Não é de hoje que a
comunidade tuneril se questiona, entre outras coisas, sobre a quantificação da
sua expressão.
Há já umas boas 2 décadas que
era costume vermos, no sites de tunas, listas de existências que podiam ser
apenas nacionais (ora divididas por tipologia ora/e também por distritos) e, até, incluir tunas "estrangeiras", tudo bem arrumadinho com sinalética ou
bandeiras, conforme o gosto estético dos webmasters de então.
Com o fim da era dos
websites, essas listas quase desapareceram, dado que as novas plataformas
escolhidas (por serem gratuitas) não possibilitavam a colocação dessas rubricas (e, também, porque, na verdade, se perdeu o interesse nesse ponto, sempre
carente de actualizações). Por outro lado, também, o facto de muitas destas listas apresentarem o nome das tunas hiperligadas a sites que, passado uns tempos, ficavam offline, levou muitas tunas a abandonar a ideia de continuar a apresentar listas de tunas (dado o trabalho ingrato de continuamente ter de estar a alterar).
Há alguns anos a esta parte,
contudo, alguns sites, nomeadamente fora de Portugal, voltaram a apresentar
listagens de tunas, chegando, inclusive, a designar as mesmas de "Censo"
ou, mais longe ainda, pretendendo fazer censos tuneris a nível mundial.
Afirmar que se consegue fazer
um censo mundial de tunas com rigor, sem ser a partir de censos nacionais
validados, é de uma presunção enorme e, sejamos claros, uma falácia a todos os
títulos.
É que a simples tarefa de
fazer um censo nacional já é um trabalho que leva muito tempo e exige um
conhecimento da realidade nacional que só quem está nesse país pode conseguir (e nunca sozinho),
quanto mais recensear as tunas a nível mundial (e pior quando feito à revelia
dos próprios nativos).
A nível nacional, fazer um
censo que pretenda, por exemplo, apresentar simplesmente, e dentro de um certo
período temporal, as tunas que existiram (quantas
existiam no início desse período, quantas se fundaram a partir daí, quantas se
extinguiram....até chegar ao n.º de existências activas, ano a ano, até
ao que encerra o estudo), onde e quando ... é algo que se averba difícil e exige
mais do que apenas listar existências.
Se o método é abrir
inscrições para que cada tuna voluntariamente se registe, então a margem de
erro é enorme. Enorme porque não se garante que todas as tunas se inscrevem e
muito menos se pode assegurar que não sejam inscritas tunas que nem sequer
existam (extintas, inactivas ou mesmo inventadas). Imaginem a margem de erro quando se faz isso para tunas de outro país que não o nosso!
Se é coligir o máximo de
tunas, pesquisando em diversas fontes, pois é possível obter-se uma lista de
existências, mas apenas e só.
É um começo, mas isso não é
propriamente um censo, mas um mero levantamento, pois que haverá que distinguir
que tunas estão activas ou não, quando e onde, para, então sim, se tratar de um
censo de tunas, mesmo que este "apenas" procure saber quantas, em que
período e localidade. A margem de erro continua a ser vasta, se não houver mecanismos e meios apropriados de validação dos dados obtidos.
E se o tratamento de dados
pretender saber outras coisas (n.º de elementos, instrumentos, etc...), então estamos
a falar numa tarefa quase impossível, porque muitas tunas não possuem um
inventário ou registo histórico detalhado para fornecer, para além das muitas
que já não existem e de que se perde o rasto com facilidade (isto para não
falar daquelas que não possuem pegada digital).
Portanto, se já é uma tarefa
hercúlea recensear tunas num determinado período (os últimos 30 ou 40 anos, por
exemplo, para não ir mais longe) e no nosso próprio país, e só, por exemplo, para saber a data
de fundação e extinção (se caso disso, porque essencial para determinar se está
activa ou não), a sua tipologia (masculina, feminina ou mista) e pertença
(instituição e cidade)........... quanto mais fazer tudo para um país que não o nosso e, pasme-se, a nível mundial.
Se já a um português é tarefa
árdua conseguir esse feito para Portugal, porque de enorme complexidade, quanto
mais pretender fazé-lo noutros paises onde, por mais infos de que se disponha
ou aceda na Net, não se tem um conhecimento empírico e contactos que
possibilitem aferir e verificar com rigor o que nos aparece.
É que, caros leitores, é
essencial confirmar cada informação recolhida e não fiar-se no que uma lista,
um dado publicado ou uma incrição apresentam. É imperativo, portanto, cruzar
dados, de modo a que a validação seja o
mais criteriosa possível e o exercício não seja o de nesciamente somar tunas
que aparecem e produzir resultados enfermos de rigor.
Listar um conjunto de tunas e
produzir conclusões, baseados unicamente na participação voluntária de quem se
inscreve, não é um censo, mas uma sondagem. Ora para satisfazer os requisitos de
uma sondagem, basta uma amostra - e serve, portanto, a metodologia que tem por
base a participação voluntária a pedido de quem promove a recolha de informação.
Contudo, para satisfazer os
requisitos de um censo, tal não é aceitável, porque arrasta consigo uma margem de erro
demasiado significativa (ainda mais quando não verificados e confirmados os
dados e se tudo se resume a somar tunas inscritas, ou pescadas por aí, e nada
mais).
Nada contra a elaboração de
listas de tunas, note-se, mas haja algum cuidado na designação, para não induzir em erro ou comprometer quem publica.
Como o dissemos no início,
haver listas de tunas é normal e de salutar, mas não passam disso: de listas.
Não são levantamentos exaustivos e tratados com o rigor que um censo, por exemplo, exige.
Com efeito, quando
confrontados com censos tunantes e com as respectivas listas (quando as há - sim, porque há
quem os elabore, mas recuse apresentar mesmo que apenas a lista das tunas - o
que por si só "cheira a esturro") a pergunta que se faz, entre outras, é
"Estas tunas estão todas activas"?
Um levantamento estrito de tunas portuguesas produziria mais de 4 centenas delas. Pode-se dizer que há mais de 400 tunas em Portugal? Não, não pode!
Perante um censo de tunas, anunciado
como tal, queremos ter a possibilidade de confirmar a veracidade do mesmo
(especialmente quando é promovido por alguém que não é uma entidade
oficialmente creditada na área), pelo menos confirmar se a nossa tuna consta,
se está bem caracterizada (quanto à tipologia), se os dados sobre a mesma
(cidade, fundação, extinção...) conferem.
E para isso, meus caros, só
com a apresentação pública desses mesmos dados (que não carecem de autorizações
legais, porque divulgar o nome de uma tuna, seu ano de fundação e tipologia não
é dado sensível, mas público - aqui, na China ou em Marte).
Parece preciosismo, mas a
verdade é que há quem depois afirme que no país tal há X tunas e, vai-se a ver
e, afinal, esse número está totalmente errado, porque há uma parte delas que já não existe há muito. Ora isso não é
um censo, mas um faz de conta dele.
Se o que se pretende é
apresentar as tunas existentes num determinado período, há que aplicar filtros,
para que estejamos a falar de tunas que efectivamente estão em funcionamento,
de modo a diferenciar as que já não estão (quando, onde...).
Para um censo ser um censo a
sério, é imperativo que se apresente não apenas o período abarcado, mas todas
as nuances ocorridas durante o mesmo (tunas que se fundaram, tunas que deixaram
de estar activas ou se extinguiram e as que mantiveram actividade), para se chegar a um número válido para aquele momento. E isso passa, acima de tudo, por apresentar a lista das tunas em causa (nome, ano de fundação, extinção, tipologia e origem).
A isso é que se chama rigor e
metodologia, mas, acima de tudo, honestidade intelectual.
É exactamente isso que
estranhamos em censos que pretendem quantificar o caso português.
E de nada vale o argumento de
que eram os dados disponíveis à época, porque os números dessa época terão de
ser sempre os mesmos, se pesquisados 10 ou 100 anos depois (salvo uma margem de
erro residual própria a este tipo de estudo).
Um estudo bem feito no ano de 2000
terá forçosamente de revelar os mesmos valores se for feito, sobre o mesmo
período, em 2020 (e não haver diferenças significativas que indiciam que alguém andou a fazer contas de "sumir").
As 40 tunas activas que existiam nas Galápagos em 1980 (é um mero exemplo), segundo um censo feito em 2012, terão de ser as mesmas 40 activas em 1980, num censo feito em 2050.
Voltamos a sublinhar: o ónus da prova é a lista de tunas de que o censo trata; uma lista que obrigatoriamente tem de acompanhar a publicação dos dados recenseados.
As 40 tunas activas que existiam nas Galápagos em 1980 (é um mero exemplo), segundo um censo feito em 2012, terão de ser as mesmas 40 activas em 1980, num censo feito em 2050.
Voltamos a sublinhar: o ónus da prova é a lista de tunas de que o censo trata; uma lista que obrigatoriamente tem de acompanhar a publicação dos dados recenseados.
O que sabemos é que não basta
apregoar rigor e metodologia para, na prática, demonstrar a falta disso mesmo.
Não basta dizer que se fez e
apresentar uns gráficos e uns números, produzir conclusões e falar-se em índices
de crescimento ou decréscimo, quando o leitor não tem ideia alguma de onde surgiram
esses dados, como foram obtidos e tratados.
Se alguém afirmar que a Tuna
Y tem 20 elementos, em 1990, e me mostrar a foto desse ano que o atesta (ou outro documento fidedigno), pois eu
posso contar quem figura e confirmar.
Se alguém afirmar que a Tuna
H, em 1890, tinha 40 elementos, e apresentar artigos de imprensa que o confirmem
ou até mesmo um documento autêntico da relação dos nomes desses elementos, posso igualmente conferir.
Mas se alguém afirma que há
500 tunas no Congo e não apresenta as fontes, a lista dessas tunas, que possibilitem a verificação
desse dado, então, estamos perante algo que, muito provavelmente, carece de
veracidade e, portanto, não tem credibilidade.
Não basta dizer ou afirmar, com pomposa gala, que se fez um grande recenseamento mundial e fazer alarde de grandes feitos censitários que não resistem ao primeiro esgravatar. Egos assentes em pés de barro, cedo o tarde perdem ares.
O termo "censo" é
muitas vezes utilizado com o significado prático de "lista de tunas"
e não com o sentido científico. Bem o sabemos.
Não é um crime de lesa
pátria esse alongamento do sentido "Censo", nem isso mereceu estas linhas.
O que, sim, nos parece
forçado, é quem enche o peito com a presunção de fazer censos mundiais, quando
nem nacionais consegue fazer, sequer, em condições.
Nada contra quem tem a mania que sabe, se de facto sabe. Com manias podemos nós bem - que todos temos as nossas - mas que o saber seja alicerçado e não construído sobre areia só para polir o espelho de quem cavalga nu por meio mvndi.
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