Não são apenas, nem sequer eram, em Portugal nomeadamente, as mais representativas.
Tuna Académica é uma tuna de estudantes, uma tuna escolar, que pode abranger qualquer grau de ensino.Fica o reparo.
Não são apenas, nem sequer eram, em Portugal nomeadamente, as mais representativas.
Tuna Académica é uma tuna de estudantes, uma tuna escolar, que pode abranger qualquer grau de ensino.Mais uma imagem inédita, em estreia mundial, da Estudiantina Española Fígaro.
Como
imagem foi publicada em 05 de Janeiro de 1885, existe a forte probabilidade de
ser referente a uma actuação da Fígaro em finais (Dezembro?) de 1884.
Tratar-se-á
de um desdobramento, já que sabemos que a Estudiantina
Fígaro está igualmente, nesta altura, em digressão pela América do Sul[1].
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Всемирная иллюстрация (Ilustração Mundial), N.º 833, Tomo 33, de 05 de Janeiro de 1885, p. 32. |
[1] Ramón Andreu Ricart - Estudiantinas
Chilenas. Origen, desarrollo y vigencia (1884-1995). Fondo de Desarrollo de
la Cultura y las Artes. Ministerio de Educacion. Chile, 1995; Félix O. Martín
Sárraga - Análisis comparado de los
integrantes de la Estudiantina Española Fígaro (1880-1889). TVNAE MVNDI. 29-07-2015.
Apresentamos uma nova imagem inédita que retrata, ao que tudo indica, a Estudiantina Fígaro, na sua passagem pela Rússia.Os dados de que dispomos, apontam para a Fígaro em Moscovo[1], contudo a legenda da imagem que o periódico apresenta, coloca o grupo em São Petersburgo.
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Всемирная иллюстрация (Ilustração Mundial), N.º 536, Tomo XXI , 14 de Abril de 1879 p.317. |
A legenda diz o seguinte "São Petersburgo - Estudantes artistas / Artistas espanhóis (Estudiantinas)
no Circo Ciniselli".
Nota: a grafia usada na imagem não facilitou o uso das ferramentas de tradução (correspondência de caracteres em cirílico).
Ora o Circo Ciniselli é um edifício que se encontra em Moscovo[2].
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O Circo Ciniselli, em Moscovo, edificado em 1877. |
Muito provavelmente, o periódico mencionou a presença da Estudiantina Fígaro em São Petersburgo, mas utilizando um desenho do grupo actuando em Moscovo.
Estranhamente, a imagem apresenta o conhecido grupo sem o característico bicórneo, algo que nos colocou dúvida sobre a identidade, contudo não há qualquer dado de ter havido uma outra estudiantina naquele país ou cidade que não fosse a Fígaro.
[1] Félix O. Martín Sárraga - La Fígaro, estudiantina más viajera del siglo XIX. Tvnae Mvndi, Artigo actualizado de 21-11-2018.
[2] O Circo Ciniselli (Цирк Чинизелли ), actualmente o Circo Bolshói de São Petersburgo, é um edifício projectado por Vasily Kenel (1834 a 1893) que foi inaugurado a 26 de dezembro de 1877, sendo a primeira estrutura do género construída em pedra e tijolo na Rússia. O edifício, que deve o seu nome ao artista de circo italiano Gaetano Ciniselli (1815-1881) - que dirigiu a empresa até 1919, possuía um palco com 13 metros de diâmetro e estábulos para 150 cavalos. Foi o local onde o primeiro Museu de Arte Circense foi aberto, em 1928.
Resultante das pesquisas feitas, encontrámos esta imagem curiosa de uma "Estudiantina Española" a actuar em Viena (Áustria).
Ao que tudo indica, poderá muito bem tratar-se da Estudiantina Española Fígaro, já que havia indícios preliminares que colocavam tal possibilidade[1].
Fica o documento, em estreia mundial.
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Kikeriki, N.º 81, de 11 de Outubro de 1883, pp. 2-3. |
Usando
o tradutor do Google, o texto diz o seguinte:
Os alunos da Universidade de Madrid, que recentemente deram um concerto em um clube de música, usam uma colher como emblema, como todos os alunos espanhóis.
Com esses ouvintes da
universidade espanhola, que viajam fazendo música o ano todo, esse distintivo
realmente parece significar que eles não têm colher para estudar.
[1] Félix O. Martín Sárraga - La
Estudiantina Española Fígaro en Austria, Crónica de sus giras y estela según la
prensa de la época. Tvnae Mvndi, 2017, pp. 18-19.
A presença da TAUC no Brasil, em Agosto/Setembro de 1925 foi uma digressão apoteótica que encheu muitas páginas de periódicos lusos e brasileiros.
Com actuações no Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, entre outros, a TAUC encantou por onde passou e encheu a alma a muitos emigrantes, já lá vão quase 100 anos.
Referir, en passant, que, nessa mesma altura, a TAUC se cruzou com o Orpheon Académico de Lisboa, também em digressão por terras de Vera Cruz, com quem partilhou o palco em diversas ocasiões.
Deixamos aqui um breve testemunho iconográfico encontrado nos periódicos brasileiros.
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O Globo, Ano 2, N.º 21, de 13 de Agosto de 1925, p.1. |
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Correio da Manhã (RJ), N.º 9378, de 23 de Agosto de 1925, p. 3. |
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Jornal do Brasil (RJ), Ano XXXV, N.º 202, de 23 de Agosto de 1925, p. 7. |
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O Paíz (RJ), Ano XLI, N.º 14917, de 23 de Agosto de 1925, p.1. |
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Universal (RJ), N.º 34, de 26 de Agosto de 1925, pp. 32-33. |
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Universal (RJ), N.º 34, de 26 de Agosto de 1925, p. 34. |
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Universal (RJ), N.º 34, de 26 de Agosto de 1925, p. 35. |
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A Vida Moderna (SP), Ano XXI, N.º 501, de 29 de Agosto de 1925, p. 5. |
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Fon Fon (RJ), N.º 35, de 29 de Agosto de 1925, p. 30. |
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Fon Fon (RJ), N.º 35, de 29 de Agosto de 1925, p. 31. |
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Fon Fon (RJ), N.º 35, de 29 de Agosto de 1925, p. 32. |
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Fon Fon (RJ), N.º 35, de 29 de Agosto de 1925, p. 33. |
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Fon Fon (RJ), N.º 35, de 29 de Agosto de 1925, p. 34. |
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Illustração Moderna (RJ), Ano 2, N.º 65, de 29 de Agosto de 1925, p. 32. |
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Illustração Moderna (RJ), Ano 2, N.º 65, de 29 de Agosto de 1925, p. 33. |
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O Careta (RJ), N.º 897, de 29 de Agosto de 1925, p. 26. |
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O Careta (RJ), N.º 897, de 29 de Agosto de 1925, p. 27. |
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Universal (RJ), N.º 36, de 09 de Setembro de 1925, p. 31. |
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A Noite (RJ), Ano XV, N.º 4964, de 16 de Setembro de 1925, p. 8. |
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A Vida Moderna (SP), Ano XXI, N.º 502, de 18 de Setembro de 1925, p. 17. |
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O Globo, Ano I, N.º 57, de 23 de Setembro de 1925, p.1. |
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Revista da Semana (RJ), N.º 40, de 26 de Setembro de 1925, p. 21. |
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Jornal do Brasil (RJ), N.º 233, de 29 de Setembro de 1925, p. 13. |
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Correio da Manhã (RJ), N.º 9378, de 30 de Setembro de 1925, p. 8. |
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O Social, Ano IX, N.º 406, de 15 de Outubro de 1925, p. 8. |
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Revista de Semana, N.º 41, de 03 de Outubro de 1925, p. 25. |
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Vida Doméstica (RJ), N.º 93, de Outubro de 1925, p. 29. |
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Vida Doméstica (RJ), N.º 93, de Outubro de 1925, p. 30. |
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Revista de Pernambuco, Ano 2, N.º 17, de Novembro de 1925, p. 65. |
Encontramos coisas assaz curiosas, nisto de investigar em periódicos e revistas antigas.
Desta feita, numa publicação brasileira de inícios do séc. XX,, demos de caras com um artigo em que o autor enaltece as virtudes das filarmónicas em detrimento de orquestras de plectro (como as tunas e afins) que considera de menor relevo, qualidade e virtude musical.
Historicamente, todo este tipo de orquestras pertence ao grande movimento orfeónico. E se é verdade que as filarmónicas tiveram um papel essencial na democratização e ensino da música, não é menos verdade que as tunas/estudantinas, e demais orquestras de plectro, foram um movimento tão ou mais importante nesse processo.
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Revista do Brasil, Ano V, N.º 14, de 30 de Dezembro de 1909, p. 59. |
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Revista do Brasil, Ano V, N.º 14, de 30 de Dezembro de 1909, p.61 |
- Tradições Académicas -
Edição Especial da FÓRUM ESTUDANTE, 1996.
Creio que nenhuma outra revista terá dedicado tanto espaço e dado tanta atenção ao fenómeno numa edição deste tipo.
A Tuna gozava, nessa altura, de um verdadeiro estado de graça, suscitando enorme interesse por parte da sociedade e meios de comunicação social - um ganho que não se soube capitalizar.
Para os mais saudosos, para os que terão nascido nessa altura (ou, até, nesse mesmo ano) e para as gerações mais novas, aqui fica, recuperado do meu acervo.
É certo que, nos últimos 20 anos, a investigação tuneril deu um enorme salto e garantiu a maioridade, com uma profusa produção de obras sobre a Tuna (em termos historiográficos) e sobre tunas (na vertente biográfica).
Nas últimas duas décadas, em termos de historiografia tunante, passou a imperar um critério de rigor e de metodologia
investigativa já não compaginável com pseudo-estudos polvilhados de ideologias
e narrativas ficcionadas, onde os autores moldavam e talhavam os factos à
medida das suas próprias crenças (pese embora ainda haver disso, nomeadamente em
Espanha).
Mas está ainda muito por fazer.
No
estrito caso português, e apesar do trabalho meritório e ímpar traduzido na
obra "Qvid
Tvnae?",
é virtualmente impossível chegar a todo o lado - mesmo sendo Portugal um país
geograficamente pequeno.
Lamentavelmente, grande parte dos fundos e arquivos locais não está acessível à distância (falta de medidas políticas e investimento subsequente) - e muitos desses fundos e arquivos nem digitalizados estão. Nesse ponto, vivemos verdadeiramente na cauda da Europa.
Se mais não sabemos sobre a nossa história tuneril, não é apenas por este tipo de questões técnicas, mas por uma enorme falta de mobilização da comunidade tunante para estas questões.
A preservação e valorização do património e tradição tuneril é algo que, quase sempre, serve apenas de chavão para "inglês ver". As Tunas não podem preservar e defender uma tradição que desconhecem (estando mais aptas, portanto, a desvirtuar o que dizem promover). Chega a ser caricato que os protagonistas, os que militam e exercem o mester tunante, sejam, grosso modo, tão ignorantes sobre o fenómeno como outro qualquer leigo, alheio às Tunas.
Neste últimos 20 anos, foram produzidas diversas obras biográficas sobre tunas, mas salvo a lançada pelo João Paulo Sousa, em 2001[1], nenhuma das demais procurou sequer urdir uma introdução histórica que trouxesse a lume alguns aspectos históricos das tunas que outrora existiram na sua geografia local. As Tunas não nasceram na década de 1980, e muito menos a "tradição" se resume àquela que cada um bebeu empiricamente, absorveu "de ouvido" ou, pior, decidiu inventar com base no "achismo".
Se em cada localidade onde há uma Tuna, alguém tivesse tido a boa ideia de fazer alguma pesquisa histórica, teria certamente suprido a evidente impossibilidade de algum investigador de Faro conseguir aceder a informações sobre Braga (ou alguém de Viana poder consultar acervos em Beja).
Difícil, mesmo impossível, portanto, urdir um estudo mais completo da Tuna portuguesa (em termos de pormenor), quando os que a isso se propõem são poucos e não têm, obviamente, o dom da ubiquidade.
Complicado,
dadas as limitações técnicas, aceder a acervos que não foram digitalizados e
partilhados na web (apesar de já haver muita coisa).
Ainda
assim, já muito se conseguiu desde o lançamento do "Qvid" em 2011-12
(e ampliará substancialmente a dimensão da sua nova versão)[2],
mas o que demora uma década a fazer-se seria em muito encurtado ou, então,
teria produzido muito mais dados, se mais gente houvesse com gosto em saber (descalçando
os cómodos chinelos).
Mas mesmo no que respeita a fontes ao alcance de um click, os investigadores deparam-se com uma titânica tarefa de busca.
Ao
contrário do que sucede com outros acervos online, quase tudo o que existe
digitalizado em Portugal não permite pesquisa por palavras, pois essa
digitalização omitiu o reconhecimento OCR e não foram criados motores internos
de busca. Tal obriga, na prática, a ter de ler tudo de fio a pavio,
materializando-se a empreitada no ditado "procurar uma agulha num
palheiro".
E quando são poucos a empreender investigação, tudo leva anos e anos, porque uma mão de pares de olhos não dá conta de algo que precisaria de mais implicados, de muitos mais olhos, distribuídos geograficamente.
Visitar o arquivo ou hemeroteca local é um exercício simples. Pedir para consultar jornais antigos, tomar notas e/ou tirar fotos de dados encontrados e registar cronologicamente o que se encontra não é tarefa complicada, se o âmbito da pesquisa for muito localizado geograficamente (mais ainda se, colaborativamente, dividirem a tarefa com mais 2 ou 3, distribuindo limites cronológicos).
Mas
imaginem ter de fazer isso para um país inteiro, ao largo de mais de 100 anos, com apenas
uma mão cheia de pessoas (e, ainda, abarcar outros territórios).
O desafio é simples: quando decidirem publicar uma obra biográfica sobre a
vossa tuna, procurem enriquecê-la com uma introdução histórica que recupere a
memória passada da vossa cidade/região, ofereçam aos leitores algo mais, algo
que, muitas vezes, será uma descoberta inédita e conferirá outra importância ao
que apresentam.
Para que, no futuro, outros tratem esta nossa época com rigor, cuidado e carinho, convirá que demos esse mesmo exemplo, deixando-o como testemunho aos vindouros. Uma tarefa que é de todos, tanto mais quanto seja feita para todos.
[1] A obra "10 Anos de Infantuna", inseriu, num capítulo introdutório de 10 páginas, uma contextualização histórica onde apresenta dados de uma investigação feita a jornais antigos, trazendo à tona notícias de uma Tuna Académica de Viseu de finais do séc. XIX.
[2] Para além das investigações do grupo CoSaGaPe, há a salientar o trabalho de Rui Marques, resultando numa Tese de Doutoramento em Etnomusicologia dedicada à Tuna em Portugal.