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sábado, 17 de julho de 2021

O Real Tunel no Boom tuneril viseense

A propósito da excelente entrevista desta 5.ª feira passada, feita a João Paulo Sousa (EUC e Infantuna de Viseu) por Ricardo Tavares, na emissão da PTV "Filhos do Boom", alguns considerandos suscitados pelo tema do "boom" tuneril em Viseu, nos anos 90.

O ano em que, em Viseu, as Tunas se apresentam formalmente é 1992, na Semana Académica de Viseu, mais precisamente na noite de Tunas, realizada no Parque da Cidade, e nela se apresentando a Infantuna, a Tuna da UCP e a Polituna do IPV.

Mas as tunas não se criaram nesse dia, pelo que seja natural que a formação e os primeiros ensaios (e alguma outra apresentação informal) sejam anteriores, daí que seja ainda em finais de 1991 que alguns projectos tenham começado a dar os primeiros passos.

Isto para introduzir a questão das primeiras tunas, ainda em 1991.



Uma das tunas ainda não mencionada é o
Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu e que o João Paulo, e bem, refere como sendo, na altura, um grupo não assumidamente Tuna, mas antes um Grupo de Rondas/Serenatas.

Ora e porquê?

O Real Tunel surge em resultado do contacto estreito de vários elementos, pertencentes às várias instituições de Ensino Superior da cidade (IPV, UCP, nesta fase) que tinham em comum as primeiras reuniões para a formação da PESV (Pastoral do Ensino Superior de Viseu)[1], dinamizadas pelo saudoso Pe. Ilídio Leandro (mais tarde Bispo de Viseu), ainda nas instalações do Seminário Maior (transferindo-se, depois, para a antiga Casa dos Retiros, na Rua 5 de Outubro).

Ora, no final de uma dessas reuniões, os então estudantes da Esc. Superior de Educação, Luís Viegas e Paulo Pereira (membros da Polituna) convidam alguns de nós[2] a ir até ao Bóquinhas (Rua Escura), onde, entre conversas animadas, aparece uma guitarra (e se soltam as vozes). O Bóquinhas fora descoberto pelo Luís Viegas que logo lá levou o Paulo Pereira. Não era, portanto, um local frequentado e da preferência estudantil (algo que só começaria com os fundadores do Real Tunel).

Foi dessa amizade forjada a propósito da fundação da PESV e das respectivas reuniões, que foram tendo lugar nesse final de ano de 1991, que se tornou hábito regular fechar esses dias (eram usualmente quartas[3]) no Bóquinhas.

Nessa altura, já se desenhavam embrionariamente as tunas das respectivas escolas e, portanto, a animação musical no Bóquinhas fazia-se, a par com outros temas diversos, sobretudo à conta de "canções tunantes" (sobretudo à conta dos temas popularizados pela EUC no seu 1.º disco, "Estudantina Passa").

Cedo ganharam fama essas quartas à noite, animadas pela rapaziada, tornando-se o local num espaço de concerto, com pessoas que, pela reduzida dimensão da taberna, ficavam à porta, na rua, a ouvir (e que motivou algumas visitas da PSP que, ali chegada, não apenas não intervinha como ficava a ouvir também[4]).

A propósito do Bóquinhas, não é de esquecer que, apesar de tudo ter começado com 5 estudantes de instituições diferenciadas, o primeiro grande fluxo estudantil começou com os alunos da UCP (quase únicos nos primeiros anos), dado que, com a entrada de novos elementos no Real Tunel (por volta de 1993), a larga maioria era de essa instituição e, a reboque da Praxe (na qual também estavam envolvidos), levava os caloiros a  visitar aquele local (a par do bar do Orfeão de Viseu, na Rua Direita), a par de outros colegas praxistas. O grande afluxo de estudantes de outras instituições ao Bóquinhas dá-se a partir de 1998 em diante, passando a ser igualmente ponto de romagem das tunas locais e de fora da cidade.

Pontualmente, durante os seus primeiros anos, o grupo ia até ao adro da Sé, tocava nas iniciativas da PESV ou se entretinha a fazer umas serenatas, quando a ocasião se apresentava.

Mas por que razão não se assumiram logo como Tuna?

Há razões para tal e de fácil entendimento.

Esse reduzido grupo, na altura, estava ligado aos projectos de constituição das respectivas tunas das suas instituições de ensino, e não concebia sequer ser possível a criação de algo mais sério que não tivesse precisamente o apoio logístico da estrutura institucional (fosse a reitoria fosse a associação de estudantes). Um grupo formal, composto por gente de escolas diferentes era, implicitamente, algo que se via como impossível sem apoios e sem experiência. Por outro lado, era um statvs Qvo que agradava a todos: um grupo informal, de certa forma clandestino, que ia sendo alimentado pela experiência que os membros traziam das tunas que estavam a tentar formar nas suas instituições.

O grupo nunca se auto-intitulou de "Grupo de Serenatas" ou quejandos[5]. Quase desde logo se adoptou a designação "Tunel", numa fusão entre Tonel (por causa de dois pipos que existiam no Bóquinhas) e  Tuna. Um nome sugerido pelo Luís Viegas e que explica que, para os próprios, o que faziam era num formato Tuna, embora sem pretensões de carimbo formal.

O "Tunel" (designação usada até 1993-94[6]), também se traduzia num espaço onde se experienciava o grupo como exclusivamente masculino -  algo que não sucedia nem na Polituna nem na Tuna da UCP (que eram grupos mistos), e, por isso, sendo mais ao gosto dos seus elementos, mais de acordo com a noção romântica do varão que canta serenatas à mulher[7].

Mas o Tunel teve mulheres, desenganem-se!

Embora tenha sido pontual, o grupo contou com uma menina da Sup. de Educação, a Teresa (o apelido foi-se), exímia cantadora de fados e que também fazia parte da Polituna e, um pouco mais tarde (no ano de 93, salvo erro), com duas meninas da Tuna da UCP que tocavam bandolim (a Carla e a Nanda - ambas de Torredeita) que deram uma perna em algumas ocasiões: num sarau de Natal da PESV,  numa actuação em Santiago de Besteiros, numas jornadas PESV (um programa cultural que ocorreu (nas Termas de São Pedro do Sul, com presença dos Cantares de manhouce) e numa actuação em Fataunços.

Foram casos muito pontuais, mas existiram.

Portanto, quando se pensa na génese do "boom tuneril" em Viseu, claro está que se recordam as tunas que estavam oficialmente formadas, mas não é menos verdade que o Real Tunel existia e que os seus primeiros passos foram dados ainda antes da apresentação formal da Tuna da UCP e da Polituna, impulsionadas, também, pela notícia da criação da Infantuna e pela prevista noite de tunas que se iria realizar em Maio de esse ano - e na qual queriam participar).

A Polituna, já agora, surge precisamente pelo desafio que o João Paulo Sousa lançara em Viseu, quando ali actuara com a Estudantina de Coimbra, para que se criasse, também em Viseu, uma tuna. Criada com o apoio do Dr. Antas de Barros (então presidente do IPV), que subsidiou os trajes (que chegaram a ser ponderados como futuro traje académico), estrearam-se na na própria escola (ESEV), depois actuando em Lamego e Caparrosa e, finalmente, apresentando-se oficialmente à cidade na noite de tunas da Semana Académica de 1992. A tuna extinguiu-se, depois, em ca. 1993.

Voltando ao Real Tunel, o facto de a data escolhida ter sido 27 de Novembro de 1991, foi porque, quando se quis perceber em que dia tinha sido efectivamente criado o grupo, a única informação existente constava de uma agenda minha de 1991, na qual estava apontada "Reunião PESV + Bóquinhas".

À falta de melhor memória, e porque era algo informal (não havia actas ou quaisquer documentos), foi retida essa data como a da fundação, a qual até antecede a data escolhida pela Infantuna para a assinalar a 1.ª reunião que levou à sua formação.

Portanto, se, por um lado, é facto que a génese do Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu, é anterior a qualquer outra formação tuneril, não é menos verdade que, formalmente, é posterior às demais citadas, já que o 1.º espectáculo público, onde se apresenta assumidamente como grupo Tuna, data de 1992-93.

Recordo, a propósito da Infantuna, que uma parte dos seus membros fundadores, eram alunos meus contemporâneos na UCP de Viseu, chegando dois deles a fazer parte da comissão que tinha por missão dar corpo ao projecto da formação da Tuna da UCP, quando a Associação Académica fez disso uma prioridade, vendo que o processo estava a "engonhar" (razão pela qual a própria Tuna teria na sua designação "Tuna da AAV da UCP").

Nessa época, essa malta tocava no bar, muitas vezes a par com os que efectivamente estavam no grupo fundador da Tuna da UCP, numa alegre e partilhada camaradagem. Desses Infantunos, alunos da UCP de essa altura, destaco sobretudo o Paulo Calote, o Albuquerque, o Carlos Bispo e o José António.

Pouco mais tarde, surgirá a Profituna.

Nos anos seguintes, surgirá o projecto TunaDão (1993-1994) - que não passa da fase de ensaios (e cujos componentes, parte deles, passa para o Real Tunel)[8], a Electrotuna (1996-1998), a Tuna do Piaget (1997-2005) e, finalmente, a TUNADÃO (1998).

Foi assim, em pinceladas muito largas, o "boom tuneril" viseense e o lugar que o Real Tunel ocupou, e ocupa, no mesmo.

 



[1] Existe uma página de FB que lhe é dedicada.

[2] Eu, o João Almas (UCP) e o Nandy (Esc. Sup. Tecnologia).

[3] Esse dia passou a ser, durante anos, o dia (noite) obrigatório para se estar no Bóquinhas, embora muitos passassem lá os demais também.

[4] O dono da taberna, o Sr. Raúl, muitas vezes recorda esses episódios, sublinhando que quem se queixava inicialmente do barulho e chamava a polícia acabou por, depois, também se tornar fã.

[5] Foi sempre uma forma de, olhando para trás, se referir o grupo dessa altura como algo que, embora na prática fosse uma Tuna, não se assumia oficialmente face aos demais (já que, nessa altura e durante largos anos, era inconcebível fazer parte de 2 tunas de uma mesma cidade). Era um grupo que fazia rondas e serenatas (como qualquer tuna) mas só não se apresentava em espectáculos/eventos oficiais nem em festivais.

[6] Passa a Tunel Académico de Viseu e, finalmente, a Real Tunel Académico de Viseu / Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu.

[7] E note-se que, nos anos posteriores, vários elementos da Tuna da UCP e Polituna se foram juntando ao grupo, porventura por esse mesmo motivo também.

[8] Um projecto fortemente apoiado pelo Presidente do Instituto Politécnico, com cedência de sala e subvenção para compra de instrumentos e para o qual fui convidado como ensaiador, desempenhando a tarefa até se concluir que não estavam reunidos os meios humanos para continuar. Os elementos mais capazes acabaram, depois, por rumar ao Real Tunel, por convite que eu e o Nandy  lhes fizemos. É nessa altura que o Real Tunel ganha, também com a chegada de outros elementos da UCP, um novo fôlego.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O falso alfobre tunante que foi o Estudantino Café de Viseu

 Não irei lá por 25 caminhos diferentes. O Estudantino Café (que existiu entre Fevereiro de 2007 e Setembro de 2018) nunca foi alfobre de nascimento das primeiras tunas, pois nem sequer existia nessa altura. Aliás, salvo erro, todas as tunas fundadas na cidade (mesmo as que já se extinguiram, como é o caso da feminina "Meninas e Senhoras da Beira) foram fundadas antes mesmo do dito espaço abrir portas.

As primeiras tunas académicas em Viseu (se exceptuarmos os finais do séc. XIX e inícios do XX) datam de inícios dos anos 1990, com a fundação da Infantuna, Polituna do IPV, Tuna da UCP, Real Tunel Académico e Profituna de Torredeita.

Nem sequer há qualquer indício do Estudantino Café ter sido berço do nascimento de qualquer Tuna. Este texto (de que já só se consegue este acesso indirecto da publicação original) enferma, por isso, um embuste, uma mentira! É facto que serviu de sede à Estudantina Universitária de Viseu, mas esta foi inicialmente fundada em 2005 (com a designação "Estudantina de Viseu", não sendo exclusivamente composta de estudantes), quando o estabelecimento comercial em causa abriu portas apenas em 2007.

É muito giro vir com estórias destas, mas o único estabelecimento que se pode orgulhar de ser alfobre de uma Tuna é o "Bóquinhas", na Rua Escura, que viu nascer o Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu.

Portanto é falsa a afirmação feita e que mais não é do que tentar fazer falsa propaganda para enganar as pessoas. A história tuneril viseense de essa época está, aliás, bem documentada (ver AQUI).

Se é verdade que o Estudantino Café foi lugar de encontro de muitos estudantes (quase exclusivamente do Instituto Superior Politécnico) e espaço que acolheu a malta em diversos festivais de tunas, nem sequer existia aquando da primeira tuna do ISPV (a Polituna, nascida da ESEV), ou da tentativa de criação da 1.ª TunaDão (1994) - que não passou da fase de ensaios; nem sequer da ElectroTuna (nascida na ESTV). 
O dito estabelecimento não assistiu, na verdade, ao nascimento de nenhuma tuna viseense, porque nenhuma foi fundada enquanto existiu (e as que existem ou existiram já tinha nascido bem antes).

A mentira tem perna curta!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Na Feira de São Mateus, 2013

Sempre bom subir a palco com os amigos, mesmo se o traje já não tem a folga de outros tempos, há 20 kg atrás.






segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

No XX Aniversário do RTA- TUV

São 20 anos que se assinalaram no passado dia 26 de Novembro (2011). O tempo passa, mas as amizades, as verdadeiras, essas,  ficam.






















sexta-feira, 2 de março de 2007

Chapéus (não) há muitos

Importa esta nota, para fazer notar alguns aspectos que, julgo eu, merecem, pelo menos, alguma reflexão e introspecção.
Falo do traje de Tuna, mais precisamente de dois trajes de duas tunas beirãs, os quais são distintos da capa e batina.
Mas antes de mais, há que fazer um parêntesis.

Em Portugal, diga-se o que se disser, o traje de tuna, o das Tunas Universitárias/Académicas (e só estas) é a capa e batina, tendo em conta o contexto, a tradição e ligação óbvia e natural à academia.
É certo que, há uns anos a esta parte, deu-se uma febre de secessão do traje académico, com a instalação de bairrismos que, quanto a mim, nada trouxeram de útil, antes pelo contrário, em alguns/muitos…. na maioria dos casos, apenas se revestiram de ridículo de todo o tamanho, para além de uma total incoerência e desrespeito por uma tradição secular nacional.

Com a proliferação de dezenas de novos panos, com N academias ou instituições de ensino superior a optarem por se vestirem de forma diferenciada, abandonando o traje nacional, dito erroneamente “de Coimbra” (erróneo, porque foi declarado traje nacional pelo próprio governo) e, muitas vezes, optando por indumentárias tão díspares quanto ridículas (fundamentalmente na argumentação encontrada para suportar a sua legitimidade histórico-etnográfica).

Com esse panorama teve de se digladiar a Tuna, principalmente toda aquela que acolhia no seu seio alunos provindos de várias instituições superiores, cada qual com seu traje. A solução encontrada, nestes casos, obrigava à adopção de um traje próprio de tuna que esteticamente apresentasse os seus elementos de igual forma.
O que muitos não terão, quiçá, compreendido é que, apesar de ser traje próprio à Tuna (não herdado directamente da tradição académica), ele mantém o mesmo carácter e significado, assumindo-se de igual papel e simbologia – apenas se trocava o pano, ficando o resto.

Este considerando prefacial para dizer que sou daqueles que defende o correcto uso do traje, o seu uso no seu todo, conforme manda a lei.
Sou defensor da capa e batina, contudo fiz caminho numa tuna que se viu obrigada a nova roupagem, pelos motivos acima expostos, algo bem diferente de outros casos onde a justificação apenas encontra argumentos na real gana que deu a alguém…… só para ser diferente (na mesma linha do que sucedera com a capa e batina e os “novos” trajes académicos).

As duas tunas beirãs em causa possuem, quanto a mim, dois dos mais belos trajes, senão os mais belos, de tuna do país. Um homenageando o Infante D. Henrique, o outro figuras também elas ímpares da história nacional e local como João de Barros ou Vasco Fernandes.
Dois traços da indumentária ressaltam à vista como remetendo directamente para as figuras e época homenageadas: O chapéu com turbante, a relembrar o Infante; o barrete e gola folhada (esta, comum na época evocada) a relembrar João de Barros (com a particularidade do barrete ainda remeter para Grão Vasco). O resto do pano, grosso modo, é uma aproximação ao traje epocal, adaptado à realidade do mester tunante.

Tudo isto para dizer o quê?

Para dizer que, de há uns anos a esta parte, ambas as agremiações deixaram de ser vistas com as ditas peças, as que mais directamente caracterizavam e “justificavam” a dita homenagem pelo traje, tendo em conta que, nos primeiros, o chapéu “turbantado” já não, ou muito raramente, é visto há tempo, tal como, nos segundos, o barrete parece que foi banido.
O que me parece caricato é que, num dos casos, mesmo aquele que queira trajar a rigor, com o dito na cabeça, é chamado à atenção para o não fazer, como se fosse ele a estar em falta, mesmo quando não há registo de qualquer referendo ou decisão legal para banir a dita peça do traje (uma decisão que, a meu ver, teria de contar com a presença não apenas dos actuais, mas daqueles que instituíram e legaram a praxis e o traje)

Pergunto-me que diria o nosso país se, por exclusiva auto-recreação, o nosso governo decretasse retirar da nossa bandeira, sei lá…., a esfera armilar ou o escudo com as 5 quinas, ou abolisse mesmo o vermelho só porque, sei lá….é a cor da bancada da oposição!

É um reparo que merece ser tido em linha de conta, não apenas porque falos de aspectos que são características e parte da identidade das tunas em questão, não apenas porque esteticamente é rico em simbologia, significado e beleza, mas porque é um legado e uma tradição que foi assumida aquando da instituição e opção da representatividade do traje e, por isso, deveria ser respeitada, promovida e perpetuada.

Bem sei que não dá jeito para mostrar o último penteado da moda, não fica bem com óculos escuros ou não é adereço muito prático, mas, como diz o chavão: Dura Praxis Sed Praxis (uma frase que muitos terão, certamente, repetido centenas de vezes nos seus tempos de faculdade).
Não há qualquer ortodoxia neste reparo, pois é óbvio que não estamos a falar no pontual não uso da dita peça em determinados momentos, mas é peça que faz parte do traje e isso deveria ser visível, pelo menos, em cima de palco ou em alturas de maior solenidade.
Pessoalmente, defendo que se deve sair de casa trajado a rigor. Se, depois, no local, é para ser sem capa, colete ou jaqueta….. cada ocasião e contexto ditará ao bom senso o que determinar, mas mais vale ter e não precisar do que o contrário.

O traje não faz o monge, mas nenhum monge assim é reconhecido sem ele, tal como o padre não celebra sem se paramentar de acordo com a lei canónica. Além disso, não se trata de um pormenor, dado que trajar a rigor é, também, o explicitar de uma postura e atitude da condição de tuno, perante a tuna, sua história, identidade e, mais do isso, perante os outros, perante aqueles a quem diz, através do seu traje, recordar e homenagear tal ou tal figura.

São duas grandes tunas, que apenas pecam por, neste aspecto, se descuidarem um pouco. Nada que não nos aconteça a todos, daí que estou seguro que voltaremos a ver ambas a deliciar-nos, não apenas pela sua música, mas também pela imagem fidedigna e coerente que transmitem a quem vê, ouve e aprecia!

“Chapéus há muitos!”, dizia Vasco Santana, mas os destas tunas não são uns quaisquer; são traje, senhores, são traje!


domingo, 2 de julho de 2006

História da Tuna em Viseu (Anos 90)

IV ENT Viseu, 14 de Outubro de 2006


Retrato Prefacial à Tuna em Viseu, por Jean-Pierre Silva

(Texto acompanhado com projecção de um Power-Point)



Prefácio à Laia de Intróito

Quero, antes de mais, saudar todos os participantes deste IV ENT que tem esta sua edição na altaneira capital da Beira Alta.
Depois, agradecer o amável convite da organização, esperando estar à altura e esperando, também, contribuir para a qualidade de um encontro que possui um leque invejável de aquilatados oradores e palestrantes.
Assim, quero saudar a organização, a Infantuna de Viseu, na pessoa do meu querido amigo, Dr. João Paulo Sousa, saudação extensível a todos os demais palestrantes que desfilarão, de seguida, neste sábado e domingo e que, por certo, ajudarão a reflectir, mais aprofundadamente, algumas questões sensíveis, as quais concorrerão para uma maior e mais profícua informação e consequente formação da nossa comunidade.
Depois de, na edição anterior, ter lançado a sugestão para que cada futuro ENT contemplasse uma parte introdutória sobre a génese das tunas, da cidade organizadora que, em cada edição, acolhesse este evento, mal pensava eu que, este ano, me calharia esta tarefa, a qual aceitei humildemente.
Tentarei ser breve q.b., tentando tornar este “aperitivo” o mais digesto possível e contribuir para que tenham uma ideia sobre o como, quando e porquê das tunas nesta porção de comunidade tunantesca.
Lançarei um breve olhar à última década do séc. passado (tentando não vos agastar com demasiados pormenores) a qual reúne os momentos que marcam o arranque e instituição do fenómeno tunante em Viseu, os quais servem de suporte à criação de uma, ainda, curta tradição no que concerne ao negro mester.

Tunas em Retábulo Cronológico

O Contexto

“Acontece com os livros o mesmo que com os homens, um pequeno grupo, desempenha um grande papel”. (Voltaire)


A capital da Beira Alta, como centro pivotante entre norte e sul, e entre o litoral e o interior, acolheu, vai já para 3 décadas, o Ensino Superior, aquando da vinda da Universidade Católica de Viseu em 1980/81, num quadro socio-político que alimentava a criação de novas instituições e pólos de ensino superior, um pouco por todo o nosso luso rectângulo (e aqui não contemplo o antigo Magistério primário).
O seu crescimento como urbe académica foi-se fazendo de forma gradual até se assumir, actualmente, como a 4ª maior academia do país em número de alunos (com mais de 10 mil académicos).
A par desse crescimento, com o ISPV, logo de seguida, e, posteriormente, o Instituto Piaget a assentarem praça e a concorrerem fortemente para esse caminho e franco crescimento, também se desenvolveram as primeiras práticas estudantis e o primeiro sentido corporativista de vivências comuns e regradas conhecidas por Praxe Académica, que têm na UCP de Viseu o seu alfobre, com clara e inequívoca inspiração coimbrã.
Iniciado com a fundação (ou refundação) da E.U.C. em idos de 1985, o denominado “boom” das tunas académicas, atingindo todo o país, não podia deixar de influenciar e chegar, também, à cidade de Viriato.
Essa reabilitação ou ressurgimento tunante encontra terreno fértil na academia viseense, a qual estava em pleno fervilhar cultural e académico, depois dos precedentes fornecidos pelas primeiras explícitas práticas estudantis, datadas de 1984/85, semente indispensável à noção de tradição.
Assim, em inícios dos anos 90, era criada a Federação Académica de Viseu, a qual agrupava as associações estudantis existentes e se tornava plataforma de aproximação de experiências, vontades e, ela própria, motor ou promotora de valores e práticas académicas transversais.
Surgem, deste modo, ainda em 1988/89, a primeira Queima unitária e, no ano seguinte, a I Semana do Caloiro englobando todo o ensino superior (tradição implementada por mão dos académicos da “Católica de Viseu”), com uma Comissão Organizador multi-representativa, numa clara reciprocidade de vivências e experiências entre aquilo que viria a ser a FAV e as várias instituições de ensino superior.
Quiçá levadas por algum natural e saudável bairrismo, e na busca de uma identidade própria, essas escolas, tentam rivalizar em iniciativas culturais e académicas, com que muito ganhou a academia viseense.
Mas, enquanto as demais escolas ainda tentavam arrumar a casa e encontrar a sua própria identidade distintiva, coube à UCP de Viseu, cuja importância é inequívoca e inegável, pois ela encerra, em si, grande parte do legado histórico da Academia e Praxe de Viseu, a quem emprestou, ao longos das últimas décadas (até finais dos anos 90), o seu saber, o seu exemplo (e que sempre foi tida como “Alma Mater” da tradição, da praxis em Viseu), o assumir do ónus pioneiro.
Os anos 90 assistiram, pois, à confirmação ou ao nascimento da FAV, às Queimas e Semanas do Caloiro unitárias, ao Grupo de Fados “Insólita Praxis” (AAV - UCP), ao nascimento da Pastoral do Ensino Superior (PESV), à formalização do Conselhos de Praxe e os respectivos Códigos de Praxe (primeiramente na UCP em 1995 e, anos depois, no ISPV e Instituto Jean Piaget de Viseu), à normalização da capa e batina na UCP (em uso desde 1982) e Instituto Piaget e criação do Traje Académico do ISPV, às primeiras Trupes (também denominadas de”Hostes” no ISPV), ao Teatro Universitário (com o Teatro da Academia e o GATUCA), às primeiras tertúlias formais, a importantes publicações estudantis, no domínio da informação [com a revista Millenium (ISPV), Vida Académica (na UCP)] ou, ainda, às iniciativas no campo da formação, com colóquios e jornadas (o decano Colóquio de Cultura Greco-Latina, na UCP, as históricas Jornadas PESV, etc.), bem como do desporto universitário, com inúmeros torneios e obtenção de bons resultados em eventos nacionais e internacionais.
Nesses dourados anos 90, as associações de estudantes/académicas multiplicam-se em iniciativas, sendo motoras de desenvolvimento. Nasce (e extingue-se) o Orfeon Académico de Viseu, ocorre a Gala Monsenhor Celso (4 edições), atribuindo prémios em várias áreas da cultura, música e praxe, o Festival da Canção Jovem (promovido pela PESV), reunindo os mais talentosos estudantes da academia, e surge a Comissão para as Tradições Académicas (C.T.A.), a qual engloba, numa plataforma única sob auspícios da FAV, os líderes/representantes dos organismos de praxe da academia, ficando de coordenar a praxis dos eventos inter-academias.
Dessa década saudosa, surge o mito da “geração dourada”, referente a um conjunto de protagonistas que tinham em comum terem sido pioneiros ou fundamentais em todas as iniciativas supracitadas, nomes que encontramos sucessiva e continuamente numa e noutras das iniciativas supracitadas.

O Dealbar Tunante

"Grandes realizações são possíveis quando se dá importância aos pequenos começos." (Lao Tzu)


Foi nesse fértil contexto, onde se conjugou uma conjectura propícia, e pessoas capazes de a traduzir em obra, que surgem, também por influência do que se passava nas demais academias, as primeiras tunas académicas, nas quais pontificavam muitos dos componentes da dita “geração dourada”.

Olhando genericamente para a comunidade tunante viseense, podemos afirmar que ela assenta, actualmente, e desde há uns anos a esta parte, em 3 tunas: Infantuna, Real Tunel Académico e TunaDão, tunas que se mantiveram diegeticamente, de forma regular - quer em termos de existência, quer do viver do negro mester, intra e extra muris.
Mas há que recuar no tempo para se perceber a evolução desse fenómeno, e como se implementou e desenvolveu. Neste item, deixa-se para posteriores calendas, a referência às tunas que, no início do séc. passado, e até finais do séc. XIX, existiram, como caso da Tuna Académica de Viseu (Estudantina Viziense), “datada” de 1895 e, mais tarde, a Tuna do Orfeão Académico de Vizeu, fenómenos a precisarem de uma mais sistemática e aprofundada pesquisa.
Contudo, e sem delongas, vamos empregar e redireccionar a analepse para nos situarmos em finais de 1991 e à formação daquela que é a mais conhecida e antiga das tunas viseenses, a Infantuna.
Esta nasce por influência de um espectáculo da E.U.C., a qual, em Viseu, desafia os seus escolares a que, também adiram ao fenómeno do ressurgimento dessa ancestral cultura académica musical que são as tunas.
Foi assim que, após as primeiras reuniões, nasce um grupo composto por alunos das várias escolas de ensino superior da cidade, trajando, ainda, umas calças pretas, camisa branca e uma capa académicas pelos ombros (enquanto os trajes definitivos se ultimavam) e com um repertório quase exclusivamente composto por temas da música popular portuguesa, sem esquecer o ícones da EUC (Afonso. Meia Noite ao Luar, “Rapariga”…), temas que faziam parte do repertório de muitas das tunas que surgiram nessa altura, um pouco por todo o país.
Nascia a Infantuna, de feição masculina, a qual fazia a sua primeira apresentação em Foz Côa a 12 de Março de 1992
Se atentarmos ao traje, dizer que ele reproduz a reverência e homenagem dos seus tunos ao patrono por eles escolhido, o Infante D. Henrique, 1º Duque de Viseu. Um traje que sai do lugar comum da capa e batina, mas que, não obstante alguma inicial desconfiança, veio para ficar e tornar-se um dos trajes mais conhecidos de tunas “pano” de feliz, e conseguida, concepção estética.
Nessa altura, havia já ecos da criação dessa nova tuna no seio estudantil, pelo que foi natural que isso despoletasse, ou acelerasse, o desejo de criação de grupos similares noutras latitudes da academia.
Surgem, pois, em Maio de 1992, durante a Semana Académica, 3 tunas distintas: A Infantuna, a Tuna da UCP de Viseu e a Polituna da Escola Superior de Educação (IPV), num espectáculo realizado no Parque da Cidade (e que contou, também, com a Tuna da UTAD), naquela que se constituía como apresentação oficial e formal aos estudantes e à academia.
A aparição do fenómeno tunante em Viseu, servirá de inspiração a um crescente aumento e empenho da massa estudantil da época nas actividades académicas, e em que as tunas são também o traduzir desse fervilhar de iniciativas; iniciativas essas que, a partir daqui, se avolumam e cristalizam em tradição.
A Infantuna, como pioneira do movimento/fenómeno tunante na cidade, acabará, nos anos subsequentes, por ser a principal referência, e até modelo, da prática tunante em Viseu, situado, estética e musicalmente, no grupo dito das tunas “à moda de Coimbra” (por contraponto às tunas “à Porto” ou “de Lisboa”).
Mais do que o seu reconhecimento musical, traduzido nos inúmeros prémios e distinções em certames e festivais, a Infantuna traz à cidade um evento que se tornará incontornável no calendário académico e cultural da cidade: o FITU de Viseu.

Criado para marcar, também, o 2º aniversário do grupo (e posteriores), realiza a sua primeira edição no velhinho auditório da Feira de S. Mateus (hoje extinto, depois da requalificação da zona, inserida no programa POLIS), espaço que se viria a tornar demasiado exíguo para a quantidade de público (em que até a falta de bilhetes foi episódio caricato), este certame viria a transformar, inabalavelmente, o calendário cultural da cidade e da sua academia.
Pela primeira vez, a cidade assistia ao “Pasa Calles” pelas artérias do centro histórico (num percurso que se manteve inalterado até aos dia de hoje), motivando e acordando milhares de transeuntes, em plenas compras natalícias, para uma nova realidade: As Tunas tinham desembarcado em Viseu.
Desse festival guarda-se, indubitavelmente, a imagem e memória da Tuna de Deusto (considerada uma das melhores, senão a melhor, Tuna dos anos 90, vencedora dessa edição e da seguinte).
Posteriormente, o certame passará pelo Pavilhão. C e Pavilhão. A da Feira até chegar a este presente auditório do ISPV.
Pelo palco do FITU passaram das mais ilustres tunas nacionais e do país vizinho, concorrendo para colocar no mapa tunante português a cidade de Viseu e averbando-se, ele próprio, como evento congregador do ensino superior da cidade e marcando presença no calendário dos mais importantes e prestigiados certames realizados no nosso país.
Em 1994, a Infantuna gemina-se com a FAN-FARRA Académica de Coimbra e, mais tarde, com a Tuna de Distrito Universitário de Vitória-Gasteiz (Espanha). Mais recentemente, apadrinha a TDUP, entre outras tunas que apadrinhou, como, por exemplo, a Neptuna da Figueira da Foz. No ano seguinte, dá boa conta de si nos Festivais de Deusto e Vitória- Gasteiz (Espanha).
Mas não apenas à Infantuna se resume o dealbar da prática tunantesca na cidade.
Com efeito, e como foi já referido, também pelos lados da Escola Superior de Educação se davam os primeiros passos tunantes com uma Tuna que trajava uma indumentária que teria sido, inicialmente, concebida para vir a ser, eventualmente, o traje daquela escola (e quiçá extensível a todo o IPV), depois do “traje colegial”, mas que acabou por se quedar naquele grupo. Esse traje resultaria de uma investigação baseada nas vestimentas usadas na corte na época do pintor Vasco Fernandes (Grão Vasco) com introdução de algumas alterações estéticas dos próprios tunos. De cor “bordeaux” com jaqueta e calção saia para as raparigas dado a tuna ser mista), camisa branca com folhos sobre o peito e nos punhos, meia branca, sapato e capa de cor negra.
Esse traje, inicialmente concebido para todo o IPV, não colheu aceitação da massa estudantil, apesar do apoio por parte do presidente do instituto.
Os dados acerca da Polituna, uma tuna de constituição mista, são escassos, à medida, também, do curto período de existência, tendo em conta que, cerca de 2 anos após a sua fundação, extingue-se abruptamente, não sem antes participar em diversos eventos (académicos e não só) na cidade, além de uma rápida incursão em festivais (como o caso de Bragança).
Entrementes, na “Católica” a ideia de criação de uma tuna surge logo durante a campanha para a associação de estudantes (que nesse ano se torna Associação Académica), em finais de Outubro de 1991, e cuja implementação se apressa com os rumores da criação de uma outra tuna (Infantuna).
De referir, neste capítulo, que muitos dos componentes fundadores da Infantuna, eram estudantes deste pólo universitário, e dois deles pertenceram, inclusive, ao grupo incumbido pela associação local de dar forma à tuna da casa.
Os primeiros trabalhos foram encetados já em 1992, e os ensaios seguiram-se com uma forte adesão de alunos. Nascia “A Mística”, Tuna da AAV da UCP de Viseu, como tuna mista, e cujo repertório inicial, tal como é natural e acontecia nas recém formadas tunas, se baseava na música popular portuguesa.
Em tempo recorde, quiçá, até, um pouco a “saca-rolhas” se apresentava, então, a nova tuna, na tal Semana Académica de Maio desse ano e estreando 2 temas originais da minha autoria (os primeiros da comunidade tunante viseense): “Acorda Donzela” e “Tuna a Serenar” (que constam do CD dessa tuna, editado em 1995).
É, pois, a partir de 1992 que se dá, efectivamente, o arranque formal do fenómeno tunante na jovem academia viseense, o qual se insere num contexto pioneiro, a todos os níveis, da prática e exercício da cidadania académica transformando, definitivamente, a cidade que veste publica e definitivamente, assim, capa e batina.
Olhando, hoje, para trás, percebe-se que, apesar de iniciais querelas bairristas, quer entre escolas, quer, até, entre as jovens tunas, o conceito ou ideia de tradição se deve, e resulta, de uma forte sintonia (mesmo que nem sempre consciente e explícita) entre praxe, associações, escolas e………. as tunas. Aliás, e sem exageros, há que sublinhar a enorme importância do papel das tunas para a imagem (“urbi et orbi”) da cidade como urbe universitária, que reforça o sentido de identidade académica dos escolares do ensino superior de Viseu.
Ainda, e antes de avançar mais, referir que, também por essa altura nascia, ainda sem feições definidas, em fase embrionária, aquilo que viria a ser, também, uma das mais distintas tunas da cidade, o Real Tunel Académico, configurado ainda como uma tertúlia onde se cruzavam membros das tunas existentes, nomeadamente da Tuna da UCP e da Polituna, num dos locais de culto da massa estudantil: o “Bóquinhas”, tasca considerada como a 4ª Escola de Ensino Superior da cidade, baptizada de “Faculdade/Universidade Boquinhas”, com reconhecimento das instâncias da praxe da cidade, em 1998.
Merece este destaque, dado que, durante muitos anos, e ainda hoje, se tornou local de passagem e/ou de “peregrinação” dos mais ilustres académicos e tunas da cidade, com uma forte ligação à história da praxe e vivência do Espírito Académico e Tunante.


A Cristalização do Precedente

“A natureza concedeu aos grandes homens a faculdade de fazer e aos outros a de julgar”. (Luc de Clapiers)


Como já aqui foi dito, os anos 90 encerram em si o espólio das raízes que serviram de precedente e consolidação à tradição tunante e académica desta urbe beirã.
Rapidamente as tunas vão ajudando a marcar o ritmo, quer na participação das iniciativas que a academia desenvolve, quer, elas próprias, levando a cabo as suas. Assim, de forma natural, surgem, os trabalhos discográficos.

O primeiro pertence à Tuna da UCP, em 1995, cujo o CD contém os primeiros temas inéditos feitos por tunas da cidade, o qual tinha por título “Viseu, Aqui Eu Te Canto”, misturando, habilmente, temas da autoria da tuna (pela mão, entre outros, do Jorge Moreira, João Modesto, Jorge Menino e eu próprio), versando a vivência estudantil e amorosa, os excessos e a condição académica e outros de cariz popular, destacando-se a interpretação em registo de fado, do hino da cidade, “Viseu Senhora da Beira”.
Meses depois, nesse mesmo ano, surge o CD “Indo Eu”, da Infantuna, abarcando todos os seus originais, até à data, colocando a tónica nas viagens mareantes (fazendo a ligação ao patrono da Tuna, o Infante D. Henrique, o “Navegador”) e dando, ainda, um salto à música popular da região. Um trabalho que contou com a inspiração poética e/ou musical de alguns outros nomes incontornáveis da nossa história tunante como Nelson Martins, Jorge Costa ou António Vicente.
Já mais tarde, em 2000, edita um 2º trabalho, reprodução do VIII FITU, ao vivo e, em 2002, edita um CD duplo onde inclui a reedição do primeiro disco e a gravação ao vivo do X FITU.

O sucesso e aceitação desses trabalhos tornou-se notório, nomeadamente o “Indo Eu”, quando alguns dos mesmos eram já cantarolados pela massa estudantil, sempre que ocorria um encontro ou festival de tunas na cidade, entrando (a que se juntariam, mais tarde alguns temas de um outro CD, de que à frente falarei), que fazem já parte do imaginário colectivo da academia.
Nesse mesmo ano, a Tuna da UCP organiza o II Festival de Tunas da Universidade Católica, participando tunas nacionais e do país vizinho, que tinham em comum essa pertença à Universidade Católica.
Desfilaram, na altura, a Tuna Feminina da UCP Porto, a Tuna da Universidade Pontifícia de Salamanca, entre outras, numa noite animada e muito concorrida.
Realizado no auditório da Igreja Nova, alcançou um grande sucesso e aceitação, pecando, apenas, pela falta de continuidade dessa iniciativa.

Mas não podemos avançar mais sem trazer a terreiro uma outra tuna (masculina) que, nesta altura, está já bem enraizada no meio estudantil: O Real Tunel Académico - Tuna Universitária de Viseu, cuja fundação embrionária se reporta a 27 de Novembro de 1991, mas que só mais tarde, num processo lento, gradual e, até, natural, acabará por se assumir explicitamente como tuna.
Ao contrário das restantes tunas, este grupo não nasce formalmente e intencionalmente para se constituir como a suas congéneres, pese embora, em quase tudo, a elas se assemelhar, não fossem os seus, então, protagonistas elementos pertencentes às tunas locais supracitadas.
No respeito à própria diversidade dos seus fundadores, alunos em escolas distintas, o Real Tunel assume-se, desde logo, como tuna congregadora de alunos oriundos de toda a academia, de todo o ensino superior, tal como a Infantuna.
Assim, de regular tertúlia musical, na “Faculdade Boquinhas”, a grupo de rondas/serenatas (a sua actividade inicial – num retorno à verdadeira origem das tunas), o “Tunel”, como era conhecido (nome que resulta da fusão de Tuna+Tonel) vai, aos poucos, saindo do anonimato para, finalmente, se mostrar à luz do dia. A sua apresentação formal dá-se tardiamente nas “Noites da Academia”, em 1996.
Trajando capa e batina, durante esses primeiros anos rapidamente se organiza e estrutura, à medida que a esse grupo aderem outros elementos (nomeadamente o núcleo que tentara por de pé, em 1994/95, a TunaDão no ISPV) ou a ele se dedicam em regime de exclusividade os elementos que também pertenciam à Tuna da UCP (que por ultimato da associação académica local, que pretendia exclusividade na sua tuna, abandonam a mesma).
No ano seguinte, estreia a sua nova indumentária, inspirada num traje de época, do séc. XVI (daí a semelhança ao traje espanhol), que homenageia 2 figuras da lusa história, mais particularmente de Viseu: Grão Vasco e João de Barros, seguindo o caminho já desbravado pela Infantuna, possuidora, também ela, de um traje próprio de tuna.
A abrilhantar e “apadrinhar” a cerimónia, que decorreu no IPJ, estiveram os eternos amigos da Copituna d’Oppidana (Guarda), e os conterrâneos infantunos, para além das entidades locais.
No caso em apreço, o traje tornou-se necessário para fugir à mescla inestética de trajes diferenciados que existiam no ensino superior, evitando qualquer eventual colisão entre normativos da praxe desses mesmos trajes (quando usados em tuna).

O ano de 1997/98 acolhe o nascimento de uma outra Tuna do ensino superior, ligada à última instituição chegada à cidade: o Instituto Piaget.
Nascia, pois, a Piatuna, como tuna mista, a qual viria a ser apadrinhada pela Infantuna, e cujo o percurso foi sempre tímido e cheio de sobressaltos, a que não será alheio o facto da praxis e vida associativa ter sido marcada, nos últimos anos, por cisões internas, passando a haver 3 organismos de praxe distintos (quando havia só um), em outras tantas escolas, e crescentes rivalidades entre ambas, também no que toca ao movimento associativo.
Esta Tuna, durante os sues primeiros anos de vida foi participando em diversos eventos na cidade (de índole vária), e com algumas incursões ao estrangeiro, como o caso do Brasil, até quase se extinguir em finais de 2001.
Em 2003, marcando o seu 6.º aniversário, organiza um festival de tunas do Piaget, juntando tunas da cidade, bem como tunas dos vários pólos do instituto, espalhados pelo país.
Foi difícil apurar mais dados, tendo em conta os interregnos e o quase anonimato da dita tuna em termos de participação em eventos tunantes e académicos ou de informação sistematizada e disponível.
A Tuna extingue-se em 2005.
Entretanto, nesse ano, de 1997, o Real Tunel vence o seu primeiro festival e a Infantuna organiza, em conjunto com o Hospital São Teotónio, o evento “Há Natal no Hospital”, para além de amealhar mais prémios nos certames em que participa Vindo a receber, das mãos do Presidente da Câmara, a Medalha de Mérito do Município de Viseu, como reconhecimento do trabalho desenvolvido nas várias de intervenção musical, cultural e social. Depois de, no ano anterior ter estado pela primeira vez no Brasil, depois de um salto a Pau (França), lá recebendo diversas distinções, desloca-se ao Canadá, já em 1998, onde é feito Sócio Honorário do Clube Académico de Viseu of Toronto. Mais tarde retornará ao Brasil (2000) e também dará um salto até à Polónia (já em 2004).

Nesse mesmo tempo, outra tuna tentara, também ela, suceder aos esforços de criação de uma tuna no ISPV, (Polituna, 1992-1993 e TunaDão, 1994), aparecendo, então a Electrotuna, Tuna da Escola Superior de Tecnologia, que depressa se finou.
Ao contrário do que sucedeu com a Piatuna, que foi perdendo força, à medida que a unidade dos estudantes se desfazia (inicialmente todos sob a mesma bandeira associativa e organismo de praxe), pelos lados do ISPV parecia claro que enquanto não se unissem definitivamente as várias escolas e sensibilidades, nenhuma tuna sobreviveria mais do que as efémeras e passageiras tentativas até aí ocorridas.
Não terá sido, pois, mero acaso que o surgimento da Tuna do Instituto Politécnico de Viseu se dá aquando da definitiva normalização da praxe no politécnico, criando o precedente unificador e regulador que dará contornos de transversalidade e união a todos os seus académicos, em torno da construção da sua identidade.
Foi pois, a 3 de Maio de 1998, na XV Semana Académica, que a Tuna do ISPV se apresenta formalmente à academia e faz o seu baptismo de fogo, obtendo as muitas palmas e o apoio dos estudantes.
Durante as comemorações do seu 6.º aniversário, decide acrescentar ao seu nome a designação TunaDão 1998, celebrando a região demarcada do famoso vinho do Dão e sublinhando o ano da sua fundação, um nome que é reabilitado do já mencionado projecto de formação de uma Tuna no politécnico 4 anos antes.
O desafio e responsabilidade são enormes, perante uma escola que cresce em número e preponderância na academia e espera, há já quase 1 década, por uma tuna que, finalmente, crie raízes e seja bandeira e referência dos seus escolares.
Numa academia onde pontificam tunas com um peso histórico como a Infantuna e o Real Tunel, a TunaDão lá vai conseguindo impor-se e conquistar o seu espaço, e reconhecimento das suas congéneres, evoluindo musicalmente e semeando tradição; labor que se traduziria, já mais recentemente, nos primeiros prémios em festivais de tunas.
O traje empregue é similar, em quase tudo, ao traje em vigor no ISPV, o qual é resultado de uma adaptação da capa e batina com traços de indumentária regional, uma simbiose entre traje académico e etnografia local.

Nesse pródigo ano, o Real Tunel desloca-se ao Brasil, onde recebe diversas distinções, e no seguinte a Salamanca e a Santiago de Compostela, participa nas comemorações dos 600 anos da Senhora da Lapa (com presença de D. Duarte de Bragança) e edita, em Dezembro, o seu 1.º trabalho discográfico denominado “Trovas Soltas”, repositório e antologia dos originais da tuna, os quais resultam da pena de alguns dos seus membros, como o Luís Felgueiras, João Modesto e eu próprio, além da participação do poeta popular, ligado à “Faculdade Boquinhas”, o insigne Caetano Carrinho.

Mas há que adicionar, ainda, uma nota e referência ao CITADÃO, Certame Internacional de Tunas do Dão, organizado pela TunaDão do ISPV, e que teve, já, 2 edições - tendo sido a primeira realizada em 2004, a qual contou com a participação (extra-concurso) das tunas da casa, Infantuna e Real Tunel, numa clara mostra de amizade e comunhão de uma mesmo legado, mostra das boas e estreitas relações entre tunas que, embora, concorrentes, têm uma saudável convivência.
O Certame ocorre nesta mesma Aula Magna, contando com o interesse e adesão da sempre receptiva comunidade académica e civil da cidade.

O CD, “Por Ruelas e Calçadas”, gravação de um espectáculo ao vivo, contém, também ele, a história musical da tuna, perpetuando, para as gerações vindouras, o labor dos seus “Tunos doutores, engenheiros, ilustres e enfermeiros”.

Epílogo de um Prólogo Anunciado


“O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. (Mohandas K. Gandhi)


Este retrato prefacial, queda-se, essencialmente, pela década de 90 do séc. XX, pois é nela que encontramos a génese tunante desta cidade, que encontramos as tunas historicamente “estudáveis”, e cujo o contributo para a tradição tunante é inequívoco e factual, com a devida e equidistância.
Por tal, foram deixados de fora dados mais recentes de outros posteriores grupos (como a Viriatuna, por exemplo) que se afiguram como fenómenos (e outros, até, como epifenómenos), os quais, por falta de confirmação, afirmação ou, simplesmente, porque demasiado recentes, carecem do crivo temporal que determine a sua catalogação e posterior afixação na diegese histórica da comunidade tunante de Viseu.

A cidade de Viriato, a cidade das rotundas, transformou-se radicalmente com o advento do ensino superior nestas paragens, adicionando uma nova classe: os estudantes universitários, e ganhando um novo património cultural e social, enriquecendo-se nas tradições académicas que se foram cristalizando com o passar destes últimos 25 anos.

O contributo das tunas, nomeadamente das 3 tunas de referência, Infantuna, Real Tunel e TunaDão, tem sido determinante, até, para a imagem e auto-estima da cidade e da sua academia, quer pelas inúmeras iniciativas, produzidas, quer pelos inúmeros prémios ganhos, que publicitam não apenas os próprios grupos, mas também as instituições que representam e/ou que os apoiam (e, aí, não podemos eufemizar o enorme contributo e apoio das instituições citadinas) contribuindo para o prestígio das gentes beiraltinas, desse povo que

“sofre dores na sua lida,
tudo para ganhar a vida,
mas tem forças para cantar!”


Post Scriptum

“Ensinar é aprender duas vezes”. (Joseph Joubert)


Pátria de Augusto Hilário e de tantos vultos da nossa história, nas mais diversas áreas, Viseu, a “Senhora da Beira” foi sempre alfobre de cultura e de gente nobre.
Ainda jovem circunscrição académica, Viseu tem sabido valorizar e acarinhar as pertinentes iniciativas das suas tunas, em que certamente este IV ENT se inscreve, com a sua reconhecida e amável forma de bem receber.
Espero ter contribuído, na medida do possível, para esse acolhimento, esperando que, daqui, possam sair mais ricos e mais contextualizados sobre a comunidade que aqui vos recebe de braços abertos.
A todos os que tiveram a paciência e amabilidade de me ouvir, o meu bem-haja!