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domingo, 9 de fevereiro de 2025

Da noção de "Tradição Tuneril" e do que é próprio à Tuna Universitária

 



Um breve artigo suscitado pela leitura de um regulamento de certame a realizar brevemente e a que tivemos acesso. Fixámo-nos num excerto específico que nos causou apreensão.

Fique claro que cada qual é livre de definir as regras do evento que organiza, mas do mesmo modo também se sujeita ao escrutínio de quem o lê.

Neste caso, são mais dúvidas e perguntas retóricas.

Comecemos, pois, pelo início.

Onde é que está provado  e documentado que a Serenata é a expressão máxima de uma Tuna Universitária? Na verdade, releva mais da narrativa ficcionada do “boom” de finais do século passado (o XX), e de uma mimetização importada de Coimbra (sobretudo das Serenatas de feição fadista (Serenatas Monumentais).

Depois, perguntar qual o sentido de desvalorizar um grupo que usa e abusa de instrumentos que não são próprios à Tuna ao invés de simplesmente dar zero. É que entra-se claramente no domínio do “acho que”, pois a desvalorização quantifica-se como? No código da estrada, a infração por pisar um traço contínuo é igual quer se pise ao de leve, parte, todo ou mesmo se passe o mesmo. Haja pois, coerência e verticalidade para assumir-se uma de duas opções: seguir a tradição quanto à instrumentação ou borrifar-se olimpicamente para a mesma. Encher a boca de "tradiçao tuneril" para depois fechar os olhos àquilo que a a infringe objectiva e dolosamente é qu enão!

Como hoje em dia quase ninguém quer saber de tradição para nada e só fica bem falar-se nisso para inglês ver ou para constar de regulamentos….. estamos conversados.

E nem de propósito a questão da "tradição".

Alguém pode explicar o que é isso de "respeitar o traje envergado no cumprimento da tradição tunante"? Qual tradição?

É que com a diversidade de trajes académicos existentes[1], a par com trajes próprio que algumas tunas possuem…. fica difícil saber o que a tradição tunante diz sobre Traje. É que não existe nada escrito nem definido sequer. Uma coisa é cada tuna respeitar a etiqueta académica (vulgo Praxe) quanto ao uso do traje (seja a definida pela instituição a que pertence seja a definida pela própria tuna quando o traje é próprio) e outra é supostamente haver uma qualquer norma oral/escrita sobre o tema que possa ser transversal a todos os trajes existentes.

Se querem tradição tuneril quanto a traje.... então voltem as tunas todas a usar o Traje Nacional e haverá um ponto comum a partir do qual se poderá encetar uma amena conversa e, até, desmascarar a multitude de regas sem fundamento histórico nenhum  que enchem  códigozecos de praxe de norte a sul do país (e que nem para limpar o rabo servem)!

Também se desconhece a associação entre originalidade e “Tradição Tuneril”, nem se percebe sequer o que isso quer dizer. Há graus ou limites à originalidade para caberem ou não na Tradição Tuneril? Se sim, quais? Onde é que é próprio da dita “tradição tuneril” e onde é que ultrapassa esse suposto âmbito? Ou afinal é só uma maneira bonita de embelezar o texto e no fundo acabar por ser como os jurados acharem?

Também não se percebe muito bem a questão da “correta distribuição da Tuna em palco” como característica inata à Tuna Universitária. O que é uma incorrecta distribuição, no entender deste regulamento? É que as tunas que vão a esse festival deveria saber para poder ajustar-se. Mas afinal….é coisa dúbia! Recordemos que há uns anos, uma tuna foi desclassificada (off the record) por ter "ousado" tocar com a primeira fila sentada. Ao que parece, no entendimento dos jurados de então, era uma distribuição/colocação incorrecta e contra a tradição (quando afinal nem era - e sobre o tema pode ler-se AQUI). Se, de repente, tocarem todos sentados, como foi norma, por cá, até á década de 1980? E se, por exemplo, decidirem dispor-se sem ser em filas? Creio que o leitor percebeu já o quão dúbia se torna a questão.

Como dúbia é a questão do cuidado visual. Isso traduz-se em quê exactamente? Se é para dizer que devem estar todos uniformemente trajados, que não devem apresentar-se de forma andrajosa, desrespeitosa… então sejam claros e explicitem-no, ao invés de remeter para o destinatário o dever de intuir o que significa, pois o que é lícito e normal para uns pode não ser para outros. E, uma vez mais, como se ajuíza isso? Pelos vistos….conforme cada jurado “achar”.

Haja maior cuidado na adopção de regulamentos escritos há muitos anos [e que deveriam merecer reflexão e actualização antes de ser adaptados - eventualmente com ajuda do(s) autor(es)], procurando que essas normas sejam claras para quem participa, sem espaço para demasiada subjetividade, como a que acaba por se criar quando se fala em conceitos como “Tradição Tuneril” sem que os próprios saibam bem em que consiste ou explicitem objectivamente o que entendem por isso. 

É que, se há 30 anos, havia uma certa uniformidade quanto ao entendimento daquilo que cabia na res tvnae (sabia-se, grosso modo o que era próprio à Tuna e à sua "tradição" e respeitavam-se limites consuetudinários), mesmo que com (muitas) imprecisões históricas, daí para cá a coisa tendeu a esfarelar-se e diluir-se num "no man's land" onde as coisas se fazem a "olhómetro" e os regulamentos são quase sempre ignorados (sobretudo por serem demasiado extensos e, em muitos casos, dúbios).

Fica o reparo.

 



[1] Nem vamos aqui voltar a referir o erro crasso de todos os trajes académicos inventados nos anos 90.


quarta-feira, 3 de junho de 2020

Traje de Caloiro - Quando a Praxe contaminou a Tuna.


Bem sabemos, já é chavão repetido, que, em idos do "boom" das tunas, na década de 80/90 do séc. XX, os protagonistas desse "boom" foram, grosso modo, os mesmos do reabilitar das tradições académicas, daí resultando uma contaminação total entre conceitos praxísticos e conceitos tuneris.

Hoje sabemos o quão caro se pagou, e ainda se vai pagando, em resultado dessa mistura explosiva (que, num primeiro tempo pode ter beneficiado ambos, mas, depois, prejudicou todos, especialmente a Tuna).

Hoje sabemos que Tuna e Praxe são coisas distintas.
Sabemos? Nem todos, infelizmente.
Ainda hoje temos questiúnculas originadas pela colisão dessas duas realidades.

Contudo, se muitos são aqueles que já separaram (q.b.) as águas - e é já comum as pessoas perceberem, mais ou menos, que há uma diferença de âmbito e "jurisdição" - a Tuna portuguesa ainda mantém no seu seio um traço praxístico (e exclusivamente praxístico) que nada tem a ver com tradição tuneril: o traje de caloiros da tuna.
Falo, naturalmente, dos casos em que o traje adoptado pela Tuna é o traje da sua academia (e apenas desses casos).




Sabemos, porque facto documentado, que a nenhum estudante pode ser vedado o uso pelo do traje académico e das suas insígnias pessoais (grelo, fitas...), pois não é da competência de organismos de praxe determinar tal, e muitos menos um direito apenas adquirido pela participação/aprovação em praxes (não é assunto da Praxe, portanto). Dizer ou pensar o contrário é absurdo e revela mera ignorância da Tradição Académica e um conceito de Praxe distorcido.

Mas esse preconceito e equívoco (que leva à parvoíce suprema das cerimónias do "traçar da capa" ou das rotulações de "anti-praxe") fez muito caminho por esse país fora: primeiro de tudo, proibir o uso do traje a quem não foi praxado (chegado à estupidez extrema de pretender proibir a participação em Queimas das Fitas e quejandos) e, em segundo lugar,  proibir o uso do traje aos caloiros (só porque são caloiros).

E é o resultado do 2.º equívoco que contaminou as nossas Tunas.

Ora histórica e tradicionalmente, os caloiros sempre puderam trajar (o uso do traje é aliás um costume que se estende a colégios e liceus desde o séc. XIX), mas, por alguma misteriosa amnésia (que o facto das tradições académicas terem estado suspensas durante toda a década de 1970[1] não desculpa inteiramente), aparece o "boato" (que apressados ignorantes logo grafaram em "códigos praxeiros"[2]) que caloiros não podiam senão trajar a partir da sua 1.ª Queima das Fitas.

E foi fruto desse equívoco, que a mistura de protagonistas elevou a tra(d)ição académica, que as tunas implementarem os trajes de caloiro, na senda desse erro de concepção: que os caloiros não podiam trajar.

Note-se que, em Espanha, os caloiros trajam o traje de tuna, apenas não ostentando a "Beca", a qual só ganham após o período de aprendizagem.

Nunca foi costume nem prática, na centenária tradição tuneril portuguesa que os novatos da tuna não pudessem trajar. Tal como nunca houve praxes de tuna antes da contaminação praxística iniciada a partir da década de 80-90 do séc. XX.

Se tanto se enche a boca na perpetuação da Tradição, no respeito da tradição tuneril, então talvez fosse tempo de rever  praxísitos conceitos erróneos que continuam colados à Tuna, como esse hábito de, em tunas que usam o traje da sua academia, vedar esse mesmo traje só porque são caloiros.

Um traje académico vedado a caloiros nem sequer pode ser considerado traje académico (ver AQUI). Se esse mesmo traje é também usado em Tuna, também aí a Tuna não pode, nem deve, impedir o seu uso. Questão de coerência e de senso.

Uma tuna que se diz "académica" (estudantil, portanto, seja ela universitária ou liceal) é porque é composta de alunos, de estudantes (ou antigos estudantes), cuja indumentária é o traje (porque isso assim os identifica - a eles e à tuna).
Se não faz sentido que o traje do estudante seja negado a caloiros por patetices praxísticas sem fundamento algum, muito menos numa tuna.

É certo que a Tuna se rege pelos seus próprios regulamentos e faz como entende melhor, mas será sempre hipócrita não reconhecer que esse "costume"  - de não permitir aos caloiros da tuna usarem traje (e falo, uma vez mais, sublinho, das tunas que adoptam o traje da sua academia) é motivado por uma falsa tradição tuneril (por  influência assente em pressupostos históricos "ilegais").

A existência de traje de caloiro da Tuna resulta da equivocada influência da "Praxe" (neste caso, de um erro crasso que nem sequer é Praxe nem tem fundamento histórico ou tradicional algum) e, há que o dizer, não tem sentido algum, constituindo um paradoxo.

A Tuna já se foi livrando de muitos mitos (origens no séc. XII ou XVI, Sopistas, tocar sentada.....), mas continua a perpetuar um erro.
Um erro que qualquer pessoa mais informada e sensata reconhece como aberração praxística: proibir o uso do traje a caloiros ou a quem não foi praxado (porque "o traje é estudantil e não praxístico" como se responde sumariamente, e bem).
Se, e muito bem, se diz que o traje é estudantil/académico e não praxístico (contrariando os ditames inconsistentes de tantas "comixões de prache"), vale precisamente em tuna também: o traje é estudantil e não tunante.


O uso do traje académico (em vigor na instituição e que é o mesmo que a tuna adopta) é, portanto, um direito primário e basilar do estudante. Cercear esse direito só porque entra na tuna (que se diz académica) é um absurdo; e não é melhor a tuna que o faz do que a comissão praxista que se critica por fazer o mesmo.


Fica para reflexão.




[1] Em virtude dos acontecimentos ocorridos em 1969, e que levaram ao denominado "Luto Académico".
[2] Copiando o de Coimbra (ou nele se inspirando), mas esquecendo-se que esse código (de 1957) nunca proibiu caloiros de trajar (como ainda hoje não proíbe).

sexta-feira, 31 de maio de 2013

De Tuna (des)trajadas



Carece de grandes comentários ou adjectivações, por isso escuso de gastar mil palavras.
E quem quiser gastar algumas, pode sempre fazé-lo no grupo do FB "Tunas&Tunos", onde disso se fala igualmente.

Uma tuna que apresenta em palco, como porta estandarte (ou quejandos), uma menina, literalmente à futrica, de calças de ganga pretas (ainda por cima esburacadas, como parece ser "moda") e ténis, poderá ser, no mínimo......."estranho". Nem vale a pena, pro isso, falar de calças de ganga azul e mais pares de ténis..........

Mas tunas há, como parece ser aqui o caso, onde a indumentária parece dispensar quaisquer cuidados ou atenção àquilo que, genericamente, é tido como próprio da etiqueta tunante (é ver do lado esquerdo uma moça de calças de ganga azul e outra, do lado direito da imagem que, para além disso, usa uma t-shirt branca, tudo rematado com uns óculos cor-de-rosa, tamanho XXL (uma outra, também à futrica, embora com um simularo de xaile ou opa pelas costas, tem uns de cor verde.


Um pouco mais de brio e rigor na imagem, no trajar enquanto Tuna, diríamos nós, só beneficiaria a imagem da Tuna, o respeito pela comunidade e tradição Tunante, e a beleza das moças - que o traje igual em todas e correctamente envergado faria sobressair ainda mais.


In Revista Vidas, p. 49, suplemento do  Correio da Manhã, 
Semana de 11 a 17 Maio 2013.


in https://www.facebook.com/photo.php?fbid=590660484297639&set=a.590660050964349.1073741826.100000610772581&type=1&theater

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Traje de Caloiro em Tuna


Este artigo tomará por base um texto de uma das Tunas na nossa praça, a Instituna de Leiria, como alegoria para os equívocos que se instalaram, desde o “boom” (registado a partir da década de 80 do séc. XX) e daquilo que mais tarde se veio a assistir, em todas as latitudes do nosso país, sobre as tentativas de justificar certas decisões precipitadas ou sem nexo (como por exemplo a da criação de alguns novos trajes académicos), para isso arranjando, inventando e ficcionando dados pseudo-históricos, e arranjando supostos estudos e investigações que, na realidade, pouca “ponta têm por onde se lhe pegue”.


O caso dos trajes de caloiro são uma dessas realidades, encontrando nós, em várias tunas, pseudo-teses e argumentos para justificar, a posteriori quase sempre (com criativas colagens à “Dan Brown”), que determinada invenção foi inspirada num determinado traço regional, etnográfico, folclórico, histórico, místico, etecetera e tal.
E não se trata aqui, frisa-se, e bem, de classificar a beleza ou não dos trajes de caloiro. Não é essa a circunstância, o objecto ou cerne da questão aqui tratada, senão a de, muitas vezes, também colidirem esteticamente com o traje de tuno existente no grupo (outros há que não colidem, mas cuja justificação carece de base sólida, quando se quer conferir-lhe "pedigree" etnográfico, histórico e quejandos).


Outras vezes, como veremos, o facilitismo de “ler umas coisas na net” ou olhar “só de vista”  para, depois, interpretar sem grande cuidado, levam a equívocos.

Fique claro que as Tunas são livres de criar ou recriar um traje para os seus caloiros ou aprendizes, mas evite-se a tentação de alguns se armarem em José Hermano Saraiva, tentando arranjar uma linhagem a algo que "nem linho é", essa é que é a questão aqui em causa.
Mais vale não terem justificação nenhuma e ser uma "inovação" da própria Tuna do que alguns quererem atirar arreia para os olhos alheios, ao inventarem ou ficcionarem dados históricos.
É disso precisamente que se trata aqui, em primeira instância.


“O Traje de Carrega

O traje de carrega não é um traje académico. Goza de especificidade de um Grupo chamado Instituna, e não representa o traje Académico de Leiria. Representa sim um recém-chegado universitário que, não podendo ostentar um traje académico, quer pelas regras e hierarquia da Academia, quer pelas regras e hierarquia da Instituna, esta última o deixa acompanhar nas actividades da mesma, dando uma oportunidade às pessoas de aprenderem no terreno, subindo aos palcos, tocando, vivenciando festivais, actuações e demais representações exteriores e/ou em casa, sendo moldado consoante os valores e posturas que se coadunem com um Instituno e como digno representante da Academia de Leiria, in loco e dentro dos trâmites da coerência da imagem, sendo por isso, o traje de carrega um misto de prémio e teste para quem toma a decisão de o envergar, ciente das suas obrigações e direitos.” (1)


1- Desde logo podemos denotar um erro doloso e grave que fez escola de norte a sul do país (da esfera da Praxe): a de que um caloiro não pode trajar o traje académico. 
E toca de fazer consagrar em código isso sem nunca terem verificado da validade de tal premissa (e depois copiou-se de academia para academia, sem espírito crítico, mas no simples “Maria vai com as outras, feita tolinha”). 
O facto é que nunca a tradição proibiu que os caloiros trajassem. Assim sendo, qualquer código que diga o contrário, atenta à Tradição. Se era doutrina há uns anos por falta de informação, hoje,nomeadamente em Tuna, já vinha sendo tempo de rever esse mito (e o facto de Tunas não serem Praxe).


 2- Quanto à concepção, parece-nos bem conseguida, ao entenderem essa fase como a de aprendizagem, onde os caloiros necessitam de “aulas práticas”, traduzidas por acompanharem a Tuna.



“Em questão de imagem, a Instituna tinha uma lacuna que estava pendente: o “pijama” do traje de carrega. Pese
embora o facto de os caloiros sempre terem usado “pijamas” desde a sua fundação, numa reunião de Direcção em meados de 2006/2007 chegou-se à conclusão que esta indumentária não se coaduna com a imagem nem de um estudante Universitário, nem de sobriedade do trabalho que se queria desenvolver, nem da Instituna, nem tão pouco de um Politécnico que se queria de imagem renovada, de vanguarda, e numa ponte sóbria entre tradição e futuro. Convenhamos que não era benéfico tocar nos melhores e maiores Teatros e Palcos do País e do Mundo como aconteceu, perante diferentes públicos onde, por muito que a Instituna tocasse bem, a imagem dos pijamas “com 10 anos cobertos de vinho, porque era a tradição”, prejudicava a Tuna em questão de imagem. Não foi bom tocar 3 vezes para o Presidente da República, quer para o Dr. Mário Soares quer para o Dr. Jorge Sampaio, entre muitos outros ilustres, e os caloiros cumprimentarem as entidades de pijama cheios de manchas de vinho, rotos da “tradição e peso da história”.” (2)





 3- A questão da mudança merece elogio. Os pijamas (e outros do género) só ridicularizavam a imagem das Tunas, algo que foi moda nos primórdios, por contágio das praxes.
Como muitas outras, a Instituna percebeu-o, e bem, e o adágio popular adequa-se se dissermos que, nesta matéria, valeu mais tarde do que nunca.

Nada a obstar a que os caloiros possam ter um traje, mas desde que não sirva de passaporte para subir a palco (se é caloiro não é Tuno, ainda), e desde que não o justifiquem com base em argumentos pouco sólidos ou fantasiosos.
O problema aqui, mais uma vez, está precisamente na falta de distinção entre o que é foro da Praxe e o que é foro da Tuna – matéria que tem vindo a ser amplamente explicada em espaços especializados como o PortugalTunas, PraxePorto, As Minhas Aventuras na Tunolândia, entre outros.




“(…)As alterações efectuadas consistiram na mudança do tradicional pijama, cujos exemplares fazem parte da História e estão guardados como património físico, relíquia e deleite dos mais antigos, pelo denominado “traje de carrega” que consiste nas seguintes peças obrigatórias:

-  Meia branca até ao joelho;
 - Calção preto;
- Cinto preto com o emblema da Instituna, com o emblema da terra de onde o carrega é oriundo, e emblemas das terras de origem dos carregas anteriores que ostentaram esse cinto (que é passado de geração em geração);
- Camisa branca do traje, como único elemento de ligação ao Politécnico de Leiria, que nunca poderá estar visível a não ser debaixo do pólo preto de manga comprida;
- Pólo preto de manga comprida identificativo da Instituna, contendo o seu Brazão nas costas. (…)
 O porquê da escolha destas peças? A Instituna foi buscar à origem do fenómeno tunante a razão. Se a escolha do Traje Académico de Leiria tem em cada peça a sua identificação com os costumes locais e regionais, a peça do traje de carrega teve como influência não só o seu Politécnico, como o traje da Tuna no seu sentido tradicional na sua origem: Espanha. Não podia ser de outra maneira segundo a nossa visão, por uma questão de coerência e tributo.
O início da vida de Tuno começa como carrega, e deverá começar bebendo a tradição na sua origem, envergando o traje dos antigos “Sopistas e Trovadores” que numa antiguidade secular formaram os Tunos e as primeiras Tunas do Mundo, as Tunas Espanholas, algumas com mais de 200 anos de história.
em Espanha as únicas pessoas que envergam o traje académico são as Tunas. Nenhum estudante Universitário tem autorização para envergar um traje académico da sua cidade se não pertencer à Tuna da sua Faculdade/Cidade/Distrito Universitário, para se ter a noção do peso da Tuna no País vizinho, peso este que por cá também já se teve no passado, não chegando ao extremo da exclusividade do uso do traje académico, obviamente. Este traje espanhol, que está difundido no Mundo, nas Tunas Holandesas, Francesas, Sul Americanas, Centro Americanas e Portuguesas, é composto pelas seguintes peças: (…)” (3)

Um histórico pejado de erros.


4- Desde já se percebe haver aqui algo que leva logo a perguntarmo-nos: que origem é essa do fenómeno tunante?
Com efeito, na origem do fenómno (séc. XIX), não se reconhecem nem meias brancas, nem emblemas, muito menos um pólo preto ou brasões.
Querem fazer essa opção? Pois muito bem, mas evite-se teorizar sobre aquilo que se desconhece. Se não se sabe, não se inventa e passa a invenção por "verdade".



5- Outra coisa que pode considerar-se algo “infeliz” é escolher para traje de caloiro um traje de Tuno (ou dizer que foi isso), mesmo que de um outro país (e aqui, ainda por cima, o da pátria das Tunas). Manifestamente é desrespeitosa tal analogia e ligação. Diremos que foi uma escolha desadequada de argumentos. Além disso, nem sequer há traços evidentes disso.


6- Diz o povo que “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”, significando que o erro tem "perna curta".
Não apenas o traje de Tuno espanhol não provém de sopistas e trovadores, como nem sequer os Tunos são descendentes de sopistas, goliardos trovadores ou de uma civilização perdida da Atlântida.
Nesta altura, ainda andarem a contar “estórias da carochinha”, só por anedota.
Se não custar muito, sugiro leitura de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal". 


O traje de tuno Espanhol é um sucedâneo do traje inventado pela Estudiantina Espanhola (saído de um guarda-roupa de um teatro de Madrid), na segunda metade do séc. XIX (1878), devendo-se, mais tarde, ao SEU (Sindicato  Espanhol Universitário), criado pelo regime de Franco, a sua actual configuração (numa tentativa de aproximação ao ideário romântico do “Siglo de Oro”), e não esquecendo a introdução da Beca nos anos 50-60 do século passado.

7- Um outro enorme equívoco, é o de se pensar que o Traje de Tuno, em Espanha, seja o popularizado pela Estudiantina Fígaro, Estudiantina Espanhola  que foi a Paris em 1878, seja o actual, é réplica ou cópia de trajes estudantis, ou seja do Traje Académico dos antigos escolares. 
Nada mais falso!

Na década de 1830 é abolido e proibido o porte de traje académico em Espanha, o qual nunca mais será reabilitado, a contrário de Portugal onde, no século seguinte, a abolição do porte obrigatório não acaba com ele.
Em Espanha não há traje académico para estudantes! Desde 1838 que os estudantes não usam traje académico, ou seja há mais de 170 anos!

O traje a que se referem é o traje de Tuno, nada mais (embora a Beca também seja utilizada por outros grupos, como Coros Universitários e orquestras de plectro, também de cariz universitário – que a colocam por cima das suas roupas civis, quando actuam), traje esse que, na actual configuração terá uns 60 anos.


Concluindo.


Este foi apenas, e só, um mero exemplo de como a falta de informação, a falta de rigor e de conhecimento leva a que se invente e criem textos e teses ficcionadas. Não é especialmente a Instituna ,cujo texto (e só isso) aqui serviu , apenas,de exemplo,  ao ter replicado as mesmas imprecisões que ainda vamos encontrando espalhadas em site de tunas, pois daríamos um salto à Tuna de Económicas ou mesmo à centenária TAUC  e lá iríamos encontrar a mesma desinformação e os mesmos mitos, ao manterem  publicado nos seus sites (mesmo depois de terem sido múltiplas vezes alertados para o facto) o famoso texto do Nuno Camacho, que apesar de pejado de erros, foi copiado e recopiado por tantos, sem qualquer critério, espírito crítico ou cuidado, e dado como verdade - algo que só empalidece uma classe que tão pouco interesse mostra em saber da sua própria génese, como o atestam as reduzidas afluências aos ENT.

Poderíamos também aqui falar de outros argumentos fantasiosos para trajes de caloiro, como o da Sal&Tuna que consegue justificar ténis no seu traje de caloiro, por serem de Desporto, entre outras justificações pseudo-históricas (e já nem vamos ao grupo que veste de Kilt, porque é baixar muito o nível), só para citar alguns exemplos.


Parece fácil, a posteriori, colar umas “coisas históricas” para justificar o que foi “feito de cabeça” (o que nos deu na real gana) porque se achou que seria giro.

Quando se quer procurar algo que possa historicamente servir de modelo ou ser adoptado, quando se procura uma roupagem a “cheirar a história”, tal implica investigação e estudo sérios (e não interpretações falaciosas de azulejos, como sucedeu com o Tricórnio, ou de uma história que se ouviu) e, depois, a devida dose de bom senso para manter tudo dentro de parâmetros que balizam e definem o que é de Tuna daquilo que lhe é alheio (e hoje a definição do que é Tuna não é nenhum mito, está circunscrita e cabalmente comprovada).
E para quem quer saber algo mais sobre Tunas, e enquanto não adquire o "QVID TUNAE", pode sempre passar os olhos, para além dos blogues da especialidade, sobre os 3 artigos que foram publicados no blogue Notas&Melodias, resumo urdido pelo Eduardo Coelho, um dos especialistas nacionais sobre estes assuntos.

Fiquem os leitores cientes de que, por norma (em 99% dos casos, diríamos), nenhum traje de caloiro em Portugal tem justificação na tradição tunante ou em qualquer outra.
São, pois, uma novidade, ainda, dentro deste caminho reatado há 25 anos.


Seguem-se algumas fotos com trajes de caloiros  (ou projectos a caloiro) da Tuna, constantes nos sites e páginas de algumas tunas nacionais, que ilustram diversas abordagens e concepções a essa indumentária, nuns casos em maior contraste com o traje de tuno, noutros mais próximo (nomeadamente na cor); uns mais elaborados, outros mais simples.



Tuna do ISLA de Leiria






Tuna Médica (UBI)













.......................................................................
(1) In site da Instituna de Leiria, em linha: http://sites.ipleiria.pt/instituna/membros/
(2) Idem.
(3) Idem.
Nota: Queiram os leitores atentar que este artigo não trata de qualquer ataque ou menorização da Instituna, instituição que merece total respeito, mas tão só tratar do tema "Traje de Caloiro", tendo usado uma informação pública, constante do site em causa, (e servir de paradigma ao que sucede em muitas outras tunas) e pela particularidade da nomenclatura utilizada (Carrega).
Não haverá, por isso, espaço a celeumas ou polémicas com base em supostas honras ofendidas, seja de quem for.



As fotos constantes no artigo servem apenas, e só, para ilustrar a diversidade  de trajes de caloiro, reproduzidas tal qual  se encontram online (em domínio público), sem qualquer outro tipo de considerando ou conotação.

Traje de Caloiro em Tuna


Este artigo tomará por base um texto de uma das Tunas na nossa praça, a Instituna de Leiria, como alegoria para os equívocos que se instalaram, desde o “boom” (registado a partir da década de 80 do séc. XX) e daquilo que mais tarde se veio a assistir, em todas as latitudes do nosso país, sobre as tentativas de justificar certas decisões precipitadas ou sem nexo (como por exemplo a da criação de alguns novos trajes académicos), para isso arranjando, inventando e ficcionando dados pseudo-históricos, e arranjando supostos estudos e investigações que, na realidade, pouca “ponta têm por onde se lhe pegue”.


O caso dos trajes de caloiro são uma dessas realidades, encontrando nós, em várias tunas, pseudo-teses e argumentos para justificar, a posteriori quase sempre (com criativas colagens à “Dan Brown”), que determinada invenção foi inspirada num determinado traço regional, etnográfico, folclórico, histórico, místico, etecetera e tal.
E não se trata aqui, frisa-se, e bem, de classificar a beleza ou não dos trajes de caloiro. Não é essa a circunstância, o objecto ou cerne da questão aqui tratada, senão a de, muitas vezes, também colidirem esteticamente com o traje de tuno existente no grupo (outros há que não colidem, mas cuja justificação carece de base sólida, quando se quer conferir-lhe "pedigree" etnográfico, histórico e quejandos).


Outras vezes, como veremos, o facilitismo de “ler umas coisas na net” ou olhar “só de vista”  para, depois, interpretar sem grande cuidado, levam a equívocos.

Fique claro que as Tunas são livres de criar ou recriar um traje para os seus caloiros ou aprendizes, mas evite-se a tentação de alguns se armarem em José Hermano Saraiva, tentando arranjar uma linhagem a algo que "nem linho é", essa é que é a questão aqui em causa.
Mais vale não terem justificação nenhuma e ser uma "inovação" da própria Tuna do que alguns quererem atirar arreia para os olhos alheios, ao inventarem ou ficcionarem dados históricos.
É disso precisamente que se trata aqui, em primeira instância.


“O Traje de Carrega

O traje de carrega não é um traje académico. Goza de especificidade de um Grupo chamado Instituna, e não representa o traje Académico de Leiria. Representa sim um recém-chegado universitário que, não podendo ostentar um traje académico, quer pelas regras e hierarquia da Academia, quer pelas regras e hierarquia da Instituna, esta última o deixa acompanhar nas actividades da mesma, dando uma oportunidade às pessoas de aprenderem no terreno, subindo aos palcos, tocando, vivenciando festivais, actuações e demais representações exteriores e/ou em casa, sendo moldado consoante os valores e posturas que se coadunem com um Instituno e como digno representante da Academia de Leiria, in loco e dentro dos trâmites da coerência da imagem, sendo por isso, o traje de carrega um misto de prémio e teste para quem toma a decisão de o envergar, ciente das suas obrigações e direitos.” (1)


1- Desde logo podemos denotar um erro doloso e grave que fez escola de norte a sul do país (da esfera da Praxe): a de que um caloiro não pode trajar o traje académico. 
E toca de fazer consagrar em código isso sem nunca terem verificado da validade de tal premissa (e depois copiou-se de academia para academia, sem espírito crítico, mas no simples “Maria vai com as outras, feita tolinha”). 
O facto é que nunca a tradição proibiu que os caloiros trajassem. Assim sendo, qualquer código que diga o contrário, atenta à Tradição. Se era doutrina há uns anos por falta de informação, hoje,nomeadamente em Tuna, já vinha sendo tempo de rever esse mito (e o facto de Tunas não serem Praxe).


 2- Quanto à concepção, parece-nos bem conseguida, ao entenderem essa fase como a de aprendizagem, onde os caloiros necessitam de “aulas práticas”, traduzidas por acompanharem a Tuna.



“Em questão de imagem, a Instituna tinha uma lacuna que estava pendente: o “pijama” do traje de carrega. Pese
embora o facto de os caloiros sempre terem usado “pijamas” desde a sua fundação, numa reunião de Direcção em meados de 2006/2007 chegou-se à conclusão que esta indumentária não se coaduna com a imagem nem de um estudante Universitário, nem de sobriedade do trabalho que se queria desenvolver, nem da Instituna, nem tão pouco de um Politécnico que se queria de imagem renovada, de vanguarda, e numa ponte sóbria entre tradição e futuro. Convenhamos que não era benéfico tocar nos melhores e maiores Teatros e Palcos do País e do Mundo como aconteceu, perante diferentes públicos onde, por muito que a Instituna tocasse bem, a imagem dos pijamas “com 10 anos cobertos de vinho, porque era a tradição”, prejudicava a Tuna em questão de imagem. Não foi bom tocar 3 vezes para o Presidente da República, quer para o Dr. Mário Soares quer para o Dr. Jorge Sampaio, entre muitos outros ilustres, e os caloiros cumprimentarem as entidades de pijama cheios de manchas de vinho, rotos da “tradição e peso da história”.” (2)





 3- A questão da mudança merece elogio. Os pijamas (e outros do género) só ridicularizavam a imagem das Tunas, algo que foi moda nos primórdios, por contágio das praxes.
Como muitas outras, a Instituna percebeu-o, e bem, e o adágio popular adequa-se se dissermos que, nesta matéria, valeu mais tarde do que nunca.

Nada a obstar a que os caloiros possam ter um traje, mas desde que não sirva de passaporte para subir a palco (se é caloiro não é Tuno, ainda), e desde que não o justifiquem com base em argumentos pouco sólidos ou fantasiosos.
O problema aqui, mais uma vez, está precisamente na falta de distinção entre o que é foro da Praxe e o que é foro da Tuna – matéria que tem vindo a ser amplamente explicada em espaços especializados como o PortugalTunas, PraxePorto, As Minhas Aventuras na Tunolândia, entre outros.




“(…)As alterações efectuadas consistiram na mudança do tradicional pijama, cujos exemplares fazem parte da História e estão guardados como património físico, relíquia e deleite dos mais antigos, pelo denominado “traje de carrega” que consiste nas seguintes peças obrigatórias:

-  Meia branca até ao joelho;
 - Calção preto;
- Cinto preto com o emblema da Instituna, com o emblema da terra de onde o carrega é oriundo, e emblemas das terras de origem dos carregas anteriores que ostentaram esse cinto (que é passado de geração em geração);
- Camisa branca do traje, como único elemento de ligação ao Politécnico de Leiria, que nunca poderá estar visível a não ser debaixo do pólo preto de manga comprida;
- Pólo preto de manga comprida identificativo da Instituna, contendo o seu Brazão nas costas. (…)
 O porquê da escolha destas peças? A Instituna foi buscar à origem do fenómeno tunante a razão. Se a escolha do Traje Académico de Leiria tem em cada peça a sua identificação com os costumes locais e regionais, a peça do traje de carrega teve como influência não só o seu Politécnico, como o traje da Tuna no seu sentido tradicional na sua origem: Espanha. Não podia ser de outra maneira segundo a nossa visão, por uma questão de coerência e tributo.
O início da vida de Tuno começa como carrega, e deverá começar bebendo a tradição na sua origem, envergando o traje dos antigos “Sopistas e Trovadores” que numa antiguidade secular formaram os Tunos e as primeiras Tunas do Mundo, as Tunas Espanholas, algumas com mais de 200 anos de história.
em Espanha as únicas pessoas que envergam o traje académico são as Tunas. Nenhum estudante Universitário tem autorização para envergar um traje académico da sua cidade se não pertencer à Tuna da sua Faculdade/Cidade/Distrito Universitário, para se ter a noção do peso da Tuna no País vizinho, peso este que por cá também já se teve no passado, não chegando ao extremo da exclusividade do uso do traje académico, obviamente. Este traje espanhol, que está difundido no Mundo, nas Tunas Holandesas, Francesas, Sul Americanas, Centro Americanas e Portuguesas, é composto pelas seguintes peças: (…)” (3)

Um histórico pejado de erros.


4- Desde já se percebe haver aqui algo que leva logo a perguntarmo-nos: que origem é essa do fenómeno tunante?
Com efeito, na origem do fenómno (séc. XIX), não se reconhecem nem meias brancas, nem emblemas, muito menos um pólo preto ou brasões.
Querem fazer essa opção? Pois muito bem, mas evite-se teorizar sobre aquilo que se desconhece. Se não se sabe, não se inventa e passa a invenção por "verdade".



5- Outra coisa que pode considerar-se algo “infeliz” é escolher para traje de caloiro um traje de Tuno (ou dizer que foi isso), mesmo que de um outro país (e aqui, ainda por cima, o da pátria das Tunas). Manifestamente é desrespeitosa tal analogia e ligação. Diremos que foi uma escolha desadequada de argumentos. Além disso, nem sequer há traços evidentes disso.


6- Diz o povo que “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”, significando que o erro tem "perna curta".
Não apenas o traje de Tuno espanhol não provém de sopistas e trovadores, como nem sequer os Tunos são descendentes de sopistas, goliardos trovadores ou de uma civilização perdida da Atlântida.
Nesta altura, ainda andarem a contar “estórias da carochinha”, só por anedota.
Se não custar muito, sugiro leitura de "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal". 


O traje de tuno Espanhol é um sucedâneo do traje inventado pela Estudiantina Espanhola (saído de um guarda-roupa de um teatro de Madrid), na segunda metade do séc. XIX (1878), devendo-se, mais tarde, ao SEU (Sindicato  Espanhol Universitário), criado pelo regime de Franco, a sua actual configuração (numa tentativa de aproximação ao ideário romântico do “Siglo de Oro”), e não esquecendo a introdução da Beca nos anos 50-60 do século passado.

7- Um outro enorme equívoco, é o de se pensar que o Traje de Tuno, em Espanha, seja o popularizado pela Estudiantina Fígaro, Estudiantina Espanhola  que foi a Paris em 1878, seja o actual, é réplica ou cópia de trajes estudantis, ou seja do Traje Académico dos antigos escolares. 
Nada mais falso!

Na década de 1830 é abolido e proibido o porte de traje académico em Espanha, o qual nunca mais será reabilitado, a contrário de Portugal onde, no século seguinte, a abolição do porte obrigatório não acaba com ele.
Em Espanha não há traje académico para estudantes! Desde 1838 que os estudantes não usam traje académico, ou seja há mais de 170 anos!

O traje a que se referem é o traje de Tuno, nada mais (embora a Beca também seja utilizada por outros grupos, como Coros Universitários e orquestras de plectro, também de cariz universitário – que a colocam por cima das suas roupas civis, quando actuam), traje esse que, na actual configuração terá uns 60 anos.


Concluindo.


Este foi apenas, e só, um mero exemplo de como a falta de informação, a falta de rigor e de conhecimento leva a que se invente e criem textos e teses ficcionadas. Não é especialmente a Instituna ,cujo texto (e só isso) aqui serviu , apenas,de exemplo,  ao ter replicado as mesmas imprecisões que ainda vamos encontrando espalhadas em site de tunas, pois daríamos um salto à Tuna de Económicas ou mesmo à centenária TAUC  e lá iríamos encontrar a mesma desinformação e os mesmos mitos, ao manterem  publicado nos seus sites (mesmo depois de terem sido múltiplas vezes alertados para o facto) o famoso texto do Nuno Camacho, que apesar de pejado de erros, foi copiado e recopiado por tantos, sem qualquer critério, espírito crítico ou cuidado, e dado como verdade - algo que só empalidece uma classe que tão pouco interesse mostra em saber da sua própria génese, como o atestam as reduzidas afluências aos ENT.

Poderíamos também aqui falar de outros argumentos fantasiosos para trajes de caloiro, como o da Sal&Tuna que consegue justificar ténis no seu traje de caloiro, por serem de Desporto, entre outras justificações pseudo-históricas (e já nem vamos ao grupo que veste de Kilt, porque é baixar muito o nível), só para citar alguns exemplos.


Parece fácil, a posteriori, colar umas “coisas históricas” para justificar o que foi “feito de cabeça” (o que nos deu na real gana) porque se achou que seria giro.

Quando se quer procurar algo que possa historicamente servir de modelo ou ser adoptado, quando se procura uma roupagem a “cheirar a história”, tal implica investigação e estudo sérios (e não interpretações falaciosas de azulejos, como sucedeu com o Tricórnio, ou de uma história que se ouviu) e, depois, a devida dose de bom senso para manter tudo dentro de parâmetros que balizam e definem o que é de Tuna daquilo que lhe é alheio (e hoje a definição do que é Tuna não é nenhum mito, está circunscrita e cabalmente comprovada).
E para quem quer saber algo mais sobre Tunas, e enquanto não adquire o "QVID TUNAE", pode sempre passar os olhos, para além dos blogues da especialidade, sobre os 3 artigos que foram publicados no blogue Notas&Melodias, resumo urdido pelo Eduardo Coelho, um dos especialistas nacionais sobre estes assuntos.

Fiquem os leitores cientes de que, por norma (em 99% dos casos, diríamos), nenhum traje de caloiro em Portugal tem justificação na tradição tunante ou em qualquer outra.
São, pois, uma novidade, ainda, dentro deste caminho reatado há 25 anos.


Seguem-se algumas fotos com trajes de caloiros  (ou projectos a caloiro) da Tuna, constantes nos sites e páginas de algumas tunas nacionais, que ilustram diversas abordagens e concepções a essa indumentária, nuns casos em maior contraste com o traje de tuno, noutros mais próximo (nomeadamente na cor); uns mais elaborados, outros mais simples.



Tuna do ISLA de Leiria






Tuna Médica (UBI)













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(1) In site da Instituna de Leiria, em linha: http://sites.ipleiria.pt/instituna/membros/
(2) Idem.
(3) Idem.
Nota: Queiram os leitores atentar que este artigo não trata de qualquer ataque ou menorização da Instituna, instituição que merece total respeito, mas tão só tratar do tema "Traje de Caloiro", tendo usado uma informação pública, constante do site em causa, (e servir de paradigma ao que sucede em muitas outras tunas) e pela particularidade da nomenclatura utilizada (Carrega).
Não haverá, por isso, espaço a celeumas ou polémicas com base em supostas honras ofendidas, seja de quem for.



As fotos constantes no artigo servem apenas, e só, para ilustrar a diversidade  de trajes de caloiro, reproduzidas tal qual  se encontram online (em domínio público), sem qualquer outro tipo de considerando ou conotação.