O
traje académico não serve para identificar praxistas, tunos, aficionados do
clube, partidos políticos, opções sexuais e quejandos.
Ele
existe e foi criado, como tal, para identificar o foro académico, a condição de
estudante, portanto. Nem mais, nem menos. E sublinho: nem mais.
Assim,
faria todo o sentido que as tunas que o usam não lhe anexassem quaisquer invenções
ou o travestissem com gravatas, meias e lencinhos às cores, colheres nas gravatas, barretes ou batas brancas, entre outros, para além da quantidade de decorações natalícias, nas lapelas, que o carnavalizam.
O
traje académico não é um traje de tuna, per si. É, historicamente o traje que associamos às tunas (grosso modo) portuguesas, porque, sendo constituídas por estudantes, estes, usavam o uniforme corporativo que assim os identificava: como alunos (e não como tunos). Não precisavam de
vaidosos artificialismos para dar nas vistas e se diferenciarem a todo o custo de outras tunas.
Respeitavam algo que, para muitos, parece ser apenas uma coisa gira da boca
para fora: tradição.
E o mesmo se passava com os orfeões académicos, por exemplo.
Havia, contudo, uma única diferença: muitos usavam, no braço, umas fitas da cor dos seus estudos (nada a ver com tunas, mas com a tradição estudantil).
A
Tuna tem toda a liberdade de criar um traje que a identifique como tal; um
traje único que traduza a sua actividade e, sobretudo (neste caso de tunas estudantis), a sua natureza académica (o espanhóis têm
um que é apenas para tunas - e que nunca foi traje académico).
Se
a tuna opta pelo traje académico, deveria respeitá-lo tal como ele é.
E,
nesse sentido, cito as palavras do ilustre amigo e investigador tunante,
Eduardo Coelho:
" O traje é académico -
não praxístico nem tunístico.
Se uma Tuna optar por se
apresentar de capa e batina [ou traje equivalente, acrescentamos nós], deve respeitá-la integralmente na sua forma e
convenções de uso.
Admito, porém, que, dada a
especificidade da actividade, possa haver pontuais excepções - como seja o caso
das pandeiretas ou o pousar das capas no chão à frente da tuna.
Tuno não é grau na
hierarquia da praxe, de forma que alegar a condição de tuno para se usar o
traje de uma forma excepcional fora da estrita actividade tuneril é o mesmo que
invocar a condição de bêbado ou chulo. Não vale a ponta de um corno.
E mesmo que seja
esteticamente mais interessante encher a a lapela de pins (o que é altamente
discutível), nenhuma convenção de uso da capa e batina remotamente autoriza tal
coisa.
Organize-se internamente a
tuna como quiser, com os seus graus, ritos e hierarquia que bem entender.
Escolha livremente o seu repertório. Aceite ou rejeite quem lhe apeteça por
critérios que só a ela dizem respeito e sem dar satisfações a rigorosamente
ninguém.
Mas respeite o património
que é de todos. Em defesa deste, todos têm o direito - e diria mais, o dever de
intervir, exigindo o respeito que a tradição merece, seja caloiro ou
dux-veteranorum, ou até mesmo ex-academista.
Não. A tuna não tem o
direito de fazer TUDO o que lhe der na real veneta. E muitas das confusões vêm
de a tuna também se querer meter em terrenos que não são os seus, arrogando-se
direitos que não tem, invocando o estatuto de tuno - que não é de praxe - para
justificar toda a estupidez que passe pela cabeça de alguns iluminados.
Sim, porque lâmpadas
fundidas há em todos os lados."[1]
Portanto,
que me desculpem as tunas e os tunos amigos pela frontalidade, mas, as coisas
são como são.
O
princípio estapafúrdio dos regimes de excepção que alguns códigos de Praxe
contemplam não fazem sentido algum; isto para além de não ter qualquer nexo meter tunas num código de Praxe (isto para não falar nas tunas que assim consentem).
Sob
esse prisma, cada grupo e actividade diferente poderia alegar direito de
alterar o traje da sua academia, para melhor identificar os seus membros e
actividade; os do teatro, do grupo desportivo (e conforme cada desporto), clube
de jornalismo, xadrez, tertúlia literária, grupo de rock, de fados, orquestras
diversas......
Não,
o traje académico deve ser apenas aquilo que é: traje que identifica o
estudante. E de traje, o estudante pode fazer muitas coisas, desenvolver N
actividades, sem precisar de alterar o uniforme.
Dura Praxis Sed Praxis tem
precisamente esse sentido (pervertido e espezinhado pelos organismos de Praxe
que permitem todas aquelas excepções ao seu uso, nomeadamente pelas tunas -
quando, como acima dissemos, as tunas nem sequer têm de constar dos códigos nem a eles estarem sujeitas), ou seja a lei (a Praxe)
é igual para todos; dura porque não permite desigualdades e benefícios a uns em
detrimento de outros. A lei é para todos e a todos trata, ou deveria tratar, por igual.
Portanto,
quem quer usar traje académico, deveria usá-lo segundo as regras que regem os
demais estudantes.
No
casos em que se trata do traje nacional (vulgo "capa e batina"),
deixa-me consternado e triste ver como algumas tunas tratam, com leviandade e
despropósito, esse património histórico que a todos diz respeito, porque a
todos nós pertence.
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