Se tivesse de classificar o ano tuneril de 2024, diria que, de certa forma, foi um Annus Horribilis, dado que foram 5 as perdas ocorridas nas nossas fileiras tunantes.
Mas vamos à rápida crónica cronológica do ano de 2024[1].
O primeiro destaque,
logo em Janeiro, vai para o 20.º aniversário deste blogue, que começou por se chamar “Tunices”. São 20 anos de partilha de
informações, investigações e opiniões sobre o fenómeno tunante a nível global.
Outra efeméride do mês foram os 30 anos da VicenTuna.
O segundo destaque, já em Fevereiro, vai para o jantar anual
do PortugalTunas, iniciativa que, desta vez, teve lugar na Covilhã, a assinalar
mais um ano de existência e trabalho exemplar em prol da comunidade tunante.
Merece igual atenção o 20.º
aniversário da Tuna
de Veteranos de Viana do Castelo, celebrados com pompa e circunstância[2].
Com mais 2 certames ficou o mês de Fevereiro arrumado.
Seguiu-se o mês de Março, onde, para além de certames já com
mais de duas décadas, tivemos, logo nos primeiros dias, mais um edição das JIT (Jornada Internacionais de Tunas) e que, como infelizmente tem sido
apanágio, pouco ofereceu em termos substantivos, dado o déficit qualitativo e
de rigor científico, contribuindo, até, para a disseminação de informações
falsas[3].
O grande destaque vai, naturalmente, para o lançamento de mais um CD, por parte
da Estudantina
Universitária de Coimbra,
sob o título de “Mais Além”. Nunca época onde lançar um trabalho discográfico é já tão
raro, há ainda quem agite positivamente as águas. Uma menção, ainda, ao 30.º aniversário da Tunapapasmisto do Instituto Politécnico de
Portalegre
Abril, por sua vez, é mesmo de “festivais mil”, mas
destacaremos 2 acontecimentos: a partida precoce do André
Oliveira “Vegeta”
(da Hinoportuna) e o concerto comemorativo dos 25 anos da Tuna
Veterana do Porto[4]. Uma referência ainda ao FITUA que
já vai na sua 32.ª edição.
Maio teve como destaque o 30.º aniversário da TFISEL, mas foi um mês ensombrado para a Hinoportuna que viu partir mais um dos seus elementos, com o falecimento
do João Tiago Matos “Ervilha”. Um Annus Horribilis para os
amigos de Viana, não haja dúvida.
Passadas as queimas, chegou Junho e com mais um acontecimento
triste, já que partia mais um membro da nossa comunidade, o Celso
Ribeiro “Trinca-Violas”, da Azeituna. O mês ainda viu a realização do III EITA (Encontro
Ibero-Americano de Tunas Académicas), realizado em Guimarães[5].
Um ou outro certame mais e entrávamos em Julho com uma novidade relevante: o
lançamento do livro “Os amigos da Tuna” da autoria do João Velez e do João Correia,
um livro infantil que também fará as delícias dos graúdos.
Agosto, mês de férias no mundo escolar, viu sinalizar-se o centenário da Tuna Musical de Anta, uma das mais antigas, em
actividade, no mundo.
Setembro é sinónimo de regresso ao
trabalho e reinício do ano lectivo. Um mês de que não teremos, certamente,
saudades nenhumas. Apesar de se assinalar o centenário da Tuna Musical de Santa Marinha (Vila Nova de
Gaia), sendo mais um exemplar das tunas mais antigas existentes, e de mais
alguns certames, foi a partida inesperada e chocante do Afonso Gonçalves, um jovem tuno da anTUNia, de apenas 21 anos, filho do nosso conhecido tuno
veterano Paulo Saraiva Gonçalves, da Tuna Veterana da Universidade Portucalense.
Se a partida de jovens tunos quarentões
e cinquentões é sempre uma grande perda, quando isso acontece com a segunda
geração, ou seja os nossos filhos, é catastrófico. Bastaria a partida do Afonso
para o ano ser magnum horribilis, porque efectivamente na flor da
idade, com uma vida promissora pela frente, porque tão injusta (como é sempre)
a morte de alguém tão jovem.
Mudando um pouco a conversa, e para fazer de separador neutro
na cronologia, mencionar a nova temporada do programa “Estrelas ao Sábado” (uma
miséria “franciscana”) no qual as nossas tunas têm continuado a desfilar sem
grande brilho (e sem noção desse impacto), diga-se. Mas o que creio muito pouco
prestigiante e digno é andarem nas redes sociais a pedinchar televotos; até
porque nem parece surtir grande efeito, como é um pouco caricato. É de perguntar se quem ali vai quer ser
apurado por mérito artístico ou por populismo de likes[6].
Mas adiante.
Outubro chegou e com algumas novidades.
Desde logo a criação do CITÂNIA, um novo circuito ibérico de tunas veteranas,
destinado aos grupos do noroeste peninsular. Conquanto não constitua uma forma
de apartheid, será mais uma iniciativa positiva. O tempo dirá das motivações e
solidez da coisa.
Mas o grande destaque vai mesmo para a
digressão conjunta da TUIST
& Azeituna ao Brasil, quer pela dimensão do projecto quer pelo
facto de suceder com dois grupos com nenhuma afinidade geográfica
(Lisboa/Braga), prova de que o mundo tunante é capaz de calcorrear fronteiras e
encurtar distâncias, quando não anda a morder a própria cauda. Também uma nota
para os 114
anos da Tuna de São Paio de
Oleiros, mais uma centenária instituição
a provar que “velhos são os trapos”.
Dezembro trouxe-nos uma prenda de Natal agarrada às
comemorações dos 30 anos dos
GaTunos, com o lançamento do seu CD “A
Fuga”.
No que concerne à (in)formação, não houve, este ano,
publicação de livros/trabalhos de investigação por cá (mas houve um aqui ao
lado[8])
e apenas a actividade do PortugalTunas, dos blogues do costume e do grupo “Tunas&Tunos” no Facebook foram garantindo algo mais, num mundo de posts
efémeros, tão instagramáveis quanto voláteis (e, por isso, inúteis) . É
mais um ano sem ENT[9] onde nem mesmo a realização de pseudo-iniciativas
similares[10] chegou para suprir esse hiato. Mais um ano
onde reaparecem casos de praxismos, com Tunas desavindas com o organismo
praxista lá do bairro e se vai constatando a enorme perversidade que se se
regista, de norte a sul do país, na mistura de duas realidades não apenas
díspares, mas funcionalmente incompatíveis e ridículas.
Não foi ano de boa memória, há que convir, e esperamos
sinceramente, que o ano de 2025 possa trazer mais, sobretudo em qualidade e
diversidade, e menos tragédias.
[1] E
perdoar-me-ão, certamente, se omiti algo importante; que poderão, contudo,
apontar, para atualização do artigo.
[2] Embora
fundada em 2023, a sua 1.ª actuação ocorreu em 2024.
[3] Como
aliás é possível confirmar em pesquisas na net sobre origem das Tunas,
nomeadamente no Google Escolar, onde surge uma sucessão de artigos alojados no
site do IPB que estão pejados de erros científicos e históricos graves (alguns
dos quais já AQUI
assinalámos)
[4]
Oficialmente fundada em Janeiro de 1999.
[5] Onde o
rico programa acaba por ser menos brilhante na parte das “jornadas culturais”.
[6] Quando a avaliação se baseia em quantos amigos se conseguem mobilizar para votar, tenham ou não visto a emissão e tenha a prestação sido boa ou medíocre… está tudo visto. O acto de andar a pedinchar votos é, a todos os títulos, ridículo, a meu ver e não beneficia a imagem pública da Tuna.
[7] É
preciso recuar algumas décadas para encontrarmos eventos destes com tantos
participantes.
[8] Apenas o
lançamento, durante o XXVII Certamen Internacional de Cuarentunas de León, do livro Ronda la Tuna –
Estudiantinas y Rondallas leonesas, de Fernando Casta-non Garcia.
[9] E talvez
não fosse mal pensada uma edição online.
[10]
Jornadas Internacionais em Bragança ou Jornadas Culturais em Guimarães.
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