quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Memória Portuense de TUNANTE - 1889 e 1890.


TUNANTE - emprego castiço que se vai perdendo na memória.

Em "QVID TVNAE?", a primeira obra a fazer o levantamento da evolução da palavra Tuna - e outras palavras daí derivadas, em dicionários/enciclopédias, verifica-se que palavra "tunante" está claramente ligada à ideia de vadiagem, ociosidade, malandrice, entre outros significados mais ou menos sinónimos. A seguir, transcrevemos, da obra referida[1], o significado que "Tunante" foi apresentando em diversas publicações (não todas), apenas evidenciando a palavra "tunante" (omitindo as outras), para não tornar extensa a exposição.

1739 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 375:
Tunante. part. act. del verbo tunar. El que tuna, ò anda vagando. Lat. vagus, vel vagam vitam agens. ESTEB. cap. 4. Como hombre mas experimentado, con tono fraternal nos informo en la ceremonia, y puntos de la vida tunante.
1879 - Rafael Bluteau (acresc. António de Moraes Silva), Diccionário da Lingua Portugueza, T. II,        L‑Z, p. 497.
Tunante, f. m. o embusteiro, vagamundo que anda vadiando, e comendo o que póde com enganos, e dolos.
1899 - Real Academia Española, Diccionario de Autoridades, p. 991 (reed. 1914, p. 1017, 2):
Tunante. p. a. de Tunar. Que tuna. Ù.t.c.s. || 2 adj. Pícaro, bribón, taimado. Ù.t.c.s.
1936 – 1960 - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia                                            Limitada, Lisboa e Rio de Janeiro, Vol. XXXIII:
TUNANTE, adj. e s. 2 gén. Vadio, ocioso; que anda à tuna: “Andaríamos todos, os da minha ronda e eu,…como tunantes de Goya… rebuçados em longas capas negras, que nos cobririam a cara…”, Ramalho Ortigão, Últimas Farpas, cap. 11, p. 188; “Um bêbado tunante, / Pálido, e escalavrado”, Guerra Junqueiro, A Morte de Dom João, III, 3, p. 165; “Numa tasca beberricámos, pois seria imperdoável que tunantes não prestassem seu preito a Baco”, Aquilino Ribeiro, Uma luz ao Longe, cap. 9, p. 180.
2001 - Academia das Ciências de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian, Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Editorial Verbo, II Vol., G‑Z, p. 3652:
Tunante1. Adj. m. e f. (Do cast. tunante) 1. Que anda na malandragem, na vadiagem. ≈ VAGABUNDO. 2. Que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, TRAMPOLINEIRO, TRAPACEIRO. 3. Designação da pessoa, em especial do estudante, que faz parte de uma tuna ou agrupamento musical.(…)
Tunante2. s. m. e f. (Do cast. tunante). 1. Pessoa que anda na vadiagem, na ociosidade. ≈ TUNA, VADIO. Pessoa que engana ou ludibria terceiros. ≈ EMBUSTEIRO, MAROTO, TRAPACEIRO. 3. Pessoa, especialmente estudante, que faz parte de uma tuna musical (…).
2003 - Instituto António Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Temas e Debates, Lisboa, T. III, Merr‑Zzz, p. 3606:
Tunante adj. 2g.s.2g (1789 cf. MS) 1 que ou quem anda à tuna, vadiando (diz‑se especialmente de estudante), vagabundo, tunador. 2 p. ext. que ou quem faz trapaças, embusteiro, trampolineiro. 3 HIP que ou quem tem má índole (diz‑se de animal). 5 TAUR (1899) que ou o que já conhece a lide e revela má intenção (diz‑se de touro).

Em Portugal, o termo teve, pelo menos desde o séc. XIX, um sentido claramente pejorativo.
Hoje em dia, já quase caiu em desuso, sendo "agora" reabilitado pelas tunas académicas, mas com outro significado.
Contudo, na região norte (periferia do Porto, nomeadamente) ainda há quem utilize ou se lembre de ser utilizado "tunante", empregando-se para classificar outrem como malandro, maroto, mal-comportado, trapaceiro, vadio ou vagabundo.
Segundo testemunha o meu amigo Eduardo Coelho, era ainda corrente, há algumas décadas, nessa zona do país, alguém se referir a outro (sobretudo garotos) dessa forma:
- Ah, seu tunante! [Ah, seu canalha / seu traste, seu malandro...].

Não deixa de ser curioso que a palavra "canalha", usada para definir alguém como pessoa falsa, que não presta (como criminoso, até); também seja utilizada, como substantivo colectivo, para nos referirmos a um grupo crianças pequenas.
Ex. 
A canalha está a brincar na rua [As crianças estão a brincar....]
ou 
A minha canalha está a dormir [os meus filhos estão a dormir]

Por sua vez, "tunante", tal como "canalha", aqui a ser utilizada para mencionar crianças, mas crianças vagabundas, que andam a vadiar na rua porque fugiram de casa dos pais.

Nota: por vezes também se usa "canalha" como substantivo comum singular para designar uma só criança (mas é mais raro), usualmente do sexo masculino: "Aqui o meu canalha [filho/filhote] gosta de legumes!"

E é isso mesmo que aqui se traz como assunto: o facto de surgir em periódicos, o termo "Tunante" (dando título aos artigos), para relatar precisamente a prisão de jovens que fugiram de casa e deambulavam pelas ruas e foram apanhados (para depois serem entregues, pelas autoridades, aos pais).

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 218, de 14 de Setembro de 1889, p.1.

Jornal do Porto, XXXI Anno, N.º 231, de 29 de Setembro de 1889, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 57, de 8 de Março de 1890, p.2.

 Jornal do Porto, XXXII Anno, N.º 48, de 26 de Fevereiro de 1890, p.2.



É um caso assaz curioso, pela forma como um jornal utiliza tal expressão  (e não outra), e que se deve precisamente ao facto do termo ter prevalecido no uso quotidiano do Porto (e sua região), contrariamente a Lisboa, por exemplo, onde não se encontra tal designação para estes casos.

Fica esta curiosidade sobre um termo que tantos conhecem, mas certamente desconheciam a sua história e significado original.





[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. Euedito, 2011-12.

domingo, 5 de agosto de 2018

A COLABORAÇÃO ENTRE INVESTIGADORES É FUNDAMENTAL



De facto, é essencial que assim seja. Mas também pressupõe respeito e honesta partilha. Ou seja, quando um colega descobre e partilha um documento, um dado, um facto...então que os outros que vão utilizar essa informação mencionem quem a descobriu e partilhou.

Para que haja colaboração, tem de haver partilha honesta, ou seja não negarmos dados que nos são pedidos e referir os colegas que nos facultaram informação.

Tenho sido confrontado com algumas situações menos simpáticas de quem usa o que investigo, escrevo, partilho e publico - sem contudo haver as devidas referências - e, depois, nega partilhar comigo informações que lhe peço.
E não sou só eu que notei isso, tal como não sou o único a sofrer do mesmo problema.

"Alguns são grandes, mas ao ombro de gigantes", diz o ditado; e longe de me achar um Golias, também agradeço que, quando me usam como degrau, tenham a gentileza devida. 

Usar os outros e o seu trabalho exige, pelo menos, um mínimo de urbanidade.

"A colaboração entre investigadores é fundamental", a que se responde com o ditado: "Bem o prega Frei Tomás que o diz mas não o faz".

sábado, 14 de julho de 2018

A palavra Tuna (andar à tuna) - Primeira referência num dicionário.


A palavra Tuna (andar à tuna) - Primeira referência num dicionário.



A primeira vez que a palavra "Tuna"  aparece grafada num dicionário, com o significado de vida "holgazana" (vadiagem, ócio, vagabundagem - maganear: "andar à boa vida") é num dicionário português, em 1713.
Este dado é, demasiadas vezes, ignorado por uma comunidade internacional tuneril, a começar pelos seus investigadores, muito centrada na matriz da diáspora espanhola (que constitui a esmagadora maioria das tunas estudantis no mundo).



Para quem não pertence a esse universo, poderá, porventura, cair no equívoco de, ao ler os estudos existentes e diversas publicações que aparecem pela Net sobre o assunto, ficar a pensar que o vocábulo "Tuna", com o sentido de vadiagem e vida livre e de folguedos, aparece inicialmente no Diccionario de Autoridades ou qualquer outro em Espanha. 
Aliás, o mesmo risco corre a comunidade Hispano-americana (dado que, como é natural, lê preferencial, e quase exclusivamente, o que vem publicado na língua de Cervantes - onde esta informação está omissa).

Portanto, em abono de um esclarecimento correcto, holístico e isento, que elucide qualquer pessoa, sejam tunos ou não, independentemente da sua geografia, fica aqui essa informação:

A primeira vez que o termo "Tuna" surge num dicionário, ligado a "andar à tuna" ("vida holgazana y libre"), é em 1713, na obra de Rafael Bluteau:  Vocabulario Portuguez e latino (Volume VIII de T-Z), p. 325:

"TUNA. Andar à tuna. Andar maganeando[1]. Vid. Maganear. Vid. Tonante."



Vocabulario Portuguez e latino (Volume VIII de T-Z) de 1713. Rafeal Bluteau Edição impressa de 1721, p. 32.


Vocabulario Portuguez e latino (Volume 08 de  Ta Z). Bluteau, Rafael (1713). Edição impressa de 1721.


O que é muito interessante é que, para além de remeter para "Tonante", o mesmo dicionário estabelece claramente que "Tonante" está co-relacionado com "Tunante" (apresenta-os como sinónimos, até), com o significado de "andar à tuna" que, no contexto da época, em castelhano, mas também em português, remete para burlão, embusteiro (o significado de "embuste", volta a ser sublinhado na edição de 1789 do mesmo Rafael Bluteau), no intuito de arranjar sustento (seja como simples pedinte, seja através de enganos, entre outros) e que, na língua francesa aponta para "Truand" (pedinte, vadio, bandido), estabelecendo uma clara relação com a origem de Tuna em "Thune", conforme tese explicada e documentada em Qvid Tvnae? (2012).


Apresentamos, de seguida, a parte desse dicionário que apresenta o significado de maganear (e família), na edição portuguesa de 1728,  que expressa o sentido de "andar à tuna", com uma carga pejorativa (andar "à boa vida" nas tavernas, com prostitutas; ser pessoa de má índole, pouco recomendável pela vida libertina que leva):
Vocabulário Portuguez e Latino, Rafael Bluteau - volume 5, 1728, p. 245.

Em 1739, surge no Diccionário de Autoridades (Espanha), com o tal significado de "vida holgazana, libre y vagamunda" e com a palavra Tunar e Tunante ligadas a esse significadode andar a vaguear de lugar em lugar

Em 1789, consta do Dicionário da Língua Portugueza (sucedâneo dos anteriores dicionários portugueses).



Diccionario da Lingua Portugueza (Reformado e Accrescentado por António Moraes Silva). Tomo II, L-Z. Lisboa, 1789.


Interessante, igualmente, é que, ao contrário do que sucede com o Diccionario de Autoridades (Real Academia Espanhola) de 1884, onde a "vida holgazana" surge como a segunda acepção, depois de primeiramente se referir ao fruto e, mais tarde à planta (figueira da Índia - um cacto que produz um fruto similar a um figo), no dicionário de Rafale Bluteau (1713), a primeira acepção é "andar à tuna /maganeando".
Significará isso, porventura, que a acepção de "andar à Tuna", em Portugal, sempre teve precedente de antiguidade sobre o significado de planta/fruto (Figueira da Índia), ou seja que o termo "Tuna" esteve primeiramente ligado ao "tunar" e só depois se descobre e insere o nome do fruto/planta que os espanhóis descobriram na América.

Nota: No país vizinho, e segundo a investigação de Félix O. Martín Sárraga[2], o famoso fruto chamado de "Tuna" (nopal), já teria constância num dicionário de 1609, de Hiersome Victor Bolonou[3], editado em Genebra.
Curiosamente, enquanto no país vizinho, o termo consta inicialmente com a designação do fruto e só depois (1739), também, a planta; em Bluteau já tinha ambos significados.
Segundo o alemão Alexander von Humboldt, geógrafo e naturalista, o termo original seria "opuntia", palavra oriunda da língua dos Taínos (povo da região das Bahamas, Antilhas e Caribe) absorvida pela língua espanhola por volta de 1500.


No ano de 1831, temos o 2.º tomo do Diccionário da Língua Portugueza de Moraes Silva, que contém a palavra Tuna e Tunante. Nada de novo, senão que o termo "tunante" expressa mais claramente o que já tínhamos referido: andar vadiando e comendo o que pode com enganos e dolos.



Diccionário da Língua Portugueza. Moraes Silva. Tomo II, F-Z. Lisboa, 1831.

Diccionário da Língua Portugueza. Moraes Silva. Tomo II, F-Z. Lisboa, 1831, p. 847.


No Brasil, em 1832, no Diccionário de Língua Brasileira, de Luiz Maria da Silva Pintoo significado aponta igualmente para a vadiagem, vida de ócio, ou seja "andar à tuna", sendo que "Tunante" vai no mesmo sentido sinónimo: embusteiro, vadio.
A novidade é que o fruto/planta Figueira da Índia passa a ter a designação de "Tunal"


Diccionario da língua brasileira. Pinto, Luiz Maria da Silva, 1832.

No ano de 1843, o Diccionário Academia Usual (da Real Academia Española), p. 723, não apresenta novas singificâncias, mas surge com o término "Tunanton", como sinónimo de "tunante" (aquele que anda à tuna).

No ano de 1849, surge também a palavra Tuna, associada à vadiagem a ser mandrião e a palavra Tunante como aquele que "tuna", ou seja que é mandrião, embusteiro, vadio, vagamundo, miliante (parasita, até). É o que podemos ler no Novo Diccionário da Língua Portugueza, obra de Eduardo Faria.


Novo Diccionário da Língua Portugueza por Eduardo Faria .
Vol. III. Typographia Lisbonense. Lisboa, 1849.

Novo Diccionário da Língua Portugueza por Eduardo Faria .Vol. III. Typographia Lisbonense. Lisboa, 1849, p. 470.



Um outro significado, bem conhecido em Portugal, sinónimo de "andar à tuna" é o de "vida airada" (sem preocupações, na "boa vai ela". Assim ainda se entendia, por exemplo, sobre os estudantes de Coimbra que, e passamos a citar:

"... vivendo por tanto fora da clausura e da communidade dos Collegios, entregavam-se à vida airada, à tuna, nome talvez derivado dos nocturni grassatores, que andavam provocando rixas com os burguezes, fiados na impunidade de um foro privilegiado [Foro Académico]" 
(In Theophilo Braga - História da Universidade de Coimbra. Tomo I. Lisboa, 1892, p. 83.)

Não maçamos mais o leitor com a história da palavra tuna nos dicionários, bastando que, caso esteja interessado, consulte a obra "Qvid Tvnae?", onde o toda esse caminho está devidamente catalogado até aos dias de hoje.


Portanto, e resumindo, a palavra Tuna, ainda antes de surgir em qualquer dicionário em língua espanhola com o sentido de "andar à tuna", de "vida vagamunda" .... já tinha surgido em dicionário português, e com significativa frequência em vários outros vários dicionários portugueses e do Brasil . 


Fica este apontamento que, como referido, é demasiadas vezes omitido, mesmo quando os estudos publicados estão mais vocacionados para falantes do mundo hispânico.
A história da Tuna não pode ficar compartimentada por fronteiras geográficas ou culturais, já que é um fenómeno que atravessa continentes. Um património que inclui,  portanto, a realidade lusitana e, assim sendo, deve ser tida em conta, quando se publica para toda essa comunidade internacional.

Certamente que um artigo redigido sob o título "É em 1890 que palavra Estudantina surge, num dicionário, associada a grupos musicais de estudantes.", estaria incorrecto. Incorrecto porque surge primeiro em Espanha esse significado. Portanto, para evitar que o título induzisse em erro, colocar "em Portugal" ou "num dicionário português" seria essencial, independentemente do público alvo.
O mesmo se aconselha aos artigos publicados por nuestros hermanos, sobre uma realidade geográfica específica.







[1] O significado de maganeando é o de vadiar. Vid. Vocabulário Portuguez & Latino, Rafael Bluteau - volume 5, 1728, p. 245.
[2] Tuna, significado del vocablo a través del tiempoTvnae Mvndi, 2015 [Em linha: http://tunaemundi.com/index.php/component/content/article/7-tunaemundi-cat/555-tuna-significado-del-vocablo-a-traves-del-tiempo]. Ver também La palabra 'Tuna' no significaba lo mismo en el siglo XVIII que en la actualidadTvnae Mvndi, 2012. [Em linha: http://tunaemundi.com/index.php/publicaciones/sabias/1159-la-palabra-tuna-no-significaba-lo-mismo-en-el-siglo-xviii-que-en-la-actualidad].
[3] Tesoro de las tres lenguas francesa, italiana y española. Genève, Philippe Albert &Alexandre Pernet, 1609, pp. 605.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA, João Paulo - "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal", Porto (2011), Euedito. ISBN 978-989-97538-0-8

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Disparates minhotos sobre a origem das Tunas

 

Uma breve intervenção para uma dura crítica à entrevista dada por João Barbosa (Magister da TUM) ao site "leve-se" (ver AQUI), no rescaldo do XXVIII FITU Bracara Augvsvta.



Nessa entrevista, saltam imediatamente aos olhos uma sucessão de falsidades e erros que, já mesmo em 2018, são inaceitáveis (dado estarmos a falar de tunos que frequentam/frequentaram cursos superiores e que, sobre a sua actividade, têm obrigação de estar melhor informados).

 


O entrevistado afirma que a origem das tunas está mal documentada, algo que é totalmente falso, além de absurdo de se afirmar. Pelo menos em Portugal, desde o lançamento da obra "QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal", publicada em 2011-12 que há factos documentados (para não ir a publicações espanholas). Mas também na web existe informação suficiente (nomeadamente no portal "PortugalTunas", nos blogues "Notas e Melodias" (Notas Históricas - A Tuna em Portugal - I, II e III), "Além Tunas", "As Minhas Aventuras na Tunolândia", no site "Tvnae Mvndi", na revista "Legajos de Tuna", nas muitas informações veiculadas nos ENT (Encontro Nacional de Tunos) ou, até, na página de FB "Tunos&Tunas" que deveriam permitir, até ao mais leigo, evitar dar tão monumentais calinadas (ainda mais superlativas quando é um responsável de uma tuna de referência a propalá-las em 2018).

 

Depois, o entrevistado afirma que as tunas surgiram nos séc. XVIII e XIX em Espanha, algo que é falso, pois o fenómeno apenas se inicia a partir de meados do séc. XIX.

Mas pior ainda é vir com a conversa que os primórdios da tuna remontam aos séc. XI e XIII ligada aos sopistas, fazendo prova de uma inegável capacidade de copiar narrativas ficcionadas ouvidas a outros tantos ignorantes.

É de ficar de boca aberta com a facilidade com que as pessoas falam daquilo que desconhecem, contribuindo para mais "fake news" e a continuidade de mitos sem qualquer fundamentação.

Na página de FB do "Leve-se", um título enganoso a que se soma um erro de português de palmatória (não se escreve "tá", mas "está" - do verbo estar).


Obviamente que o próprio entrevistado nem sequer sabe o que são sopistas, ao caracterizá-los como "estudantes que escapavam dos internatos à noite para irem às tabernas".

Pena que a ignorância não doa, pois que qualquer pessoa minimamente culta sabe que sopistas não eram apenas estudantes e que essa coisa de escapar de internatos não tem pés nem cabeça (e que os sopistas nada têm a ver com Tunas).

Afirmar que tunas são pequenas famílias que procuram algo mais que aulas e completar um curso é prova de quem não tem, de facto, um conhecimento mínimo para abordar estes temas, pelo que deveria ter-se abstido de sobre eles se pronunciar.

 


Ainda uma referência (embora não directamente do âmbito tuneril) para a falácia do traje Tricórnio, também ele uma fabulação total, alicerçado sobre uma narrativa ficcionada que foi fazendo caminho, de tal forma que é quase como vender gato por lebre.

Quem sabe ler o artigo do historiador e maior especialista em trajes e protocolo académicos (Prof. Dr. António Nunes), sob o título de "Notas ao Tricórnio ficcionado", abra alguns horizontes críticos, contrapondo a razão à barbárie da ignorância militante que, acriticamente, é absorvida e repetida.

 

Termino como comecei.

Não é admissível que, em 2018, se digam tantos disparates sobre a origem e história da Tuna, sobretudo quando se é tuno (e ainda mais quando se ocupa um cargo de relevo), face á quantidade de informação disponível.

Se há preguiça em consultar, em ir à net saber sobre tunas (sobre o que os investigadores/especialistas fazem e publicam), então haja a mesma coerência e use-se da mesma preguiça para não responder ao que não se sabe nem quis saber.

 

 

quarta-feira, 14 de março de 2018

Estudiantina Española Fígaro em partitura

Não se conhece exactamente de que ano é esta partitura, mas a sua folha de rosto (capa) ilustra esse mesmo grupo, em desenho.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Estudiantina Española Fígaro em Constantinopla - Turquia (1886)


Um artigo que comprova a presença da Fígaro por terras turcas em 1886.
O artigo inicia-se com o título sugestivo de que o sultão, que os recebeu, terá feito algo bizarro / estranho.
Com efeito, para além de lhes entregar uma considerável quantia em dinheiro, honrou cada membro com a Medalha das Ciências e das Artes (condecoração que, como diz o periódico, é raramente atribuída).

Diário de Notícias (RJ - Brasil), Anno II, N.º 322, de 25 de Abril de 1886, p.1

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Estudiantina Fígaro na Hungria -1884


Duas imagens de cartazes que anunciam concerto da Estudiantina Española Fígaro na Hungria



06-03-1884

07-03-1884



Fonte: Europeana Collections (Pesquisa de 2014)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Museu Fonográfico Tuneril - Visita guiada.

Uma visita ao MFT (Museu Fonográfico Tuneril) e ao acervo do seu principal dinamizador, Jean-Pierre Silva.
O MFT é uma iniciativa ímpar no mundo das tunas, a nível mundial. Um projecto que merece ser apoiado, e acarinhado, por toda a comunidade das tunas nacionais, e seguido o exemplo noutros países com tunas académicas.







sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Legajos de Tuna n.º 2 - Museu Fonográfico Tuneril. Promover e preservar a memória.

Capa da 2.ª edição da revista


Documento completo:
https://issuu.com/legajosdetuna/docs/legajos_de_tuna._n___2



PORTUGAL

Legajos de Tuna n.º 2, Dezembro de 2017, p. 51

Legajos de Tuna n.º 2, Dezembro de 2017, p. 52

Legajos de Tuna n.º 2, Dezembro de 2017, p. 53

Legajos de Tuna n.º 2, Dezembro de 2017, p. 54

Legajos de Tuna n.º 2, Dezembro de 2017, p. 55







quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Memórias Radiofónicas - Tuna, a "Menina da Rádio".

Hoje pode parecer banal. Há uns anos, contudo, não apenas era raro, como raros os programas exclusivamente dedicados a Tunas. 

Foi com o "Noite de Tunas", em 1993, produzido pelo Ricardo Tavares, que surge o primeiro programa radiofónico inteiramente dedicado às tunas. Uma iniciativa pioneira, mas igualmente arriscada, isto quando sabemos que, até 1993, inclusive, a discografia disponível era escassa (salvo meia dúzia de discos vinil dos anos 6o/70, existiam, de acordo com os dados do MFT - Museu Fonográfico Tuneril, cerca de 13 títulos editados - e nem todos, porventura, disponíveis ali à mão).

Desbravado o caminho, e com o crescimento do fenómeno e da discografia disponível, a Tuna passou a poder marcar mais vezes presença na telefonia.
Em meados dos anos 1990, e até com o sucesso da Mulher Gorda (do álbum "Serenatas das Fitas", da E.U.L.), a Tuna foi, durante algum tempo, a "menina da rádio".
Pegando na letra do fado do estudante, para falar da tuna nas ondas hertezianas, poderíamos cantar:
"[va] gosto à gente ouvi-l[a], até,
na radio-telefonia"

Hoje, na verdade, é raro ouvir-se uma tuna na rádio, tal como raros os programas dedicados a tunas. Salvo erro, só mesmo o "Capas Negras", em Tomar, sobrevive como tendo um programa exclusivamente sobre Tunas.


José Rosado no seu programa "Capas Negras", inteiramente dedicado às Tunas.


Eis a lista de alguns desses programas:



- "Noite de Tunas"[1], na Rádio Festival – Porto (94.8 FM), no ano de 1993, produzido pelo Ricardo Tavares;
- "Noite de Tunas", na Rádio Regional de Aveiro (96.5 FM) e realizado por João Oliveira(com a colaboração de José Simões Pereira e Lili Santos Luís – redactor da revista Fórum Estudante);
- "Noites de Ronda" no Radioclube de Matosinhos (91.0 FM), programa da responsabilidade de António Jorge, com emissões regulares igualmente aos domingos à noite;
- "Capa e Batina", na Rádio Renascença, produzido, realizado e editado por José Araújo – programa de âmbito mais abrangente e não exclusivamente dedicado à tuna, mas que incluía na respectiva playlist temas interpretados por tunas;
- "Passa Tunas" na Rádio Universitária do Minho (99.5 FM), a cargo do , Ivan Dias (antigo elemento da EUC);
- "Capas Negras", na Rádio Cidade de Tomar (90.50 FM), da responsabilidade de José Rosado (Tuno da Templária).
- "Hora Tunante", na Rádio Alma Lusa (Gland - Suiça), da responsabilidade do casal Nuno Simões e Lúcia Cardoso Simões.
      - "Voz Académica", na Rádio Iris(91,4 FM), embora não                               exclusivamente sobre tunas, a ela dedica grande espaço, da                         responsabilidade de Ana Ameixa e Rute Cotrim.


In Revista "FORUM ESTUDANTE", 1996,
inteiramente dedicada às Tradições Académicas.

A propósito do 1.º programa de rádio dedicado a Tunas, aqui fica o testemunho do seu autor, Ricardo Tavares:





[1] O «Noite de Tunas» foi mais tarde reeditado, com o mesmo formato, na Rádio Universitária do Minho (99.5 FM), contando com o mesmo produtor, realizador e editor do programa original, e com a colaboração de Norberto Moreira e Joaquim Mendes (ambos do Grupo de Jograis Universitários do Minho – Jogralhos). 

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Era escusado, em Bragança (ou outro sítio)



O vídeo foi originalmente publicado na página de FB da RTUB (Real Tuna Universitária de Bragança).
Encurtámo-lo, para centrar e focar o assunto em causa.


Não se percebe que uma tuna, seja ela qual for, se apresente com tunos despidos daquela maneira. Não encontramos justificação para tal, nem mesmo praxes internas.
Por maior salutar que seja a irreverência estudantil, ela deve ser feita com graça e dentro de limites, precisamente para que seja irreverência e não outra coisa qualquer menos apropriada ou menos digna.
Há exageros e exageros. Neste caso, foi exagerado exagero.


Por melhores que sejam as intenções e efusiva seja a alegria, cremos que deve haver um mínimo de decoro e urbanidade perante o público (seja ele qual for), de forma a dignificar não apenas o grupo, mas a imagem das Tunas em geral.

Fica o reparo, para devida ponderação.

A RTUB é uma tuna com já largos anos de existência e uma história que muito respeitamos, daí o reparo para este percalço que destoa.


domingo, 15 de outubro de 2017

Tunologia e Tunólogos

Existe, actualmente, um amplo conjunto de publicações sobre o fenómeno das tunas/estudantinas, que resultam de estudo e investigação assentes em metodologia rigorosa.
Há, portanto, um acervo já considerável de estudos, análises, artigos e bibliografia produzidos por diversos autores que têm, usualmente, em comum a sua vivência como tunos, que lhes serve de ponto de partida.

Apesar do objecto de estudo em causa abranger diversas áreas do saber (musicologia, sociologia, etnomusicologia, história, ou mesmo do ponto de vista literário/linguístico...), o estudo estrito do fenómeno complexo que são as tunas não está, até agora, categorizado numa dessas várias áreas.


Com efeito, a Tuna pode ser lida sob todas essas perspectivas, mas difícil se torna catalogar tal, quando estamos perante o estudo, e estudiosos, centrados exclusivamente nesse assunto.

Quando os estudos produzidos não exploram nenhuma dessas áreas em específico, mas como um todo (porque multidisciplinar), coloca-se o problema de arrumar esse tipo de estudo numa categoria já existente (quando também acaba por caber noutras, conforme o prisma utilizado).

Mas é necessária alguma formação académica específica, para se estudar a Tuna?
Os factos demonstram que não. Temos gente das mais diversas áreas de formação (médicos, engenheiros, historiadores, musicólogos, etnólogos, pessoas formadas em literatura, advocacia ...) que produziram estudos e obras sobre o fenómeno tuneril.

O que importa é que o produzido assente nas transversais normas de um trabalho científico, numa metodologia académica de rigor (ou em várias em concomitância, conforme a natureza do trabalho)  que sustente a credibilidade dos trabalhos. E, para isso, à partida, qualquer pessoa com formação académica, onde tenha adquirido competências e saberes sobre como investigar e produzir trabalhos científicos, estará habilitada a tal.

O que está ainda em falta é colocar o devido rótulo, mesmo que informal, ao estudo específico da Tuna, bem como aos que se dedicam a tal actividade.
Longe de nós pretender substituirmo-nos aos dicionaristas e filólogos, cremos, contudo, ser hora de reconhecer, sem pretensões ou presunções, quem se dedica a conhecer e a dar a conhecer a Tuna, assim como o objecto dessa dedicação. 
Se damos o nome de Tuno a quem exerce o mester de tocar e cantar numa tuna, é mais do que justo que quem, também, se dedica ao estudo da Tuna, e contribui para o seu conhecimento, promoção e preservação da sua memória colectiva, possa receber uma designação própria.

Ficam, portanto, aqui, como sugestão, 2 definições informais:

Tunologia - ciência que tem como objecto o estudo da Tuna.


Tunólogo - pessoa que se dedica à tunologia; investigador/estudioso que faz investigação sobre a Tuna e cujo o trabalho, e domínio destas matérias, é reconhecido e credibilizado como tal.














sábado, 9 de setembro de 2017

Tunas em locais de culto

Será breve este artigo.
Não é novidade que, em muitos locais de culto, se tem tornado hábito realizarem-se concertos.
Até aí, à partida, pouco ou nada a adiantar.
Contudo, conviria relembrar que esses espaços são locais de culto, os quais obedecem a regras nem sempre observadas pelos próprios párocos, ou seja à revelia do que as normas canónicas determinam.
O contexto são as igrejas e templos católicos (dominantes nos países de matriz tuneril).
As igrejas são espaços sagrados onde a música que nelas se deve ouvir deve obedecer ao propósito para a qual as mesmas existem.
Fados, tunas e outros grupos, com repertório que não seja sacro ou litúrgico não deveriam ali poder ter lugar.
As igrejas não são, há que o dizer com todas as letras, salas de concerto. A haver concertos, que sejam dentro do âmbito, adequado ao local (sem isso significar beatismos), respeitadores e alinhados com a espiritualidade que se exige.
Existem, no meio tuneril, alguns eventos que passam por apresentação num local de culto (lembro-me, assim se repente, de Múrcia, onde, do programa do Barrio del Carmen, faz parte a visita à Iglesia del Carmen). O que não entendo nem concebo, de todo, é que as tunas não apresentem, ali, um repertório litúrgico (como sucedeu diversas vezes com a minha tuna, há uns anos) e, ao invés, executem temas profanos totalmente descontextualizados do local.



Obviamente que quem, primeiro, tem responsabilidade nisso é a hierarquia eclesiástica, mas não iliba as tunas da devida ponderação e discernimento.
Recentemente, a Azeituna apresentou um concerto na Sé de Braga, gravado em CD, de temas litúrgicos. Portanto, as tunas não estão impossibilitadas de, mediante o contexto e local, adequar repertório.

Mas custa-me ainda mais assistir (nomeadamente pelos vídeos publicados na net), a tunas que se apresentam num local de culto com chapéus na cabeça.
Um desrespeito de todo o tamanho de quem não sabe sequer respeitar a etiqueta, quanto mais os bons modos.

Algumas paróquias e sacerdotes têm necessariamente repensar esta questão (respeitando o que está previsto na lei canónica e demais indicações de quem manda no assunto), tal como as nossas tunas terem mais presente a necessidade de coadunar não apenas o repertório, mas, essencialmente, a postura, a um local de culto, seja-se crente ou não.