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sábado, 7 de março de 2020

Investigar em Portugal - Trabalho de hoje com ferramentas de ontem.


Fazer investigação a partir de periódicos e outras publicações, em Portugal, será das tarefas mais complicadas e ingratas.

A investigação sobre Tunas não foge à regra, sendo até, em muitos casos, ainda mais difícil, tendo em conta que pouco foi desbravado no que concerne ao levantamento documental de evidências.

Ao contrário do que se sucede, por exemplo, em França e em Espanha, onde, no caso da imprensa, os exemplares estão digitalizados com reconhecimento OCR (reconhecimento de caracteres), em Portugal são raríssimos os casos em que tal sucede (até hoje encontrei menos de uma meia dúzia de periódicos nessas condições).

O reconhecimento OCR permite a busca por palavras, dentro do documento, poupando anos de investigação.


Mas a grande vantagem dos dois países acima mencionados é que as estruturas responsáveis pelo acervo disponibilizam igualmente um motor de busca que permite a pesquisa por palavras não apenas a 1 periódico em específico, mas estende a busca a todos os documentos digitalizados existentes, apresentando, depois, as ocorrências por relevância, data, etc.

Em Portugal, não existem motores de busca desse género, algo incompreensível e, de certo modo, inaceitável.
Em Portugal, as colecções online, disponibilizadas em PDF, são digitalizações em formato de imagem, sem reconhecimento OCR. Em alguns casos (como na BNP), nem sequer uma referenciação por localidade (como sucede na Hemeroteca Digital de Lisboa).
Se é verdade que já é uma enorme vantagem  haver documentação online - e não ter de fazer deslocações para aceder (podendo fazer-se a partir de casa), o facto é que continua a ser necessário abrir cada exemplar e lê-lo de fio a pavio, à procura do que se pretende.

E só estamos a falar do acesso online, porque são ainda muitas centenas de documentos e periódicos que é preciso consultar presencialmente (algo simplesmente inaceitável, hoje em dia, para muitos documentos como são os jornais), num país que se quer na vanguarda tecnológica (e fez disso política desde o tempo do Sócrates e do seu Plano Tecnológico, dos seus "Magalhães", quadros interactivos e afins).

Ora, o leitor faça esta simples conta de merceeiro:

1 ano tem 52 semanas.
Pegando num periódico diário (normalmente são 6 exemplares por semana, folgando um dia), teremos nada menos que ca. 312 jornais para ler (a variar entre a 4 e as 6 páginas - umas vezes menos e outras mais) nesse ano. Estamos a falar de cerca de 1200 a 1800 páginas.
Isto só para 1 ano!
Basta imaginar a trabalheira que dá, nem que seja para um periódico que só existiu, imaginemos, 10 anos (há-os com maior longevidade e, alguns, com publicação ininterrupta da década de 1870 à actualidade).

O leitor imagine o tempo, o esforço e resiliência dispensados a pesquisar por assuntos específicos como são as tunas/estudantinas, ao longo de milhares de páginas. E, depois, lá se vão umas dioptrias (ler num ecrã de computador desgasta e cansa mais).
Leitura de centenas e centenas de páginas, por vezes sem qualquer retorno (chega a haver periódicos onde nada se encontra em 2, 3 ou mais anos pesquisados) que obriga o investigador a confrontar-se tantas vezes com a frustração (embora também seja recompensado na perseverança, encontrando, não poucas vezes, dados riquíssimos e inéditos).

Havendo várias centenas de periódicos a abranger o período que vai de inícios do séc. XIX até, pelo menos, 1980 (para não ir mais longe), bem se reconhece a tarefa quase impossível que se tem pela frente.
E isto só para Portugal. 

Se a pesquisa está facilitada em França e Espanha, há que também contar com outros países onde o fenómeno Tuna/Estudiantina se manifestou (alguns com o mesmo problema que o lusitano, diga-se).

Voltando ao nosso espaço geográfico português, apenas constatar que é simplesmente paradoxal que se gaste, tantas e tantas vezes, dinheiro em inutilidades, mas para dotar bibliotecas de meios e pessoas - para a tarefa de catalogar, digitalizar e fazer um verdadeiro "simplex" de acervos documentais digitalizados, não haja meios de nos colocar a par com os demais parceiros europeus.

Vale a pena meditar sobre isto, nem que seja para que o trabalho de investigação e os investigadores sejam mais reconhecidos e, quiçá, um dia, alguém com poder de decisão faça alguma coisa para mudar o estado actual das coisas.

Entrementes, volto à labuta, que se tornou, há muito tempo a esta parte, diária, de percorrer periódicos.

domingo, 15 de outubro de 2017

Tunologia e Tunólogos

Existe, actualmente, um amplo conjunto de publicações sobre o fenómeno das tunas/estudantinas, que resultam de estudo e investigação assentes em metodologia rigorosa.
Há, portanto, um acervo já considerável de estudos, análises, artigos e bibliografia produzidos por diversos autores que têm, usualmente, em comum a sua vivência como tunos, que lhes serve de ponto de partida.

Apesar do objecto de estudo em causa abranger diversas áreas do saber (musicologia, sociologia, etnomusicologia, história, ou mesmo do ponto de vista literário/linguístico...), o estudo estrito do fenómeno complexo que são as tunas não está, até agora, categorizado numa dessas várias áreas.


Com efeito, a Tuna pode ser lida sob todas essas perspectivas, mas difícil se torna catalogar tal, quando estamos perante o estudo, e estudiosos, centrados exclusivamente nesse assunto.

Quando os estudos produzidos não exploram nenhuma dessas áreas em específico, mas como um todo (porque multidisciplinar), coloca-se o problema de arrumar esse tipo de estudo numa categoria já existente (quando também acaba por caber noutras, conforme o prisma utilizado).

Mas é necessária alguma formação académica específica, para se estudar a Tuna?
Os factos demonstram que não. Temos gente das mais diversas áreas de formação (médicos, engenheiros, historiadores, musicólogos, etnólogos, pessoas formadas em literatura, advocacia ...) que produziram estudos e obras sobre o fenómeno tuneril.

O que importa é que o produzido assente nas transversais normas de um trabalho científico, numa metodologia académica de rigor (ou em várias em concomitância, conforme a natureza do trabalho)  que sustente a credibilidade dos trabalhos. E, para isso, à partida, qualquer pessoa com formação académica, onde tenha adquirido competências e saberes sobre como investigar e produzir trabalhos científicos, estará habilitada a tal.

O que está ainda em falta é colocar o devido rótulo, mesmo que informal, ao estudo específico da Tuna, bem como aos que se dedicam a tal actividade.
Longe de nós pretender substituirmo-nos aos dicionaristas e filólogos, cremos, contudo, ser hora de reconhecer, sem pretensões ou presunções, quem se dedica a conhecer e a dar a conhecer a Tuna, assim como o objecto dessa dedicação. 
Se damos o nome de Tuno a quem exerce o mester de tocar e cantar numa tuna, é mais do que justo que quem, também, se dedica ao estudo da Tuna, e contribui para o seu conhecimento, promoção e preservação da sua memória colectiva, possa receber uma designação própria.

Ficam, portanto, aqui, como sugestão, 2 definições informais:

Tunologia - ciência que tem como objecto o estudo da Tuna.


Tunólogo - pessoa que se dedica à tunologia; investigador/estudioso que faz investigação sobre a Tuna e cujo o trabalho, e domínio destas matérias, é reconhecido e credibilizado como tal.