2] Segundo informação recolhida no Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro - Brasil), Anno XI, n.º 198, de 17 de Julho de 1885, p. 4

Disposta a casar com qualquer membro da Estudiantina Fígaro (1879)

É, no mínimo, caricato, o que trazemos à estampa.
Estamos em 1979, em Viena da Áustria, e o periódico francês noticia que circula, naquela cidade, a história de uma senhora perdida de amores pela Estudiantina Fígaro, que ali está em digressão.
Uma história, aliás, que também aparece reproduzida num periódico brasileiro da época (e que também abaixo apresentamos).


Proprietária de uma casa que fica na Joseph Stadt, ficou tomada de afectos por todo o grupo que compunha a Estudiantina Fígaro, não faltando a nenhum dos seus concertos.
Mas, não ficando por aí, decidiu escrever-lhes uma carta na qual declarava que daria a sua mão, fortuna e coração a qualquer um dos componentes da estudiantina que aceitasse casar com ela.

Contudo, e segundo o artigo do "Le Figaro[1]", nenhum dos espanhóis se resolveu a dar resposta favorável a enamorada proprietária, que ainda assim não deixou de continuar a assistir aos concertos diários (no Teatro Ring, que fica na mesma rua onde mora) e que, "fiel como o cavaleiro de Toggembourg da balada de Shiller[2]", assiste às representações que a estudantina dá, à espera que um dos espanhóis se decida a responder-lhe (favoravelmente).

Le Figaro, 25.º ano, 3ª série, N.º 29 de 29 de Janeiro de 1879, p.6
A mesma notícia, desta vez reproduzida num jornal brasileiro
O Liberal do Pará (Belém do Pará- Brasil), Anno XI, n.º 69, de 27 de Março de 1879, p. 2


Um episódio caricato, que ilustra que a Estudiantina Fígaro não apenas tinha enorme qualidades artísticas, como espalhava o seu charme junto das damas, fazendo-as perder a cabeça.







[1] Le Figaro, 25.º ano, 3ª série, N.º 29 de 29 de Janeiro de 1879, p.6 [Em linha]
[2] Um dos mais importantes dramaturgos alemães.

A TAL em Paris - Um equívoco jornalístico (1906)




Segundo o artigo publicado por Tvnae Mvndi, a 02 de Março do ano passado (2015), refere-se a visita da Tuna Académica de Lisboa a Madrid.
Até aqui nada a assinalar, pois as fontes documentais espanholas[1] e portuguesas[2], são evidência clara e comprovada.

Mundo Nuevo, ANO XIII, Nº 641, de 19 Abril de 1906, no qual de destaca a legenda que informa erradamente que
a TAL estivera em Paris.

O que suscita a nossa intervenção é quando se refere que a TAL (Tuna Académica de Lisboa) procedia de Paris, ou seja chegava a Madrid depois de ter estado em Paris "... en donde fue objeto de "grandes agasajos que han tenido el carácter de una manifestación de confraternidad latina". [3]

Ora é precisamente neste ponto que contrapomos que isso não corresponde aos factos.
Obviamente que se trata de um equívoco do jornalista que escreveu a notícia e não do Tvnae Mvndi (que apenas publica a informação que recolheu).
A TAL nunca esteve em Paris.

Com efeito, o que se sabe é o seguinte:

A Tuna Académica de Lisboa estava em Lisboa, em Sarau de Caridade no Coliseu dos Recreios, a 08 de Abril (domingo de Ramos)[4].

Diário Illustrado, 36.º Anno, N,º 11879, de 06 de Abril de 1906, p.2,
que dá conta que, nesse domingo (dia 8) se realiza o dito concerto.

As notícias seguintes que encontramos nos periódicos dão conta da futura visita da Tuna a Madrid, sem qualquer referência à sua ida a Paris[5]. Segundo podemos ver abaixo, o que é referido é que, após o grandioso sarau, a Tuna partirá para Madrid, sem nenhuma referência a uma deslocação à capital francesa.

Diário Illustrado, 36.º Anno, N,º 11870, de 27 de Março de 1906, p.3,
o qual deixa claro que após o oncerto de dia 8 de Abril, a TAL irá a Madrid.


Diário Del Comércio (Tarragona), Ano XII, N.º 3430, de 10 de Abril de 1906, p.3, que explicita a chegada a Madrid
da TAL no dia 12 de Abril.


É pois muito estranho que uma digressão a França por parte da TAL, nomeadamente a Paris, ficasse esquecida dos jornais portugueses.
Na verdade não ficou porque nunca existiu.
E nunca existiu porque era impossível que uma tuna pudesse chegar a Madrid no dia 12 de Abril, lá permanecendo uma semana, sendo coincidente com a estadia dos estudantes portugueses que estavam em Paris nessa mesma altura.

Então por que razão os jornalista escreve no seu artigo que a Tuna Académica de Lisboa chegara a Madrid, vinda de Paris?
Muito provavelmente confundiu com uma outra embaixada que, de facto, esteve em Paris na primeira quinzena de Abril, uma embaixada de alunos de Coimbra.
Com efeito, está amplamente noticiada a presença de uma grande embaixada de alunos da Universidade de Coimbra, acompanhados pelo Orfeão Académico (dirigido, na época, por António Joyce) em Paris.

Estudantes de Coimbra em Paris,
Illustração Portugueza, II Série, Nº 270, de 24 Abril 1911, p.536
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Estudantes de Coimbra em Paris, 
Illustração Portugueza, II Série, Nº 270, de 24 Abril 1911, p.537 
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).


Poderá, portanto, ter havido alguma confusão por parte do periodista que julgou que se tratava dos estudantes de Lisboa (da Tuna), quando, afinal, eram os de Coimbra.

Estudantes Portugueses em Paris,
Ilustração Portugueza, II Série, Nº 11, de 07 de Maio de 1906, p.340 com o artigo escrito a 17 de Abril
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Estudantes Portugueses em Paris, 
Ilustração Portugueza, II Série, Nº 11, de 07 de Maio de 1906, p.341 com o artigo escrito a 17 de Abril  
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Estudantes Portugueses em Paris, 
Ilustração Portugueza, II Série, Nº 11, de 07 de Maio de 1906, p.342 com o artigo escrito a 17 de Abril  
(Hemeroteca Municipal de Lisboa).


Também não pomos de parte a possibilidade de, por brincadeira ou vaidade, algum elementos da tuna se ter gabado de terem la estado, dando-se ares de importância. Mas, neste caso, estamos apenas no âmbito das suposições.

O que sabemos, garantidamente, é que quem esteve em Paris foram essencialmente os estudantes de Coimbra e que, salvo a presença de alguns directores e alunos da escolas do Porto e Lisboa[6], não existe uma só referência de ter estado  a Tuna Académica.

 
Le Petit Parisien, Année 31, N.º 10756, de 10 de Abril de 1906, p.2

 
A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3384 (6245) de 12 de Abril de 1906, p.3


A Voz Pública (Porto), Anno XVII, n.º 4946 de 14 de Abril de 1906, p.3

A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3386 (6247) de 15 de Abril de 1906, p.3

A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3388 (6249) de 17 de Abril de 1906, p.3
A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3388 (6249) de 17 de Abril de 1906, p.3
A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3390 (6251) de 19 de Abril de 1906, p.2


Mas bastaria contrastar os periódicos para termos certeza absoluta.

No jornal A Vanguarda, de 15 de Abril de 1906, observamos, na página 3, duas correspondências por telegrama, ambas enviadas à redacção do periódico na véspera (dia 14): uma faz referência à presença dos estudantes em Paris ( e a outra da presença da TAL em Madrid.
Impossível, portanto, que a Tuna Académica de Lisboa estivesse em dois locais distintos ao mesmo tempo.
O mesmo sucede com a edição de 17 de Abril, desse mesmo jornal, com os estudantes portugueses em Paris e a Tuna Académica de Lisboa em Madrid.


CONCLUINDO:

1.º A embaixada de estudantes que se desloca a Paris chega à capital francesa no dia 12 de Abril[7] e regressa a Portugal no dia 21[8].
2.º A Tuna Académica de Lisboa, que se uniu a uma excursão organizada pelo "Le Touriste" (com excursionistas de Lisboa e Porto), chega a Madrid no dia 12 de Abril[9], regressando a Portugal a 19[10].

Fica desfeito o equívoco do jornalista espanhol: não foi a TAL que esteve em Paris em Abril de 1906, sendo que, aliás, nunca a TAL esteve em França, segundo o que nos é dado a conhecer.








[1]  Blanco y Negro, 21 de Abril de 1906, p.15 ; Mundo Nuevo, ANO XIII, Nº 641, de 19 Abril de 1906 ; ABC, 17 de Abril de 1906, p.7 ; La Correspondência de España, Ano LVII, N.º 17588, 17596 e 17598, de 08 (p.3), 16 e 18 (p.2) de Abril de 1906 ; El Imparcial, Ano XL, N.º 13982 , de 26 de Fevereiro de 1906, p.2 ; Diário Del Comércio (Tarragona), Ano XII, N.º 3430, de 10 de Abril de 1906, p.3 ; Actualidades, Abril de 1906.
[2] Diário Illustrado, 36.º Anno, N.º 11886,11887, 11888, de 14 (p.3), 15 (p.3) e 17 (p.2) de Abril de 1906.
[3] Nuevo Mundo. 19-04-1906, citado por Tvnae Mvndi (investigação de Félix O. Sárraga).
[4] Diário Illustrado, 36.º Anno, N,º 11879, de 06 de Abril de 1906, p.2.
[5] Diário Illustrado, 36.º Anno, N,º 11870 (p.3) e 11883 (p.3) de 27 de Março e 10 de Abril de 1906, respectivamente.
[6] Referenciados como "Chefes das divisões escolásticas de Lisboa, Porto e Coimbra" no jornal A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3386 (6247) de 15 de Abril de 1906, p.3.
[7] Diário Illustrado, 36.º anno, N.º 11886, de 14 de Abril de 1906, p.3.
[8] A Vanguarda, XI anno (XVI), n.º 3391 (6252) de 20 de Abril de 1906, p.3, que anuncia que, no dia seguinte, dia 21, se encerra a visita dos estudantes portugueses a Paris.
[9] La Correspondência de España, Ano LVII, N.º 17588, de 08 de Abril de 1906, p.3
[10] Mundo Nuevo, ANO XIII, Nº 641, de 19 Abril de 1906, que refere, que a TAL esteve em Madrid (já não estando), sendo a última referência à presença da TAL em Espanha.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Um traje mal explicado - Instituna de Leiria



Despertou-nos já há tempos a atenção sobre este texto, constante no site da Instituna de Leiria, no que toca à explicação do traje que escolheram para a sua hierarquia de "Carrega" (leia-se, candidatos a entrar na tuna).


No site, inserindo "traje" na pesquisa, acede-se ao texto.

  Centremos a nossa atenção nos seguintes parágrafos, em zoom in:







Pouco haverá a opinar sobre a escolha, senão estranharmos que um traje que merece tanto respeito evocado, tanta reverência pela tradição que representa, seja precisamente usado como traje de candidato a caloiro. Há, quanto a nós, neste ponto, uma precipitada incoerência, acabando por se retirar alguma dignidade a um histórico traje de Tuna.
Que é melhor escolha que pijamas, também concordamos.
Escolher um traje de Tuno para, com mais ou menos adaptação, servir para traje de candidato a caloiro (ou seja, não é sequer tuno)............... cremos que não foi decisão muito feliz. Bastaria inverter a coisa e perguntar se não veríamos, com algumas reservas, a adopção do nosso traje nacional como traje de caloiro das tunas espanholas.


OS EQUÍVOCOS HISTÓRICOS


Não se percebe muito bem o que é ir buscar a escolha de peças de vestuário do actual traje espanhol à origem do fenómeno, quando, na origem, o traje em uso pelas tunas espanholas nem era sequer o que actualmente conhecemos, e a que o texto do site se refere.

Num segundo momento, refere o traje dos antigos sopistas e trovadores, como sendo os usados pelas primeiras tunas, coisas que não corresponde, de todo, aos factos.
Desde logo porque o traje que os sopistas utilizavam (capigorrones e  boémios manteístas) era composto por peças totalmente diferenciadas e porque, em segundo lugar, o traje académico espanhol foi abolido em 1834, juntamente como o foro académico de que gozavam e, por fim, os sopistas nada têm a ver com Tunas[1].
Por outro lado, os trovadores são anteriores e pertenciam à nobreza, que se vestia de modo bem diferente dos estudantes e que, fique claro, nada tinham a ver com tunas, nem nunca tiveram[2].
Convirá ter presente que nem no tempo dos medievos trovadores, nem no dos sopistas do antigo regime existiam sequer tunas.
Há aqui, portanto, uma enorme confusão.


Outra afirmação que é feita é a da existência de tunas espanholas com 200 ou mais anos, coisa que é totalmente falsa.
Se existiam formações efémeras a partir da década de 1840, as famosas comparsas que deram depois origem às primitivas estudiantinas, ambas só se formavam no carnaval e logo desapareciam. Em Espanha, a formação de tunas com cariz mais ou menos permanente só começa a ocorrer no dobrar do séc. XIX para o XX, sendo que é efectivamente após a guerra civil espanhola, durante a ditadura de Franco, e sob os auspício do S.E.U., que se fundam as mais antigas tunas espanholas que ainda hoje perduram.

As tunas mais antigas com actividade continuada não são sequer espanholas.
Como já o esclarecemos em artigo,

"Recordemos que as tunas mais antigas do mundo EM ACTIVIDADE são todas portuguesas, quer as de cariz popular quer estudantil, embora também existam fora de Portugal (nomeadamente Bélgica e França):

1870 - Estudantina - Tuna Brandoense;
1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas;
1890 - Tuna Mozelense;
1892 - Estudiantina Biterroise (França);
1894 - Tuna Académica da Universidade de Coimbra[3];
1896 - Estudiantina Chalon (França);
1897 - Tuna de Óis da Ribeira;
1902 - Tuna Académica do Liceu de Évora;
1905 - Estudiantina La Cigale (França);
1910 - Tuna Souselense e Tuna Musical Brandoense e Tuna de Oleiros;
1911 - Tuna de Tavarede.
1912 - Estudiantina de Mons (Bélgica);
1914 - Tuna Mouronhense."[4]

Em Espanha ninguém usa traje académico desde 1834. Não existe, portanto.
O traje de que o artigo fala é um traje de tuna, apenas e só. Não é, portanto, um traje académico, propriamente dito.

Um outro reparo:

- O traje espanhol não possui camisa com brasão.
- A Beca (também usada por coros universitários) é da cor da faculdade (dos estudos cursados) e contém o brasão da Tuna (com a heráldica da instituição de ensino) e não existe nada que determine que o nome seja inscrito com linho. 
Recordamos que a beca apenas aparece nas tunas espanholas em finais da década de 1940-50 e só mais tarde ainda a colocação do brasão na mesma.

Quem escreveu o texto parece ter contactado com uma tuna espanhola muito diferente de todas as demais.

Convidamos a ler o seguinte artigo, constante no site de Tvnae Mvndi, que explica detalhadamente a origem e evolução dos trajes usados inicialmente pelas primeiras comparsas estudantis e estudiantinas, até à chegada da Estudiantina Fígaro e difusão mundial do traje que foi buscar ao guarda-roupa de um teatro de Madrid, para, depois já bem entrados no séc. XX, se chegar ao actual traje.

Nada como inteirar-se com factos devidamente documentados, antes de alinhavar e publicar textos urbi et orbi.

Também sugerimos a leitura do seguinte livro (e do lado direito do nosso blogue, apresentamos outras sugestões bibliográficas, algumas também gratuitas), e que, embora em espanhol, poderá ajudar a esclarecer algumas dúvidas.

Clique na imagem





Pretendendo-se respeitar a Tradição, diríamos que conviria primeiro conhecer e documentar-se sobre a mesma, sob pena de a estar a inventar, passando uma imagem pouco abonatória de falta de rigor e credibilidade que destoam numa classe de pessoas letradas.

Já quanto aos conceitos e regras seculares a que responde a Tuna, referidos pelo texto, perguntamos quais são, pois, pelo até agora lido, nos parece haver um enorme equívoco aliado a uma fértil imaginação.






[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA João Paulo - QVID TVNAE? A Tuna estudantil em Portugal - Euedito, 2011, pp.46-55.
[2] Idem.
[3] 1888, para os que alegam que a TAUC é a continuidade da Estudantina de Coimbra, coisa que, segundo explicámos, carece ainda de inequívoca prova.
[4] In Além Tunas, artigo de 28 de Junho de 2016 [Em linha]. Também replicado no grupo de FB "Tunas&Tunos" em comentário de 29 de Junho [Em linha].

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Estudiantina Fígaro no Brasil (1888)

Se já tínhamos aqui revelado, em primeira mão, a presença da Fígaro no Brasil, em 1885, não deixou de ser surpreendente reencontrá-la passados 3 anos, novamente por terras de Vera Cruz, em Janeiro e Março, conforme abaixo se ilustra.



Província de Minas (Ouro Preto), Anno VIII, N.º 511, de 26 de Janeiro de 1888, p.1



Cidade do Rio (RJ), Anno II, N.º 59, de 14 de Março de 1888, p.4