Ouve-se, de quando em vez, no
nosso meio tuneril, falar-sem em gerações de tunos, não poucas vezes num
sentido pouco consentâneo com os factos.
Com efeito, é comum ouvir um tuno
de 25 anos falar patriarcalmente de outro seu colega de tuna mais novo
(porventura caloiro) como pertencendo a outra geração.
Este tipo de conversa quase
nos remete para os inícios do "boom" onde havia uma desenfreada busca por antiguidade.
O uso, nem sempre adequado,
da noção de geração resulta, quase sempre, de uma formulação que visa como que
uma emancipação, a ideia de se ter atingido o estatuto de veterano (a que não é
alheia a nomenclatura hierárquica da Praxe) face a outro ligeiramente mais
novo.
Não será certamente
necessário passar em revista as teorias sociais sobre gerações da década de
1920 (Ortega y Gasset, 1923;
Mannheim, 1928), de 1960 (Feuer, 1968; Mendel 1969) ou de 1990 (Tapscott
1998; Chisholm, 2005) ou, até, aprofundar as formulações positivistas de
Augusto Comte, a abordagem histórica de Dilthey ou, ainda, a formulação
sociológica de Manheim.
O
que convirá ter em atenção é que, no estrito âmbito tuneril, o que se observa,
de forma cada vez mais clara, é que as nossas tunas, salvo raras excepções, apresentam
grupos muito heterogéneos onde convivem pessoas de várias faixas etárias.
E
é precisamente isso que importa reter: faixas etárias nem sempre correspondem
propriamente (para o caso que aqui importa) a diferentes gerações.
Claro
está que podemos falar em gerações históricas (como sucedeu com o movimento académico coimbrão, conhecido por "Geração de 70", formado por Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão,entre outros), no sentido em que determinado
grupo de pessoas viveram/protagonizaram um conjunto de acontecimentos marcantes, contudo, e
simplificando, é mais plausível e sensato apreender o sentido de
"geração" como a que estabelece um distanciamento cronológico
suficientemente lato para que se possa observar sociologicamente uma diferença
clara.
Ora,
e sempre simplificando, nada mais objectivo do que esta espécie de regra de
três simples que é: a nova geração é aquela que tem idade para ter sido gerada
biologicamente pela anterior, ou seja um hiato de cerca de 30 anos (seguindo a
observação de A. Comte).
Há
hoje, portanto, no nosso meio tuneril, e contando a partir do "boom"
(de 1985 em diante), 2 gerações, grosso modo: são, hoje, os abeirados dos 50
anos e mais, e, depois, os que actualmente formam a faixa etária com idade para
ter sido gerada biologicamente pela primeira.
Obviamente
que nem tudo é preto e branco, e há que contemporizar as zonas cinzentas
formadas por todos aqueles que se encontram no meio.
E
aqui entram as diversas abordagens sociológicas que, desde a década de 1920, se
debruçam sobre estes assuntos de "gerações".
No
meio tunante, podermos, face à questão dos que "ficam pelo" meio,
falar igualmente na geração tuneril do séc. XX
e, depois, o que entraram nesse mundo já no séc. XXI (pese embora as
tais zonas cinzentas entre um tuno ingressado, por exemplo, em 1998 não ser
propriamente de uma geração distinta de outro ingressado, por exemplo, em 2001).
Outros sentidos podem, sabemos, ser emprestados, em contexto tuneril (e não só) ao conceito de "geração", mas quase sempre parece ser importante haver um observável distanciamento cronológico que não parece, de todo, poder ser inferior a 10/15 anos e em concomitância com divisórias históricas (como defende Dilthey).
Falar, portanto, em "gerações", no
meio tuneril, é algo que deve merecer cautelas, acima de tudo para evitar
conceitos ad hoc, talhados à medida,
e que, de quando em vez, acabam por ser pouco lógicos (quando não são algo risíveis),
quando ouvidos na boca de um jovem que fala de colegas com tão pouca diferença
de idade.
A
nossa comunidade tunante, numa análise simples e objectiva, terá 2 gerações, assente
na ideia de "geração" determinada pela sucessão de "pais" e
"filhos" - a forma mais pragmática de olhar a coisa.
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