A tra(d)ição da Serenata Monumental de Viseu........por Tunas?
É propósito
da FAV (Federação Académica de Viseu), este ano, dispensar os grupos de fado
académico e meter tunas a fazer a Serenata Monumental da Semana Académica
(Queima das Fitas).
É
um ataque não apenas vil e hediondo à Tradição, mas, também, um desrespeito às
próprias Tunas, achando que as mesmas são "pau para toda a colher" e
são apropriadas para tal.
Se
há algo com que a FAV não devia contar é com a cumplicidade das Tunas de Viseu
para tamanho atentado à Tradição (em Viseu, já havia Serenata e Semana
Académica antes de existir a FAV, note-se).
A
FAV não está mandatada para decretar a Tradição ou a Praxe, muito menos para
fazer das Tunas peças de xadrez que coloca onde bem quer, no seu programa de
festas (usando a Tradição como mero pretexto).
Os
elementos da FAV perderam toda a idoneidade e credibilidade a partir do momento
em que trocaram a defesa e promoção da Tradição por falta de senso.
A
verdadeira razão não é o desrespeito ou falta de identificação com a Serenata
Monumental que justifica novos moldes.
A
verdadeira razão é que a FAV não quer ter 2 despesas com 2 eventos de entrada
livre.
Ter
tunas nessa noite torna-se, na verdade, o mero pretexto, em jeito de aperitivo,
para o ajuntamento das hostes, à espera que abra o pavilhão multi-usos.
Enquanto não começa a bombar a "serenata" fica transformada num mero
local de passagem, num estacionamento, porque importa é o que vem a seguir.
Optou
a FAV por não abolir as tunas, preferindo acabar com os fados, sob pretexto de
gastos e os grupos serem de fora (esqueceu-se foi que, exceptuando as tunas, o
cartaz é feito com gente de fora).
Uma
premeditação mal intencionada, está bom de ver, num faz um faz de conta de a transferir,
aliciando as Tunas (para as calar) com a "honra" de fazerem a
Serenata.
Parece
assim, para os mais distraídos, que se salvaguardou a tradição, atirando com a
desculpa (em que só ingenuamente se acredita) que é por causa do respeito ou,
como alguns menos esclarecidos apontam também, para o facto de não fazer
sentido grupos de fado de Coimbra a cantar coisas coimbrãs.
Sobre
isso, cito João Paulo Sousa, ilustre viseense, um reputado tuno e consagrado
protagonista do fado de Coimbra:
"Vejamos, ficaria mal
hoje em dia negar em qualquer academia que não a Coimbrã, que as restantes
academias do país adoptaram um modelo que copia (seja qual for o nome adoptado
"Queima", "Enterro", "Semana Académica" etc,
etc...) ou adapta aquilo que era feito em Coimbra. E tal ficou a dever-se à
disseminação do ensino superior que se pulverizou por todo o país. E "in
illo tempore" era perfeitamente legítimo que os estudantes dessas
academias quisessem também ter os momentos simbólicos inerentes: a benção das
insígnias e símbolos, o atingir e reconhecer dos graus académicos, o ritual da
despedida para os finalistas corporizado simbolicamente na serenata - onde a
Canção de Coimbra assumiu naturalmente posição central, não por ter origem onde
teve (e sabemos aliás do contributo da música regional de muitos pontos do país
nessa forma musical), mas porque é reconhecida como forma de expressão
artística expressamente universitária - aliás, a única forma musical de raiz
universitária do mundo. Não há por isso qualquer razão para os coimbrinhas se
escandalizarem com essa aculturação, bem pelo contrário, antes deveriam mostrar
orgulho por, de uma forma mais ou menos feliz, conforme os casos, tal matriz
haver sido assimilada pelos outros. Por outro lado, quer os grupos locais que
vêm fazendo essas serenatas, quer os que vinham de Coimbra, têm mostrado
interesse e cuidado em que o que é executado não sejam os temas que
ostensivamente cantam Coimbra e antes os que são neutros e em que toda a gente
em todo o lado se pode rever. Daí, por exemplo, o caso de sucesso da Balada do
5º ano jurídico: expressa sentimentos comuns a toda as academias e estudantes,
tendo 1, apenas 1, referência a Coimbra, que chega a passar despercebida (a
palavra "cabra"). Para mim a questão passa antes pela total ausência
de formação quanto à simbologia do momento. Como a coisa está, em breve teremos
garrafas de Licor Beirão na Benção das Pastas, como já temos Hip-Hop debitado
em alto nível ou absinto nos cortejos, Kilts nos trajes e quejandos. Os orgãos
de praxe e todos os outros que tratam da parte académica (strictu sensu) destas
celebrações é que não estão à altura da transmissão das simbologias e
significados inerentes."
Foi
a Serenata Monumental vilipendiada e jogada ao lixo, e foi subtraída cirúrgica
e "engenhosamente" às Tunas a sua noite (como vinha sendo hábito há
uma boa década).
Mas
o mais "engenhoso" foi ter conseguido que as próprias Tunas
participassem voluntária e inconscientemente nestes dois certeiros tiros: um à
tradição, ferindo de morte um dos momentos mais simbólicos e tradicionais da
Queima de Viseu, e outro no próprio pé, ferindo gravemente a sua idoneidade
(passando as Tunas a caminharem, daqui em diante, com "pés de barro")
Também
é de questionar a posição dos organismos de Praxe da Academia, pois não é de
todo aceitável, nem compreensível, que também entrem na dança e, como guardiões
da Tradição, aceitem tal (ou então algo pouco claro se estará a passar).
As
Tunas, sempre tiveram o seu espaço na Semana Académica de Viseu, mas nunca
passaria pela cabeça de ninguém (no seu perfeito juízo) misturar competências e
espaços.
Sinto
vergonha em realizar que tunas se prestam a tal papel e são coniventes e cúmplices
desse atentado. Os tunos que consentem, e alguns até apoiam, esta solução
tunante teriam certamente outra opinião, se, em vez de tunas, fossem
coros/orfeões a fazerem a Serenata.
Se
todos reconhecemos a falta de informação/formação sobre as tradições e a necessidade
de as dar a conhecer e valorizar, que exemplo se dá quando se pratica
precisamente o contrário, e quando isso é também protagonizado por Tunas?
No
dia em que forem as tunas o alvo de "invencionismos" e intromissões
ex muris ....... quero ver alguns a encherem a boca com "Tradição".
As
Tunas, com T grande vêem-se nestas alturas e honra seja feita o Real Tunel
Académico - Tuna Universitária de Viseu que não embarcou nesse circo,
contrariamente a outras congéneres, algumas das quais surpreendem pela tomada
de posição cúmplice.
A
César o que é de César, porque defender a Tuna é também saber que lugar deve
ocupar e respeitar para se dar ao respeito também.
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