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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

20 Anos de Tuna de Veteranos em Viana (2003-2023)

  Hoje é dia de falar de uma das mais antigas Tunas de Veteranos/Quarentunas portuguesas, a Tuna de Veteranos de Viana do Castelo, celebrando a efeméride do seu 20.º aniversário.

Há já muito que não escrevia sobre Tunas de Veteranos/Quarentunas, sendo este o meu 3.º artigo sobre o tema, datando o primeiro de 2007. Parece-me que as duas décadas de existências deste grupo justifica-o plenamente. Faço-o apenas agora, depois dos festejos oficiais já realizados, tomando como referência o aniversário da sua primeira actuação (o que, assim, faz festa a dobrar).

Fundada 2003, e com a sua primeira actuação em Fevereiro de 2004, a Tuna de Veteranos de Viana do Castelo reúne antigos tunos de diversas academias (Univ. do Minho, Univ. Fernando Pessoa, Univ. Católica Portuguesa, Fac. Engenharia do Porto, Univ. Lusíada, Univ. Coimbra, Inst. Politécnio de Viana do Castelo…) que quiseram continuar a viver a res tunae mais de acordo com a sua nova situação pessoal e profissional, mais ao ritmo dos seus componentes, numa soma de sinergias e experiência que só a veterania possibilita.



Reconheço que, quando este grupo surgiu, algumas reticências se me colocaram (e mantenho), e sobre isso escrevi em 2009 (e falei, no VI ENT de Castelo Branco), quanto a esta ideia de jovens adultos mal saídos da suas tunas de origem (na altura fora assim), se averbarem o estatuto de “veterano”, sobretudo quando essa designação, no meio tuneril, se quer equivalente a “quarentuna”.  Mas adiante.

Que dizer sobre este garboso conjunto de talentos?

Da minha parte, a firme convicção que estamos perante uma soma de talentos invulgar e a mais activa tuna do género em Portugal. Uma tuna que integra a Federación Internacional de Cuarentunas, bem como o circuito português de tunas deste tipo[1], e tem mostrado uma vitalidade ímpar. Não os conhecendo pessoalmente, é daqueles grupos que parecem adentrar-nos casa adentro e fazer festa connosco, como se fôssemos amigos de longa data. É o que sinto, sempre que os vejo em streaming ou vejo as suas publicações nas redes sociais.

Poderia tratar-se de uma tuna de “vencidos da vida” a “tocar umas coisas”, mas revelam um cuidado, rigor, empenho, jovialidade, alegria e qualidade que são invulgares mesmo em grupos estudantis (estando acima da maioria deles, até). Seria de esperar um grupo mais modesto em termos de aposta musical (arranjos instrumentais e vocais, grau de dificuldade…), tendo em conta que já não andam naquela cega corrida aos prémios, contudo é daqueles grupos que dá enorme gosto ver e ouvir, porque não são mais do mesmo. Até no que concerne à forma como tratam os temas do nossos folclore, mostram que são sérios, não folclorizando nem se desleixando na exigência.

 


Reconheço ser erro meu nunca ter privado de perto com este grupo, mas acredito que haverá maré para tal; um grupo que, mais do que embaixada do Alto Minho, é representante aquilatada da Tuna Portuguesa, do seu legado, da sua idiossincrasia e da sua incomparável e genuína riqueza e diversidade. 

Para já, um enorme bem-haja pelo que têm feito, e continuam a fazer, em prol da comunidade, cultura e fenómeno tuneril português.

 

Parabéns!



[1] Que inclui a Tuna Veterana do Porto (1999, a mais antiga, em Portugal), a Tuna Veterana da Univ. Portucalense (2008), Quarentuna de Coimbra (2009) e Tuna Veterana de Aveiro (2014?).

domingo, 22 de novembro de 2009

O flagelo da "tunite"



Passadas pouco mais de 2 décadas sobre o ressurgimento do fenómeno tunante, temos vindo a apercebermo-nos, ainda que amiúde, do facto deste fenómeno ter entrado numa certa fase de regressão onde se vai notando o esbater, o abrandar do fôlego e ímpeto, quase eufóricos, que subsidiaram o denominado "boom" da década de 80, e inícios de 90, do século passado.
Com a formatura das primeiras gerações tunantes, e como desgaste provocado pela escassez de sangue novo, as nossas tunas envelheceram rapidamente.

Dizia-se, no último ENT, que a nossa comunidade, contrariamente ao registado no país vizinho (onde o processo de maturação cobriu todos os passos naturais), conseguiu, em 2 décadas, o que outros precisaram em 100 anos de experiência: nascemos, com um fulgor tal fogo de palha, multiplicámo-nos (superando qualquer baby-boom), estabilizámos, estagnámos e, por hora, entrámos na fase do envelhecimento (precoce).
Obviamente que, como referia o Ricardo Tavares, o facto de termos atalhado caminho e ignorado hiatos temporais e experienciais, impediu-nos uma maturação paciente, suportada e verdadeiramente, enraizadora (colmatando a brechas com invenção engenhosa: uma peneira a tapar o sol).
Muitos castelos de arreia vão ruindo, na exacta medida em que foram criados.

Actualmente, parece começar a ser preocupação generalizada o facto de muitas tunas estarem já mais a sobreviverem e tentarem não se extinguirem, do que outra coisa qualquer, ou com uma média de idades já respeitável.
Estamos perante uma "Tunite", sinal dos tempo e, certamente cíclica; algo que a história já demonstrou cabalmente no passado, após o primeiro grande fenómeno tunante em Portugal.

No último ENT, sob o tema das Quarentunas e Tunas de Veteranos, ficou bem patente essa preocupação, a qual levou alguns, menos avisados e ponderados, a misturar conceitos e assuntos. Embora o tema versasse sobre os formatos existentes para os que recuperam a sua velha capa e instrumento, depois de mais, ou menos, longa ausência da vida tunante, muitos foram os que ali quiseram, antes de mais, extrair soluções para evitar a extinção dos seus grupos - coisas distintas, é facto.

Como já dito, o tema das Quarentunas, e equiparados, é demasiado "quente", ainda, para ser alvo de estudo e de fórmulas inequívocas, nomeadamente no seio daqueles que ainda pensam mais com o coração do que com a razão.

Ora, essa questão da durabilidade de projectos, o problema na manutenção das tunas deveria ser encarado com uma maior razoabilidade.

Se a Tuna chega ao fim da linha, pelos mais diversos motivos, há que saber, antes de mais, dar-lhe condigno fim, ao invés de esticar a corda a ponto de criar, nos demais, aquele sentimento de compaixão quando se compara o que foi o grupo e aquilo em que se tornou por teimosia de alguns que, embora bem intencionados, acharam haver elixir da juventude para toda e qualquer ruga ou falência generalizada dos órgãos.

Achei, pessoalmente, incoerente que, no país vizinho, houvesse quem defendesse que as quarentunas de faculdade (nomeadamente as que derivam das tunas de origem) teriam a obrigação moral (pelo menos) de evitar a extinção da tuna de onde eram oriundos, tocando com os mais novos, assegurando, por todos os meios, a sobrevivência.
Obviamente que a história, nomeadamente em Espanha, é rica de exemplos de tunas extintas, e de quarentunos cuja tuna de origem (onde começaram) já há muito não existe. É a lei natural da vida; não vejo por que razão fazer disso um drama, por mais triste que nos possamos sentir (nomeadamente quando falamos de grupos que ajudámos a fundar).
Sei do que falo, pois a minha primeira tuna, a da minha universidade, já há muitos anos que se extinguiu.

Querer, teimosamente, prolongar a vida, só porque sim, parece-me um exercício compreensível (do ponto de vista sentimental), mas pouco certo, quando racionalizado.

Pior, ainda, quando pensamos naqueles que defendem as quarentunas como garante da continuidade das tunas de faculdade, prefigurando uma espécie de aparelho de suporte de vida, onde a tuna é entubada e faz respiração artificial e é alimentada por sonda gástrica e litros de soro.

No ENT, foi notória aquela pergunta, a jeitos que de revolta e mágoa, traduzida num "E agora, para onde vou, o que faço?". Bem sabemos que, a determinada altura, uns quantos se afastam e ficam uns resistentes a querer, a toda a força, obrigar o carro a andar só porque ainda tem rodas e carroçaria.
Entendendo o que irá na alma de muitos desses tunos, não podemos deixar de dizer: "Parte para outra!".

É nesse âmbito que se inserem, por exemplo, as tunas de veteranos/quarentunas, quando uns quantos, depois de afastados de um contexto próprio que já passou (seja por extinção, seja por qualquer outra razão que tenha ditado o afastamento), recriam o mester, juntamente com outros em situação igual ou parecida (antigos tunos que já não militam, há muito, nas tunas de origem), mas já em moldes mais adequados a uma situação muito própria, em moldes mais adaptados aos tunos (e não o contrário, onde eram os tunos adaptados ao molde Tuna).
Haja, contudo, o discernimento para se perceber que tunas de veteranos ou quarentunas não são prolongamentos ou "franchisings", antes um modelo diferente, em contexto, também ele diferente, e não necessariamente agrupando apenas tunos provindos do mesmo grupo de origem. Estas tunas "vintage" não ocupam lugar de ninguém senão o seu, tal como o avó não ocupa o lugar de filho ou de pai.
As tunas de veteranos/quarentunas não são, também, upgrades para subsituir, antes um lugar de partilha saudosa e reavivar de memórias, ao ritmo de quem nelas milita.
Mas se a situação não se coaduna com a ideia de veteranos, há sempre a possibilidade de ingresso noutra tuna, de criação de uma nova (mesmo que com menos elementos), ou adopção de projectos paralelos, ao jeito dos Sabandeños ou Gofiones, de que os "Lusíadas" são um exemplo português por excelência.

Assim, por mais que custe (e reconheço o facto), quando é chegada a hora, haja o bom-senso de dizer: chegou a hora, acabou!
Extinguiu-se a nossa querida tuna, que tanto nos deu, a quem tanto demos....... paciência, é a vida!
Que fiquem, antes de mais, as imagens de uma tuna que sai pela porta grande, do que uma longa doença terminal que cria mais dor, empalidece a imagem e reputação, cria cisões e, acima de tudo, leva a cuidados "paliativos" escusados (porque doentes terminais são isso mesmo) e a um gasto de cinergias que teriam melhor emprego em projectos alternativos ou noutros formatos tunantes.
Cuidados paliativos em Tuna são esconder ao corpo os problemas levando-o a utopias e ilusões que agravam, mais do que ajudam a tomar decisões, que mesmo dolorosas, são necessárias. desligar a máquina.

Haverá uma idade para tudo, e um fim para tudo. "Nada se perde, tudo se transforma", dizia Lavoisier. A cada um compete saber quando.
O facto das Quarentunas terem estabelecidos os 40 anos como idade mínima (pois poderiam ser cinquentunas, por exemplo), e as tunas de veteranos outra fórmula qualquer, não é imposição que faça bitola (poderá, um dia, sê-lo, quiçá - mas ainda é cedo para essa discussão), até porque é uma determinação para o próprio grupo, e não uma reforma automática que obrigue, seja quem for, a reformar-se chegando a esta ou aquela idade, a este ou aquele patamar.

No ENT de Castelo Branco, esperavam, alguns, medidas miraculosas e soluções de largo espectro para o evitar das mortes anunciadas, elixires de juventude para projectos moribundos ou em conjectura de dificuldades de recrutamento e renovação.
Não as há. Cada qual, na sua realidade e contexto, deve procurar solucionar o melhor que puder e souber. E quando não for possível, será, provavelmente, porque não há mesmo como, restando dar espaço ao curso natural das coisas.

Umas vezes operam-se milagres, novas gerações salvam a coisa e ressuscitam o projecto, outras chegam ao fim da linha, e nada a fazer.

O tempo em que as tunas encantavam, a euforia de há uns anos já passou, tendendo o fenómeno a estabilizar, embora isso também se faça à custa da chamada selecção natural, à custa da extinção de muitos grupo (e nascimento de outros, porventura), de reajustes, de mudança.
O tempo dirá de sua justiça.