Uma rápida
passagem, em jeito de cronologia, pelo fenómeno tunante em Guimarães, cidade
berço da nacionalidade, durante o que se pode considerar de 1.º boom de tunas em Portugal.
Em 1886,
temos a Estudantina de João Maria dos
Anjos a actuar no salão da Associação Artística Vimaranense.[1]
No ano de 1888, temos a Tuna Vimaranense a dar serenatas pelas ruas da cidade[2] e a participar no sarau comemorativo do 3.ºaniversário do Club Commercial Vimaranense[3].
Reencontramos a Tuna Vimaranense em 1890, a dar concerto no Teatro D. Afonso Henriques (e vestida de tunos espanhóis) e, depois, a dar serenatas pela cidade [4]; em 1892, nos festejos do Dia de Reis[5]; em 1893, em que se diz que tenciona ir em viagem de recreio à Penha. Finalmente, em 1894, também a encontramos em viagem de recreio[6].
Nesse ano de 1894, temos referência à Tuna Artística Vimaranense, a qual festeja o aniversário da sua instalação com desfile pelas ruas da cidade, serenata e ceia[7] (não se podendo afiançar, com total certeza, tratar-se da Tuna Vimaranense, já citada). Dizer que voltaremos a ter notícia de uma Tuna Artística, mas no ano de 1932[8], bem como, outra, em 1947[9] e 1949.
Nesse mesmo
ano, em Dezembro, a Estudantina do Colégio
de São Dâmaso actua no dia do seu patrono (dia 11) e, depois (dia 21), sob
direção do sr. Martinó, em Sessão Solene da Associação
São Luís.[10]
Em 1895, a Estudantina do Colégio de São Dâmaso abrilhanta (a 3 de Março) mais uma Sessão Solene promovida pela Associação São Luís[11] e, em Junho, temos a Tuna dos Cegos de Guimarães nas festas de S. João[12].
Em 1897, temos nova referência à Tuna Vimaranense, dizendo-se da mesma que iria dar concerto a Vila Real[13].
Em 1899, há nova referência à Estudantina do Colégio de S. Dâmaso[14], a qual continua dirigida pelo sr. Martinó[15].
No ano de 1900, a Estudantina [académica[16]] Vimaranense (do colégio S. Dâmaso) participa no cortejo cívico da "Festas Sarmentinas"[17].
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Algumas tunas vimaranenses. |
Em Março de 1903, temos a Tuna do Círculo Cathólico de S. José e S. Dâmaso, participando das festividades ao patrono da agremiação, S. José[18] e, mais tarde, em Dezembro, temos a Troupe Musical Artística Vimaranense, sob a batuta do sr. Cypriano, a percorrer as ruas da cidade nas comemorações do 1.º de Dezembro[19].
Em Fevereiro de
1904, temos a Tuna do Círculo Cathólico de S. José e S. Dâmaso, no sarau de
carnaval promovido por aquela agremiação[20]
e, em Março, temos a Tuna da Nova Filarmónica Vimaranense[21],
a actuar no final da conferência da Associação de Classe dos Empregados de
Comércio de Guimarães[22].
Nesse mesmo ano, em Agosto, a Tuna do
Círculo Cathólico Operário participa da romaria à Virgem de Lourdes, na
Penha[23].
Para terminar, no mês de Outubro, a dita foi a Vizela, onde percorreu as ruas e
tocou no coreto local[24].
Em 1905, a
Tuna do Círculo Católico foi cantar os Reis a casa de alguns benfeitores, sendo
que a receita originada seria para aquisição da bandeira da tuna e de novos
instrumentos[25].
Depois, em Junho, actua nas comemorações do 3.º aniversário daquela instituição[26] e,
depois, reencontramo-la, em Dezembro, a actuar na sua sede[27].
Em 1906, temos a Tuna 26 de Janeiro, que se associa aos festejos do 3.º aniversário da Nova Filarmónica Vimaranense[28]. Nesse mesmo ano, em Novembro, a Tuna do Círculo Católico, sob regência do sr. Dantas, actua, na sua sede, na conferência lá realizada, para, em Dezembro, se associar aos festejos do 1.º de Dezembro, organizados pela academia vimaranense[29] e, depois, dar concerto na sua sede em honra do seu patrono[30].
Em Março de
1907 anuncia-se que em breve estará formada a Tuna
Académica, sob
regência do sr. Soares (mestre da Banda Regimental de Infantaria 20), tendo já
sido composto um hino[31] para a
nova tuna pelo sr. Annibal Vasco Leão[32]. Em
Abril a Tuna do Círculo Católico participa em sarau, na sede da colectividade[33].
Em 1909, em Maio, temos referência à recepção festiva feita aos excursionistas da Póvoa do Varzim, estando diversas agremiações vimaranenses, entre as quais a dos Empregados de Comércio e a respectiva Tuna (Tuna dos Empregados de Comércio - que, no ano seguinte, mudará de nome).[34]
Em 1910, mais precisamente em Junho, anuncia-se que a Tuna do Grupo "Por Guimarães", tenciona ir a Fafe, para se dar em concerto no teatro local[35]. Desse mesmo ano há referência à Tuna dos Caixeiros de Guimarães[36].
No ano de 1913,
em Dezembro (dia 21), estreia-se a Tuna
da Juventude Católica de Guimarães, sob regência do Sr. José Gnise,
encerrando uma conferência realizada na sede daquela colectividade[37].
Em Abril de
1914, a Tuna da Juventude Católica actua em sessão solene daquele centro
associativo[38].
Mais tarde, em Maio, essa mesma tuna volta a actuar em sessão solene, na sua
sede, repetindo-se esse tipo de concertos em Junho (por 2 vezes) e em Dezembro[39].
Em 1915, em
Março, a Tuna da Juventude Católica dá concerto, na sua sede, na festa da
inauguração e bênção da bandeira daquela agremiação e, depois novo concerto, à
noite, no Teatro D. Afonso Henriques[40]. Mais
no final desse ano, em Novembro, participa no sarau organizado pelo grupo
cénico daquela associação, seguindo-se, dias depois, récita em benefício a Cruz
Vermelha de Gondomar, para compra de ambulância[41].
Em Maio de 1916, prevê-se festa do 1.º aniversário do Grupo Cénico da Juventude Católica, com participação da Tuna[42] - a qual, em Junho, actua no Teatro S. Geraldo, em Braga[43], para, no mês seguinte, actuar no 3.º aniversário da Juventude Católica de Guimarães[44].
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Tuna (e grupo cénico) da Juventude Católica de Guimarães (em Braga) - Illustração Catholica, Ano IV, N.º 157, de 01 de Julho de 1916, p. 7. |
Em Janeiro de 1917, a festa prevista no Teatro D. Afonso Henriques, promovida pela Juventude Católica, foi impedida, com a entrada na sala do vice-presidente da Câmara, José Rodrigues Leite e Silva, acompanhado da polícia, impedindo o espectáculo de continuar, estava a Tuna da Juventude Católica em palco e, prestes a iniciar a sua actuação. O periódico refere o facciosismo e autoritarismo dos republicanos e a suas manifestações anti-clericais[45]. Depois, em Junho, a referida Tuna actua em espectáculo organizado por aquele centro católico[46].
Em 1918, a Tuna
da Juventude Católica vai de passeio à Serra da Penha[47].
Em Abril de
1922, voltamos a ter notícia da Tuna da Juventude Católica de Guimarães,
actuando em conferência organizada por aquele círculo[48].
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Tunas vimaranenses |
É uma breve cronologia, carente de mais aturados trabalhos de investigação (sobretudo da década de 1920 em diante). Apesar de possuirmos dados posteriores, cremos que, os aqui apresentados,, já permitem ter uma ideia clara que Guimarães também inscreve o seu nome na história tuneril portuguesa.
Não
referimos as visitas de várias tunas à cidade, para não alongar, mas Guimarães
também foi espaço que acolheu, dentro da cronologia anteriormente apresentada,
a visita de inúmeras tunas, especialmente de Braga, Porto e Coimbra.
Obviamente
que a Tuna de cariz académico surge
em Guimarães pela mão de alunos do colégio São Dâmaso. Já os alunos do Liceu, fundado em 1890[49] e
confirmado por decreto em 1896, apesar da
tentativa de formação de uma tuna em inícios do séc. XX, parecem não ter
conseguido formar um grupo estável. Com efeito, não foi possível, à data,
rastrear a Tuna Académica que se iria, supostamente, formar em 1907. Se
é que se chegou a formar, terá tido efémera existência (não é referida, por
exemplo, nos
espectáculos estudantis do 1.º de Dezembro, nos anos de 1907, 1908 ou 1909), mas certamente existirão dados
à espera de serem trazidos a lume.
Nota: os dados apresentados foram investigados no âmbito da revisão à obra "Qvid Tvnae?" (com vista a uma nova edição revista e aumentada) e foram coligidos até Maio de 2020.
Uma
referência, já agora, "en passant" sobre a pretensa e errónea ideia
de ter havido Ensino Superior em Guimarães, em tempos mais recuados.
Com efeito,
encontramos alguns artigos publicados na web[50] que
falam do Colégio das Artes e Humanidades da Costa, no séc. XVI, como,
porventura, equiparado a Universidade.
Tal é
falacioso e carece de prova documental. O dito colégio, como outros que
existiam, era, de facto, um espaço de ensino, mas dedicado a clérigos e nobres,
mas não se conhece qualquer documento, à data, que demonstre que, em 1539, foi
autorizado pelo Papa Paulo III a atribuir os graus de bacharel, licenciado e
mestre, com equiparação aos que eram concedidos pela Universidade de Coimbra. Se
existem, estranha-se que não sejam devidamente referenciados ou mesmo colocada
imagem dessa mesma documentação.
Convirá não
se confundir os colégios (Colégio das Hortas, de São Dâmaso, de São Nicolau...)
com Estudos Gerais/Universidade. Os estudos preparatórios que as várias
instituições de ensino ministravam, e que existiram em Guimarães e pelo país,
não se equiparavam aos graus só conferidos pela Universidade de Coimbra, a
única em Portugal[51] até
1911. Aliás, os preparatórios serviam precisamente de antecâmara à candidatura
à Universidade.
Uma questão
que fica em aberto, à espera de dados mais concretos e acompanhados de prova
documental.
[4] O Comercio de Guimarães, VII Ano, N.º 590, de 11 de Setembro de 1890, p. 2 e N.º 591, de 15 de Setembro de 1890, p. 2.
[5] O Commercio de Guimarães, VIII Ano, N.º 711, de 04 de Janeiro de 1892, p. 2 e N.º 712, de 11 de Janeiro de 1892, p. 2.
[6] O Commercio de Guimarães, X Ano, N.º 852, de 10 de Julho de 1893, p. 2 e N.º 853, de 17 de Julho de 1893, p. 2.
[8] Referente à Tuna Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense - Notícias de Guimarães, N.º 47, de 04 de Dezembro de 1932, p. 1.
[9] No Notícias de Guimarães, 16.º Ano, N.º 789, de 16 de Março de 1947, p. 4 e N.º 803, de 22 de Junho de 1947, p. 2, refere-se a Tuna Artística Vimaranense, criada no seio da respectiva Associação Artística, a qual é dirigida pelo sr. José da Costa Pacheco (também presidente da AG da colectividade). Nos artigos, respectivamente, dá-se conta da formação dos corpos sociais e organização interna, bem como da sua estreia, em 28 de Junho, com descriptivo do repertório executado.
[10] Crenças e Letras, 3.ª Série, N.º 10-12, de 30 de Dezembro 1894 pp. 2-4 e 4.ª Série, N.º 1, de 01 de Janeiro 1895 p. 2.
[14] Estabelecimento fundado em 1889, e que funcionou no antigo convento da Costa.
[16] No artigo, não se precisa exactamente de que instituição é, pois vai englobada no grupo de Escolas de Guimarães. Intuimos que seja do colégio, já que dirigida por Arlindo Martinó (precisamente o responsável pela Tuna do Colégio de S. Dâmaso).
[17] O Commercio de Guimarães, XVI Ano, N.º 1463, de 02 de Março de 1900, p. 1 e N.º 1466, de 13 de Março de 1900, p. 1.
[21] A Nova Filarmónica foi fundada em 1903.
[29] O Commercio de Guimarães, XXII Ano, N.º 2109, de 06 de Novembro de 1906, p. 3 e N.º 2117, de 04 de Dezembro de 1906, p. 2.
[31] O qual será efectivamente estreado no sarau estudantil do 1.º de Dezembro, só não sendo claro se o foi pela tuna, pois o periódico não o refere expressamente. Vd. Independente, 7.º Ano, N.º 312, de 23 de Novembro de 1907, p. 3 e N.º 313, de 30 de Novembro de 1907, p. 3.
[34] O Comercio da Póvoa do Varzim, Ano VI, N.º 26, de 28 de Maio de 1909, p. 1.
[36] Jornal Flor do Tâmega, de 27 de Novembro de 1910, citado. por Sardinha, 2005,p.66.
[37] O Commercio de Guimarães, XXX Ano, N.º 2806, de 12 de Dezembro de 1913, p. 2 e N.º 2809, de 23 de Dezembro de 1913, p. 2.
[38] O Commercio de Guimarães, XXX Ano, N.º 2838, de 17 de Abril de 1914, p. 2 e N.º 2839, de 21 de Abril de 1914, p. 2.
[39] O Commercio de Guimarães, XXXI Ano, N.º 2850, de 29 de Maio de 1914, p. 2; N.º 2852, de 05 de Junho de 1914, p. 2; N.º 2858, de 30 de Junho de 1914, p. 2 e N.º 2906, de 22 de Dezembro de 1914, p. 2 (onde consta o repertório apresentado).
[41] O Commercio de Guimarães, XXXII Ano, N.º 2990, de 09 de Novembro de 1915, p. 2 e N.º 2992, de 16 de Novembro de 1915, p. 2 e N.º 2995, de 26 de Novembro de 1915, p. 2.
[49] Inicialmente como Seminário-Liceu para, em 1911, se tornar Liceu Nacional (com extinção do curso teológico) e, em 1917, se passar a denominar de Liceu Central.
[50] DURAND, Jean-Yves et al - As Festas Nicolinas, em Guimarães: tempo, solenidade e riso. CMG, 2020 e Nicolinos. pt, consultados a 21-06-2022.
[51] Com o parêntesis de Évora.
1 comentário:
Relativamente ao último parágrafo deste excelente texto e pesquisa.
Certa ocasião, encontrei esta "pérola" na Internet e passo a transcrever a mesma:
"....entre 1537 e 1550 existiu, em Guimarães, Ensino Universitário, naquela que foi conhecida como Universidade da Costa ou Universidade de Guimarães (que estava instalada precisamente no Convento da Costa), criada por D. João III a fim de dar instrução ao seu filho bastardo, D.Jorge, que estava então longe de Lisboa (fim de citação).
Concluí, depois da mesma "contra-pesquisa" que:
- D. João III, o Piedoso, teve, ao que sabe, dez filhos, não necessariamente todos da mesma esposa, como era hábito, aliás, na época. Teve, de facto, um filho que foi aluno dos Jerónimos, em Santa Marinha da Costa, tendo como preceptor Frei Diogo de Murça *, e seguiu depois a carreira eclesiástica - tendo-se tornado Arcebispo de Braga. Só que se chamava D. Duarte e não D. Jorge...
Aliás, D. João III não tem nenhum filho chamado Jorge, sequer....
D. João III transferiu a Universidade de Lisboa, em Abril de 1537, antes e sim, para Coimbra.
* frade português da Ordem de São Jerónimo, reitor da Universidade de Coimbra de novembro de 1543 a setembro de 1555.
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