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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Um traje mal explicado - Instituna de Leiria



Despertou-nos já há tempos a atenção sobre este texto, constante no site da Instituna de Leiria, no que toca à explicação do traje que escolheram para a sua hierarquia de "Carrega" (leia-se, candidatos a entrar na tuna).


No site, inserindo "traje" na pesquisa, acede-se ao texto.

  Centremos a nossa atenção nos seguintes parágrafos, em zoom in:







Pouco haverá a opinar sobre a escolha, senão estranharmos que um traje que merece tanto respeito evocado, tanta reverência pela tradição que representa, seja precisamente usado como traje de candidato a caloiro. Há, quanto a nós, neste ponto, uma precipitada incoerência, acabando por se retirar alguma dignidade a um histórico traje de Tuna.
Que é melhor escolha que pijamas, também concordamos.
Escolher um traje de Tuno para, com mais ou menos adaptação, servir para traje de candidato a caloiro (ou seja, não é sequer tuno)............... cremos que não foi decisão muito feliz. Bastaria inverter a coisa e perguntar se não veríamos, com algumas reservas, a adopção do nosso traje nacional como traje de caloiro das tunas espanholas.


OS EQUÍVOCOS HISTÓRICOS


Não se percebe muito bem o que é ir buscar a escolha de peças de vestuário do actual traje espanhol à origem do fenómeno, quando, na origem, o traje em uso pelas tunas espanholas nem era sequer o que actualmente conhecemos, e a que o texto do site se refere.

Num segundo momento, refere o traje dos antigos sopistas e trovadores, como sendo os usados pelas primeiras tunas, coisas que não corresponde, de todo, aos factos.
Desde logo porque o traje que os sopistas utilizavam (capigorrones e  boémios manteístas) era composto por peças totalmente diferenciadas e porque, em segundo lugar, o traje académico espanhol foi abolido em 1834, juntamente como o foro académico de que gozavam e, por fim, os sopistas nada têm a ver com Tunas[1].
Por outro lado, os trovadores são anteriores e pertenciam à nobreza, que se vestia de modo bem diferente dos estudantes e que, fique claro, nada tinham a ver com tunas, nem nunca tiveram[2].
Convirá ter presente que nem no tempo dos medievos trovadores, nem no dos sopistas do antigo regime existiam sequer tunas.
Há aqui, portanto, uma enorme confusão.


Outra afirmação que é feita é a da existência de tunas espanholas com 200 ou mais anos, coisa que é totalmente falsa.
Se existiam formações efémeras a partir da década de 1840, as famosas comparsas que deram depois origem às primitivas estudiantinas, ambas só se formavam no carnaval e logo desapareciam. Em Espanha, a formação de tunas com cariz mais ou menos permanente só começa a ocorrer no dobrar do séc. XIX para o XX, sendo que é efectivamente após a guerra civil espanhola, durante a ditadura de Franco, e sob os auspício do S.E.U., que se fundam as mais antigas tunas espanholas que ainda hoje perduram.

As tunas mais antigas com actividade continuada não são sequer espanholas.
Como já o esclarecemos em artigo,

"Recordemos que as tunas mais antigas do mundo EM ACTIVIDADE são todas portuguesas, quer as de cariz popular quer estudantil, embora também existam fora de Portugal (nomeadamente Bélgica e França):

1870 - Estudantina - Tuna Brandoense;
1877 - Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas;
1890 - Tuna Mozelense;
1892 - Estudiantina Biterroise (França);
1894 - Tuna Académica da Universidade de Coimbra[3];
1896 - Estudiantina Chalon (França);
1897 - Tuna de Óis da Ribeira;
1902 - Tuna Académica do Liceu de Évora;
1905 - Estudiantina La Cigale (França);
1910 - Tuna Souselense e Tuna Musical Brandoense e Tuna de Oleiros;
1911 - Tuna de Tavarede.
1912 - Estudiantina de Mons (Bélgica);
1914 - Tuna Mouronhense."[4]

Em Espanha ninguém usa traje académico desde 1834. Não existe, portanto.
O traje de que o artigo fala é um traje de tuna, apenas e só. Não é, portanto, um traje académico, propriamente dito.

Um outro reparo:

- O traje espanhol não possui camisa com brasão.
- A Beca (também usada por coros universitários) é da cor da faculdade (dos estudos cursados) e contém o brasão da Tuna (com a heráldica da instituição de ensino) e não existe nada que determine que o nome seja inscrito com linho. 
Recordamos que a beca apenas aparece nas tunas espanholas em finais da década de 1940-50 e só mais tarde ainda a colocação do brasão na mesma.

Quem escreveu o texto parece ter contactado com uma tuna espanhola muito diferente de todas as demais.

Convidamos a ler o seguinte artigo, constante no site de Tvnae Mvndi, que explica detalhadamente a origem e evolução dos trajes usados inicialmente pelas primeiras comparsas estudantis e estudiantinas, até à chegada da Estudiantina Fígaro e difusão mundial do traje que foi buscar ao guarda-roupa de um teatro de Madrid, para, depois já bem entrados no séc. XX, se chegar ao actual traje.

Nada como inteirar-se com factos devidamente documentados, antes de alinhavar e publicar textos urbi et orbi.

Também sugerimos a leitura do seguinte livro (e do lado direito do nosso blogue, apresentamos outras sugestões bibliográficas, algumas também gratuitas), e que, embora em espanhol, poderá ajudar a esclarecer algumas dúvidas.

Clique na imagem





Pretendendo-se respeitar a Tradição, diríamos que conviria primeiro conhecer e documentar-se sobre a mesma, sob pena de a estar a inventar, passando uma imagem pouco abonatória de falta de rigor e credibilidade que destoam numa classe de pessoas letradas.

Já quanto aos conceitos e regras seculares a que responde a Tuna, referidos pelo texto, perguntamos quais são, pois, pelo até agora lido, nos parece haver um enorme equívoco aliado a uma fértil imaginação.






[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA João Paulo - QVID TVNAE? A Tuna estudantil em Portugal - Euedito, 2011, pp.46-55.
[2] Idem.
[3] 1888, para os que alegam que a TAUC é a continuidade da Estudantina de Coimbra, coisa que, segundo explicámos, carece ainda de inequívoca prova.
[4] In Além Tunas, artigo de 28 de Junho de 2016 [Em linha]. Também replicado no grupo de FB "Tunas&Tunos" em comentário de 29 de Junho [Em linha].

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Traje de Caloiro em Tuna


Este artigo tomará por base um texto de uma das Tunas na nossa praça, a Instituna de Leiria, como alegoria para os equívocos que se instalaram, desde o “boom” (registado a partir da década de 80 do séc. XX) e daquilo que mais tarde se veio a assistir, em todas as latitudes do nosso país, sobre as tentativas de justificar certas decisões precipitadas ou sem nexo (como por exemplo a da criação de alguns novos trajes académicos), para isso arranjando, inventando e ficcionando dados pseudo-históricos, e arranjando supostos estudos e investigações que, na realidade, pouca “ponta têm por onde se lhe pegue”.


O caso dos trajes de caloiro são uma dessas realidades, encontrando nós, em várias tunas, pseudo-teses e argumentos para justificar, a posteriori quase sempre (com criativas colagens à “Dan Brown”), que determinada invenção foi inspirada num determinado traço regional, etnográfico, folclórico, histórico, místico, etecetera e tal.
E não se trata aqui, frisa-se, e bem, de classificar a beleza ou não dos trajes de caloiro. Não é essa a circunstância, o objecto ou cerne da questão aqui tratada, senão a de, muitas vezes, também colidirem esteticamente com o traje de tuno existente no grupo (outros há que não colidem, mas cuja justificação carece de base sólida, quando se quer conferir-lhe "pedigree" etnográfico, histórico e quejandos).


Outras vezes, como veremos, o facilitismo de “ler umas coisas na net” ou olhar “só de vista”  para, depois, interpretar sem grande cuidado, levam a equívocos.

Fique claro que as Tunas são livres de criar ou recriar um traje para os seus caloiros ou aprendizes, mas evite-se a tentação de alguns se armarem em José Hermano Saraiva, tentando arranjar uma linhagem a algo que "nem linho é", essa é que é a questão aqui em causa.
Mais vale não terem justificação nenhuma e ser uma "inovação" da própria Tuna do que alguns quererem atirar arreia para os olhos alheios, ao inventarem ou ficcionarem dados históricos.
É disso precisamente que se trata aqui, em primeira instância.


“O Traje de Carrega

O traje de carrega não é um traje académico. Goza de especificidade de um Grupo chamado Instituna, e não representa o traje Académico de Leiria. Representa sim um recém-chegado universitário que, não podendo ostentar um traje académico, quer pelas regras e hierarquia da Academia, quer pelas regras e hierarquia da Instituna, esta última o deixa acompanhar nas actividades da mesma, dando uma oportunidade às pessoas de aprenderem no terreno, subindo aos palcos, tocando, vivenciando festivais, actuações e demais representações exteriores e/ou em casa, sendo moldado consoante os valores e posturas que se coadunem com um Instituno e como digno representante da Academia de Leiria, in loco e dentro dos trâmites da coerência da imagem, sendo por isso, o traje de carrega um misto de prémio e teste para quem toma a decisão de o envergar, ciente das suas obrigações e direitos.” (1)


1- Desde logo podemos denotar um erro doloso e grave que fez escola de norte a sul do país (da esfera da Praxe): a de que um caloiro não pode trajar o traje académico. 
E toca de fazer consagrar em código isso sem nunca terem verificado da validade de tal premissa (e depois copiou-se de academia para academia, sem espírito crítico, mas no simples “Maria vai com as outras, feita tolinha”). 
O facto é que nunca a tradição proibiu que os caloiros trajassem. Assim sendo, qualquer código que diga o contrário, atenta à Tradição. Se era doutrina há uns anos por falta de informação, hoje,nomeadamente em Tuna, já vinha sendo tempo de rever esse mito (e o facto de Tunas não serem Praxe).


 2- Quanto à concepção, parece-nos bem conseguida, ao entenderem essa fase como a de aprendizagem, onde os caloiros necessitam de “aulas práticas”, traduzidas por acompanharem a Tuna.



“Em questão de imagem, a Instituna tinha uma lacuna que estava pendente: o “pijama” do traje de carrega. Pese
embora o facto de os caloiros sempre terem usado “pijamas” desde a sua fundação, numa reunião de Direcção em meados de 2006/2007 chegou-se à conclusão que esta indumentária não se coaduna com a imagem nem de um estudante Universitário, nem de sobriedade do trabalho que se queria desenvolver, nem da Instituna, nem tão pouco de um Politécnico que se queria de imagem renovada, de vanguarda, e numa ponte sóbria entre tradição e futuro. Convenhamos que não era benéfico tocar nos melhores e maiores Teatros e Palcos do País e do Mundo como aconteceu, perante diferentes públicos onde, por muito que a Instituna tocasse bem, a imagem dos pijamas “com 10 anos cobertos de vinho, porque era a tradição”, prejudicava a Tuna em questão de imagem. Não foi bom tocar 3 vezes para o Presidente da República, quer para o Dr. Mário Soares quer para o Dr. Jorge Sampaio, entre muitos outros ilustres, e os caloiros cumprimentarem as entidades de pijama cheios de manchas de vinho, rotos da “tradição e peso da história”.” (2)





 3- A questão da mudança merece elogio. Os pijamas (e outros do género) só ridicularizavam a imagem das Tunas, algo que foi moda nos primórdios, por contágio das praxes.
Como muitas outras, a Instituna percebeu-o, e bem, e o adágio popular adequa-se se dissermos que, nesta matéria, valeu mais tarde do que nunca.

Nada a obstar a que os caloiros possam ter um traje, mas desde que não sirva de passaporte para subir a palco (se é caloiro não é Tuno, ainda), e desde que não o justifiquem com base em argumentos pouco sólidos ou fantasiosos.
O problema aqui, mais uma vez, está precisamente na falta de distinção entre o que é foro da Praxe e o que é foro da Tuna – matéria que tem vindo a ser amplamente explicada em espaços especializados como o PortugalTunas, PraxePorto, As Minhas Aventuras na Tunolândia, entre outros.




“(…)As alterações efectuadas consistiram na mudança do tradicional pijama, cujos exemplares fazem parte da História e estão guardados como património físico, relíquia e deleite dos mais antigos, pelo denominado “traje de carrega” que consiste nas seguintes peças obrigatórias:

-  Meia branca até ao joelho;
 - Calção preto;
- Cinto preto com o emblema da Instituna, com o emblema da terra de onde o carrega é oriundo, e emblemas das terras de origem dos carregas anteriores que ostentaram esse cinto (que é passado de geração em geração);
- Camisa branca do traje, como único elemento de ligação ao Politécnico de Leiria, que nunca poderá estar visível a não ser debaixo do pólo preto de manga comprida;
- Pólo preto de manga comprida identificativo da Instituna, contendo o seu Brazão nas costas. (…)
 O porquê da escolha destas peças? A Instituna foi buscar à origem do fenómeno tunante a razão. Se a escolha do Traje Académico de Leiria tem em cada peça a sua identificação com os costumes locais e regionais, a peça do traje de carrega teve como influência não só o seu Politécnico, como o traje da Tuna no seu sentido tradicional na sua origem: Espanha. Não podia ser de outra maneira segundo a nossa visão, por uma questão de coerência e tributo.
O início da vida de Tuno começa como carrega, e deverá começar bebendo a tradição na sua origem, envergando o traje dos antigos “Sopistas e Trovadores” que numa antiguidade secular formaram os Tunos e as primeiras Tunas do Mundo, as Tunas Espanholas, algumas com mais de 200 anos de história.
em Espanha as únicas pessoas que envergam o traje académico são as Tunas. Nenhum estudante Universitário tem autorização para envergar um traje académico da sua cidade se não pertencer à Tuna da sua Faculdade/Cidade/Distrito Universitário, para se ter a noção do peso da Tuna no País vizinho, peso este que por cá também já se teve no passado, não chegando ao extremo da exclusividade do uso do traje académico, obviamente. Este traje espanhol, que está difundido no Mundo, nas Tunas Holandesas, Francesas, Sul Americanas, Centro Americanas e Portuguesas, é composto pelas seguintes peças: (…)” (3)

Um histórico pejado de erros.


4- Desde já se percebe haver aqui algo que leva logo a perguntarmo-nos: que origem é essa do fenómeno tunante?
Com efeito, na origem do fenómno (séc. XIX), não se reconhecem nem meias brancas, nem emblemas, muito menos um pólo preto ou brasões.
Querem fazer essa opção? Pois muito bem, mas evite-se teorizar sobre aquilo que se desconhece. Se não se sabe, não se inventa e passa a invenção por "verdade".



5- Outra coisa que pode considerar-se algo “infeliz” é escolher para traje de caloiro um traje de Tuno (ou dizer que foi isso), mesmo que de um outro país (e aqui, ainda por cima, o da pátria das Tunas). Manifestamente é desrespeitosa tal analogia e ligação. Diremos que foi uma escolha desadequada de argumentos. Além disso, nem sequer há traços evidentes disso.


6- Diz o povo que “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”, significando que o erro tem "perna curta".
Não apenas o traje de Tuno espanhol não provém de sopistas e trovadores, como nem sequer os Tunos são descendentes de sopistas, goliardos trovadores ou de uma civilização perdida da Atlântida.
Nesta altura, ainda andarem a contar “estórias da carochinha”, só por anedota.
Se não custar muito, sugiro leitura de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal". 


O traje de tuno Espanhol é um sucedâneo do traje inventado pela Estudiantina Espanhola (saído de um guarda-roupa de um teatro de Madrid), na segunda metade do séc. XIX (1878), devendo-se, mais tarde, ao SEU (Sindicato  Espanhol Universitário), criado pelo regime de Franco, a sua actual configuração (numa tentativa de aproximação ao ideário romântico do “Siglo de Oro”), e não esquecendo a introdução da Beca nos anos 50-60 do século passado.

7- Um outro enorme equívoco, é o de se pensar que o Traje de Tuno, em Espanha, seja o popularizado pela Estudiantina Fígaro, Estudiantina Espanhola  que foi a Paris em 1878, seja o actual, é réplica ou cópia de trajes estudantis, ou seja do Traje Académico dos antigos escolares. 
Nada mais falso!

Na década de 1830 é abolido e proibido o porte de traje académico em Espanha, o qual nunca mais será reabilitado, a contrário de Portugal onde, no século seguinte, a abolição do porte obrigatório não acaba com ele.
Em Espanha não há traje académico para estudantes! Desde 1838 que os estudantes não usam traje académico, ou seja há mais de 170 anos!

O traje a que se referem é o traje de Tuno, nada mais (embora a Beca também seja utilizada por outros grupos, como Coros Universitários e orquestras de plectro, também de cariz universitário – que a colocam por cima das suas roupas civis, quando actuam), traje esse que, na actual configuração terá uns 60 anos.


Concluindo.


Este foi apenas, e só, um mero exemplo de como a falta de informação, a falta de rigor e de conhecimento leva a que se invente e criem textos e teses ficcionadas. Não é especialmente a Instituna ,cujo texto (e só isso) aqui serviu , apenas,de exemplo,  ao ter replicado as mesmas imprecisões que ainda vamos encontrando espalhadas em site de tunas, pois daríamos um salto à Tuna de Económicas ou mesmo à centenária TAUC  e lá iríamos encontrar a mesma desinformação e os mesmos mitos, ao manterem  publicado nos seus sites (mesmo depois de terem sido múltiplas vezes alertados para o facto) o famoso texto do Nuno Camacho, que apesar de pejado de erros, foi copiado e recopiado por tantos, sem qualquer critério, espírito crítico ou cuidado, e dado como verdade - algo que só empalidece uma classe que tão pouco interesse mostra em saber da sua própria génese, como o atestam as reduzidas afluências aos ENT.

Poderíamos também aqui falar de outros argumentos fantasiosos para trajes de caloiro, como o da Sal&Tuna que consegue justificar ténis no seu traje de caloiro, por serem de Desporto, entre outras justificações pseudo-históricas (e já nem vamos ao grupo que veste de Kilt, porque é baixar muito o nível), só para citar alguns exemplos.


Parece fácil, a posteriori, colar umas “coisas históricas” para justificar o que foi “feito de cabeça” (o que nos deu na real gana) porque se achou que seria giro.

Quando se quer procurar algo que possa historicamente servir de modelo ou ser adoptado, quando se procura uma roupagem a “cheirar a história”, tal implica investigação e estudo sérios (e não interpretações falaciosas de azulejos, como sucedeu com o Tricórnio, ou de uma história que se ouviu) e, depois, a devida dose de bom senso para manter tudo dentro de parâmetros que balizam e definem o que é de Tuna daquilo que lhe é alheio (e hoje a definição do que é Tuna não é nenhum mito, está circunscrita e cabalmente comprovada).
E para quem quer saber algo mais sobre Tunas, e enquanto não adquire o "QVID TUNAE", pode sempre passar os olhos, para além dos blogues da especialidade, sobre os 3 artigos que foram publicados no blogue Notas&Melodias, resumo urdido pelo Eduardo Coelho, um dos especialistas nacionais sobre estes assuntos.

Fiquem os leitores cientes de que, por norma (em 99% dos casos, diríamos), nenhum traje de caloiro em Portugal tem justificação na tradição tunante ou em qualquer outra.
São, pois, uma novidade, ainda, dentro deste caminho reatado há 25 anos.


Seguem-se algumas fotos com trajes de caloiros  (ou projectos a caloiro) da Tuna, constantes nos sites e páginas de algumas tunas nacionais, que ilustram diversas abordagens e concepções a essa indumentária, nuns casos em maior contraste com o traje de tuno, noutros mais próximo (nomeadamente na cor); uns mais elaborados, outros mais simples.



Tuna do ISLA de Leiria






Tuna Médica (UBI)













.......................................................................
(1) In site da Instituna de Leiria, em linha: http://sites.ipleiria.pt/instituna/membros/
(2) Idem.
(3) Idem.
Nota: Queiram os leitores atentar que este artigo não trata de qualquer ataque ou menorização da Instituna, instituição que merece total respeito, mas tão só tratar do tema "Traje de Caloiro", tendo usado uma informação pública, constante do site em causa, (e servir de paradigma ao que sucede em muitas outras tunas) e pela particularidade da nomenclatura utilizada (Carrega).
Não haverá, por isso, espaço a celeumas ou polémicas com base em supostas honras ofendidas, seja de quem for.



As fotos constantes no artigo servem apenas, e só, para ilustrar a diversidade  de trajes de caloiro, reproduzidas tal qual  se encontram online (em domínio público), sem qualquer outro tipo de considerando ou conotação.

Traje de Caloiro em Tuna


Este artigo tomará por base um texto de uma das Tunas na nossa praça, a Instituna de Leiria, como alegoria para os equívocos que se instalaram, desde o “boom” (registado a partir da década de 80 do séc. XX) e daquilo que mais tarde se veio a assistir, em todas as latitudes do nosso país, sobre as tentativas de justificar certas decisões precipitadas ou sem nexo (como por exemplo a da criação de alguns novos trajes académicos), para isso arranjando, inventando e ficcionando dados pseudo-históricos, e arranjando supostos estudos e investigações que, na realidade, pouca “ponta têm por onde se lhe pegue”.


O caso dos trajes de caloiro são uma dessas realidades, encontrando nós, em várias tunas, pseudo-teses e argumentos para justificar, a posteriori quase sempre (com criativas colagens à “Dan Brown”), que determinada invenção foi inspirada num determinado traço regional, etnográfico, folclórico, histórico, místico, etecetera e tal.
E não se trata aqui, frisa-se, e bem, de classificar a beleza ou não dos trajes de caloiro. Não é essa a circunstância, o objecto ou cerne da questão aqui tratada, senão a de, muitas vezes, também colidirem esteticamente com o traje de tuno existente no grupo (outros há que não colidem, mas cuja justificação carece de base sólida, quando se quer conferir-lhe "pedigree" etnográfico, histórico e quejandos).


Outras vezes, como veremos, o facilitismo de “ler umas coisas na net” ou olhar “só de vista”  para, depois, interpretar sem grande cuidado, levam a equívocos.

Fique claro que as Tunas são livres de criar ou recriar um traje para os seus caloiros ou aprendizes, mas evite-se a tentação de alguns se armarem em José Hermano Saraiva, tentando arranjar uma linhagem a algo que "nem linho é", essa é que é a questão aqui em causa.
Mais vale não terem justificação nenhuma e ser uma "inovação" da própria Tuna do que alguns quererem atirar arreia para os olhos alheios, ao inventarem ou ficcionarem dados históricos.
É disso precisamente que se trata aqui, em primeira instância.


“O Traje de Carrega

O traje de carrega não é um traje académico. Goza de especificidade de um Grupo chamado Instituna, e não representa o traje Académico de Leiria. Representa sim um recém-chegado universitário que, não podendo ostentar um traje académico, quer pelas regras e hierarquia da Academia, quer pelas regras e hierarquia da Instituna, esta última o deixa acompanhar nas actividades da mesma, dando uma oportunidade às pessoas de aprenderem no terreno, subindo aos palcos, tocando, vivenciando festivais, actuações e demais representações exteriores e/ou em casa, sendo moldado consoante os valores e posturas que se coadunem com um Instituno e como digno representante da Academia de Leiria, in loco e dentro dos trâmites da coerência da imagem, sendo por isso, o traje de carrega um misto de prémio e teste para quem toma a decisão de o envergar, ciente das suas obrigações e direitos.” (1)


1- Desde logo podemos denotar um erro doloso e grave que fez escola de norte a sul do país (da esfera da Praxe): a de que um caloiro não pode trajar o traje académico. 
E toca de fazer consagrar em código isso sem nunca terem verificado da validade de tal premissa (e depois copiou-se de academia para academia, sem espírito crítico, mas no simples “Maria vai com as outras, feita tolinha”). 
O facto é que nunca a tradição proibiu que os caloiros trajassem. Assim sendo, qualquer código que diga o contrário, atenta à Tradição. Se era doutrina há uns anos por falta de informação, hoje,nomeadamente em Tuna, já vinha sendo tempo de rever esse mito (e o facto de Tunas não serem Praxe).


 2- Quanto à concepção, parece-nos bem conseguida, ao entenderem essa fase como a de aprendizagem, onde os caloiros necessitam de “aulas práticas”, traduzidas por acompanharem a Tuna.



“Em questão de imagem, a Instituna tinha uma lacuna que estava pendente: o “pijama” do traje de carrega. Pese
embora o facto de os caloiros sempre terem usado “pijamas” desde a sua fundação, numa reunião de Direcção em meados de 2006/2007 chegou-se à conclusão que esta indumentária não se coaduna com a imagem nem de um estudante Universitário, nem de sobriedade do trabalho que se queria desenvolver, nem da Instituna, nem tão pouco de um Politécnico que se queria de imagem renovada, de vanguarda, e numa ponte sóbria entre tradição e futuro. Convenhamos que não era benéfico tocar nos melhores e maiores Teatros e Palcos do País e do Mundo como aconteceu, perante diferentes públicos onde, por muito que a Instituna tocasse bem, a imagem dos pijamas “com 10 anos cobertos de vinho, porque era a tradição”, prejudicava a Tuna em questão de imagem. Não foi bom tocar 3 vezes para o Presidente da República, quer para o Dr. Mário Soares quer para o Dr. Jorge Sampaio, entre muitos outros ilustres, e os caloiros cumprimentarem as entidades de pijama cheios de manchas de vinho, rotos da “tradição e peso da história”.” (2)





 3- A questão da mudança merece elogio. Os pijamas (e outros do género) só ridicularizavam a imagem das Tunas, algo que foi moda nos primórdios, por contágio das praxes.
Como muitas outras, a Instituna percebeu-o, e bem, e o adágio popular adequa-se se dissermos que, nesta matéria, valeu mais tarde do que nunca.

Nada a obstar a que os caloiros possam ter um traje, mas desde que não sirva de passaporte para subir a palco (se é caloiro não é Tuno, ainda), e desde que não o justifiquem com base em argumentos pouco sólidos ou fantasiosos.
O problema aqui, mais uma vez, está precisamente na falta de distinção entre o que é foro da Praxe e o que é foro da Tuna – matéria que tem vindo a ser amplamente explicada em espaços especializados como o PortugalTunas, PraxePorto, As Minhas Aventuras na Tunolândia, entre outros.




“(…)As alterações efectuadas consistiram na mudança do tradicional pijama, cujos exemplares fazem parte da História e estão guardados como património físico, relíquia e deleite dos mais antigos, pelo denominado “traje de carrega” que consiste nas seguintes peças obrigatórias:

-  Meia branca até ao joelho;
 - Calção preto;
- Cinto preto com o emblema da Instituna, com o emblema da terra de onde o carrega é oriundo, e emblemas das terras de origem dos carregas anteriores que ostentaram esse cinto (que é passado de geração em geração);
- Camisa branca do traje, como único elemento de ligação ao Politécnico de Leiria, que nunca poderá estar visível a não ser debaixo do pólo preto de manga comprida;
- Pólo preto de manga comprida identificativo da Instituna, contendo o seu Brazão nas costas. (…)
 O porquê da escolha destas peças? A Instituna foi buscar à origem do fenómeno tunante a razão. Se a escolha do Traje Académico de Leiria tem em cada peça a sua identificação com os costumes locais e regionais, a peça do traje de carrega teve como influência não só o seu Politécnico, como o traje da Tuna no seu sentido tradicional na sua origem: Espanha. Não podia ser de outra maneira segundo a nossa visão, por uma questão de coerência e tributo.
O início da vida de Tuno começa como carrega, e deverá começar bebendo a tradição na sua origem, envergando o traje dos antigos “Sopistas e Trovadores” que numa antiguidade secular formaram os Tunos e as primeiras Tunas do Mundo, as Tunas Espanholas, algumas com mais de 200 anos de história.
em Espanha as únicas pessoas que envergam o traje académico são as Tunas. Nenhum estudante Universitário tem autorização para envergar um traje académico da sua cidade se não pertencer à Tuna da sua Faculdade/Cidade/Distrito Universitário, para se ter a noção do peso da Tuna no País vizinho, peso este que por cá também já se teve no passado, não chegando ao extremo da exclusividade do uso do traje académico, obviamente. Este traje espanhol, que está difundido no Mundo, nas Tunas Holandesas, Francesas, Sul Americanas, Centro Americanas e Portuguesas, é composto pelas seguintes peças: (…)” (3)

Um histórico pejado de erros.


4- Desde já se percebe haver aqui algo que leva logo a perguntarmo-nos: que origem é essa do fenómeno tunante?
Com efeito, na origem do fenómno (séc. XIX), não se reconhecem nem meias brancas, nem emblemas, muito menos um pólo preto ou brasões.
Querem fazer essa opção? Pois muito bem, mas evite-se teorizar sobre aquilo que se desconhece. Se não se sabe, não se inventa e passa a invenção por "verdade".



5- Outra coisa que pode considerar-se algo “infeliz” é escolher para traje de caloiro um traje de Tuno (ou dizer que foi isso), mesmo que de um outro país (e aqui, ainda por cima, o da pátria das Tunas). Manifestamente é desrespeitosa tal analogia e ligação. Diremos que foi uma escolha desadequada de argumentos. Além disso, nem sequer há traços evidentes disso.


6- Diz o povo que “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”, significando que o erro tem "perna curta".
Não apenas o traje de Tuno espanhol não provém de sopistas e trovadores, como nem sequer os Tunos são descendentes de sopistas, goliardos trovadores ou de uma civilização perdida da Atlântida.
Nesta altura, ainda andarem a contar “estórias da carochinha”, só por anedota.
Se não custar muito, sugiro leitura de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal". 


O traje de tuno Espanhol é um sucedâneo do traje inventado pela Estudiantina Espanhola (saído de um guarda-roupa de um teatro de Madrid), na segunda metade do séc. XIX (1878), devendo-se, mais tarde, ao SEU (Sindicato  Espanhol Universitário), criado pelo regime de Franco, a sua actual configuração (numa tentativa de aproximação ao ideário romântico do “Siglo de Oro”), e não esquecendo a introdução da Beca nos anos 50-60 do século passado.

7- Um outro enorme equívoco, é o de se pensar que o Traje de Tuno, em Espanha, seja o popularizado pela Estudiantina Fígaro, Estudiantina Espanhola  que foi a Paris em 1878, seja o actual, é réplica ou cópia de trajes estudantis, ou seja do Traje Académico dos antigos escolares. 
Nada mais falso!

Na década de 1830 é abolido e proibido o porte de traje académico em Espanha, o qual nunca mais será reabilitado, a contrário de Portugal onde, no século seguinte, a abolição do porte obrigatório não acaba com ele.
Em Espanha não há traje académico para estudantes! Desde 1838 que os estudantes não usam traje académico, ou seja há mais de 170 anos!

O traje a que se referem é o traje de Tuno, nada mais (embora a Beca também seja utilizada por outros grupos, como Coros Universitários e orquestras de plectro, também de cariz universitário – que a colocam por cima das suas roupas civis, quando actuam), traje esse que, na actual configuração terá uns 60 anos.


Concluindo.


Este foi apenas, e só, um mero exemplo de como a falta de informação, a falta de rigor e de conhecimento leva a que se invente e criem textos e teses ficcionadas. Não é especialmente a Instituna ,cujo texto (e só isso) aqui serviu , apenas,de exemplo,  ao ter replicado as mesmas imprecisões que ainda vamos encontrando espalhadas em site de tunas, pois daríamos um salto à Tuna de Económicas ou mesmo à centenária TAUC  e lá iríamos encontrar a mesma desinformação e os mesmos mitos, ao manterem  publicado nos seus sites (mesmo depois de terem sido múltiplas vezes alertados para o facto) o famoso texto do Nuno Camacho, que apesar de pejado de erros, foi copiado e recopiado por tantos, sem qualquer critério, espírito crítico ou cuidado, e dado como verdade - algo que só empalidece uma classe que tão pouco interesse mostra em saber da sua própria génese, como o atestam as reduzidas afluências aos ENT.

Poderíamos também aqui falar de outros argumentos fantasiosos para trajes de caloiro, como o da Sal&Tuna que consegue justificar ténis no seu traje de caloiro, por serem de Desporto, entre outras justificações pseudo-históricas (e já nem vamos ao grupo que veste de Kilt, porque é baixar muito o nível), só para citar alguns exemplos.


Parece fácil, a posteriori, colar umas “coisas históricas” para justificar o que foi “feito de cabeça” (o que nos deu na real gana) porque se achou que seria giro.

Quando se quer procurar algo que possa historicamente servir de modelo ou ser adoptado, quando se procura uma roupagem a “cheirar a história”, tal implica investigação e estudo sérios (e não interpretações falaciosas de azulejos, como sucedeu com o Tricórnio, ou de uma história que se ouviu) e, depois, a devida dose de bom senso para manter tudo dentro de parâmetros que balizam e definem o que é de Tuna daquilo que lhe é alheio (e hoje a definição do que é Tuna não é nenhum mito, está circunscrita e cabalmente comprovada).
E para quem quer saber algo mais sobre Tunas, e enquanto não adquire o "QVID TUNAE", pode sempre passar os olhos, para além dos blogues da especialidade, sobre os 3 artigos que foram publicados no blogue Notas&Melodias, resumo urdido pelo Eduardo Coelho, um dos especialistas nacionais sobre estes assuntos.

Fiquem os leitores cientes de que, por norma (em 99% dos casos, diríamos), nenhum traje de caloiro em Portugal tem justificação na tradição tunante ou em qualquer outra.
São, pois, uma novidade, ainda, dentro deste caminho reatado há 25 anos.


Seguem-se algumas fotos com trajes de caloiros  (ou projectos a caloiro) da Tuna, constantes nos sites e páginas de algumas tunas nacionais, que ilustram diversas abordagens e concepções a essa indumentária, nuns casos em maior contraste com o traje de tuno, noutros mais próximo (nomeadamente na cor); uns mais elaborados, outros mais simples.



Tuna do ISLA de Leiria






Tuna Médica (UBI)













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(1) In site da Instituna de Leiria, em linha: http://sites.ipleiria.pt/instituna/membros/
(2) Idem.
(3) Idem.
Nota: Queiram os leitores atentar que este artigo não trata de qualquer ataque ou menorização da Instituna, instituição que merece total respeito, mas tão só tratar do tema "Traje de Caloiro", tendo usado uma informação pública, constante do site em causa, (e servir de paradigma ao que sucede em muitas outras tunas) e pela particularidade da nomenclatura utilizada (Carrega).
Não haverá, por isso, espaço a celeumas ou polémicas com base em supostas honras ofendidas, seja de quem for.



As fotos constantes no artigo servem apenas, e só, para ilustrar a diversidade  de trajes de caloiro, reproduzidas tal qual  se encontram online (em domínio público), sem qualquer outro tipo de considerando ou conotação.