Cumprem-se 30 anos sobre o enorme fenómeno que foi “A Mulher Gorda”, nos anos 1990.
O tema é uma recolha feita pela Tuna da UTAD (a primeira a
tocá-lo) na região transmontana, sendo que cabe à Tuna de Letras da
Universidade do Porto ter sido a primeira a gravá-lo e torná-lo conhecido junto
da comunidade académica e tunante nortenha.
O tema atravessou meio país e veio parar às mãos da
Estudantina Universitária de Lisboa que, em 1993, fez dele um hit nacional.
Que impacto teve tal tema na sociedade e na promoção das
nossas tunas? Deixo-vos o que escrevi em 2017, na página de FB do Doc.Tuna:
“Junto da população em geral, teve certamente impacto, mas
acima de tudo para construir um estereótipo de tuna nem
sempre........abonatório.
Não deve haver tuna alguma que, em resultado do sucesso da
"gorda", nesses anos, não tenha ouvido do público um "- Toca a
mulher gorda!".
Casos houve em que o público se estava literalmente a
borrifar para o virtuosismo da tuna, se ela não tocasse a "mulher
gorda" o povo já não ficava contente.
O tema terá contribuído para publicitar as tunas, mas resta
saber se isso foi, de facto, benéfico a longo prazo. Se é um enorme sucesso na
época, o tema é o oposto à real qualidade da tuna que o tornou famoso: a
Estudantina Universitária de Lisboa, a qual é imensamente superior em termos
artísticos (já o era nessa época) à qualidade musical e literária do tema em
si.
Mas a verdade é que nem sempre vingam os temas de requintado
recorte musical e literário; nem sempre são sucesso os temas tocados com
grandes arranjos e virtuosismo. Por vezes, é mesmo o tema menos
"cotado" que sobressai.
O povo achou graça a esta (como acha graça a Quim Barreiros -
e note-se que respeito por inteiro esse gosto, porque também aprecio q.b.) em
detrimento de outros temas com muito mais qualidade, contidos no disco
"Serenata das Fitas".
O tema acabou por ser associado e colado às tunas (embora a
sua origem e contexto nada tenham a ver com elas), criando no imaginário
colectivo uma ideia de tuna que não corresponde exactamente a uma matriz
"mulher gordiana" (embora não seja mentira termos tido sempre muitas
tunas que são meros "solidó", umas exímias a tocar campaínhas de
porta, outras em produzir cacofonias ou ficando-se pelo
"arrebimbómalho").
Quanto a ter contribuído para o crescimento do meio tunante,
não creio, de todo, que o tema tenha tido esse condão.
Mas que temos muitas tunas à imagem da "mulher
gorda" (e que não passam disso), lá isso temos. Sempre tivemos,
infelizmente.
Qualquer tuna toca a "mulher gorda". Tunas com mais
unhas, como a EUL, tocam muito mais e melhor que apenas isso; e temos,
felizmente, muita Tuna de qualidade a prová-lo.
Seja como for, "A Mulher Gorda" tornou-se um hit,
para sempre associado às tunas.”
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"Serenatas das Fitas" em formato vinil (LP), 1993. |
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"Serenatas das Fitas" em formato CD, 1993. |
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"Serenatas das Fitas" em formato K7, 1993. |
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"Serenatas das Fitas" em formato K7, em reedição de 1994 com nova capa. |
Foi uma fase da Tuna portuguesa, uma época de descoberta e experimentação, de procura de um modelo próprio onde a Tuna ainda era muito influenciada sua pelo seu legado popular (e gerando-se confusões quanto a esse legado). O tema acabou sendo adoptado pela maioria das tunas de então (quer por graça, quer porque era fácil de executar, quer porque o público pedia), as quais, em muitos casos, foram acrescentando ou substituindo algumas quadras (com mais ou menos bom gosto).
“Serenatas das Fitas” é um dos álbuns mais icónicos da Tuna
portuguesa, muito por força de “A Mulher Gorda”, um tema que, contra todas as
expectativas (e vontades, direi) se tornou a peça central do disco (cujas
imagens acima foram extraídas do MFT – Museu Fonográfico Tuneril), e
contra a qual os demais temas constantes, embora superiores, não puderam
rivalizar em fama.
Quem manda é o público ouvinte e, por vezes, em contra-corrente ao que são os padrões mínimos de bom gosto.
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