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sábado, 17 de julho de 2021

O Real Tunel no Boom tuneril viseense

A propósito da excelente entrevista desta 5.ª feira passada, feita a João Paulo Sousa (EUC e Infantuna de Viseu) por Ricardo Tavares, na emissão da PTV "Filhos do Boom", alguns considerandos suscitados pelo tema do "boom" tuneril em Viseu, nos anos 90.

O ano em que, em Viseu, as Tunas se apresentam formalmente é 1992, na Semana Académica de Viseu, mais precisamente na noite de Tunas, realizada no Parque da Cidade, e nela se apresentando a Infantuna, a Tuna da UCP e a Polituna do IPV.

Mas as tunas não se criaram nesse dia, pelo que seja natural que a formação e os primeiros ensaios (e alguma outra apresentação informal) sejam anteriores, daí que seja ainda em finais de 1991 que alguns projectos tenham começado a dar os primeiros passos.

Isto para introduzir a questão das primeiras tunas, ainda em 1991.



Uma das tunas ainda não mencionada é o
Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu e que o João Paulo, e bem, refere como sendo, na altura, um grupo não assumidamente Tuna, mas antes um Grupo de Rondas/Serenatas.

Ora e porquê?

O Real Tunel surge em resultado do contacto estreito de vários elementos, pertencentes às várias instituições de Ensino Superior da cidade (IPV, UCP, nesta fase) que tinham em comum as primeiras reuniões para a formação da PESV (Pastoral do Ensino Superior de Viseu)[1], dinamizadas pelo saudoso Pe. Ilídio Leandro (mais tarde Bispo de Viseu), ainda nas instalações do Seminário Maior (transferindo-se, depois, para a antiga Casa dos Retiros, na Rua 5 de Outubro).

Ora, no final de uma dessas reuniões, os então estudantes da Esc. Superior de Educação, Luís Viegas e Paulo Pereira (membros da Polituna) convidam alguns de nós[2] a ir até ao Bóquinhas (Rua Escura), onde, entre conversas animadas, aparece uma guitarra (e se soltam as vozes). O Bóquinhas fora descoberto pelo Luís Viegas que logo lá levou o Paulo Pereira. Não era, portanto, um local frequentado e da preferência estudantil (algo que só começaria com os fundadores do Real Tunel).

Foi dessa amizade forjada a propósito da fundação da PESV e das respectivas reuniões, que foram tendo lugar nesse final de ano de 1991, que se tornou hábito regular fechar esses dias (eram usualmente quartas[3]) no Bóquinhas.

Nessa altura, já se desenhavam embrionariamente as tunas das respectivas escolas e, portanto, a animação musical no Bóquinhas fazia-se, a par com outros temas diversos, sobretudo à conta de "canções tunantes" (sobretudo à conta dos temas popularizados pela EUC no seu 1.º disco, "Estudantina Passa").

Cedo ganharam fama essas quartas à noite, animadas pela rapaziada, tornando-se o local num espaço de concerto, com pessoas que, pela reduzida dimensão da taberna, ficavam à porta, na rua, a ouvir (e que motivou algumas visitas da PSP que, ali chegada, não apenas não intervinha como ficava a ouvir também[4]).

A propósito do Bóquinhas, não é de esquecer que, apesar de tudo ter começado com 5 estudantes de instituições diferenciadas, o primeiro grande fluxo estudantil começou com os alunos da UCP (quase únicos nos primeiros anos), dado que, com a entrada de novos elementos no Real Tunel (por volta de 1993), a larga maioria era de essa instituição e, a reboque da Praxe (na qual também estavam envolvidos), levava os caloiros a  visitar aquele local (a par do bar do Orfeão de Viseu, na Rua Direita), a par de outros colegas praxistas. O grande afluxo de estudantes de outras instituições ao Bóquinhas dá-se a partir de 1998 em diante, passando a ser igualmente ponto de romagem das tunas locais e de fora da cidade.

Pontualmente, durante os seus primeiros anos, o grupo ia até ao adro da Sé, tocava nas iniciativas da PESV ou se entretinha a fazer umas serenatas, quando a ocasião se apresentava.

Mas por que razão não se assumiram logo como Tuna?

Há razões para tal e de fácil entendimento.

Esse reduzido grupo, na altura, estava ligado aos projectos de constituição das respectivas tunas das suas instituições de ensino, e não concebia sequer ser possível a criação de algo mais sério que não tivesse precisamente o apoio logístico da estrutura institucional (fosse a reitoria fosse a associação de estudantes). Um grupo formal, composto por gente de escolas diferentes era, implicitamente, algo que se via como impossível sem apoios e sem experiência. Por outro lado, era um statvs Qvo que agradava a todos: um grupo informal, de certa forma clandestino, que ia sendo alimentado pela experiência que os membros traziam das tunas que estavam a tentar formar nas suas instituições.

O grupo nunca se auto-intitulou de "Grupo de Serenatas" ou quejandos[5]. Quase desde logo se adoptou a designação "Tunel", numa fusão entre Tonel (por causa de dois pipos que existiam no Bóquinhas) e  Tuna. Um nome sugerido pelo Luís Viegas e que explica que, para os próprios, o que faziam era num formato Tuna, embora sem pretensões de carimbo formal.

O "Tunel" (designação usada até 1993-94[6]), também se traduzia num espaço onde se experienciava o grupo como exclusivamente masculino -  algo que não sucedia nem na Polituna nem na Tuna da UCP (que eram grupos mistos), e, por isso, sendo mais ao gosto dos seus elementos, mais de acordo com a noção romântica do varão que canta serenatas à mulher[7].

Mas o Tunel teve mulheres, desenganem-se!

Embora tenha sido pontual, o grupo contou com uma menina da Sup. de Educação, a Teresa (o apelido foi-se), exímia cantadora de fados e que também fazia parte da Polituna e, um pouco mais tarde (no ano de 93, salvo erro), com duas meninas da Tuna da UCP que tocavam bandolim (a Carla e a Nanda - ambas de Torredeita) que deram uma perna em algumas ocasiões: num sarau de Natal da PESV,  numa actuação em Santiago de Besteiros, numas jornadas PESV (um programa cultural que ocorreu (nas Termas de São Pedro do Sul, com presença dos Cantares de manhouce) e numa actuação em Fataunços.

Foram casos muito pontuais, mas existiram.

Portanto, quando se pensa na génese do "boom tuneril" em Viseu, claro está que se recordam as tunas que estavam oficialmente formadas, mas não é menos verdade que o Real Tunel existia e que os seus primeiros passos foram dados ainda antes da apresentação formal da Tuna da UCP e da Polituna, impulsionadas, também, pela notícia da criação da Infantuna e pela prevista noite de tunas que se iria realizar em Maio de esse ano - e na qual queriam participar).

A Polituna, já agora, surge precisamente pelo desafio que o João Paulo Sousa lançara em Viseu, quando ali actuara com a Estudantina de Coimbra, para que se criasse, também em Viseu, uma tuna. Criada com o apoio do Dr. Antas de Barros (então presidente do IPV), que subsidiou os trajes (que chegaram a ser ponderados como futuro traje académico), estrearam-se na na própria escola (ESEV), depois actuando em Lamego e Caparrosa e, finalmente, apresentando-se oficialmente à cidade na noite de tunas da Semana Académica de 1992. A tuna extinguiu-se, depois, em ca. 1993.

Voltando ao Real Tunel, o facto de a data escolhida ter sido 27 de Novembro de 1991, foi porque, quando se quis perceber em que dia tinha sido efectivamente criado o grupo, a única informação existente constava de uma agenda minha de 1991, na qual estava apontada "Reunião PESV + Bóquinhas".

À falta de melhor memória, e porque era algo informal (não havia actas ou quaisquer documentos), foi retida essa data como a da fundação, a qual até antecede a data escolhida pela Infantuna para a assinalar a 1.ª reunião que levou à sua formação.

Portanto, se, por um lado, é facto que a génese do Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu, é anterior a qualquer outra formação tuneril, não é menos verdade que, formalmente, é posterior às demais citadas, já que o 1.º espectáculo público, onde se apresenta assumidamente como grupo Tuna, data de 1992-93.

Recordo, a propósito da Infantuna, que uma parte dos seus membros fundadores, eram alunos meus contemporâneos na UCP de Viseu, chegando dois deles a fazer parte da comissão que tinha por missão dar corpo ao projecto da formação da Tuna da UCP, quando a Associação Académica fez disso uma prioridade, vendo que o processo estava a "engonhar" (razão pela qual a própria Tuna teria na sua designação "Tuna da AAV da UCP").

Nessa época, essa malta tocava no bar, muitas vezes a par com os que efectivamente estavam no grupo fundador da Tuna da UCP, numa alegre e partilhada camaradagem. Desses Infantunos, alunos da UCP de essa altura, destaco sobretudo o Paulo Calote, o Albuquerque, o Carlos Bispo e o José António.

Pouco mais tarde, surgirá a Profituna.

Nos anos seguintes, surgirá o projecto TunaDão (1993-1994) - que não passa da fase de ensaios (e cujos componentes, parte deles, passa para o Real Tunel)[8], a Electrotuna (1996-1998), a Tuna do Piaget (1997-2005) e, finalmente, a TUNADÃO (1998).

Foi assim, em pinceladas muito largas, o "boom tuneril" viseense e o lugar que o Real Tunel ocupou, e ocupa, no mesmo.

 



[1] Existe uma página de FB que lhe é dedicada.

[2] Eu, o João Almas (UCP) e o Nandy (Esc. Sup. Tecnologia).

[3] Esse dia passou a ser, durante anos, o dia (noite) obrigatório para se estar no Bóquinhas, embora muitos passassem lá os demais também.

[4] O dono da taberna, o Sr. Raúl, muitas vezes recorda esses episódios, sublinhando que quem se queixava inicialmente do barulho e chamava a polícia acabou por, depois, também se tornar fã.

[5] Foi sempre uma forma de, olhando para trás, se referir o grupo dessa altura como algo que, embora na prática fosse uma Tuna, não se assumia oficialmente face aos demais (já que, nessa altura e durante largos anos, era inconcebível fazer parte de 2 tunas de uma mesma cidade). Era um grupo que fazia rondas e serenatas (como qualquer tuna) mas só não se apresentava em espectáculos/eventos oficiais nem em festivais.

[6] Passa a Tunel Académico de Viseu e, finalmente, a Real Tunel Académico de Viseu / Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu.

[7] E note-se que, nos anos posteriores, vários elementos da Tuna da UCP e Polituna se foram juntando ao grupo, porventura por esse mesmo motivo também.

[8] Um projecto fortemente apoiado pelo Presidente do Instituto Politécnico, com cedência de sala e subvenção para compra de instrumentos e para o qual fui convidado como ensaiador, desempenhando a tarefa até se concluir que não estavam reunidos os meios humanos para continuar. Os elementos mais capazes acabaram, depois, por rumar ao Real Tunel, por convite que eu e o Nandy  lhes fizemos. É nessa altura que o Real Tunel ganha, também com a chegada de outros elementos da UCP, um novo fôlego.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Serenata de Viseu por Tunas. A tradição sem tradição.

A tra(d)ição da Serenata Monumental de Viseu........por Tunas?


É propósito da FAV (Federação Académica de Viseu), este ano, dispensar os grupos de fado académico e meter tunas a fazer a Serenata Monumental da Semana Académica (Queima das Fitas).
É um ataque não apenas vil e hediondo à Tradição, mas, também, um desrespeito às próprias Tunas, achando que as mesmas são "pau para toda a colher" e são apropriadas para tal.

Se há algo com que a FAV não devia contar é com a cumplicidade das Tunas de Viseu para tamanho atentado à Tradição (em Viseu, já havia Serenata e Semana Académica antes de existir a FAV, note-se).
A FAV não está mandatada para decretar a Tradição ou a Praxe, muito menos para fazer das Tunas peças de xadrez que coloca onde bem quer, no seu programa de festas (usando a Tradição como mero pretexto).

Os elementos da FAV perderam toda a idoneidade e credibilidade a partir do momento em que trocaram a defesa e promoção da Tradição por falta de senso.

A verdadeira razão não é o desrespeito ou falta de identificação com a Serenata Monumental que justifica novos moldes.
A verdadeira razão é que a FAV não quer ter 2 despesas com 2 eventos de entrada livre.
Ter tunas nessa noite torna-se, na verdade, o mero pretexto, em jeito de aperitivo, para o ajuntamento das hostes, à espera que abra o pavilhão multi-usos. Enquanto não começa a bombar, a "serenata" fica transformada num mero local de passagem, num estacionamento, porque importa é o que vem a seguir.

Optou a FAV por não abolir as tunas, preferindo acabar com os fados, sob pretexto de gastos e os grupos serem de fora (esqueceu-se foi que, exceptuando as tunas, o cartaz é feito com gente de fora).
Uma premeditação mal intencionada, está bom de ver,  num faz um faz de conta de a transferir, aliciando as Tunas (para as calar) com a "honra" de fazerem a Serenata.
Parece assim, para os mais distraídos, que se salvaguardou a tradição, atirando com a desculpa (em que só ingenuamente se acredita) que é por causa do respeito ou, como alguns menos esclarecidos apontam também, para o facto de não fazer sentido grupos de fado de Coimbra a cantar coisas coimbrãs.
Sobre isso, cito João Paulo Sousa, ilustre viseense, um reputado tuno e consagrado protagonista do fado de Coimbra:

"Vejamos, ficaria mal hoje em dia negar em qualquer academia que não a Coimbrã, que as restantes academias do país adoptaram um modelo que copia (seja qual for o nome adoptado "Queima", "Enterro", "Semana Académica" etc, etc...) ou adapta aquilo que era feito em Coimbra. E tal ficou a dever-se à disseminação do ensino superior que se pulverizou por todo o país. E "in illo tempore" era perfeitamente legítimo que os estudantes dessas academias quisessem também ter os momentos simbólicos inerentes: a benção das insígnias e símbolos, o atingir e reconhecer dos graus académicos, o ritual da despedida para os finalistas corporizado simbolicamente na serenata - onde a Canção de Coimbra assumiu naturalmente posição central, não por ter origem onde teve (e sabemos aliás do contributo da música regional de muitos pontos do país nessa forma musical), mas porque é reconhecida como forma de expressão artística expressamente universitária - aliás, a única forma musical de raiz universitária do mundo. Não há por isso qualquer razão para os coimbrinhas se escandalizarem com essa aculturação, bem pelo contrário, antes deveriam mostrar orgulho por, de uma forma mais ou menos feliz, conforme os casos, tal matriz haver sido assimilada pelos outros. Por outro lado, quer os grupos locais que vêm fazendo essas serenatas, quer os que vinham de Coimbra, têm mostrado interesse e cuidado em que o que é executado não sejam os temas que ostensivamente cantam Coimbra e antes os que são neutros e em que toda a gente em todo o lado se pode rever. Daí, por exemplo, o caso de sucesso da Balada do 5º ano jurídico: expressa sentimentos comuns a toda as academias e estudantes, tendo 1, apenas 1, referência a Coimbra, que chega a passar despercebida (a palavra "cabra"). Para mim a questão passa antes pela total ausência de formação quanto à simbologia do momento. Como a coisa está, em breve teremos garrafas de Licor Beirão na Benção das Pastas, como já temos Hip-Hop debitado em alto nível ou absinto nos cortejos, Kilts nos trajes e quejandos. Os orgãos de praxe e todos os outros que tratam da parte académica (strictu sensu) destas celebrações é que não estão à altura da transmissão das simbologias e significados inerentes."


Foi a Serenata Monumental vilipendiada e jogada ao lixo, e foi subtraída cirúrgica e "engenhosamente" às Tunas a sua noite (como vinha sendo hábito há uma boa década).
Mas o mais "engenhoso" foi ter conseguido que as próprias Tunas participassem voluntária e inconscientemente nestes dois certeiros tiros: um à tradição, ferindo de morte um dos momentos mais simbólicos e tradicionais da Queima de Viseu, e outro no próprio pé, ferindo gravemente a sua idoneidade (passando as Tunas a caminharem, daqui em diante, com "pés de barro")
Também é de questionar a posição dos organismos de Praxe da Academia, pois não é de todo aceitável, nem compreensível, que também entrem na dança e, como guardiões da Tradição, aceitem tal (ou então algo pouco claro se estará a passar).
As Tunas, sempre tiveram o seu espaço na Semana Académica de Viseu, mas nunca passaria pela cabeça de ninguém (no seu perfeito juízo) misturar competências e espaços.

Sinto vergonha em realizar que tunas se prestam a tal papel e são coniventes e cúmplices desse atentado. Os tunos que consentem, e alguns até apoiam, esta solução tunante teriam certamente outra opinião, se, em vez de tunas, fossem coros/orfeões a fazerem a Serenata ou mesmo a Noite de Tunas.
Se todos reconhecemos a falta de informação/formação sobre as tradições e a necessidade de as dar a conhecer e valorizar, que exemplo se dá quando se pratica precisamente o contrário, e quando isso é também protagonizado por Tunas?
No dia em que forem as tunas o alvo de "invencionismos" e intromissões ex muris ....... quero ver alguns a encherem a boca com "Tradição".

As Tunas, com T grande vêem-se nestas alturas e honra seja feita o Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu que não embarcou nesse circo, contrariamente a outras congéneres, algumas das quais surpreendem pela tomada de posição cúmplice.


A César o que é de César, porque defender a Tuna é também saber que lugar deve ocupar e respeitar para se dar ao respeito também.