quinta-feira, 1 de julho de 2010

IV CIRTAV 2010 (Rescaldo)

Mais um certame, no qual tenho tido a enorme honra de presidir, ano após ano, ao jurado.
Mais um fim de semana que se torna um verdadeiro oásis na minha agenda.

Bom tempo, um ambiente magnífico e grandes tunas com grandes tunos como é apanágio deste certame de referência.

A registar que, pela primeira vez, não coube no meu traje, tendo sido necessário alargar o botão dos calções.


Aqui ficam algumas recordações.






































quinta-feira, 3 de junho de 2010

Anim'Arte -Prémio Especial GICAV 2009.


A 12 de Junho de 2010, o GICAV (Grupo de Intervenção Cultural e Artística de Viseu) levava a cabo mais uma gala anual, a XVIII Gala dos Prémios Anim'Arte. Nestas galas premeia associações, eventos e personalidades de, ou na, região de Viseu, nas mais diversas áreas de intervenção.



Estas breves notas, se me permitem esta pequena vaidade e contentamento, servem apenas para dar conta que o autor destas linhas foi, nesse ano de 2010, agraciado com o Prémio Especial GICAV 2009.

- http://www.faroldanossaterra.net/premios-anim%E2%80%99arte-2009-distinguiram-22-agentes-associativos-e-culturais-do-distrito-de-viseu/
- http://nrmartins.blogspot.com/2010/06/premios-animarte-2009.html

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Uma Parábola (II)

Penso justificar-se (e ele não me levará a mal, certamente), publicar em primeira página, o comentário que ilustre Eduardo Coelho deixou no artigo anterior, o qual é outra  parábola muito bem vista.
Os tunos deste país que também a leiam e reflictam sobre uma estória que tão bem pode ilustrar algumas "facadas" que por aí se vão dando.

E aqui deixo outra - complementar, ou talvez não.


Certo etnólogo corria o país em busca de artefactos raros. De todas as aldeias por onde passara trouxera sempre alguma peça ou mais excêntrica, ou já em desuso, ou mais artisticamente lavrada. Isto,claro, para além de inúmeras histórias e anedotas. Não raro, trazia o palato e as pituitárias inundados de sabores e aromas sabiamente misturados por mãos calejadas de tanta ternura haverem distribuído a rodos.

Frequentemente também trazia nos olhos as expressões de espanto ou ironia (ou até mesmo medo...) perante um maluco da cidade que gostava de velharias e chafaricas que já ninguém usava. Normalmente, até lhe agradeciam por se verem livres dos trastes; por vezes, adquiria as peças por um preço simbólico.

Foi o caso de certo dia ter deparado com um pastor que aproveitava o descanso das ovelhas para trincar alguma coisa. Sobre uma pedra, à laia de mesa, dispusera o farnel que a sua "Maria" lhe pusera no bornal: uns quantos figos secos, um bom salpicão, um quarto de um queijo, um naco de broa. O que lhe chamou a atenção, porém foi a faca que o homem rapou do bolso: uma lâmina de fazer inveja às melhores durindanas de Toledo... e que dizer dos estranhíssimos lavores do cabo? Um primor de artesanato, certamente herdados do fundo da tradição popular mais genuína.

Decidido a adquirir a faca, mesmo que não por um preço só simbólico, o viajante abordou o pastor. Proposta a compra, o dono da faca recusou, "que não a vendia nem por todo o ouro do mundo!"

- Porquê? Ora porquê!... Porque antes de mim já pertencera ao meu pai, que Deus haja... e antes dele ao meu avô... e ao avô do avô do meu avô! Ess'agora!
Apuradas as contas, a faca montava a mais de 300 anos.

- Vossemecê desculpe, tio Zé, mas como é que a sua faca, tendo tantos anos como vossemecê diz, parece que foi comprada ontem?...
- Nanja, não, que eu tenho muita estima nela, ora pois. Num ano, "boto-lhe" lâmina nova; no "oitro", mudo-lhe o cabo.


E colorim, colorado, este conto está acabado.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Uma parábola



Uma Estória para tunos, e não só.



Era um rapaz como qualquer outro, contudo tinha algo que nem todos teriam, e muitos menos saberiam dar o valor (para além de que nem todos teriam essa oportunidade): quando fizera 19 anos, recebera das mãos do pai um belíssimo relógio de bolso em prata. Um relógio de família.
Era uma preciosidade para além de ser raro e já não se comercializarem relógios assim.
Fora do seu avô que, por sua vez, o tinha recebido de um amigo que o trouxera de quando estivera na guerra hispano-americana, em idos de 1898. Um relógio que, segundo contava o avô, teria sido de um tal Dionísio Granados, famoso músico espanhol - e que perdera a dita peça numa sala de espectáculos de Havana.
Estranhamente, o relógio apresentava, ainda legível, parte de uma inscrição "....D. G. de Fígaro....". O resto não se percebia.

O relógio já não funcionava muito bem. Atrasava ligeiramente e tinha perdido algum do seu brilho pela passagem do tempo. O mecanismo da corda já não estava nos seus melhores tempos. Mas era um relógio que impunha respeito.
Seu pai ainda o tinha mandado compor num relojoeiro de confiança, no tempo em que trabalhara  no consulado português em Madrid (ainda ele não era nascido), mas a irmã do rapaz tinha-o deixado cair, quando era pequena (ao tê-lo subtraído da gaveta do pai, para brincar com ele).

Era uma jóia de família, representando o legado e herança, prefigurando, esta prenda, o rito masculino de passagem à idade adulta.
O rapaz vira o pai muitas vezes com o relógio no bolso do seu colete domingueiro, sempre que se aperaltava para ir à missa ou alguma reunião do partido ou naqueles intermináveis jantares ou recepções de gala, com pessoas de fraque, laços engomados e belas senhoras de vestidos brilhantes. Era uma bela peça, e dava um ar distinto à figura paterna, a qual pegava com reverência no relógio e o sabia abrir de um jeito que sempre o fascinara. O modo solene do pai abrir o tesouro com a mão direita; a forma como olhava para as horas e a expressão que dali retirava, deixara no miúdo uma imagem igual áquelas fotos a preto e branco ou amareladas que costumava ver em casa da tia Florinda, tia-avó que tinha lá prós lados de Arganil).

O pai dizia-lhe que o tinha recebido do avô só depois de ter concluído a faculdade de direito, em Coimbra, como prenda de formatura, mas que decidira que, ele, o seu filho, o teria quando entrasse na faculdade, e o que o usaria com a sua capa e batina - coisa que ele sempre sonhara, mas não fora possível porque o seu avô assim não tinha destinado.

O rapaz, ao receber tamanha prova de confiança e, concomitantemente, ao aperceber-se do testemunho familiar que lhe era confiado, acabou por ficar sem saber que dizer ou fazer.
Para que precisaria ele de uma relíquia daquelas, quando tinha um relógio com mostrador digital, o qual deixava a maior parte das vezes em casa porque o telemóvel também tinha horas?
Além disso, aquele relógio, apesar do seu valor inestimável (e que faria a cobiça de muito bom relojoeiro ou coleccionador) já nem funcionava muito bem, nem ele usava a roupa adequada ao seu porte, e ainda era preciso dar-lhe corda.

O facto é que admirara muitas vezes aquela peça, imaginando a sua história e as mãos por que passara, não deixando de estranhar que tivesse chegado onde chegou em tão bom estado, apesar de tudo, tendo em conta os anos que teria.

Decidiu levar o relógio a um velho ourives, já reformado, e pediu-lhe que compusesse o relógio, que o limpasse e que, acima de tudo, não lhe metesse nenhuma peça nova que destoasse. Mal ou bem, o valor do relógio era precisamente ter-se mantido assim, tal como estava. Limpá-lo, restaurá-lo era bem diferente de o "remendar" com peças modernas, substituindo, como uma vez tinham sugerido ao seu pai, o mecanismo de corda por um de pilha.

Não era relógio com alarme, não mostrava a data (como alguns do género, posteriores, ou cópias que hoje se vêem), não dava grande jeito usá-lo no dia-a-dia, mas era capaz de fazer furor com o seu traje de estudante, além do seu inequívoco simbolismo e significado.
Estimá-lo-ia, para assim o passar ao seu futuro herdeiro ou herdeira. Providenciaria que ele fosse sempre limpo e suas engrenagens oleadas de tantos em tantos anos. Ia meter-lhe também uma corrente nova, pois que a antiga se perdera há muito. Não ia comprar uma muito vistosa, que destoasse ou tirasse o brilho da peça, mas uma segura e discreta, a condizer.

No fundo, ele não sentia aquela peça como sua, mas apenas que dela era fiel depositário. Era uma jóia de família, e a família não era apenas ele. Era uma peça de ontem que chegara aos dias de hoje, e assim deveria permanecer. Era bonito, cumpria perfeitamente a sua função: dar horas.
Relógios havia muitos, para todos os gostos e feitios, mas como aquele eram raros, porque pertencia a um outro tipo de relógios.

Muito tempo mais tarde, apresentou-se ao pai com o relógio já restaurado, mostrando-lho.
O pai, com uma lágrima disfarçada e voz trémula disse:
- Só hoje, meu filho, só hoje te tornaste digno dele e da nossa história familiar. Foi a forma como decidiste dar destino à peça que mostrou o teu carácter.
Após um longo abraço, ficaram ambos a mirar o relógio, pousado nas mãos de ambos.
- Se o teu avô o visse agora..........
- E o Dionísio Granados..........
Fica a parábola para reflexão.

domingo, 18 de abril de 2010

Pseudo-sapientes a falar de tunas

Não sei se ria ou se chore, perante a atitude de certos pseudo-sapientes que acham que o saber se fundamenta no "parece-me" ou no "acho que". Quando a presunção incauta e irresponsável assenta na falta de estudo sério, obviamente que o resultado é o que se vê (ou lê, neste caso).

Bem sabemos que a Wikipédia é uma fonte falível de informação. Tanto lá encontramos informação credível como textos repletos de erros, dado que o seu conteúdo deriva da participação dos utilizadores. A falta de uma política de revisão séria dos conteúdos colocados e a de colaboradores/administradores que possuam formação nas áreas abordadas leva-nos a olhar para esta "fonte" com extremos cuidados. Parece que o mesmo se pode dizer de certas Wiki páginas, como é o caso da que é alvo deste reparo da nossa parte.

É pois na Wikipágina da Univ. Fernando Pessoa que se encontra o artigo em causa:
http://cmultimedia.ufp.pt/index.php/M%C3%BAsica_Popular, o qual se apresenta sob o título "Música Popular".

É datado de 2007 e escrito por um tal Carlos Cardoso.


De salientar que o texto faz parte de um conjunto mais vasto de produções, sob o título "Tradições Académicas", artigos produzidos na disciplina de Comunicação Multimédia no ano lectivo 2007-08. Também neles se verificam os mesmos erros a atitudes inqualificáveis de ignorância e incompetência, mas que escusamos, por hora, esmiuçar (lamenta-se, isso sim, a publicação de trabalhos com tão pouco rigor e perguntamos que critérios avaliativos presidem aos mesmos).

Classificar o conteúdo do artigo não é tarefa fácil, se quisermos manter alguma ecologia intelectual, mas não é menos verdade que não deixa de nos dar volta ao fígado a sucessão de palermices, roçando a estupidez.
De seguida, um breve olhar sobre o conteúdo:


"Música Popular
A Música Popular é muito utilizada pelas tunas hoje em dia, devido ao facto de a geração de hoje ter como gosto o género musical alternativo. Considera-se Música Popular Alternativa a música de bandas ou artistas portugueses contemporâneos, intérpretes mas principalmente autores de temas originais, da área da música popular ou tradicional, mas com pouco reconhecimento comercial e mediático, e cujas vendas se verificam sobretudo no formato "cassete". Consideram-se ainda como parâmetros para esta classificação, a exposição mediática principal ao nível das rádios locais e as actuações ao vivo condicionadas ao formato de baile.
A Música popular é a música feita pelo povo, fazendo parte das suas raízes históricas. É a evolução natural, na era da globalização, da anteriormente chamada música folclórica, que seria a música de um povo transmitida ao longo das gerações. "



Esta explicação é de deixar a boca aberta. Mais ainda esta classificação de Música Popular Alternativa. Não sei onde se desencantou essa nova teoria, mas não a encontro em nenhuma obra de referência da musicologia ou etnomusicologia. O argumento comercial do reconhecimento e exposição mediática é tão ridículo que só pode ser trailer de uma tragicomédia. A própria definição de Música Popular deixa muito a desejar.
Quem não sabe deveria ter o bom-senso de se documentar, antes de se armar em sabichão.
Lastimável!



"O Nascimento da Música Popular
O nascimento da musica popular deu-se durante o ducado de Guillaume IX d`Anquitaine, o avô de Eleanor, surgiu por inspiração dele uma classe de poetas líricos e músicos chamados de “Trovadores”. Esta nova maneira de fazer música, contrariava profundamente a maneira tradicional dos compositores da época para os quais a música e a poesia deviam só ser escritas para Deus, sobre deus e só em latim. O louvor uníssono à deus, estava rompido, tanto no tema como na linguagem. Por esta razão e por ter fama de mulherengo, foi excomungado pelo Papa. Seguindo essa inspiração familiar vivenciada pelo seu avô e pelo seu pai, Eleanor foi o elemento de difusão da nova maneira de fazer música para o povo, que falava de amor e da natureza , na lingua deles. Enquanto durou o casamento com Louis VII, ela continuou a apoiar os Trovadores, recebendo-os na Corte de França.
Esta nova música que era de alguma forma revolucionária para os padrões franceses da época, começou imediatamente a ser aceita pelo povo. Eleanor ajudava financeiramente os jovens artistas, procurando agradar os nobres que os recebessem em qualquer cidade da Europa onde fossem. Foi nesta época que surgiram os músicos viajantes, que cantavam em troca de alimento e pousada, em busca de possíveis patronos. Quando esteve casada com Henry II da Inglaterra não perdeu tempo em traduzir a nova maneira de cantar o amor cortesão, estimulando novas criações da língua bretã. Novamente o sucesso foi instantâneo, tanto na nobreza como nas classes mais populares da sociedade. Os filhos de Eleanor e Henry Iinão só cantavam temas dos trovadores como compunham pequenas peças musicais. Nesse particular, destaca-se o Príncipe Richard. Todos os trovadores que passavam pelo reinado eram convidados a cantar na Corte, inclusive o famoso Bernart de Ventadorn. Apesar se eleanor nunca ter tocado qualquer instrumento musical e nem se ter notícia de qualquer composição feita por ela, foi uma das mais importantes personagens musicais de toda a Idade média e da música no Ocidente. Sem o seu interesse e empenho em patrocinar a música e as artes de uma maneira geral, a música popular seria certamente bem diferente nos dias actuais. Eleanor colocou a música nas mãos de pessoas comuns, permitindo-lhes expressar seus sentimentos e temas que eram importantes para as suas vidas. "



Ora começamos já com uma contradição com o anteriormente dito. Se a música popular deriva da produção espontânea do povo (que reproduz, adapta, cria corruptelas, etc.), como é possível que ela nasça de forma tão individualizada, por mão de um(a) iluminado/a que, depois, serviu de modelo ao resto do mundo?

Depois fala-se em "nova música, revolucionária para os padrões da época", como se, antes disso, o povo não cantasse, tocasse e criasse, mas só estivesse restrito a música religiosa. Mais ainda, e aí a estupidez ganha contornos de acefalia aguda, pretende-se dar a entender que a música popular é um formato, uma tipologia devidamente demarcada que é exportada de França, que é copiada e se dissemina pela Europa fora.
Gostava, contudo, que esse tal sabichão que escreve estas patranhas, me esclarecesse sobre o tipo de música dessa época, o tipo de composição literária e me desse exemplos disso mesmo, nomeadamente quando aplicado a tunas.

Parece-me que não percebeu bem, isso sim, os conceitos de música profana e litúrgica, e muito menos é versado no estudo das formas musicais e literárias medievas, mas, contudo, avança com estes teoremas ficcionados.
Depois, mistura música popular e trovadores, num claro exercício de ignorância, de quem não conhece os conceitos de música erudita em contraponto com as composições profanas (muitas delas, num primeiro tempo, corruptelas de composições sacras) e as hierarquias e códigos sociais/culturais da época.

E vai, assim, de fazer de Eleanor a patrona da música popular, a que a coloca nas mãos das pessoas comuns. Faz lembrar a Raínha Santa, com as rosas - só que Santa Isabel era santa e não consta que conhecesse tunas (nem ela, nem ninguém nessa altura).
Haja paciência, para tamanha falta de decoro intelectual.



"A origem da Música Popular nas Tunas
A origem da Música Popular nas Tunas terá acontecido no ano de 1212, em Espanha, surgido o primeiro "Studium Generale" que seria o antecessor das actuais Universidades. Pouco tempo depois, D. Diniz manda construir os Estudos Gerais de Lisboa (1285) que, devido a diversos problemas entre a população e os estudantes foram transferidos pouco depois para Coimbra - surgindo a primeira Universidade Portuguesa (com esta designação). Aos Estudos Gerais que foram sendo criados acediam jovens de todo o país e mesmo de outros países vizinhos. Assim surgem, em Espanha, os Sopistas, predecessores dos actuais Tunos. Os Sopistas eram estudantes pobres que, com as suas músicas, simpatia e brincadeiras percorriam casas nobres, conventos, ruas e praças em troca, muitas vezes, de um prato de sopa (daí o seu nome - sopistas) ou de uma moeda que os ajudasse a custear os estudos. Quando caía a noite e tocavam os sinos de recolha cantavam serenatas às donzelas que queriam conquistar, sendo, muitas vezes, perseguidos pelas policias universitárias (visto que o recolher era obrigatório para os estudantes). Daí que os sopistas começaram a utilizar longas capas negras para, na noite escura, se poderem esconder dos polícias. Os Sopistas, eram conhecidos por transportarem sempre consigo um garfo e uma colher de madeira, o que lhes permitia comer em qualquer lado. Assim, quando se formaram as primeiras Tunas, ainda com muitas tradições sopistas, os símbolos adoptados (essencialmente em Espanha) foram, justamente a colher e o garfo de madeira. "



Depois de ler, atentamente, este parágrafo, acabo na mesma como o comecei: sem saber, afinal, qual a origem da música popular nas tunas, porque tal não é respondido.
O que li foi uma inócua tentativa de fazer uma diegese genealógica de sopistas e tunos, numa sucessão de erros e falsidades uma vez mais derivados do copy-paste sem critério; de muita informação errónea e equivocada, que pulula na net: as tais estórias da carochinha que todos professam dogmaticamente sem procurar, sequer, verificar da sua validade.
Começava por relembrar que, no caso de Portugal, é o Papa Nicolau IV que, através da Bula STATU REGNI PORTUCALIAE (1290), confere, então, a Lisboa o tão ansiado estudo geral, sendo nesse mesmo ano confirmado o estudo, em Carta promulgada por El- Rei D. Dinis: “ Dada em Leiria a 1 de Março. Por mandado d´El - Rei a notou Afonso Martim. Era de 1328.” (1290).
Quanto à música popular e às tunas, dizer que, no séc. XIII, não existem tunas, muito menos sopistas, e muito menos tunos. Seja como for, gostava que o douto autor do texto me esclarecesse da tipologia e características dos temas interpretados por esses sopistas e tunos, já agora. Sobre estas "histórias" que não passam de contos, leia-se "A Aventura das 5 Mentiras Tunantes Nacionais" ou ainda "600 Anos de Pseudo-Tradição Tunante".
Parece-me que, afinal, tem o literato Carlos Cardoso muito pouca propriedade em matéria de musicologia, etnomusicologia e tunologia e que ainda vive dos expedientes fixados no mito e nas estórias ficcionadas. Sugeria que ponderasse pesquisa de literatura especializada para uma profiláctica reflexão crítica.

Quanto à explicação sobre o uso das longas capas, mais uma vez estamos perante a imaginação fértil da iliteracia, o ficcionar do "ouvi dizer" (já era hora de sair do país do faz de conta). Não sei onde foi buscar essa teoria. Se está no direito de inventar, pelo menos que o faça de forma plausível. Sobre o assunto, sugiro a leitura do artigo Notas de Cor sobre a Capa e Batina.
Seja como for, parece-me lamentável que os leitores sejam induzidos em erro, ao "prometer-se-lhes" esclarecer da origem da música popular nas tunas e, depois, nada explique ou ilustre, nada exponha de tangível. Por uma questão pedagógica, e para desfazer qualquer equívoco sobre essa errada teoria de ligar tunas e música popular, sugeria a leitura do artigo "A Aventura do Mito Popular".
"O Aparecimento das Primeiras Tunas


A primeira Tuna formou-se em Coimbra, a partir da visita da Tuna de Santiago de Compostela e depois da Tuna de Salamanca e foi chamada Tuna Académica de Coimbra ou Estudantina Universitária de Coimbra."



Ora, aqui, estava à espera de algo mais do que citar, apenas, a Estudantina de Coimbra, já que o título diz falar das primeiras tunas. Não tem mais tunas para apresentar?
Desde já, fique o omnisciente Carlos Cardoso seguro que a Estudantina de Coimbra (só anos depois, adopta o nome de TAUC e resta por provar inequivocamente que se trata do mesmíssimo grupo) não é a primeira tuna em Portugal, mas sim a primeira a nascer em âmbito universitário, mesmo se não era composta, exclusivamente, por estudantes da U.C. (um dos motivos que leva a estudantina a extinguir-se em 1891).
Por outro lado, a Estudantina de Coimbra nasce em resposta à vista da Tuna Compostelana, e não de Salamanca (lamentável a falta de precisão histórica!).
Para quem tem a veleidade e presunção de publicar na Wiki página da sua instituição de ensino, seria bom que estudasse melhor a lição (e que quem coordenou o trabalho dessa disciplina fizesse outro tanto). Nem todos são papalvos que fazem do copy-paste e da mediocridade intelectual a sua metodologia; nem todos assobiam pró lado quando lhes atiram arreia para os olhos.
"Exemplos

A caminho de Viseu
Indo eu, indo eu,
A caminho de Viseu, [Bis] 


Encontrei o meu amor,
Ai Jesus, que lá vou eu! [Bis] 


[Refrão]
Ora zus, truz, truz,
Ora zás, trás, trás,
Ora chega, chega, chega,
Ora arreda lá pr’a trás! 


Indo eu, indo eu,
A caminho de Viseu,
Escorreguei, torci um pé,
Ai que tanto me doeu! 


[Refrão]
Vindo eu, vindo eu,
Da cidade de Viseu,
Deixei lá o meu amor,
O que bem me aborreceu! 


Letra e música: popular; (canção infantil, canção de roda) "



Ora, só podia o artigo terminar com "chave de ouro", com a "pièce de résistance".
O tema popular "Indo Eu a Caminho de Viseu" (que o autor chama de "A Caminho de Viseu") é escolhido como paradigma da música popular nas tunas. 
Só não percebi se o é desde o séc. XIII. Pode dizer o grande académico Carlos Cardoso de quando é datado, aproximadamente, o tema?

Que eu saiba, só as tunas viseenses têm por costume cantar esta canção e, com excepção da Infantuna que, recentemente, lhe fez um belíssimo arranjo - pela mão do Dionísio V. Maior- e incluiu no seu reportório, sempre foi entoado de modo informal.

Que outras de fora o cantassem, sempre que rumavam Viseu, é natural, mas daí a fazer do tema ícone popular nas tunas...... parece-me claramente exagerado. Além disso, Tunas, em Viseu (exceptuando o caso da Estudantina Viseense de 1895 - que não consta que o tocasse ou cantasse, pois nem se sabe se o tema já existiria na altura), só há 2 décadas, pelo que não percebo esta infeliz escolha.


CONCLUINDO


Se a intenção era falar de Música Popular, não vejo, nem percebo, a inclusão de Tunas (pelo menos sem sem estabelecer uma ligação a tinas populares, cujo repertório, ainda assim, era bem mais lato).

Quando muito, poderia dizer-se que também as tunas incorporam no seu repertório música popular. Agora, colocá-las como expressão da mesma é lacunar e errado. Se o artigo é sobre Música Popular, onde estão as referências rurais e urbanas, os grupos, os instrumentos, as características, as tipologias musicais?

Se a intenção era falar sobre a Música Popular nas Tunas, não se percebe o título do artigo (Música Popular), além de que não explica coisa alguma.
Se o pretendido era falar sobre Tunas, errou completamente a tabuleta!

O facto é que nem faz uma coisa nem outra e o que faz é coisa nenhuma!
É lamentável, e vergonhoso até, que estudantes do Ensino Superior passem esta imagem de medíocre falta de rigor e saber. É isso que aprendem na faculdade? Duvido (e, por isso pergunto-me como chegaram ao Ensino Superior), mesmo se algum ônus da culpa recaia sobre quem coordenou esse trabalho no ãmbito da dita disciplina de comunicação multimédia.

Ao que tudo indica, o autor, Carlos Cardoso, não só empalidece a imagem dos alunos da Univ. Fernando Pessoa, instituição que merece todo o respeito - algo que o pseudo-sapiente não teve em conta - mas do estudante em geral, e do tuno em particular.

Ao que parece, estudante (ou ex-aluno) em comunicação multimédia, estou seguro que terá contrato num qualquer órgão de comunicação social sensacionalista.
Termino o artigo pedindo, desde já, desculpa, pelo tom acertivo impresso nesta intervenção, mas, actualmente, com os meios informativos disponíveis, quando se trata de pessoas supostamente letradas, quando se trata de promover a excelência e o rigor sobre uma cultura e história que todos deveriam conhecer melhor - a Tuna (de que fazem, ou dizem fazer, parte), já farta ver tanta palermice e falta de exigência académica e científica.


Que já exista o mau hábito de ler sites de tunas com patetices deste género é uma coisa, mas fazer disso facto credível com direitos de publicação numa Wikipédia de uma consagrada Instituição de Ensino..................

Ninguém está isento do erro (até porque a verdade pode ser sempre contradita por novas descobertas investigadas), mas haja o bom-senso de, ao escrever, fazer o esforço por estudar, investigar e documentar-se (e confrontar fontes) o melhor possível, de modo a que, mesmo passível de erro ou correcção futura, se mantenha a idoneidade e credibilidade de quem escreve.

Neste caso, não me parece desculpável que, existindo dados credíveis e acessíveis, se cometam tantas argoladas.

Quem não sabe pergunta e "quem não tem competência não se estabelece!".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CoSaGaPe em Viseu

Após um bom almoço, como o são todas as refeições em Viseu, rumámos a minha casa para acertar questões várias.
Fazer um livro a 4 desidrata.





domingo, 28 de março de 2010

No VIII Estudantino


Gostei. Um bom ambiente e rever muitos amigos.

















domingo, 7 de março de 2010

Tunas, Bandeira(s) / Estandarte(s)

Assunto bastante esmiuçado no fórum do PortugalTunas, ainda não tinha sobre ele discorrido neste espaço. Assim sendo, cá vão uns considerandos.


Todos estão familiarizados com a nova moda de bandeiras a metro e a rebaldaria que se verifica na hora de destrinçar o que é estandarte/bandeira da Tuna dos pseudo-estandartes e pseudo-bandeiras com que nos prendam certas tunas em palco.

A confusão é natural, dado que, demasiadas vezes, a catadupa e quantidade de panos a esvoaçar nos coloca a difícil tarefa de perceber onde está o estandarte (ou bandeira) oficial da Tuna e onde começa o circo.

O Estandarte ou Bandeira da Tuna é só um(a). Sempre assim o foi, historicamente.
Esse símbolo sempre foi tido como o mais importante de cada agremiação (e não só em tunas), merecedor de toda a reverência e respeito.
Antigamente, nomeadamente nas tunas do séc. XIX e XX (até ao boom), o estandarte da Tuna existia como sinal maior e congregador. Com efeito, era nele que se colocavam fitas de homenagem, de reconhecimento e agradecimento (um pouco como ainda vemos no caso dos ranchos).

Ao estandarte se prestava como que um culto de respeito e orgulho, estimando-o e adulando o seu valor representativo, aliás como sempre foi tradição, ao longo da história, com as bandeiras (fossem elas nacionais, de regimento, corporação etc.).
Nos campos de batalha, contava-se vitória pelo n.º de estandartes retirados ao inimigo, daí que a protecção à bandeira era alvo dos maiores cuidados - o mesmo se passando na conquistas de praças fortificadas ou cidades: a conquista do estandarte inimigo significava a derrota ou capitulação do mesmo.

Hoje em dia, parece que esse reconhecimento e valoração passou para 2.º plano.

Este fim de semana assisti à actuação de uma tuna de que registei o seguinte:

1º Apresentava diversas bandeiras do seu município, com as quais fez os malabarismos costumeiros (ficando algumas no chão, enquanto as demais estavam a rodopiar);
2º Das bandeiras apresentadas, uma era, pasme-se, da Junta de Freguesia;
3º Algumas bandeiras do município, artilhadas com efeitos pirotécnicos, apresentavam-se rotas, com buracos de queimaduras que mais não traduzem  que a falta de respeito perante um símbolo que, não sendo da Tuna, merece ainda maior respeito pela natureza do mesmo. Uma bandeira é para ser estimada e não assim vulgarizada e reduzida a adereço cénico de qualquer show de saltimbancos;
4º Depois, apareceram as "bandeiras de sinalização", um subtipo de bandeira (configuradas em bandeira de mão) sem qualquer logótipo ou desenho identificativo, meros panos de cor. Neste caso, eram 4, duas em cada mão. Pensei estar a tratar-se da aterragem de algum avião ou antigo método de comunicação medieval;
5º, e não menos importante, a dita Tuna não apresentava nenhum estandarte ou bandeira da Tuna.

Com isto dizer que seria bom que as tunas não confundissem circo e tunas. Nos tempo sidos, os espectáculos das tunas comportavam representações dramáticas, declamação de poemas, solos musicais, fados, a par com a própria parte orquestral (da tuna propriamente dita), mas não consta que houvesse número de circo, malabarismos e "bandeiradas".

Tradicionalmente, o estandarte não era para ser bailado, até pela reverência e importância do mesmo. Mais tarde, com o precedente criado, e copiado, do país vizinho, emanado dos tempos do S.E.U. (Sindicato Universitário Espanhol), começaram os estandartes DE TUNA a serem bailados ou, então, a aparecer uma bandeira com o logótipo da tuna, propositadamente feita para ser bailada - assumindo-se "versão bailável" do próprio estandarte (o qual ficava quietinho, continuando a assumir o seu papel de sempre - e bem - de identificar e representar a Tuna).

Não eram nem 2, nem 3 nem 4 bandeiras. Não se clonavam bandeiras para obedecer a meras lógicas de espectáculo cénico, ele próprio subordinado à lógica do "vale tudo" para se conseguir um prémio (e recordamos a "festivalite aguda" que descaracterizou e travestiu muito boa tuna neste país).

É de perguntar onde está a coerência destas "bandeiradas". Onde está o nexo de uma tuna, neste caso, não se apresentar sequer com o seu próprio estandarte ou bandeira, mas empregar outras, as quais apresenta em estado lastimável e, pior ainda, apresentando bandeirolas, lembrando aquela versão olímpica da ginástica rítmica com fitas.

Não vou entrar em moralismos quanto ao uso, nem sempre feito com critério, de bandeiras de município (ou mesmo da bandeira nacional), embora me pareça que muitas vezes se acaba por vulgarizar a importância desse símbolo, transformado em mero adereço cénico (pessoalmente, creio ser abuso brincar com tais símbolos).

Já o que acho sem nexo algum é a dança de bandeiras, que, na verdade, nem bandeiras são (porque não representam nada, não são bandeira de nada), não passam de meros panos de cor. E muito menos percebo que qualquer jurado considere e avalie tal.
E quando, num mesmo espectáculo, bailam, alternada ou concomitantemente, bandeiras de município, bandeira nacional, bandeira de tuna............ não apenas se promove a confusão como se equipara tudo por uma bitola pouco consentânea, onde o valor de um paninho a esvoaçar tem a mesmíssima valoração  de uma  bandeira/estandarte da tuna (com a sua heráldica, significado e simbologia).


Demasiado show-off é o que temos, ao qual se soma o bailar da capa, à moda tauromáquica (modalidade sem qualquer fundamento histórico ou lógico em Tunas - qualquer dia bailam batinas ou temos número de sapateado), perguntando-me o que se ganha com isso senão o destrato de uma peça que merecia outro respeito.

Nada contra o bailar do estandarte/bandeira da Tuna (conquanto não se deixe cair ou se arrume no chão), porque, com graciosidade (e sem exageros), dá beleza ao espectáculo. O que creio ser importante é não transformar essa prestação num vale tudo onde a função essencial e primária do estandarte acaba menorizada ou mesmo pervertida.

Mais cuidado, critério e bom-senso é o que se pede. 

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Tema Ressaca.


Na noite do passado sábado, em Viseu, durante o jantar do PortugalTunas - que decorreu nas instalações da UCP, estava um alegre grupo a cantar e a tocar quando, de repente, ouço uma melodia que pensava já apagada pelo tempo: Ressaca.

Primeiro, julguei tratar-se de algum grupo pertencente a alguma tuna viseense, porventura conhecedora, mesmo que de forma indirecta, mas não.
Tratava-se da "Tu Na D'Estes".
Foi enorme a minha surpresa perante uma composição que há já tanto ano não era ouvida (pelo menos por mim), e tendo em conta que a Tuna a quem pertence já se extinguira há mais de 1 década: a Tuna Académica da Associação Académica de Viseu da UCP (Fundada em 1992, e de que guardo gratas memórias).

Obviamente que me apressei a perguntar como tinham aprendido, ou de onde tinham obtido, o tema. Mas não sabiam (fazendo lembrar as centenas de temas antigos cujo o autor foi ignorado/esquecido e que hoje surgem com o epíteto de: "popular").
Não deixei de salientar a enorme coincidência de estarem a cantar esse tema, precisamente na instituição cuja tuna era autora do mesmo.

Hoje, ao lembrar-me do facto, fiz uma pesquisa no youtube e lá encontrei o tema, pela mesma tuna (em 2 videos), embora em versões diferentes do original:







Com isto dizer que se por um lado é bom que existam temas que vão perdurando (seja pela sua qualidade musical, seja pelo seu carácter sui generis - que é o caso), não deixa de ser algo injusto que certas composições percam a sua referêcia e passem a não ter filiação.

O tema tem autor e está registado em CD.O tema em causa, Ressaca, tem música de Jorge Menino e letra de vários (eu participei nela), embora não tenha à mão os dados que me indiquem em que nome ficou registada a letra (no meu não ficou, estou certo disso); mas penso ser do Jorge Moreira, sem certezas (a memória escapa-me e o CD tem a enorme lacuna, para não dizer estupidez, de nem sequer referir os respectivos autores dos temas na contra-capa do disco).
O CD em causa foi lançado em 1995, sob o nome "Viseu, aqui eu te canto", com edição de Fortes&Rangel Ldª (Porto).


Abertura

01. Quando a Tuna chega
02. A Tuna a serenar
03. Dançamos na Eira
04. Acorda Donzela
05. Eu não me caso
06. Caloirinha
07. Saudade errante
08. Ao romper da bela aurora
09. Vodka Sostrova
10. Ressaca
11. Pranto Beirão
12. Viseu, senhora da Beira
13. Boémia sentida
14. F.R.A.
Final


Tal como em outros casos que aqui enunciei, seria de bom tom que as nossas tunas tivessem a educação, excelência e carácter de, pelo menos ao publicar os temas que executa, colocar a fonte/autoria desses mesmos temas.
A Tuna em causa lançou recentemente um trabalho discográfico, que ainda não tive oportunidade de adquirir e ouvir. Não sei se o Ressaca consta desse CD (e se sim, se foi salvaguardada a questão dos direitos autorais), mas aparece no cancioneiro da dita Tuna com a letra correcta (sinal de que não terá sido uma recolha meramente oral).


Bem sabemos que o mau costume do copy-paste se regista tanto nos liceus como na faculdade (a era da internet não trouxe só coisas boas, temos de convir), mas, neste caso, porque inter-pares, seria de bom tom algum cuidado porque "A César o que é de César (...)."
De resto, que se cante, e cante muito, pois contribui para a memória da Tuna em geral.