segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Tunas Portuguesas em Espanha (1890-1962)

 Muitos estarão familiarizados com o facto de Portugal ter sido visitado por estudantinas/tunas espanholas, sobretudo no virar do séc. XIX para o XX.

Também alguns leitores terão ideia de que existiram visitas de estudantinas/tunas portuguesas a Espanha.

É precisamente este último aspecto que aqui relatamos, numa listagem o mais completo possível.

Já existia anteriormente uma listagem deste género (publicada numa web espanhola), contudo imprecisa (e com referências bibliográficas nem sempre correctas ou devidamente completas). Dizemos "imprecisas", porque, como o exige o método científico e o rigor histórico, é imperativo aferir os dados que são detectados e confirmar se efectivamente as tunas se deslocaram aos locais previstos (e não confundir tal com "está a organizar-se uma tuna para ir...", "está prevista a chegada", "chega no próximo dia...", "é esperada a tuna de...", etc) e se a identificação das mesmas está correcta (para não as confundir e erradamente as nomear ou, até, considerar haver 2 tunas diferentes quando se trata da mesma).


Os dados que aqui se apresentam, foram devidamente escrutinados, aferindo se as deslocações tiveram efectivamente lugar ou não passaram de viagens previstas (e anunciadas) que, por alguma razão, acabaram por não se realizar (e há vários casos desses - que alguns, precipitadamente, colocam como facto consumado).

Eis, pois, a lista da presença das Tunas/Estudantinas portuguesas em Espanha, desde o séc. XIX até 1962 (ou seja até antes do luto académico e do posterior "boom tunante" da década de 1980 ).

Poderá (e é muito provável) estar incompleta, pelo que sempre em aberto para actualizações, assim tenhamos dados devidamente documentados que as validem.

Como se notará, a partir da década de 1930, as visitas e tunas a Espanha vão desaparecendo, a que não será alheio o contexto social e político vivido sob o regime do "Estado Novo" (com o cercear de muitas liberdades e do isolacionismo que caracterizou essa prolongada época de ditadura).

Também é evidente que a larga maioria das deslocações é realizada por 3 tunas: TAUC, TUP e TAL, as tunas de cariz universitário com maior prestígio e longevidade nessa época.


1890

Estudantina/Tuna Portuense em Madrid e Salamanca[1].

 

1891

TAUC (Tuna Académica da Universidade de Coimbra) em Salamanca[2].

 

1892

Tuna Académica do Porto em Santiago de Compostela[3].

 

1895

TAL (Tuna Académica de Lisboa) em Madrid[4].

 

1897

Tuna Académica do Porto em Villagarcía e Santiago[5] .

TAL em Vigo e Tuy[6].

 

1898

TAUC em Villagarcía, Pontevedra e Santiago[7].

Tuna Académica do Porto em Salamanca[8].

 

1900

TAUC em Salamanca  e Valladolid[9].

 

1902

Tuna Académica do Porto em Santiago, La Coruña y  Pontevedra[10];

TAUC em Lugo e Orense[11].

TAL em Salamanca e Valladolid[12].

Tuna Académica do Liceu de Évora em Badajoz e Mérida[13].

 

1903

TAL em Valladolid, Pontevedra e Vigo[14]

 

1904

Tuna Académica do Porto em La Coruña, Santiago e Ferrol[15].

 

1905

Tuna Académica do Porto em La Coruña e Santiago[16]; bem como a Córdoba, Salamanca e Sevilla[17].

TAUC em  Santiago, Ferrol e La Coruña[18].

 

1906

TAL em  Madrid[19].

Tuna Académica do Porto em Vigo[20]

Tuna Académica do Liceu da Guarda em Salamanca e Zamora[21].

TAUC em León, Zamora, Salamanca e Valladolid[22].

Tuna Farense (Faro) em Ayamonte[23].

 




1907

Tuna Académica do Porto em Vigo[24].

TAL em Badajoz[25].

Tuna Farense em Higuerita,Huelva, Cádiz y San Fernando (Andaluzia)[26].

 

1908

Tuna Académica do Porto em Salamanca[27].

TAUC na Galiza[28].

TAL em Salamanca e Valladolid[29].

 

1909

Tuna Aacdémica do Porto em Ferrol[30].

TAL em Salamanca e Valladolid[31].

 

1911

TAUC em Cuidad Rodrigo, Valladolid, Salamanca, Zamora e Badajoz[32].

 

1913

Tuna Académica do Porto em Tuy e La Coruña[33].

 

1923

Tuna Universitaria do Porto em Madrid[34].

TAUC em Valladolid e Madrid[35].

 

1924

Tuna da Escola Politécnica do Porto na Galiza[36].

Tuna Universitaria do Porto em Santiago, La Coruña[37] e Madrid[38].

Tuna da Universidade de Lisboa (será a TAL) em Madrid[39].

 

1925

TAUC em Sevilla, Huelva e Cádiz[40]

 

1926

TAUC em Santiago e Orense[41].

 

1927

TAUC em San Sebastián[42], Valladolid[43] e Bilbao[44]; bem como em  Santander e Salamanca[45] 

 

1928

Tuna Universitaria do Porto em Valladolid, Reus, Tarragona,  Barcelona e Zaragoza[46].

 

1929

Tuna Universitaria do Porto em La Coruña

TAL em Valladolid[47].

 

1930

 TAUC em Vigo[48]

 

1931

TAUC em Orense y Santiago de Compostela[49].

 

1962

TAUC no Certame de Tunas de Oviedo[50].






[4] La Iberia, Año XLII, N.º 14.378, 29 de Dezembro de1895, p. 3; Defensor do Povo, 1.º Ano, N.º 69, de 26 de Dezembro de 1895, p.2.; La Correspondencia de España, Ano XLVI, N.º 13840, de 28 de Dezembro de 1895, p. 1 e N.º 13841, de 29 de Dezembro de 1895, p. 3.; Defensor do Povo, 1.º Ano, N.º 73, de 09 de Janeiro de 1896, p.2.

[6] DN, 43.º Ano, n.º 14.812, 18 de Fevereiro de 1907, p. 3.

[7] Resistência (Coimbra), Ano III, N.º 312, de 17 de Fevereiro de 1897, p.2.; A Liberdade (Viseu), 18 Fevereiro 1898, Ano XXVIII, N.º 1699.; NASCIMENTO e NASCIMENTO – Estudantes de Coimbra em Orquestra: TAUC (1888-1913),  2010, p. 101; Resistência (Coimbra), Ano III, N.º 316, de 03 de Março de 1897, p.2.

[11] Resistência (Coimbra), Ano VIII, N.º 686, de 03 de Abril de 1902, p.2 e N.º 688, de 10 de Abril de 1902, p.3.

[13] ZACARIAS, Adília & MENDES, Isilda Mourato - Tuna Académica do Liceu de Évora - 100 Anos, história e tradições. Évora, TALE, 2012; La Correspondencia de España, Ano liii, n.º 16.391, 23 de Dezembro de 1902, p. 2.; El Imparcial, Ano xxxvi, n.º 12.830, 23 de Dezembro de 1902, p. 4; Correio Nacional, Ano XI, N.º 3230, de 15 de Dezembro de 1903, p.1.

[18] Resistência (Coimbra), Ano X, N.º 981, de 19 de Fevereiro de 1905, p.2 e N.º 982, de 23 de Fevereiro de 1905, p.3.

[21] El Lábaro, xxvi Ano, n.º 8.662, 6 de Fevereiro de 1906.; El Adelanto, 17 de Fevereiro de 1909, p. 1; El Lábaro, 21 Fevereiro de1906, p. 4; El Lábaro, Año X, N.º 2714, de 26 de Fevereiro de 1906, p. 3; La Época. Ano lviii, n.º 19.961, 26 de Fevereiro de 1906, p. 4; El Lábaro, Ano X, N.º 2716, de 28 de Fevereiro de 1906, p. 2.

[24] Diário de Notícias, 43.º Ano, N.º 14.807, de 12 de Fevereiro de 1907, p. 4 e El País (Madrid), Ano XXI, N.º 7129, de 11 de Fevereiro de 1907, p.5.

[28] Qvid Tvnae (2012).

[32] Qvid Tvnae (2012)

[34] El Sol (Madrid), Ano VII, N.º 1779, de 22 de Abril de 1923, p.2 refere que, em Maio, esteve o orfeão do Porto (e, muito provavelmente, supomos, a Tuna); El Orzán, Ano VI, N.º 1552, de 20 de Abril de 1923, p.1.

[35] Gazeta de Coimbra, N.º 898, II Série, 5 Maio 1923, p. 556., La Época, Ano LXXV, N.º 25985, de 10 de Abril de 1923, p.1., La Libertad (Madrid), Ano V, N.º 1048, de 11 de Abril de 1923, p.4.,  e em vários clichés, constantes no Museo Internacional del Estudiante. A TAUC deixou dívidas em Valladolid que foram pagas pelo Cônsul.

[38] SÉRGIO, Octávio - FONSECA, Élio. Blogue Guitarras de Coimbra (Parte II); artigo de 21 de Setembro de 2008. Consulta de 17 de Setembro de 2009.; Revista ORFEÃO, N.º Único do 45.º Aniversário da Fundação do Orfeão Académico e 20.º do Orfeão Universitário do Porto. OUP, Abril de 1957, p.8.

[40] O Algarve, 17.º Ano, N.º 879, de 08 de Fevereiro de 1925, p.2; Diário de Cádiz, 18-02-1925, p.3; ABC, Año XXI, N.º 6906 de 19 de Fevereiro de 1925, p.1 e p.21; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e La Voz (Madrid), Año VI, N.º 1353, de 19-02-1925, p.2; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e La Voz (Madrid), Año VI, N.º 1353, de 19-02-1925, p.2; Diário de Cádiz, 19-02-1925, p.3 e 4; Diário de Cádiz, 20-02-1925, p.2 e 3; Diário de Cádiz, 21-02-1925, p.2.; El Noticiero Gaditano,Año VII, N.º 1932, de 16-02-1925, p.1.; El Sol, Año IX, N.º 2353, de 21-02-1925, p.8.; El Imparcial, Año LIX, N.º 20313, de 18-02-1925, p.5.;

[47] Imagem da revista Nuevo Mundo, de 29 de Abril de 1909 [Acervo pessoal de Jean-Pierre Silva].

[49] El Orzán, Año XIII, N.º 3539, de 19 de Fevereiro de 1931, p.2

[50] Existe cliché do grupo, tirado na viagem de regresso (entre Cuidad Rodrigo e Vilar Formoso), publicado no Blogue Guitarra de Coimbra V; artigo de 13-11-2013


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Rondalla feminina "La Englantina" (tortosa), 1924

Com a designação de "Rondalla" (sinónima de estudiantina/tuna), eis um agrupamento feminino da localidade de Tortosa, em 1924.
Note-se que, tal como sucede com os agrupamentos estudantis, a presença do bandolim ainda é uma constante.
Curiosa designação a de "Englantina" (porventura a mistura de "England" com "Estudiantina").

La Hormiga de Oro, Ano XLI, N.º 13, de 27 de Março de 1924, p. 204.

Estudiantina "Harmonia de Treball", de Sans (Espanha), 1904

Uma interessante reportagem sobre uma tuna operária espanhola, da localidade de Sans, no ano de 1904.
O uso da designação "Tuna" para um grupo civil confirma o que já ocorrera também em Portugal, ou seja a adopção por parte do foro popular dessa mesma designação (entre outras que se adoptaram para caracterizar este tipo de orquestras de plectro: rondalla, estudiantina....).

La Hormiga de Oro, Ano XXI, N.º 32, de 06 de Agosto de de 1904, p. 9.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Traje de Caloiro - Quando a Praxe contaminou a Tuna.


Bem sabemos, já é chavão repetido, que, em idos do "boom" das tunas, na década de 80/90 do séc. XX, os protagonistas desse "boom" foram, grosso modo, os mesmos do reabilitar das tradições académicas, daí resultando uma contaminação total entre conceitos praxísticos e conceitos tuneris.

Hoje sabemos o quão caro se pagou, e ainda se vai pagando, em resultado dessa mistura explosiva (que, num primeiro tempo pode ter beneficiado ambos, mas, depois, prejudicou todos, especialmente a Tuna).

Hoje sabemos que Tuna e Praxe são coisas distintas.
Sabemos? Nem todos, infelizmente.
Ainda hoje temos questiúnculas originadas pela colisão dessas duas realidades.

Contudo, se muitos são aqueles que já separaram (q.b.) as águas - e é já comum as pessoas perceberem, mais ou menos, que há uma diferença de âmbito e "jurisdição" - a Tuna portuguesa ainda mantém no seu seio um traço praxístico (e exclusivamente praxístico) que nada tem a ver com tradição tuneril: o traje de caloiros da tuna.
Falo, naturalmente, dos casos em que o traje adoptado pela Tuna é o traje da sua academia (e apenas desses casos).




Sabemos, porque facto documentado, que a nenhum estudante pode ser vedado o uso pelo do traje académico e das suas insígnias pessoais (grelo, fitas...), pois não é da competência de organismos de praxe determinar tal, e muitos menos um direito apenas adquirido pela participação/aprovação em praxes (não é assunto da Praxe, portanto). Dizer ou pensar o contrário é absurdo e revela mera ignorância da Tradição Académica e um conceito de Praxe distorcido.

Mas esse preconceito e equívoco (que leva à parvoíce suprema das cerimónias do "traçar da capa" ou das rotulações de "anti-praxe") fez muito caminho por esse país fora: primeiro de tudo, proibir o uso do traje a quem não foi praxado (chegado à estupidez extrema de pretender proibir a participação em Queimas das Fitas e quejandos) e, em segundo lugar,  proibir o uso do traje aos caloiros (só porque são caloiros).

E é o resultado do 2.º equívoco que contaminou as nossas Tunas.

Ora histórica e tradicionalmente, os caloiros sempre puderam trajar (o uso do traje é aliás um costume que se estende a colégios e liceus desde o séc. XIX), mas, por alguma misteriosa amnésia (que o facto das tradições académicas terem estado suspensas durante toda a década de 1970[1] não desculpa inteiramente), aparece o "boato" (que apressados ignorantes logo grafaram em "códigos praxeiros"[2]) que caloiros não podiam senão trajar a partir da sua 1.ª Queima das Fitas.

E foi fruto desse equívoco, que a mistura de protagonistas elevou a tra(d)ição académica, que as tunas implementarem os trajes de caloiro, na senda desse erro de concepção: que os caloiros não podiam trajar.

Note-se que, em Espanha, os caloiros trajam o traje de tuna, apenas não ostentando a "Beca", a qual só ganham após o período de aprendizagem.

Nunca foi costume nem prática, na centenária tradição tuneril portuguesa que os novatos da tuna não pudessem trajar. Tal como nunca houve praxes de tuna antes da contaminação praxística iniciada a partir da década de 80-90 do séc. XX.

Se tanto se enche a boca na perpetuação da Tradição, no respeito da tradição tuneril, então talvez fosse tempo de rever  praxísitos conceitos erróneos que continuam colados à Tuna, como esse hábito de, em tunas que usam o traje da sua academia, vedar esse mesmo traje só porque são caloiros.

Um traje académico vedado a caloiros nem sequer pode ser considerado traje académico (ver AQUI). Se esse mesmo traje é também usado em Tuna, também aí a Tuna não pode, nem deve, impedir o seu uso. Questão de coerência e de senso.

Uma tuna que se diz "académica" (estudantil, portanto, seja ela universitária ou liceal) é porque é composta de alunos, de estudantes (ou antigos estudantes), cuja indumentária é o traje (porque isso assim os identifica - a eles e à tuna).
Se não faz sentido que o traje do estudante seja negado a caloiros por patetices praxísticas sem fundamento algum, muito menos numa tuna.

É certo que a Tuna se rege pelos seus próprios regulamentos e faz como entende melhor, mas será sempre hipócrita não reconhecer que esse "costume"  - de não permitir aos caloiros da tuna usarem traje (e falo, uma vez mais, sublinho, das tunas que adoptam o traje da sua academia) é motivado por uma falsa tradição tuneril (por  influência assente em pressupostos históricos "ilegais").

A existência de traje de caloiro da Tuna resulta da equivocada influência da "Praxe" (neste caso, de um erro crasso que nem sequer é Praxe nem tem fundamento histórico ou tradicional algum) e, há que o dizer, não tem sentido algum, constituindo um paradoxo.

A Tuna já se foi livrando de muitos mitos (origens no séc. XII ou XVI, Sopistas, tocar sentada.....), mas continua a perpetuar um erro.
Um erro que qualquer pessoa mais informada e sensata reconhece como aberração praxística: proibir o uso do traje a caloiros ou a quem não foi praxado (porque "o traje é estudantil e não praxístico" como se responde sumariamente, e bem).
Se, e muito bem, se diz que o traje é estudantil/académico e não praxístico (contrariando os ditames inconsistentes de tantas "comixões de prache"), vale precisamente em tuna também: o traje é estudantil e não tunante.


O uso do traje académico (em vigor na instituição e que é o mesmo que a tuna adopta) é, portanto, um direito primário e basilar do estudante. Cercear esse direito só porque entra na tuna (que se diz académica) é um absurdo; e não é melhor a tuna que o faz do que a comissão praxista que se critica por fazer o mesmo.


Fica para reflexão.




[1] Em virtude dos acontecimentos ocorridos em 1969, e que levaram ao denominado "Luto Académico".
[2] Copiando o de Coimbra (ou nele se inspirando), mas esquecendo-se que esse código (de 1957) nunca proibiu caloiros de trajar (como ainda hoje não proíbe).

terça-feira, 19 de maio de 2020

A centenária Tuna Tramagalense


Um destaque, hoje, para uma tuna popular: A Tuna Tramagalense (Tramagal - Abrantes), fundada há mais de um século e cuja actividade, depois de um período de interregno, retomou há já várias décadas.

Na senda das tunas populares, esta agremiação é mais um exemplar da tradição tuneril no foro civil em que as populações fundavam associações de recreio (Ateneu, Orfeão, Círculo, Centro...), muitas vezes sn a designação estudantina/tuna, mas onde não apenas a orquestra de cordofones pontificava, mas, igualmente, outras actividades culturais, educativas, lúdicas (e por vezes políticas, como sucedia, especialmente no meio urbano, com os Centros Republicanos, muitos deles também com tunas).



Sobre a sua história, transcrevemos:

"Em 15 de abril de 1915 foi criada a Tuna Tramagalense. Assinalam-se hoje 104 anos.
A Sociedade do Cordel , da iniciativa de Manuel Lopes Martins, Manuel Manana Júnior e outros, em 1912, havia estado na génese da Tuna Tramagalense.

A atividade musical na Tuna, conjunto de cordas, sob a direção e entusiasmo do Professor, Artur Pinto, e a atividade teatral, tendo como ensaiador, o médico, Dr. João José Alves Mineiro, marcam os primeiros anos da Tuna Tramagalense.

O Dr. João José Alves Mineiro, mais tarde eleito Presidente Honorário e o Prof. Artur Pinto são figuras marcantes dos primeiros tempos.

Um pavoroso incêndio em 1924 consome a sede da Tuna, por ocasião de um baile, em que perecem 9 pessoas, trágico acontecimento que abala a estrutura e atividade da associação.

Em 1942 à Tuna Tramagalense sucede o Teatro Tramagalense, Lda., com uma fórmula suscetível de mobilizar os meios financeiros necessários à construção da nova Sede, na Estrada Nacional, com sala de espetáculos com cinema, clube e esplanada ao ar livre para festas e cinema, assim como ringue de patinagem."[1]



A Tuna Tramagalense nos anos 1940.
(Foto obtida no FB da tuna)

A Tuna Tramagalense nos anos 1940-50.
(Foto obtida no FB da tuna)


Sobre esse famoso incêndio de 1924, na sede da Tuna, e que ceifou a vida a várias pessoas, deixamos estas 2 imagens.

 
Evocação do incêndio que destruiu a sede da Tuna Tramagalense, em 1924, matando e ferindo diversas pessoas.
(Foto obtida no FB da tuna)


[1] In Página de FB da Tuna Tramagalense. Consulta a 18-05-2029

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Vontade de ser....TUIST

Com já mais de 1 mês de confinamento, há que honestamente dizer que já pouca coisa empolga nas iniciativas tuneris online.
Aliás, estamos agora não apenas a ficar mesmo fartos de confinamento, como enfartados de "mais do mesmo".
Das poucas iniciativas que jogam num patamar superior, temos o já referido "TUNICES" (abordado no anterior artigo), bem como, a título de exemplo, o vídeo da Tuna Veterana do Porto (que não se limitou a mais do mesmo, mas produziu algo feito efectivamente "em directo" - sem playbacks corriqueiros, com dinamismo e com letra adaptada, com graça, à situação vivida).
Mas o que surgiu (e não foi programado em função da pandemia), como pedra no charco, foi o magnífico documentário sobre os 25 anos da TUIST (Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico, de Lisboa), sob o título "Vontade de ser - 25 anos TUIST".

E é, hoje, o assunto deste artigo, apropriadamente sob a designação "Vontade de ser...TUIST" (ser como ela, parecido com ela, parte dela, inspirado por ela..... conforme o ângulo ou todos eles).




Não há muito mais para dizer do que aquilo que já foi soberbamente abordado no "TUNICES"  de ontem).
Cabe, aqui, apenas mencionar alguns aspectos que distinguem este documentário de outras produções multimédia tuneris que pululam na net.

O primeiro de todos é a autoria.
Não foi a tuna que escreveu o guião, o produziu, orientou ou decidiu que imagens, planos e aspectos retratar.
Inteligentemente, a TUIST deu carta branca à realizadora, Patrícia Pedrosa, daí resultando uma pequena obra de arte. Que sabia que estava em boas mãos é igualmente ilustrativo do critério de qualidade na escolha das pessoas com quem a tuna labora.
Tal permitiu um olhar exógeno, de fora para dentro, captando (e note-se a importância) aquilo que mais interessa ao público (algo que nem sempre se compatibiliza com o que interessa aos tunos/tunas).

Depois, a simplicidade narrativa, ora em zoom in ora em zoom out, onde se materializa plenamente aquele velho chavão de "gostava de ser mosca para ter visto".
Neste documentário somos mesmo essa mosca curiosa, discreta e, ao contrário das comuns, em nada perturba. Somos quase que levados a vestir a pele de um membro da TUIST e a vivenciar, como que presencialmente, os bastidores daquilo de que são feitas as grandes tunas.

A autora não caiu na tentação de mostrar vitrines de prémios, de elencar currículos, de pavonear grandes actuações em certames.
Procurou, antes sim, em diversos momentos, deixar adivinhar, quase que em jeito spoiler, o que rigor, organização, cumplicidade e compromisso inevitavelmente vão produzir.
Não se procurou, daí a importância da liberdade absoluta dada à autora, mostrar lugares comuns, entrevistar tudo e mais um par de botas, fazer do documentário um museu virtual de feitos e conquistas.
Procurou a autora captar o genuíno, o espontâneo e, de modo simples - mas genial, identificar-nos (levar a revermo-nos em muitas daquelas circunstancias) com os protagonistas.



Mais: não há personagens principais.
Apesar de mais ou menos destaque numa ou noutra figura, fica claramente a ideia de que é a TUIST o verdadeiro protagonista principal, não apenas nos momentos públicos, mas a TUIST em casa, sem máscaras.

Não menos importante está a necessária referência à qualidade da imagem e do som.
Apesar de vivermos na era digital e dos gadgets tecnológicos à disposição, não é menos verdade que a esmagadora maioria daquilo que é publicado nas redes sociais (sobretudo no youtube) é de péssima qualidade no que concerne à captação e edição.
Já a isso nos referimos em artigo, bem como mereceu especializada tertúlia no passado dia 13 de Abril.
"Vontade de ser" não é mais um vídeo, não é mais um documentário. É um trabalho feito com grande qualidade técnica, mais um dos raros oásis no deserto que caracteriza a produção multimédia tunante nacional.

Vasco da Câmara Pereira (o eterno "Véspera") ainda ontem dizia que, a isso, muito ajudou terem reconhecido os erros do passado (referindo-se ao menos conseguido trabalho sobre os 20 anos da TUIST), fomentando o desejo de produzir algo melhor.
E quando assim é, quando se tiram criticamente lições do passado, como disso é prova este magnífico documentário, apenas podemos aplaudir algo que ilustra igualmente a qualidade humana das pessoas.

O documentário serve também outro propósito: fazer memória.
Com efeito, houve preocupação em criar algo para memória futura, aspecto tão arredado da maioria da comunidade tunante.

"Vontade de ser" não podia ter sido melhor escolhido para título deste trabalho.
Depois de visto, dá vontade de rever (da minha parte vou em 3) e, creio, que certamente suscitará e inspirará, em muitas tunas e tunos, a vontade de "ser assim", de viver assim a tuna, de fazer desse modo.
Acredito igualmente, que possa despertar, em muitos estudantes ou futuros estudantes do IST,  a vontade de ser membro da TUIST, de ser (e fazer) parte da sua história, comungar da sua mística e experienciar o que o documentário tão bem soube traduzir da imagem que se pretende da Tuna Portuguesa.

Parabéns à TUIST e um enorme abraço a todos os seus membros,  de hoje e de ontem...amigos de sempre.

terça-feira, 28 de abril de 2020

TUNICES - A Tertúlia que COnVIDa TUNA


"Há males que vêm por bem."

Poderia ser o chavão popular usado para caracterizar o novo programa que o PortugalTunas tem promovido desde 27 de Março.
Em tempos de confinamento, devido à pandemia pelo vírus Covid-19, temos assistido a um crescimento exponencial da actividade nas redes sociais, a que as tunas não passaram ao lado. Têm, aliás, redobrado em iniciativas nesse domínio (algumas de grande qualidade), mesmo se o modelo dos vídeos musicais (entre outros) possa já estar a atingir um ponto de saturação.

São muitas e variadas as formas que as tunas encontraram para se reinventarem nesta época, mas é indubitavelmente o "TUNICES" que apresenta uma programação de maior qualidade e utilidade à comunidade. Verdadeiro serviço público tuneril, iniciou por ser diário, sempre às 22h00, estabilizando, após as primeiras tertúlias, em emissões à 2.ª, 4.ª e 6.ª[1].

Espaço onde os assuntos são abordados, de forma leve, bem disposta e em ambiente de verdadeira tertúlia, e que já passaram por muitos temas (dos mais técnicos aos  mais históricos, dos mais anedóticos aos mais sensíveis, dos que pareciam, à partida, pouco ter para espremer e, depois, deram sumo inesperado).
Ricardo Tavares e José Rosado (recentemente entrevistados sobre o programa e percurso de 18 anos do PTunas) emprestam toda a sua competência e saber, como anfitriões, recebendo personagens diversas do panorama tuneril, com quem estabelecem um diálogo que faz esquecer as horas.

O "TUNICES" vai já em 15 emissões.
Tem ainda muito tema por explorar, muitos ângulos para pôr os assuntos em perspectiva, muitos convidados para nos ajudarem a passar bons momentos, como até aqui tem sucedido.

A receita é de sucesso, mesmo se sabemos que grande parte do público alvo se está nas tintas, como sempre esteve (seja para corresponder ao Census Tuna do Ptunas, a participar nos ENT, a ler, a debater...), mais interessado em publicidades efémeras, em likes de ocasião e vaidades de instagram.

O "TUNICES" é uma das poucas iniciativas tunantes da actualidade que merece efectivo destaque, seja pela qualidade do programa em si (e dos seus animadores) seja pelo formato televisivo, via youtube, que permite aprender e reflectir sobre a Tuna, de forma lúdica.
Um programa para quem gosta de Tunas a sério, em todas as suas dimensões e facetas.
Se não estamos perante a descoberta da pólvora, estamos, certamente, perante um dos tiros mais certeiros dos últimos anos.

Não podemos senão parabenizar o PortugalTunas pela iniciativa e aguardar, ansiosamente, pelas próximas emissões, neste que se tornou, para alguns, a sua "novela" (quase) diária.




[1] E como ele alterna a emissão "Quarentunos em quarentena".

terça-feira, 21 de abril de 2020

Gerações Tuneris

Ouve-se, de quando em vez, no nosso meio tuneril, falar-sem em gerações de tunos, não poucas vezes num sentido pouco consentâneo com os factos.
Com efeito, é comum ouvir um tuno de 25 anos falar patriarcalmente de outro seu colega de tuna mais novo (porventura caloiro) como pertencendo a outra geração.
Este tipo de conversa quase nos remete para os inícios do "boom" onde havia uma desenfreada busca por antiguidade.
O uso, nem sempre adequado, da noção de geração resulta, quase sempre, de uma formulação que visa como que uma emancipação, a ideia de se ter atingido o estatuto de veterano (a que não é alheia a nomenclatura hierárquica da Praxe) face a outro ligeiramente mais novo.
Não será certamente necessário passar em revista as teorias sociais sobre gerações da década de 1920 (Ortega y Gasset, 1923; Mannheim, 1928), de 1960 (Feuer, 1968; Mendel 1969) ou de 1990 (Tapscott 1998; Chisholm, 2005) ou, até, aprofundar as formulações positivistas de Augusto Comte, a abordagem histórica de Dilthey ou, ainda, a formulação sociológica de Manheim.


O que convirá ter em atenção é que, no estrito âmbito tuneril, o que se observa, de forma cada vez mais clara, é que as nossas tunas, salvo raras excepções, apresentam grupos muito heterogéneos onde convivem pessoas de várias faixas etárias.
E é precisamente isso que importa reter: faixas etárias nem sempre correspondem propriamente (para o caso que aqui importa) a diferentes gerações.
 
Claro está que podemos falar em gerações históricas (como sucedeu com o movimento académico coimbrão, conhecido por "Geração de 70", formado por Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão,entre outros), no sentido em que determinado grupo de pessoas viveram/protagonizaram um conjunto de acontecimentos marcantes, contudo, e simplificando, é mais plausível e sensato apreender o sentido de "geração" como a que estabelece um distanciamento cronológico suficientemente lato para que se possa observar sociologicamente uma diferença clara.
Ora, e sempre simplificando, nada mais objectivo do que esta espécie de regra de três simples que é: a nova geração é aquela que tem idade para ter sido gerada biologicamente pela anterior, ou seja um hiato de cerca de 30 anos (seguindo a observação de A. Comte).

Há hoje, portanto, no nosso meio tuneril, e contando a partir do "boom" (de 1985 em diante), 2 gerações, grosso modo: são, hoje, os abeirados dos 50 anos e mais, e, depois, os que actualmente formam a faixa etária com idade para ter sido gerada biologicamente pela primeira.

Obviamente que nem tudo é preto e branco, e há que contemporizar as zonas cinzentas formadas por todos aqueles que se encontram no meio.
E aqui entram as diversas abordagens sociológicas que, desde a década de 1920, se debruçam sobre estes assuntos de "gerações".

No meio tunante, podermos, face à questão dos que "ficam pelo" meio, falar igualmente na geração tuneril do séc. XX  e, depois, o que entraram nesse mundo já no séc. XXI (pese embora as tais zonas cinzentas entre um tuno ingressado, por exemplo, em 1998 não ser propriamente de uma geração distinta de outro ingressado, por exemplo, em 2001).
Outros sentidos podem, sabemos, ser emprestados, em contexto tuneril (e não só) ao conceito de "geração", mas quase sempre parece ser importante haver um observável distanciamento cronológico que não parece, de todo, poder ser inferior a 10/15 anos e em concomitância com divisórias históricas (como defende Dilthey).

 Falar, portanto, em "gerações", no meio tuneril, é algo que deve merecer cautelas, acima de tudo para evitar conceitos ad hoc, talhados à medida, e que, de quando em vez, acabam por ser pouco lógicos (quando não são algo risíveis), quando ouvidos na boca de um jovem que fala de colegas com tão pouca diferença de idade.

A nossa comunidade tunante, numa análise simples e objectiva, terá 2 gerações, assente na ideia de "geração" determinada pela sucessão de "pais" e "filhos" - a forma mais pragmática de olhar a coisa.

terça-feira, 24 de março de 2020

Estudiantina no Carnaval de Sevilha, 1885

Uma imagem de um periódico da Áustria, datado de 1885, versando uma estudiantina, durante o Carnaval de Sevilha de 1885.
O artigo que acompanha, mais abaixo, a imagem, fala em em estudantes, com seus tradicionais trajes pretos, bicórneo com colher, casaco curto, de guitarra na mão, que percorrem as ruas, tocando, com suas capas.

Neue Illustrirte Zeitung, Ano XIII, N.º 19, de 01 de Fevereiro de 1885, p.4.