Assunto
bastante esmiuçado no fórum do PortugalTunas, ainda não tinha sobre ele
discorrido neste espaço. Assim sendo, cá vão uns considerandos.
Todos
estão familiarizados com a nova moda de bandeiras a metro e a rebaldaria que se
verifica na hora de destrinçar o que é estandarte/bandeira da Tuna dos
pseudo-estandartes e pseudo-bandeiras com que nos prendam certas tunas em
palco.
A
confusão é natural, dado que, demasiadas vezes, a catadupa e quantidade de
panos a esvoaçar nos coloca a difícil tarefa de perceber onde está o estandarte
(ou bandeira) oficial da Tuna e onde começa o circo.
O
Estandarte ou Bandeira da Tuna é só um(a). Sempre assim o foi, historicamente.
Esse
símbolo sempre foi tido como o mais importante de cada agremiação (e não só em
tunas), merecedor de toda a reverência e respeito.
Antigamente,
nomeadamente nas tunas do séc. XIX e XX (até ao boom), o estandarte da Tuna
existia como sinal maior e congregador. Com efeito, era nele que se colocavam
fitas de homenagem, de reconhecimento e agradecimento (um pouco como ainda
vemos no caso dos ranchos).
Ao
estandarte se prestava como que um culto de respeito e orgulho, estimando-o e
adulando o seu valor representativo, aliás como sempre foi tradição, ao longo
da história, com as bandeiras (fossem elas nacionais, de regimento, corporação
etc.).
Nos
campos de batalha, contava-se vitória pelo n.º de estandartes retirados ao
inimigo, daí que a protecção à bandeira era alvo dos maiores cuidados - o mesmo
se passando na conquistas de praças fortificadas ou cidades: a conquista do
estandarte inimigo significava a derrota ou capitulação do mesmo.
Hoje
em dia, parece que esse reconhecimento e valoração passou para 2.º plano.
Este
fim de semana assisti à actuação de uma tuna de que registei o seguinte:
1º
Apresentava diversas bandeiras do seu município, com as quais fez os
malabarismos costumeiros (ficando algumas no chão, enquanto as demais estavam a
rodopiar);
2º
Das bandeiras apresentadas, uma era, pasme-se, da Junta de Freguesia;
3º
Algumas bandeiras do município, artilhadas com efeitos pirotécnicos,
apresentavam-se rotas, com buracos de queimaduras que mais não traduzem que a falta de respeito perante um símbolo
que, não sendo da Tuna, merece ainda maior respeito pela natureza do mesmo. Uma
bandeira é para ser estimada e não assim vulgarizada e reduzida a adereço
cénico de qualquer show de saltimbancos;
4º
Depois, apareceram as "bandeiras de sinalização", um subtipo de
bandeira (configuradas em bandeira de mão) sem qualquer logótipo ou desenho
identificativo, meros panos de cor. Neste caso, eram 4, duas em cada mão.
Pensei estar a tratar-se da aterragem de algum avião ou antigo método de
comunicação medieval;
5º,
e não menos importante, a dita Tuna não apresentava nenhum estandarte ou
bandeira da Tuna.
Com
isto dizer que seria bom que as tunas não confundissem circo e tunas. Nos tempo
sidos, os espectáculos das tunas comportavam representações dramáticas,
declamação de poemas, solos musicais, fados, a par com a própria parte orquestral
(da tuna propriamente dita), mas não consta que houvesse número de circo,
malabarismos e "bandeiradas".
Tradicionalmente,
o estandarte não era para ser bailado, até pela reverência e importância do
mesmo. Mais tarde, com o precedente criado, e copiado, do país vizinho, emanado
dos tempos do S.E.U. (Sindicato Universitário Espanhol), começaram os
estandartes DE TUNA a serem bailados ou, então, a aparecer uma bandeira com o
logótipo da tuna, propositadamente feita para ser bailada - assumindo-se
"versão bailável" do próprio estandarte (o qual ficava quietinho,
continuando a assumir o seu papel de sempre - e bem - de identificar e
representar a Tuna).
Não
eram nem 2, nem 3 nem 4 bandeiras. Não se clonavam bandeiras para obedecer a
meras lógicas de espectáculo cénico, ele próprio subordinado à lógica do
"vale tudo" para se conseguir um prémio (e recordamos a
"festivalite aguda" que descaracterizou e travestiu muito boa tuna
neste país).
É
de perguntar onde está a coerência destas "bandeiradas". Onde está o
nexo de uma tuna, neste caso, não se apresentar sequer com o seu próprio
estandarte ou bandeira, mas empregar outras, as quais apresenta em estado
lastimável e, pior ainda, apresentando bandeirolas, lembrando aquela versão
olímpica da ginástica rítmica com fitas.
Não
vou entrar em moralismos quanto ao uso, nem sempre feito com critério, de
bandeiras de município (ou mesmo da bandeira nacional), embora me pareça que
muitas vezes se acaba por vulgarizar a importância desse símbolo, transformado
em mero adereço cénico (pessoalmente, creio ser abuso brincar com tais
símbolos).
Já
o que acho sem nexo algum é a dança de bandeiras, que, na verdade, nem
bandeiras são (porque não representam nada, não são bandeira de nada), não
passam de meros panos de cor. E muito menos percebo que qualquer jurado considere e avalie tal.
E
quando, num mesmo espectáculo, bailam, alternada ou concomitantemente,
bandeiras de município, bandeira nacional, bandeira de tuna............ não apenas
se promove a confusão como se equipara tudo por uma bitola pouco consentânea,
onde o valor de um paninho a esvoaçar tem a mesmíssima valoração de uma bandeira/estandarte da tuna (com a sua
heráldica, significado e simbologia).
Demasiado
show-off é o que temos, ao qual se soma o bailar da capa, à moda tauromáquica
(modalidade sem qualquer fundamento histórico ou lógico em Tunas - qualquer dia
bailam batinas ou temos número de sapateado), perguntando-me o que se ganha com
isso senão o destrato de uma peça que merecia outro respeito.
Nada
contra o bailar do estandarte/bandeira da Tuna (conquanto não se deixe cair ou
se arrume no chão), porque, com graciosidade (e sem exageros), dá beleza ao
espectáculo. O que creio ser importante é não transformar essa prestação num
vale tudo onde a função essencial e primária do estandarte acaba menorizada ou
mesmo pervertida.
Mais
cuidado, critério e bom-senso é o que se pede.
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