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sábado, 15 de outubro de 2016

Uma foto da TAUC no Brasil, 1925


Trazemos a terreiro uma foto, até agora desconhecida para nós, da presença da Tuna Académica da Universidade de Coimbra em São Paulo (Brasil), em 1925.


A sociedade paulistana reunida junto ao coreto do Jardim da Luz, ouvindo tocar a TAUC, em 1925


Fonte: OHTAKE, Ricardo e DIAS, Carlos - Jardim da Luz, Um Museu a Céu Aberto. Senac São Paulo / Edições Sesc SP, 2011.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Tuna de Coimbra e do Porto impedidas de viajar em/para Espanha em 1900




Em fevereiro de 1900, duas tunas portuguesas são impedidas de prosseguir viagem para/em Espanha.
Estamos a falar do já conhecido caso da Tuna Académica de Coimbra (TAUC) e de um outro, agora descoberto, envolvendo a Tuna do Porto.
O que à primeira vista poderia suscitar a teoria que justifica razões políticas[1] para tal, parece não ter qualquer fundamento. Os motivos parecem bem mais simples e plausíveis.

TUNA ACADÉMICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


Notícia que dá conta da partida da Tuna com destino a Salamanca.
Tempo, 5.º Anno, N.º 1079, de 21 de Fevereiro de 1900, p.2

 Partida da Tuna de Coimbra, no dia 23 de Fevereiro, com destino a Salamanca e Valladolid.
A Vanguarda, 5.º Anno (décimo), N.º 1188 (3134), de 26 de Fevereiro de 1900, p.3



Tal como narra "Qvid Tvnae", a Tuna Académica de Coimbra estava em Salamanca (chegada no dia 23 de Fevereiro), onde deu concerto e desfilou pelas ruas. Depois de uma estadia de 2 dias, pretendia deslocar-se a Valladolid, mas foi informada por telegrama (enviado ao chefe da estação de combóios de Salamanca) que o governador proibia a sua deslocação (alegando-se posteriormente motivos de saúde pública) e não deixando outra solução ao estudantes que não fosse regressar a Coimbra.
Ironicamente, mais tarde, já com a Tuna de Coimbra de regresso a Portugal, chegará novo telegrama a permitir a viagem.

"Pormenor interessante é o facto de, nessa visita, mais precisamente no dia 25[2], a Tuna Académica de Coimbra ter sido impedida de prosseguir para Valhadolid. O impedimento promanara do Governador daquela província espanhola, em decreto enviado directamente para o chefe da estação de Salamanca, obrigando os conimbricenses a regressar a Portugal, alegando questões de salubridade, de índole sanitária. Caricato, de facto. Já os portugueses tinham apanhado o comboio de regresso e chegava novo telegrama do governador que, afinal, permitia a deslocação."[3]

Esse episódio também é narrado no mais recente livro de José e António Nascimento (2010), e que também serviu de fonte ao "Qvid Tvnae", citando os periódicos conimbricenses da época:

 Pouco antes da hora da partida do comboio, apresentou-se na gare o Governador civil interino sr. Gil, que participou aos estudantes portugueses que acabava de receber um telegrama do Governador de Valladolid, dizendo-lhe que não lhes consente sair para aquela província; por cujo motivo se viram obrigados a suspender a viajem e a regressar a Coimbra. Como no inesperado telegrama não se fazia referência de nenhum género, respectiva aos motivos para que não fossem a Valladolid, os estudantes do reino vizinho, foram muitas as versões que circularam e muitos os comentários; inclinando-se a opinião geral a crer que somente razões de índole sanitária podiam ter originado a mencionada proibição.
Resultado de tudo: os estudantes de Coimbra pela ordem que acabava de lhes ser comunicada, fizeram uma reunião e decidiram por unanimidade retornar no primeiro comboio para Portugal.
Efectivamente, esta manhã às quatro saíram para Coimbra.”
Nas primeiras horas desta tarde [25 de Fevereiro, mesmo dia da partida para Coimbra] recebeu o sr. Gil este outro telegrama do Governador de Valladolid: «Pode permitir V. S. aos estudantes de Coimbra que venham a esta capital. – Governador civil.»

"Às seis da tarde de ontem [26 de Fevereiro] recebemos na nossa redacção [“La Libertad” de Valladolid] a visita do Presidente interino da Comissão escolar para comunicar-nos que os estudantes de Coimbra não virão visitar-nos para já. Parece que a Direcção de Saúde se opôs a que viessem a Valladolid, tendo em conta o estado excepcional em que se encontra actualmente o vizinho reino lusitano por motivo da peste bubónica.
À Comissão que se dignou visitar-nos estranhava-lhe tais medidas, por que, se houvesse alguma razão para adoptar-las, deveriam tomar-se logo, não permitindo aos estudantes de Coimbra ir a Salamanca, em cuja capital estão agora a celebrar veladas e récitas com grande aplauso dos salmantinos. Mas o caso é que, ouvindo as advertências da Direcção de Saúde, o ministro da Governação telegrafou, com carácter de urgência, ao governador civil desta província a fim de que não permita a vinda dos estudantes portugueses a esta capital. E o sr.  governador comunicou-o imediatamente aos estudantes vallisoletanos. Uma comissão destes saiu no comboio para Medina com o objectivo de avisar os seus companheiros de Coimbra.
Suspendeu-se, pois, toda a classe de preparativos que se estavam a fazer para receber a Tuna Portuguesa.” [4]

Foto com a TAUC que ilustra a visita sr. D. Abelardo Pietro Veja,
 em 8 de Março de 1900,  a Coimbra, em nome da academia de Valladolid,
 para dar uma satisfação acerca dos motivos  pelos quais a autoridade superior
não deixou seguir a Tuna Académica para aquela cidade.


Por que razão, depois da inicial proibição, surge novo telegrama a permitir a viagem a Valladolid?
Muito provavelmente porque se veio a considerar que o surto de peste, que porventura se pensava generalizado em Portugal, estava, afinal, confinado à cidade do Porto e que Coimbra estava a salvo da epidemia, pelo que sem razões para aplicar a quarentena aos estudantes conimbricenses.

O certo é que logo no mês seguinte, e após a visita de D. Abelardo Pietro Veja a Coimbra, em nome da academia de Valladolid, a TAUC regressa a Salamanca e a Valladolid, esquecido o desagravo de que fora alvo.


Depois do périplo por Salamanca e Valladolid, a TAUC ruma a Madrid:


TAUC em Madrid - Nuevo Mundo, Ano VII, N.º 326, de 04 de Abril de 1900, p.16


ESTUDANTINA PORTUENSE



 Diário Illustrado, 29.º Anno, n.º 9686, de 26 de Fevereiro de 1900, p.1


Embora ao de leve assinalado em Tvnae Mvndi, trazemos mais detalhadamente o caso que envolve a Tuna portuense que pretendia deslocar-se à Galiza (para visitar Santiago de Compostela) e é impedida de entrar em Espanha por ordem do Director Geral da Repartição de Saúde de Madrid - que telegrafa a sua decisão ao governador da Corunha.
Informado o  Alcaide (presidente da câmara) de Santiago de Compostela, este telegrafa ao presidente da Tuna do Porto dando-lhe conta da decisão e da tristeza de os não poder receber. 

Uma vez mais, e tendo em conta que a ordem vem de uma autoridade de saúde pública, e ao que similarmente sucedeu com a Tuna de Coimbra, todos os motivos apontam para o receio que havia, em Espanha, que a epidemia que se fazia sentir no Porto lá pudesse chegar.

Passando os olhos pelos seguinte excerto, é evidente que estávamos perante um grave caso de saúde pública e o receio de que as numerosas comitivas constituídas pelas tunas, especialmente a do Porto, pudesse ser um veículo de transmissão de doença.

"O Porto, em particular, apresentava condições especiais para o desenvolvimento das doenças, por ser uma cidade industrial com uma população de grande mobilidade a viver nas piores condições de salubridade. Apesar das medidas do Estado para melhorar a higiene pública, no final do século XIX os problemas da cidade do Porto persistiam de tal maneira que Ricardo Jorge apelidou-a “cidade cemiterial”. Nas suas obras, o professor de medicina aprofundou a questão das ilhas como causa para a proliferação de doenças e epidemias, com especial destaque para a tuberculose (Jorge, 1899). Esse seu trabalho ajudou a influenciar a rainha dona Amélia na criação, nesse mesmo ano, da Assistência Nacional aos Tuberculosos e na construção de sanatórios para os doentes (Almeida, 1995). Até no estrangeiro a situação era conhecida: “O Porto tem falta de um bom sistema de canalização e a imundice nos bairros baixos da cidade é indescritível e suficiente para provocar qualquer epidemia. … É agora necessário tomar medidas muito enérgicas, construir novos esgotos ou sem isso o Porto continuará a ser das cidades mais insalubres da Europa” (Diário..., 5 set. 1899, p.1).
(...)
"Em 1899 declarou-se no Porto uma epidemia de peste bubónica, diagnosticada pelo professor de higiene e medicina legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, Ricardo Jorge, na altura médico municipal e diretor do posto de desinfeção pública do Porto, e verificada por vários médicos estrangeiros que se deslocaram a Portugal para estudar a doença e que publicaram relatórios sobre o combate à epidemia, nos quais o trabalho de Ricardo Jorge foi elogiado (Calmette, Salimbeni, 1899; Ferrán y Clua, Viñas y Cusi, Grau, 1907; Montaldo y Peró, 1900). Em 24 de agosto de 1899 foi estabelecido um cordão sanitário à volta do Porto, cercado pelas autoridades militares, que foi levantado em 22 de dezembro."[5]

Ficam, pois, esclarecidas as razões pelas quais, no ano de 1900, duas tunas portuguesas foram impedidas de viajar em/para Espanha.





[1] Em razão da onda anarco-sindicalista, e do movimento separatistas registado sobretudo na Catalunha, após a guerra hispano-americana ou, então, do receio dos ideais republicanos (republicanos que obtiveram, nesse mês de fevereiro, uma estrondosa vitória eleitoral no Porto).
[2] DN, 36.º Ano, n.ºs 12.291 e 12.295, 24 de Fevereiro e 1 de Março de 1900 (respectivamente) p. 1.
[3] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, SOUSA, João Paulo e TAVARES, Ricardo - QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. Euedito, 2011, p.178
[4] NASCIMENTO, António José S. e NASCIMENTO, José António S. – Estudantes de Coimbra em Orquestra: Tuna Académica da Universidade de Coimbra (1888 1913). Coimbra: Bubok Publishing S.L., 1.ª ed., 2010, pp. 133-134. Em linha (p. 216)
[5] ALMEIDA, Maria Antónia Pires -  As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.21, n.2, abr.-jun. 2014, pp. 692-693. Em linha

sábado, 11 de julho de 2015

A TAUC quanto ao ano da sua fundação


A confusa data da fundação da TAUC.

Nota: este artigo tem actualizações importantes de 03 de Janeiro de 2020, onde também se deve considerar o recente artigo produzido (ver AQUI)

Tem ocorrido, ao longo de anos, um possível equívoco no que concerne à ideia milhares de vezes repetida de que a TAUC foi fundada em 1888.

Nada me move contra a TAUC, fique claro. É uma instituição que muito respeito e admiro.
Contudo, como investigador e curioso do fenómeno tunante, de há 2 décadas a esta parte, foi aquando da investigação e publicação da obra "QVID TVNAE" que tropecei (conjuntamente com os co-autores) em dados que não coincidiam com a versão corrente e amplamente divulgada e que, por isso, necessitavam de revisão e investigação mais aprofundadas (sempre em aberto, note-se).

Vamos lá, então.


Ao contrário do que é propalado, a TAUC não terá nascido, como tal, em 1888, mas alguns anos mais tarde, quando se apresenta formalmente sob a designação TAUC, depois de a antiga Estudantina se ter extinto, fruto, muito plausivelmente, de uma cisão por parte de elementos que quereriam livrar-se daqueles que não fossem estudantes/universitários.
Com efeito, ao que tudo indica, a Estudantina de Coimbra, fundada em 1888, extingue-se abruptamente em 1890, tendo sido a sua última aparição formal em Junho de 1890, por ocasião do casamento de um dos seus principais dinamizadores e primeiro presidente, Artur Pinto da Rocha (que foi um dos fundadores da AAC em 1887).

Houve, em 1891, uma tentativa de ressurgimento da "tuna":

" Corria o ano de 1891 e o boémio Jayme Leal fazia despertar num grupo de rapazes alegres e joviais a simpática ideia da formação de uma Tuna exclusivamente composta de académicos. Esta ideia foi recebida com as mais vivas manifestações de júbilo e entusiasmo por todos os estudantes de Coimbra, e não levou muito tempo a converter-se em realidade. Dentro em breve a Tuna estava fundada, e de dia para dia sentia engrandecer-se por um selecto conjunto de aptidões, que no seu seio se aperfeiçoavam e desenvolviam. "[1]

Nada se sabe, à data, de que tal empreendimento tenha ido avante (mais à frente voltaremos a este ano de 1891, com mais dados), mas note-se a passagem: "... a simpática ideia da formação de uma Tuna exclusivamente composta de académicos.", o que reforça a ideia, já acima avançada, de que se pretendia, na época, algo totalmente diferente da Estudantina de 1888: um grupo só de estudantes, preferencialmente universitários.
O mesmo com "Dentro em breve estava fundada..." o que sempre é diferente de "refundada" ou "reorganizada".

Tal está bem explicado na obra "Qvid Tvnae? A Tuna Estudantil em Portugal" (pp.173-175), a qual também tem por referência a obra dos irmãos Nascimento, "Estudantes de Coimbra em Orquestra - TAUC - 1888-1913" (pp.37-45).
A verdade é que tem sido algo complicado desfazer este imbróglio, por me parecer ter havido, ao longo de anos, uma espécie de "recalendarização", motivada, porventura, pelo desejo de conferir antiguidade, muitas vezes mais com base na interpretação que mais jeito dava dos factos, como sucede a muitas tunas académicas da época do "boom" dos anos 80-90.

Veja-se, a título de exemplo, que o Notícias de Coimbra de 1940[2]  refere, na página 5, que a TAUC irá festejar os seu 50º aniversário, colocando a fundação não em 1888 mas em 1890 (o ano em que precisamente se terá extinto)!!!
António José Soares, em "Saudades de Coimbra, 1934-1949 (Vol. III)"[3]  também refere festejos do 50º aniversário da TAUC ocorrido em Abril de 1940, e que teve participação dos, então, actuais e antigos tunos em sarau promovido no Teatro Avenida.




 
Estranha-se tal, dado que estes informes colidem quer com a ideia da fundação em 1888, quer com as provas documentais que parecem apontar para 1894.
Concedendo, até, que o 50.º aniversário só tenha sido possível ser celebrado no ano seguinte ao que era suposto, não bate certo com 1888.

O ano de 1890 seria precisamente o último ano de actividade da Estudantina de Coimbra, fundada 2 anos antes, pelo que parece haver aqui alguma confusão ao colocar a fundação do grupo no seu último ano de actividade. Esta flutuabilidade de datas reforça a ideia de que, nos anos 40, já se andava "aos papéis" por falta de confirmação dos papéis (leia-se fontes fidedignas e documentais).
Por que razão, os tunos da TAUC, em 1940, apontaram para o ano de 1890?
Em rigor, não sabemos.

O que sabemos é que nos anos de 1891,1892 e 1893 não há, que saibamos, notícia de qualquer actividade ou existência da Estudantina de Coimbra (salvo uma fugaz referência tunante em 1891, e outra em 1892 - que adiante se tratará, e se explicará).
Até prova em contrário, impera o que é lógico: a Estudantina de Coimbra parece ser algo diferente e díspar da TAUC, por mais que esta última se tenha, a partir de determinada altura, assumido herdeira do grupo fundado em 1888 (e a que terá ajudado o facto de, na linguagem comum da época e dos jornais, este tipo de agrupamentos receber tanto a designação de estudantina como tuna, de forma indistinta e, muitas vezes, concomitante).

O que se pode afiançar, com segurança, é que a TAUC, com a estrutura e organização que até hoje foi perdurando, é um organismo que terá surgido apenas em 1894 e que o fez precisamente de forma distinta da experiência da anterior Estudantina (designação não retomada e que evidencia o corte e natureza díspar do grupo).
Isso se comprovará, documentalmente, um pouco mais à frente.


Desenho do maestro Simões Barbas assinada por Rafael Bordalo Pinheiro.
In A Paródia n.º 29, de 01 de Agosto de 1900.



Quando a TAUC é fundada, apenas o seu regente e uma peça do seu repertório (o Hino Académico[4]) "transitaram" da antiga estudantina, a par com o estandarte (reutilização do mesmo que existia em 1888, conforme cliché da época o atesta).

"18 de Março – “Conta já mais de 60 executantes a tuna académica que nesta cidade vai constituir-se, de cuja regência se encarregou o laureado maestro dr. Simões Barbas.
Os ensaios começarão activamente depois das férias de Páscoa numa casa que o sr. Reitor da Universidade tenciona ceder para esse fim.”[5]

Como se pode ler, não se fala em reconstituir, refundar, reorganizar, mas constituir.


Recentemente, fomos encontrar notícia de uma Estudiantina de Coimbra em Salamanca (Espanha), em Abril de 1891 a qual era regida por Simões Barbas. 
O periódico espanhol não dá outros detalhes nem encontrámos, na nossa investigação a outros jornais do país vizinho, referências a esta notícia. Disso demos conta em artigo que pode ver AQUI. 


De 1892, temos um dado curioso que indica a estar a organizar-se  uma Tuna, dirigida por Simões Barbas, expressamente criada (ao que tudo indica) para uma récita em Viseu (e se desfaria em seguida, como era comum).

Commercio do Minho, 20.º Ano, N.º 2946, de 29 de Novembro de 1892, p. 2.


O Defensor do Povo, Ano I, N.º 39 de 01 de Dezembro de 1892, p.3.



O Povo de Aveiro, Ano XI, N.º 588, de 04 de Dezembro de 1892, p. 2.


Neste caso, não encontrámos, à data, nos periódicos viseenses, qualquer notícia dessa idealizada passagem por Viseu de uma estudantina/tuna de Coimbra, o que também leva a crer que tal iniciativa acabou por não ir adiante.

Nota: Num artigo publicado no jornal viseense "A Liberdade", datado de 31 de Janeiro de 1893, fala-se no desejo de ida a Viseu (sem referir quando), da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, juntamente com alguns outros estudantes, entre os quais Augusto Hilário, para representar "comedias e scenas comicas". Mas, também aqui, não se encontrou, posteriormente, qualquer artigo a referir tal deslocação ou realização do espectáculo.

O que o leitor facilmente intuirá é que se trata, a terem existido, da formação de grupos efémeros, os quais duraram o tempo do propósito para que foram criados, desfazendo-se em seguida - tal como nos confirmam vários artigos de 1893 e 1894 que a seguir apresentamos. 
Uma coisa é estar-se a organizar (com ensaios e tudo o mais) e outra bem diferente é aparecer e actuar em público (que é o único modo de atestar a existência formal de um grupo).

Do ano de 1893, temos 2 artigos que referem uma nova tuna em formação (e que se estreia em 1894), distinguindo-a de quaisquer outras do género formadas anteriormente.



O Defensor do Povo, Ano II, N.º 147, de 14 de Dezembro de 1893, p.2.


O Defensor do Povo, Ano II, N.º 149, de 21 de Dezembro de 1893, p.2.

Note-se a referência explícita que coloca este novo grupo como algo díspar de quaisquer outros anteriores, tal como temos indicação de que Simões Barbas estava habituado a dirigir tunas (e não apenas a Estudantina de 1888), significando, pois, que teria dirigido (ou tentado dirigir) outros grupos do género - os tais antes citados de 1891 e 1892 (ou mesmo 1893), mas que não terão passado de malogradas tentativas de voltar a ter uma tuna académica, com carácter mais permanente e institucionalizado, na Universidade de Coimbra.
 
Mas revela-se de pormaior importância a passagem que diz "...em nada será inferior á que se fundou ha cinco annos, e que tão agradaveis recordações nos deixou, na sua quasi ephemera duração".
Em 1893, portanto, estava-se a tentar formar uma nova tuna, em nada inferor há que formara 5 anos antes, ou seja em 1888. 
Não parece haver espaço para dúvidas.

Atente-se, uma vez mais, ao que é referido pelo seguinte artigo, datado de Março de 1894, onde não se menciona qualquer refundação, reactivação reorganização ou um retomar da actividade após interregno, mas de "...organisar uma tuna á semelhança da que ha annos aqui se formou...":


Defensor do Povo, Ano II, N.º 173, de 16 de Março de 1894, p.2.

Organizar uma tuna (ou seja criar uma) do mesmo tipo (à semelhança) da que há anos se formou só pode ser entendido como formar uma similar a outra que já não existe (se existisse, era nomeada).

Ainda desse ano, mas num artigo de Dezembro, podemos ler um seguinte excerto dedicado a Simões Barbas, regente da TAUC, no qual se refere expressamente ser esta a 2.ª tuna [formal] por ele orientada:


O Defensor do Povo, Ano III, N.º 249, de 06 de Dezembro de 1894, p.3.


Estamos, ao que tudo indica, perante a formação de um grupo totalmente novo, criado de raiz.
Se assim não fosse, não se falaria em "2.ª tuna" dirigida por Simões Barbas, muito menos se faria distinção entre o grupo de 1888 e este, agora organizado, em 1894.

Pelos dados existentes na citada obra dos irmãos Nascimento, e que pode pecar por defeito (não garantimos que não apareça um documento perdido no arquivo da TAUC a contrariar), comparando o elenco dos membros da Estudantina em 1888-89 com a TAUC formada em 1894 (de que só dispomos dos órgãos directivos), nenhum elemento referido do grupo de 1894 fez parte da formação anterior (isto apesar de alguns serem alunos do 4º ano (como o presidente, Francisco Joaquim Fernandes ou o sub-regente José Cochofel - com anos de universidade suficientes para poderem ter estado na estudantina extinta em 1890).
No elenco detalhado dos membros da TAUC de 1895, nenhum nome coincide com a lista de elementos da antiga Estudantina.
Faltam-nos esses dados para uma comparação mais segura.
TAUC em 1894.

 
Mas olhemos os seguintes excertos que são suficientemente ilustrativos, datados de 1894:

“Devido aos esforços de meia dúzia de rapazes da nossa Universidade acha-se de novo organizada a Tuna Académica, tendo-se realizado na terça-feira passada [10 de Abril] o primeiro ensaio.”[6]

Para sermos sérios e honestos, nada permite inferir da passagem "... acha-se de novo organizada a Tuna Académica" como tratando-se da Estudantina de 1888, até porque nem sequer o termo "estudantina" é usado.
A dúvida surge com o determinante "a" (de a Tuna Académica), como se ele fosse quase pronominal da Estudantina de 1888, quando poderá ser genérico e significativamente sinónimo de "uma" (está de novo organizada "uma" Tuna Académica  - como já existiu).
Pelo menos os artigos anteriormente apresentados comprovam tal.

Seja como for, até a imprensa da época tem de ser lida dentro de um contexto: usava-se indiscriminadamente o termo "Tuna" e "Estudantina" para se referirem à mesma coisa, o que torna difícil perceber exactamente aquilo que o jornalista que redigiu a notícia quereria dizer, e se estava, ou não, a fazer distinção. 

Aliás, a TAUC era igualmente apelidada de "Estudantina"[7] , fosse porque era termo sinónimo, fosse porque ressoava ainda o enorme êxito do grupo de 1888 (uma extensão vocabular que ocorreu, por exemplo, com o termo "batina", que continuou a ser usado para designar a casaca do traje estudantil, embora não se tratando da velha "abatina").

Recordemos, também, que a notícia sai no mês seguinte à que relatou que “Conta já mais de 60 executantes a tuna académica que nesta cidade vai constituir-se, de cuja regência se encarregou o laureado maestro dr. Simões Barbas." que transcrevemos acima, ainda há pouco.
Direcção da TAUC em Valadolid, apelidada em Espanha,
como usual era, de "Estudiantina". Fonte: Nuevo Mundo. 4-4-1900.

Outra citação:

“Apresenta-se hoje [13 de Maio] pela primeira vez a tocar na Universidade em obséquio ao sr. Reitor, a tuna académica, dirigida pelo sr. dr. Simões Barbas.”[8]

Se a referida apresentação de dia 13 de Maio ao reitor teve lugar não sabemos.
Mas concedemos que assim tenha sido. O facto é que é apenas em Maio de 1894 que a TAUC vê a luz do dia como tal.
Com efeito, em finais de Maio (dias 26 e 27) dá concerto em Aveiro (este, sim, com notícia de que se realizou).
Tudo isso pode ser confirmado na obra citada, nas páginas 44-46 da versão digital[9], cujo endereço aqui está (e pode ser livremente descarregada) AQUI.

Um outro artigo, desta vez de 1895, a propósito da deslocação da TAUC a Viseu, refere claramente que "Não é a primeira vez que a academia de Coimbra visita a de Vizeu, a antiga tuna academica tambem se fez ouvir naquella cidade e um curso do 5.º anno juridico já ali foi tambem dar a sua tradiccional recita de despedida.".

Fala-se na "antiga" tuna", por oposição à esta "nova" (isto num espaço que dista de uns 5 anos). 
Por que razão tal, se fosse a mesma agremiação que apenas tivesse sofrido um interregno?


O Defensor do Povo, Ano III, N.º 256, de 03 de Janeiro de 1895, p.3.



Outro dado nos chega pelo periódico conimbricense "Resistência" que, em 1903, reproduz uma notícia de um outro jornal (o "Novidades") dizendo que a notícia e cronologia  estão errados. Contudo, não adianta mais sobre o assunto, não esclarecendo o que é que está errado (se a data de realização do jantar, se é o programa ou se é o 10.º aniversário). Não tendo sido exercido contraditório por parte do periódico, não temos como tecer outros quaisquer considerandos que não seja hermeneuticamente estabelecer a plausível ligação aos demais dados anteriormente apresentados.


Resistência, 9.º Ano, N.º 813, de 05 de Julho de 1903, p.2.


São os factos à data, passíveis de sofrer alterações mediante novos factos documentados.
Já fui atacado por alguns tunos da TAUC por expor o que acima escrevi, mas são os dados que existem e não podem ser ignorados.
Os factos podem não ter graça nenhuma, bem sabemos.







[1] NASCIMENTO, António José S.e NASCIMENTO, José António S. – Estudantes de Coimbra em Orquestra: Tuna Académica da Universidade de Coimbra (1888 1913). Coimbra: Bubok Publishing S.L., 1.ª ed., 2010, pp.42 e 43 (versão impressa), p.41.
[2] Notícia de Coimbra, edição de 12 de Abril de 1940.
[3] Quem não possui, está à venda: http://www.bertrand.pt/ficha/saudades-de-coimbra-i-i-i-1934-1949?id=38988 (são 3 volumes).
[4] Que aliás era tocado por quase todas as tunas estudantis.
[5] NASCIMENTO, op. cit.
[6] NASCIMENTO, op. cit.
[7] Situação que se prolongou até inícios do séc. XX, sobretudo na imprensa do país vizinho que referia qualquer Tuna portuguesa como "estudiantina" ou "tuna portuguesa".
[8] Nascimento, op. cit.
[9] Página 43 da versão impressa.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A TAUC nos periódicos de Viseu

TAUC em Braga
 in O Commercio de Vizeu, 14 Dezembro 1894,  IX Anno, Nº 878
TAUC em Viseu, in O comércio de Viseu, 31 Janeiro 1895, IX Anno, Nº 892

TAUC em Viseu,
O comércio de Viseu, 02 Fevereiro 1895, IX Anno, Nº 893

TAUC em Viseu
in O Commercio de Vizeu, 07 Fevereiro 1895,  IX Anno, Nº 894
TAUC na recepção aos Estudantes da Escoal Médica de Lisboa e Sarau
no Congresso Nacional de Tuberculose em Coimbra,
O comércio de Viseu, 07 Fevereiro 1895, IX Anno, Nº 894

TAUC em Viseu,
O comércio de Viseu, 07 Fevereiro 1895, IX Anno, Nº 894

TAUC em Pontevedra
in O Commercio de Vizeu, 24 Fevereiro 1898,  XII Anno, Nº 1211



TAUC em Viseu in A Liberdade, 22 Março 1898, ANNO XXVIII, nº 1708

TAUC em Viseu
in O Commercio de Vizeu, 24 Março 1898,  XII Anno, Nº 1219



TAUC vai a Viseu,
O comércio de Viseu, 28 Janeiro 1912, VII Anno, Nº 2652

TAUC em Viseu,
O comércio de Viseu, 08 Fevereiro 1912, VII Anno, Nº 2655