sábado, 14 de dezembro de 2024

O Ano Tuneril de 2024

 Se tivesse de classificar o ano tuneril de 2024, diria que, de certa forma, foi um Annus Horribilis, dado que foram 5 as perdas ocorridas nas nossas fileiras tunantes.

Mas vamos à rápida crónica cronológica do ano de 2024[1].

O  primeiro destaque, logo em Janeiro, vai para o 20.º aniversário deste blogue, que começou por se chamar “Tunices”. São 20 anos de partilha de informações, investigações e opiniões sobre o fenómeno tunante a nível global. Outra efeméride do mês foram os 30 anos da VicenTuna.

O segundo destaque, já em Fevereiro, vai para o jantar anual do PortugalTunas, iniciativa que, desta vez, teve lugar na Covilhã, a assinalar mais um ano de existência e trabalho exemplar em prol da comunidade tunante. Merece igual atenção o 20.º aniversário da Tuna de Veteranos de Viana do Castelo, celebrados com pompa e circunstância[2]. Com mais 2 certames ficou o mês de Fevereiro arrumado.

Seguiu-se o mês de Março, onde, para além de certames já com mais de duas décadas, tivemos, logo nos primeiros dias, mais um edição das JIT (Jornada Internacionais de Tunas) e que, como infelizmente tem sido apanágio, pouco ofereceu em termos substantivos, dado o déficit qualitativo e de rigor científico, contribuindo, até, para a disseminação de informações falsas[3]. O grande destaque vai, naturalmente, para o lançamento de mais um CD, por parte da Estudantina Universitária de Coimbra, sob o título de “Mais Além”. Nunca época onde lançar um trabalho discográfico é já tão raro, há ainda quem agite positivamente as águas. Uma menção, ainda, ao 30.º aniversário da Tunapapasmisto do Instituto Politécnico de Portalegre



Abril, por sua vez, é mesmo de “festivais mil”, mas destacaremos 2 acontecimentos: a partida precoce do André Oliveira “Vegeta” (da Hinoportuna) e o concerto comemorativo dos 25 anos da Tuna Veterana do Porto[4]. Uma referência ainda ao FITUA que já vai na sua 32.ª edição.

Maio teve como destaque o 30.º aniversário da TFISEL, mas foi um mês ensombrado para a Hinoportuna que viu partir mais um dos seus elementos, com o falecimento do João Tiago Matos “Ervilha”. Um Annus Horribilis para os amigos de Viana, não haja dúvida.

Passadas as queimas, chegou Junho e com mais um acontecimento triste, já que partia mais um membro da nossa comunidade, o Celso Ribeiro “Trinca-Violas”, da Azeituna. O mês ainda viu a realização do III EITA (Encontro Ibero-Americano de Tunas Académicas), realizado em Guimarães[5]. Um ou outro certame mais e entrávamos em Julho com uma novidade relevante: o lançamento do livro “Os amigos da Tuna” da autoria do  João Velez e do João Correia, um livro infantil que também fará as delícias dos graúdos.

Agosto, mês de férias no mundo escolar, viu sinalizar-se o centenário da Tuna Musical de Anta, uma das mais antigas, em actividade, no mundo.

Setembro é sinónimo de regresso ao trabalho e reinício do ano lectivo. Um mês de que não teremos, certamente, saudades nenhumas. Apesar de se assinalar o centenário da Tuna Musical de Santa Marinha (Vila Nova de Gaia), sendo mais um exemplar das tunas mais antigas existentes, e de mais alguns certames, foi a partida inesperada e chocante do Afonso Gonçalves, um jovem tuno da anTUNia, de apenas 21 anos, filho do nosso conhecido tuno veterano Paulo Saraiva Gonçalves, da Tuna Veterana da Universidade Portucalense.

Se a partida de jovens tunos quarentões e cinquentões é sempre uma grande perda, quando isso acontece com a segunda geração, ou seja os nossos filhos, é catastrófico. Bastaria a partida do Afonso para o ano ser magnum horribilis, porque efectivamente na flor da idade, com uma vida promissora pela frente, porque tão injusta (como é sempre) a morte de alguém tão jovem.

Mudando um pouco a conversa, e para fazer de separador neutro na cronologia, mencionar a nova temporada do programa “Estrelas ao Sábado” (uma miséria “franciscana”) no qual as nossas tunas têm continuado a desfilar sem grande brilho (e sem noção desse impacto), diga-se. Mas o que creio muito pouco prestigiante e digno é andarem nas redes sociais a pedinchar televotos; até porque nem parece surtir grande efeito, como é um pouco caricato. É de perguntar se quem ali vai quer ser apurado por mérito artístico ou por populismo de likes[6].

Mas adiante.

Outubro chegou e com algumas novidades. Desde logo a criação do CITÂNIA, um novo circuito ibérico de tunas veteranas, destinado aos grupos do noroeste peninsular. Conquanto não constitua uma forma de apartheid, será mais uma iniciativa positiva. O tempo dirá das motivações e solidez da coisa.

Mas o grande destaque vai mesmo para a digressão conjunta da TUIST & Azeituna ao Brasil, quer pela dimensão do projecto quer pelo facto de suceder com dois grupos com nenhuma afinidade geográfica (Lisboa/Braga), prova de que o mundo tunante é capaz de calcorrear fronteiras e encurtar distâncias, quando não anda a morder a própria cauda. Também uma nota para os 114 anos da Tuna de São Paio de Oleiros, mais uma centenária instituição a provar que “velhos são os trapos”.

 De Novembro temos a lamentar mais uma perda, desta feita da Inês R. Muacho, antiga pandeireta da TAFUÉ, elevando para 5 as perdas sofridas pela comunidade tuneril portuguesa.  O mês viu ainda comemoradas a efeméride dos 30 anos da TunaMaria, da Tuna Afonsina, da Tuna Iscalina e da TFIST. Ainda a referir, com grande sublinhado, o XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas, realizado em León, dada a sua dimensão incomum (24 tunas e cerca de 600 tunos participantes)[7] e porque parece ser cada vez mais importante dar a conhecer à nossa comunidade, sobretudo ao já considerável contingente acima dos 40, que é possível viver a Tuna sem ser apenas na tuna de origem (havendo formatos criados, precisamente, para uma vida menos disponível e com objectivos díspares dos grupos estudantis mais juvenis). O mês encerrou-se com a digressão ao Peru da Tuna da Universidade Lusíada do Porto e os 25 anos da TUALLE.

Dezembro trouxe-nos uma prenda de Natal agarrada às comemorações dos 30 anos dos GaTunos, com o lançamento do seu CD “A Fuga”.

No que concerne à (in)formação, não houve, este ano, publicação de livros/trabalhos de investigação por cá (mas houve um aqui ao lado[8]) e apenas a actividade do PortugalTunas, dos blogues do costume e do grupo “Tunas&Tunos” no Facebook foram garantindo algo mais, num mundo de posts efémeros, tão instagramáveis quanto voláteis (e, por isso, inúteis) . É mais um ano sem ENT[9] onde nem mesmo a realização de pseudo-iniciativas similares[10]  chegou para suprir esse hiato. Mais um ano onde reaparecem casos de praxismos, com Tunas desavindas com o organismo praxista lá do bairro e se vai constatando a enorme perversidade que se se regista, de norte a sul do país, na mistura de duas realidades não apenas díspares, mas funcionalmente incompatíveis e ridículas.

Não foi ano de boa memória, há que convir, e esperamos sinceramente, que o ano de 2025 possa trazer mais, sobretudo em qualidade e diversidade, e menos tragédias.

 

 


[1] E perdoar-me-ão, certamente, se omiti algo importante; que poderão, contudo, apontar, para atualização do artigo.

[2] Embora fundada em 2023, a sua 1.ª actuação ocorreu em 2024.

[3] Como aliás é possível confirmar em pesquisas na net sobre origem das Tunas, nomeadamente no Google Escolar, onde surge uma sucessão de artigos alojados no site do IPB que estão pejados de erros científicos e históricos graves (alguns dos quais já AQUI assinalámos)

[4] Oficialmente fundada em Janeiro de 1999.

[5] Onde o rico programa acaba por ser menos brilhante na parte das “jornadas culturais”.

[6] Quando a avaliação se baseia em quantos amigos se conseguem mobilizar para votar, tenham ou não visto a emissão e tenha a prestação sido boa ou medíocre… está tudo visto. O acto de andar a pedinchar votos é, a todos os títulos, ridículo, a meu ver e não beneficia a imagem pública da Tuna.

[7] É preciso recuar algumas décadas para encontrarmos eventos destes com tantos participantes.

[8] Apenas o lançamento, durante o XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas de León, do livro Ronda la Tuna – Estudiantinas y Rondallas leonesas, de Fernando Casta-non Garcia.

[9] E talvez não fosse mal pensada uma edição online.

[10] Jornadas Internacionais em Bragança ou Jornadas Culturais em Guimarães.

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