Com já mais de 1 mês de confinamento, há que honestamente dizer que já pouca coisa empolga nas iniciativas tuneris online.
Aliás, estamos agora não apenas a ficar mesmo fartos de confinamento, como enfartados de "mais do mesmo".
Das poucas iniciativas que jogam num patamar superior, temos o já referido "TUNICES" (abordado no anterior artigo), bem como, a título de exemplo, o vídeo da Tuna Veterana do Porto (que não se limitou a mais do mesmo, mas produziu algo feito efectivamente "em directo" - sem playbacks corriqueiros, com dinamismo e com letra adaptada, com graça, à situação vivida).
Mas o que surgiu (e não foi programado em função da pandemia), como pedra no charco, foi o magnífico documentário sobre os 25 anos da TUIST (Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico, de Lisboa), sob o título "Vontade de ser - 25 anos TUIST".
E é, hoje, o assunto deste artigo, apropriadamente sob a designação "Vontade de ser...TUIST" (ser como ela, parecido com ela, parte dela, inspirado por ela..... conforme o ângulo ou todos eles).
Não há muito mais para dizer do que aquilo que já foi soberbamente abordado no "TUNICES" de ontem).
Cabe, aqui, apenas mencionar alguns aspectos que distinguem este documentário de outras produções multimédia tuneris que pululam na net.
O primeiro de todos é a autoria.
Não foi a tuna que escreveu o guião, o produziu, orientou ou decidiu que imagens, planos e aspectos retratar.
Inteligentemente, a TUIST deu carta branca à realizadora, Patrícia Pedrosa, daí resultando uma pequena obra de arte. Que sabia que estava em boas mãos é igualmente ilustrativo do critério de qualidade na escolha das pessoas com quem a tuna labora.
Tal permitiu um olhar exógeno, de fora para dentro, captando (e note-se a importância) aquilo que mais interessa ao público (algo que nem sempre se compatibiliza com o que interessa aos tunos/tunas).
Depois, a simplicidade narrativa, ora em zoom in ora em zoom out, onde se materializa plenamente aquele velho chavão de "gostava de ser mosca para ter visto".
Neste documentário somos mesmo essa mosca curiosa, discreta e, ao contrário das comuns, em nada perturba. Somos quase que levados a vestir a pele de um membro da TUIST e a vivenciar, como que presencialmente, os bastidores daquilo de que são feitas as grandes tunas.
A autora não caiu na tentação de mostrar vitrines de prémios, de elencar currículos, de pavonear grandes actuações em certames.
Procurou, antes sim, em diversos momentos, deixar adivinhar, quase que em jeito spoiler, o que rigor, organização, cumplicidade e compromisso inevitavelmente vão produzir.
Não se procurou, daí a importância da liberdade absoluta dada à autora, mostrar lugares comuns, entrevistar tudo e mais um par de botas, fazer do documentário um museu virtual de feitos e conquistas.
Procurou a autora captar o genuíno, o espontâneo e, de modo simples - mas genial, identificar-nos (levar a revermo-nos em muitas daquelas circunstancias) com os protagonistas.
Mais: não há personagens principais.
Apesar de mais ou menos destaque numa ou noutra figura, fica claramente a ideia de que é a TUIST o verdadeiro protagonista principal, não apenas nos momentos públicos, mas a TUIST em casa, sem máscaras.
Não menos importante está a necessária referência à qualidade da imagem e do som.
Apesar de vivermos na era digital e dos gadgets tecnológicos à disposição, não é menos verdade que a esmagadora maioria daquilo que é publicado nas redes sociais (sobretudo no youtube) é de péssima qualidade no que concerne à captação e edição.
Já a isso nos referimos em artigo, bem como mereceu especializada tertúlia no passado dia 13 de Abril.
"Vontade de ser" não é mais um vídeo, não é mais um documentário. É um trabalho feito com grande qualidade técnica, mais um dos raros oásis no deserto que caracteriza a produção multimédia tunante nacional.
Vasco da Câmara Pereira (o eterno "Véspera") ainda ontem dizia que, a isso, muito ajudou terem reconhecido os erros do passado (referindo-se ao menos conseguido trabalho sobre os 20 anos da TUIST), fomentando o desejo de produzir algo melhor.
E quando assim é, quando se tiram criticamente lições do passado, como disso é prova este magnífico documentário, apenas podemos aplaudir algo que ilustra igualmente a qualidade humana das pessoas.
O documentário serve também outro propósito: fazer memória.
Com efeito, houve preocupação em criar algo para memória futura, aspecto tão arredado da maioria da comunidade tunante.
"Vontade de ser" não podia ter sido melhor escolhido para título deste trabalho.
Depois de visto, dá vontade de rever (da minha parte vou em 3) e, creio, que certamente suscitará e inspirará, em muitas tunas e tunos, a vontade de "ser assim", de viver assim a tuna, de fazer desse modo.
Acredito igualmente, que possa despertar, em muitos estudantes ou futuros estudantes do IST, a vontade de ser membro da TUIST, de ser (e fazer) parte da sua história, comungar da sua mística e experienciar o que o documentário tão bem soube traduzir da imagem que se pretende da Tuna Portuguesa.
Parabéns à TUIST e um enorme abraço a todos os seus membros, de hoje e de ontem...amigos de sempre.
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