quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Livro - A França das Estudiantinas


Uma obra publicada em Outubro deste ano de 2019, e que aborda uma realidade até agora inexplorada, ao longo de mais de 200 páginas em formato A4.
O fenómeno das estudiantinas no território francês, mas igualmente nas suas antigas colónia e na francofonia.

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Mais de meio milhar de grupos detectados só em França (fora os demais países), com cerca de 300 documentos iconográficos a acompanhar, este é um livro inédito que revela um pouco mais sobre o amplo movimento que constituíram as orquestras de plectro com a designação "estudiantina" (que não se confinou à esfera Ibero-Americana nem sequer ao meio estudantil) em todo o mundo.

Feita breve nota à origem das estudiantinas, inicia o percurso pela presença (numa listagem por anos e locais visitados) da presença de estudiantinas españolas em França (trabalho pioneiro nesse capítulo), seguindo depois pelos primórdios dos grupos e apresentando o conceito musical que cedo balizou o significado de "estudiantina" como grupo musical com características próprias e como tipologia objectivamente circunscrita.


 

Posteriormente (e após abordar as muitas centenas de festivais musicais locais, nacionais e internacionais de/ com estudiantinas), apresenta, naquilo que será um segundo grande capítulo, a lista de evidências, por anos, encontradas de grupos com a designação "estudiantina" (desde a década de 1880 até finais do séc. XX).
Ainda neste grande capítulo, o tema do reportório e da discografia.

Uma terceira parte poderá englobar o caso das antigas colónias (especialmente do Magreb, embora chegue até ao Vietnam ou mesmo ao Canadá), o que alarga os horizonte e as balizas do que, até agora, se pensava ser o alcance do fenómeno.


O epílogo faz um súmula e apresenta números, por países, a par com alguns outros dados estatísticos (que não enfadam), e estabelece a ligação existente entre grupos apelidados de "estudiantina" e outros que, apesar de terem outras designações, fazem
parte da mesma família (tratando-se do mesmo embora com nomes diferentes).
Importante, também a lista que elenca, até inícios do séc. XX, os mais antigos grupos (Estudiantinas/Tunas) ainda em actividade - onde claramente se verifica que Portugal e França apresentam a mais antiga tradição ininterrupta.











terça-feira, 29 de outubro de 2019

Falar e fazer - Nos antípodas de uma concepção.


Não, não se trata de uma apologia do ego, nem pouco que se pareça.
Mas importa que seja dado o seu a seu dono, sem penachos, sem "folie des grandeurs", mas sendo, acima de tudo, honesto.
Todos temos direito a envaidecer-nos com o trabalho bem feito. Qualquer pessoa normal sente gosto e orgulho de um trabalho bem feito que é reconhecido, mesmo que com lapsos aqui, acolá.

Mas, volta e meia,  aparecem ressabiados a criticar o que é feito, dizendo que os tempos são outros - incompatíveis com a oferta que é produzida porque, pasme-se, a linguagem é jurássica e a malta "de agora" quer é outras formas de partilha de informação, outras plataformas, outros modos de fazer.

Outros modos de fazer... não fazendo coisa nenhuma, diga-se.

Murphy bem pode criar uma nova lei: "São sempre os mesmos a criticar sem fazer, e sempre os mesmos a fazer e a serem criticados por isso". 


 "Nunca serás criticado por alguém que esteja a fazer mais do que tu; antes serás criticado por alguém que esteja a fazer menos que tu". Nesta citação, atribuída a Steve Jobs, nem sequer podemos falar em "fazer menos", pois que, em boa verdade, os críticos que se manifestam (honra lhes seja dada, porque dão a cara - contrariamente a outros que "mordem pela calada"), achando que o que é feito nunca satisfaz, são pessoas sem qualquer obra feita.
Atiram postas de pescada, mas fazer...está quieto!

A verdade, e é uma infeliz realidade, é que são sempre os mesmos que encontramos a fazer, a apresentar, a criar conteúdos, a apresentar materiais, dados, informações.
A produção informativa e formativa que existe concentra o mesmo grupo restrito de pessoas, as quais não têm culpa da inércia de terceiros.
São sempre os mesmos que encontramos e a culpa não é deles; antes pelo contrário, ainda bem que há quem faça. Pena é não haver mais. Mas esses "mais" teimam em não aparecer (apenas uns "menos", armados em "mais").
Sempre os mesmos que encontramos a investigar, criar e/ou dinamizar portais, blogues, publicação de livros, criação de grupos e fóruns, páginas diversas, a produzirem conteúdos, artigos de investigação, a participarem em encontros, palestras, conferências, que encontramos como colaboradores de diversas entidades.... a custo zero para quem usufrui desse labor.

Quem faz não está isento de reparo, mas é estranho que essas críticas sejam atiradas por quem não possui qualquer credibilidade. Palavras sem obras são tiros sem balas. Muito barulho, muito fumo e, depois, desvanecida a névoa, ficam os mesmos de sempre porque os delatores, esses...rabinho entre as pernas.
Depois vêm as fáceis e costumeiras acusações de sobranceria de quem mais não tem do que acusar, agarrando-se a apreciações de forma e a fulanizações néscias, numa vitimização que procura apoios que escondam a sua própria insuficiência.

Acusados de "velhos do Restelo", muitas vezes em surdina, como pessoas que não compreendem o tempo actual (como se estivessem mortos), pretendendo que o que viveram nada tem a ver com o que é hoje a Tuna. Tudo artifícios estéreis, ignorando ou omitindo um facto: conhecem (porque estão e porque estiveram). Viveram como protagonistas (ensaiando, organizando certames, compondo temas, participando, liderando estruturas.....), mas também observam, estudam, contactam... com um mundo que ajudaram a edificar (no alvores do "boom") e que continua sendo o mesmo, apenas com mais e novos protagonistas, atravessando modas, tendências, altos e baixos.
Fazem sombra? Não. Nem fazem nem nunca estiveram à sombra, contrariamente a quem lá vegeta e se lembra, quando o rei faz anos, de deitar a cabeça de fora e piar.

Mas não é nada de novo. Há tempos foi publicado um artigo (por um desses que estão sempre e tem currículo para falar de cátedra) que abordava precisamente esta questão.

Há pessoas que, de umbigos desmesurados, ainda não perceberam que não existe monopólio sobre obra feita. O que existe são os que falam e, do outro lado, os que fazem (e podem falar com alguma propriedade).
Todos têm direito à sua opinião. Mas opinar para pôr em causa o trabalho meritório feito, carece de algo mais e terá credibilidade na exacta medida que vem acompanhada de obra feita.





Ora, argumentar com quem só manda bitaites é conversa estéril.
Como dizia um amigo (também daqueles que pode falar de cátedra), "Só há discussão quando ambos os lados estão em paridade (...) Opiniões, toda a gente tem; Infelizmente toda a gente as dá. E é por isso mesmo que raramente há discussão: quando só um dos lados apresenta factos (obra)...".

Por isso, quando aparecem os arautos dos novos tempos, pensando descobrir a pólvora, cheios de alternativas, de planos, de projectos...para "modernizar", trazer a Tuna ao séc. XXI - por contraposição com o que consideram "démodé" ou "obsoleto", só temos a dizer: "Força! Façam, apresentem, criem!".
Só que, quando a isso desafiados, quando se diz "Então façam!", fazem lembrar a história bíblica dos apedrejadores que começaram a sair um por um.
É que não basta clamar por novos design, novas plataformas, novas funcionalidades, novos layout, como se tudo se resumisse a trabalho de cosmética. É preciso ter conteúdos.
E para criar conteúdos é preciso queimar a pestana: ler, estudar, conhecer, investigar, comparar, escrever....fazer.

Concede-se que nem todos estão vocacionados, nem todos possuem disponibilidade, que outros não dispõe de "Know how" ou de interesse. Mas, pelo menos, e são a maioria, é pessoal que não se atira a disparar por invejoso belicismo.
Usualmente é malta que reconhece, como é devido, o trabalho feito, o mérito, esforço e procura enriquecer-se desse mesmo labor.
Outros criticam - muitos sem sequer aferir do trabalho.... muitos sem abrir uma página.

Falar é fácil. Sempre foi.
Mas a caravana passa, como sempre passou, porque, contas feitas, seremos pesados pelo que fizemos, sendo as boas intenções de boca atiradas para o esquecimento e os contestatários avulso enterrados sem lápide.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Comunidado de Apoio a um Investigador da Tuna

Terça-feira, 03-09-2019.

COMUNICADO DE APOIO A UM INVESTIGADOR DA TUNA:

Nos últimos dias, tivemos conhecimento de um conjunto de factos lamentáveis que merecem todo o nosso repúdio. O protesto legítimo perante uma situação injusta, feito em privado, por parte de um dos mais antigos e prestigiados investigadores da História da Tuna, e a exigência que fez de que lhe fosse apresentado um pedido de desculpas público deram lugar a uma grotesca campanha de assédio ao investigador visado através das redes sociais.

Ao publicar no Facebook um texto no qual se esquiva às responsabilidades e, portanto, sem apresentar as desculpas devidas, a outra parte implicada – a saber, Félix O. Martín Sárraga – deu origem a que mais de uma dezena de indivíduos tenham enviado mensagens insultuosas ao agravado.

Assim, nós, os investigadores abaixo assinados, manifestamos por este meio o nosso apoio ao nosso companheiro, assim como o nosso repúdio à forma de actuar do Presidente de Tvnae Mvndi ao longo do tempo, neste e noutros casos, nos quais distorce a verdade a seu favor, sem reconhecer os seus muitos e reincidentes erros de forma e conteúdo.

Assinado:
Ramón Andreu Ricart
José Carlos Belmonte Trujillo
Eduardo Coelho
Juan Antonio Díaz Sánchez
Fernando Fernández Martín
Jean Pierre Silva
João Paulo Sousa
Ricardo Tavares
Héctor Valle Marcelino

domingo, 1 de setembro de 2019

Da Estudiantina Española do Carnaval de Paris à Estudiantina Española Fígaro, 1878.


Não é de agora que a teoria de que a Estudiantina Española Fígaro é um "upgrade" da Estudiantina Española que esteve no Carnaval de Paris, em Março 1878.
Já tinha partilhado essa desconfiança em 2015, com Félix Sárraga, mas que acabou por ele preterida, não sendo abordada no artigo em que colaborei.
Na altura, achei muito curto que, após o sucesso da Estudiantina Española, no Carnaval de Paris de 1878, tenha havido tempo suficiente para, aproveitando a fama desse périplo pela capital francesa, um grupo ter surgido do nada e a tempo de criar tudo quanto foi necessário para iniciar, em cerca de 2 meses, uma tournée europeia.
Não passa de conjectura, mas alguns dados obtidos, permitem, pelo menos, analisar e explorar essa questão.


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Recordemos:

- A Estudiantina Española  regressa de Paris em finais de Março.
- Em finais de Maio (ca. 2 meses depois), temos a "Fígaro" em Portugal a dar concertos, daí seguindo (em Agosto) para Paris, Londres, Áustria, Alemanha, Itália...
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Ora, entre finais de Março e inícios de Maio, foi preciso arranjar elementos, confeccionar trajes (copiados/inspirados da Estudiantina Española), elaborar um repertório (suficientemente vasto) e ter os ensaios necessários.

Depois, era necessário estabelecer os contactos para firmar contratos com os locais (teatros, salas de espectáculo) onde iria apresentar-se, definindo alojamento, despesas, receitas (que a "Fígaro" é um grupo que vai para ganhar dinheiro, como qualquer outra companhia artística, independentemente de também fazer concertos caritativos).

Nesse tempo só havia correio e telegrafia e os promotores necessitavam quase sempre de se deslocar previamente para falar, aferir condições, assinar documentos. Isso levava tempo.

Foi possível tudo isso em 2 meses (nem tanto)?

Se foi, há que reconhecer que faziam melhor do que na actualidade, onde mesmo com Internet, telefone, mails, etc., dificilmente se consegue organizar a viagem de uma Tuna ao estrangeiro assim tão expeditamente.
Ainda hoje, formar uma Tuna de raiz,  ter ensaios com repertório musical exigente (peças instrumentais), ter traje próprio confeccionado, marcar digressão internacional a vários países, etc., é virtualmente impossível em 2 meses.

Na sua edição de 13 de Abril de 1878[1], o periódico francês "Le Monde Illustré", apresenta gravura (desenho de M. Vierge a partir de croquis de M. Urrabieta[2]) de uma serenata feita pelos estudantes de Madrid ao embaixador de França em Madrid, em reconhecimento do bom acolhimento feito em Paris à Estudiantina (mais adiante votaremos a isso).
Nessa altura, ainda nada se sabe da "Fígaro".


Além disso, ninguém conhecia a "Fígaro" para a convidar assim de repetente. Teoriza-se que se terá aproveitado da fama da Estudiantina Española, como que fazendo-se passar por ela - o que terá facilitado e agilizado as coisas.
É possível que possa ter havido esse aproveitamento, como é possível que, afinal, se tratasse de uma reconversão do grupo, com novos protagonistas, uma espécie de "trespasse".
E é esta uma teoria plausível: o tal "upgrade", com mudança de protagonistas, reajuste ao nome do grupo (e, quiçá - já que estamos no plano das conjecturas, o reaproveitamento dos trajes do primeiro grupo).
Se sabemos que a viagem a Paris e Londres estava a ser programada com antecedência (mais adiante o referiremos), como pode ter sido possível nada se saber? Teriam usado indevidamente o nome da Estudiantina Española ainda ela existia para contratualizar a sua ida ao estrangeiro (Portugal incluído)? 

Não se pode descartar essa possibilidade, especialmente quando confrontados com o  seguinte artigo, que abaixo apresentamos, de um periódico português que fomos encontrar na Biblioteca Nacional Brasileira:



Repare.se que o artigo refere explicitamente que a "estudantina hespanhola DEU LOGAR á organisação de uma sociedade de 22 professores que formaram em Madrid uma orchestra de bandurras e guitarras (...) o sr. Juan Molina procura contratá-los para os apresentar em Paris e Londres. Se o contrato se podesse effectuar a tempo de poderem vir a Lisboa, era uma excelente acquisição".

Sabemos que a expressão "dar lugar" pode ser lida sob três perspectivas: uma resultando noutra, que uma veio ocupar o lugar da outra ou que uma surge a pretexto (inspirada) na primeira.


Jornal da Noite, 8.º Ano, N.º 2231, de 22 e 23 de Maio de 1878, p.2.

Num jornal brasileiro (com "delay") diz-se que a Estudiantina que vem a Lisboa é a mesma
que esteve em Paris. Golpe publicitário ou estamos perante um grupo sucedâneo?
(O Cruzeiro (RJ), Ano I, 10 de Junho de 1878,  N.º 160, p.2.)


Estranha é a referência ao facto da "Fígaro" ter dado diversos concertos antes de vir para Portugal, já que as investigações até agora conhecidas, a par da nossa pesquisa, mostraram-se infrutíferas quanto a evidências explícitas da "Fígaro" em concertos.  Não se encontram referências nem à "Fígaro" nem ao seu maestro "Dionísio Granados", antes da presença em Portugal (nenhuma notícia de se estar a preparar, de estar em ensaios ou se prever a sua ida ao estrangeiro - algo pouco comum, diga-se). Seriam os tais concertos os dados, afinal, pela Estudiantina Española?

Da nossa investigação[3], sabemos que a Estudiantina Española, regressada de Paris, dá concerto no "Teatro Y Circo del Príncipe Alfonso", em Madrid", a 3 de Abril[4].

Depois surge uma notícia curiosa que refere que a Estudiantina Española que foi a Paris foi dissolvida:

"Se ha dissuelto por completo la estudiantina que estuvo en Paris.
Mejorará el estado sanitario"[5]

A última frase parece evidenciar que o autor da notícia tinha algo contra o grupo. Além disso, a verdade é que não se dissolveu, pois a Estudiantina Española volta a apresentar-se no dia 10 de Abril, no "Teatro de la Opera",  em concerto a favor da Associação Francesa de Socorros[6] e novamente no "Teatro Circo del Príncipe Alfonso" (também apelidado "Circo Rivas") em benefício dos estabelecimentos de caridade de Paris[7].

Estudiantina Española que esteve em Paris.
La Academia, Tomo III, N.º 14, de 15 de Abril de 1878 p.212


Estudiantina Española que esteve em Paris.
La Academia, Tomo III, N.º 16, de 30 de Abril de 1878, p. 253.


Temos igualmente uma notícia interessante que afirma que há uma nova estudiantina (pelos vistos de cariz misto):

"Teatro y circo del Príncipe Alfonso - Compania Arderius. - Universidad libre de enseñanza libre. - Curso de 1878. - En vista del extraordinario cuanto justo éxito obtenido po rla estudiantina española en Paris, la empresa de este teatro, deseosa siempre de colocarse á la altura de las circunstancias, ha contratado otra estudiantina que no duda merecerá de los madrileños la misma acogida que tuvo la otra de los praisienses.
Nota. Para evitar interpretaciones erróneas, esta estudiantina dara serenatas á toda la clase de personas, sin distincion de sexos, edad, ni opinion política.
Catedrático universal de mundologia, don Franscisco Arderius.
Alumnos y alumnas
Nombres y asignaturas: ..."[8]

Passando os olhos pelas lista de componentes, se percebe ser um grupo misto, de cariz  burlesco ("Arderius" aparece na imprensa caracterizado com bufon).

No dia 25 de Abril, temos a Estudiantina Española a dar concerto no Teatro Príncipe Alfonso"[9], assim como no dia 26[10] e no dia 30 (a favor dos náufragos da costa cantábrica)[11].

Sabemos que nessa altura, havia 7 estudiantinas em Madrid[12] (as quais se reuniram para concerto em favor das vítimas de um naufrágio ocorrido na Costa da Cantábria - já mencionado):

- Estudiantina intitulada Tuna de San Carlos;
- Antigua Tuna de Sán Carlos;
- La Simpática;
- Mefistófeles;
- Estudiantina Española;
- la Tuna escolar
- El Carnaval español.

Não há, como se pode ver, até esta altura (e já estamos no último dia de Abril), qualquer referência à existência de uma Estudiantina Fígaro. Parece, no mínimo, estranho, tendo em conta que o artigo português refere explicitamente que a "Fígaro" tinha já dado vários concertos, considerados grandes triunfos.
Dar-se-ia o caso da "Fígaro" ser um projecto organizado em segredo e que só se deu a conhecer quando partiu para Portugal? Pode ser que sim, mas parece pouco plausível que nenhuma notícia se encontre anteriormente sobre ela.

No dia 5 de Maio a Estudiantina Española está em Arranjuez, a dar concerto para a família real[13].
Sabemos, entretanto, mais 2 nomes de membros da Estudiantina Española que esteve em Paris (além de Zabaleta e Castañeda), e são eles os senhores Clemente Ibarguren e Eugenio Urranduraga[14].



La Correspondencia de España, Ano XXIX, N.º 7443, de 09 de Maio de 1878, p.2.


Em publicação de 15 de Maio, surge informação que adianta que foi dissolvida a Estudiantina que foi a Paris, e onde se afirma que o concerto dado á família real em Arranjuez, marcou a última aparição do grupo[15].
Em 16 de Junho (já a "Fígaro" estava a actuar há quase 1 mês em Portugal), é recebida, pelo Rei, uma comissão da "disuelta estudiantina Española"[16].

A primeira notícia que encontrámos da "Fígaro", em periódicos espanhóis, data de 21 de Junho, referente à sua passagem pelo Porto[17].


Não deixa de ser confuso.
Não podemos garantir a pés juntos que uma coisa deu na outra, mas dizer o contrário também carece de provas mais concludentes.
É estranho que, até à aparição da "Fígaro" em Portugal, pouco o nada se saiba dela antes e que possibilite traçar uma linha cronológica inequívoca.
Sabe-se que terá sido inicialmente contratada para ir a Paris e Londres (em Agosto), mas que se terá conseguido que antes passasse por Lisboa (onde esteve de Maio a fins de Julho)[18].
Portanto, a teoria de que a Estudiantina Española, que foi ao Carnaval de Paris possa, de alguma forma, ter evoluído para a "Fígaro" não é, de todo, descabida.
Faltam dados para esclarecer tacitamente todo este "mistério" que recai sobre esta fase "anónima" da "Fígaro, antes do seu primeiro concerto em Portugal, a 27 de Maio de 1878.


Fica aberta a questão para futuras linhas de investigação.





[2] Seria membro da Estudiantina? É muito provável.
[3] Que delimitámos entre a chegada da Estudiantina Española do Carnaval de Paris e a chegada da "Fígaro" a Lisboa.
[14] Boletin de Loterias y de Toros, Ano XXVIII, N.º 1420, de 13 de Maio de 1878, p.2 ; El Globo, Ano IV, N.º 943, de 13 de Maio de 1878, p.4 e que se pode contrastar com MARTÍN SÁRRAGA, Félix O. - Crónica del viaje de la Estudiantina Española al Carnaval de París de 1878 según la prensa de la época. Tvnae Mvndi, Artículos de Investigación. Vol. 2., 2016, pp. 5-55.
[18] Diário de Notícias (Lisboa), 14.º Ano, Nº 4414, de 27 de Maio de 1878, p.1.






sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O Efémero tuneril


Os anos vividos trazem certamente um olhar diferente sobre as coisas.
Aliás, o distanciamento que o tempo, e por vezes a própria vida, facultam, trazem-nos, por outro lado, aquilo a que se chama de olhar isento.

Muitos de nós viveram, porque próprio da idade e contexto, a febre da premiação e a ilusão de que um currículo repleto de prémios em certames conferiam ascendente e eram, de certa forma, a afirmação cabal da maioridade artística da nossa Tuna.

Não há como fugir a isso: acreditámos que muita da legitimidade inter-pares se alcançava pela ostentação de uma lista de certames ganhos; uma espécie de "pedigree" (ou, em casos mais raros, uma legitimação para "mijar fora do penico").
 
É óbvio que há um conjunto de certames nacionais que se afiguram como uma espécie de "Grand Slam", dada a sua historicidade, e que ter ganho um deles, ou todos, coloca o grupo como que num "Walk of Fame" tuneril.
Não podemos negar a importância, embora relativa, que vencer prémios em festivais de tunas (nomeadamente em alguns) confere, pelo menos a curto prazo.
Também não se pode minorar, de todo, que foi a competição que levou muitas das nossas Tunas a melhorarem e isso ter contribuído para alcançar, tantas vezes, patamares de excelência e.....outras tantas vezes, patrocinar deturpações e desvios da tradição tuneril (há que o dizer e reconhecer sem pejo algum).


Mas, a médio e longo prazo, todas essas vitórias, todas essas taças, campeonatos, derbys são efectivamente lembrados? Servem que propósito para lá do fim imediato em si próprio?
Vanitas vanitatum.
A Tuna é bem mais do que isso e o seu prestígio, aquilo que, aliás, a ela nos agarra, está bem para lá disso, mesmo se, no quotidiano do empírico strictu, a premiação seja o motor que alimenta e agrega.
Com o tempo, vamos inexoravelmente elegendo outros cernes e o que parecia essência passa para segundo plano (quando não é mesmo obliterado).


Se perguntarmos, muito honestamente, a qualquer tuno, para elencar, assim de repente (sem consultar a net) as tunas vencedoras de um FITU, de um TUIST, FESTUNA, Tágides, CELTA, Bracara Augusta, Canto da Sereia, Oppidana, Lethes, Bocage ou FITUA, entre outros, é muito provável que a coisa fique muito curta. Lembrar-se-á certamente daquele(s) em que participou ou assistiu e um ou outro mais, assim avulso. Poderá, certamente, também lembrar-se de alguns prémios nesses certames, especialmente os da sua tuna - caso tenha participado e ele tenha estado.

E retenho a última parte da frase anterior "ele tenha estado".
Sejamos honestos: salvo as tunas ainda na infância, a larga maioria dos muitos prémios ganhos pela própria tuna também se vão diluindo na memória dos próprios membros. Se os viveram, é menor o índice de falhas de memória (mas que acabará por falhar também). Se fazem parte da Tuna em altura posterior, é mais que provável que pouco mais saibam do que aquilo que qualquer um pode ler nos historiais publicados (na verdade, duvido, até, que alguém ande a ler a lista de prémios publicadas, seja de que tuna for).

Isto para dizer o quê?
Simplesmente para constatar um facto: os prémios, o longo currículo (que hoje já não caberia nos libretos que antigamente os certames editavam), acabam por ser mais para consumo interno do que algo a que as demais Tunas prestem atenção (e o público em geral, então, passa totalmente ao lado, diga-se).
Na verdade, salvo o arquivista, o tipo "nerd" que adora decorar a história da Tuna ou aqueles que, como alguns procuraram desastradamente fazer em tempos, patrocinam um suposto "Ranking ATP de Tunas", ninguém quer saber.
Na verdade, a galeria da fama, que muitas das tunas orgulhosa, e merecidamente, ostentam nas suas sedes, acaba por ser mais um tipo de rito interno para elevar a auto-estima e impressionar os novatos.
Olhar para a história gloriosa das conquistas e apelar ao sentido de compromisso e dever de dar continuidade ao legado, é a principal função das vitrines que narram prémios, histórias......memórias que deixarão contudo de ser conhecidas, quando os protagonistas deixarem de as contar.
Se o enfoque for excessivamente colocado na ideia de que servem para recompensar o esforço dos tunos nos ensaios, é capaz de ser, por outro lado, um edificar em terra argilosa. 

Se perguntarmos aos tunos deste século, quem venceu a primeira edição competitiva do FITU, do Bracara, do CELTA, do FITA, do FITUV ...
Isto para dizer que a Tuna não vale pelo número de taças a ganhar pó nas vitrines. Certamente que uma tuna normalmente vencedora ao longo de muitos anos, em diversos certames, tem menor probabilidade de cair no esquecimento, mas há muitas mais coisas que concorrem para dar nome, dar fama e preservar a memória.
Ninguém certamente tem ideia alguma da longa lista de prémios da EUC, mas certamente que a conhecem pelos seus temas[1].

E a par de temas que se tornam intemporais[2], a organização do único concurso de Tunas em Portugal, como é o caso da TUP[3] (OUP)[4], ou ainda a "Mulher Gorda", que a EUL transformou num hit nacional.
Uma Tuna Académica de Évora, que organizou o primeiro ENT (Encontro Nacional de Tunantes), ou a Templária, que acolheu o primeiro jantar do PortugalTunas, ou, ainda, o CD duplo do II e III TUIST.
Na verdade, quando se olha a Tuna portuguesa sob o ponto de vista de factos históricos notáveis, a larga maioria não será certamente preenchida com vitórias e premiações em certames.
Quem estudar as tunas do "boom" daqui a 100 anos, não irá certamente elencar os prémios.

O que será deixado a perdurar?
As fontes mais resistentes serão as fornecidas pela imprensa (pelso periódicos[5]), por libretos, por documentos, fotos impressas[6], por livros (memórias, crónicas, estudos, foto-biografias[7]...), pela discografia editada... Duvido muito que seja a Net o repositório intemporal (tanto assim é que a aventura de elaborar o "Qvot Tvnas" demonstrou precisamente que o que se mete na Net tende a desaparecer em poucos anos).

O que coloca, então, a Tuna no memorial granítico do tempo?
Certamente que um pouco de tudo, mas especialmente o que conseguir ficar impresso[8], o que sobreviver à carne[9]. Não será, estou certo, a parte do currículo relativo a prémios.

Esta longa reflexão vai na linha do que tenho defendido há vários anos, na exacta medida em que vamos, com o tempo, ganhando uma certa equidistância das coisas: há uma "festivalite" instalada que tem marcado de maneira quase ominipresente, a vivência do negro mester.
Se ela é própria em determinado momento da vida (e tem o seu espaço e as suas virtudes), deixá-la fluir depois disso tira-nos a possibilidade de ver para lá desse curto e ilusório horizonte.

Importa olhar a Tuna não como uma equipa competitiva cujo fito é amealhar taças. Isso, como é facto, não é senão glória passageira e efémera.
O que deixaremos de nós, depois de nós?









[1] Os seus dois primeiros discos são, na verdade, o seu maior legado intemporal.
[2] Como o "Ondas do Douro" da TUP ou "Barco de Aveiro" da TUA, entre outros.
[3] Que também pode ser lembrada pro ter sido a primeira a vencer um certame em Espanha.
[4] Assim como a tuna que o venceu: TAULP.
[5] Que os fundos, bibliotecas e hemerotecas preservam.
[6] Publicadas em revistas, livros, jornais ou simplesmente guardadas em álbuns.
[7] Algumas tunas possuem já algum material publicado.
[8] O que se conseguir, de algum modo, preservar (e manter público) digitalmente por décadas.
[9] Recorda-me isto uma passagem do filme "Tróia", em que a mãe de Aquiles lhe diz que se ele não partir para a guerra, terá descendência e, quando morrer, será lembrado pelos filhos e pelos netos, mas depois dos bisnetos cairá no esquecimento. Mas que se partir, morrerá, mas será lembrado para a eternidade (porque será narrado nas crónicas, nos contos, nos romances, nos livros de história).

A palavra Tuna com origem em "Thune".


A palavra TUNA é unanimemente considerada pelos filólogos, linguístas e dicionaristas, como tendo origem no termo "Thune", usado na gíria francesa a partir do séc. XVI/XVII (embora o termo seja anterior e usado desde o séc. XIII, pelo menos) para designar a esmola e, por arrasto, os falsos mendigos ("thuneurs" ou "chevaliers de la thune") governados em Paris por um "Roi de la Thune" (rei da mendicidade), senhor da Côrte dos Milagres (porque, de dia, eram mendigos aleijados que mendigavam e, à noite, regressando ao bairro, ficavam "curados milagrosamente").
Sobre isso fala (embora sem se alongar) o seguinte artigo do "Le Figaro":




Esta teoria está contemplada e pormenorizadamente explicada em Qvid Tvnae (entre outras teorias também apresentadas), nas páginas 65-84, sendo, aliás, a única obra, até hoje, a explicar os prós e contras de cada uma das teorias em torno da origem da palavra TUNA.
Podem conferir.

Continua "Thune" a ser a mais sólida e cientificamente comprovada origem do termo  TUNA.

Mais tarde, como sabemos, o termo passará a ter outras significâncias, todas elas enraizadas na ideia da mendicidade, da busca de esmola e sustento ("correr la tuna" - ir em busca da esmola), a vida de ócio e vagabundagem (baseada na obtenção de sustento sem trabalho) e, desde o séc. XIX, designando grupos musicais com alfobre nas "estudiantinas" de Carnaval.