domingo, 23 de setembro de 2012

Cartazes de certames




Estas notas vão especialmente dedicadas a um lado mais sombrio da actividade tunante. E digo mais sombrio por ter sido continuamente deixado à sombra de outros aspectos a que mais facilmente emprestamos a luz dos holofotes.
A actividade tunante registada de há 2 décadas a esta parte mudou muito, comparado com o que se fazia no “antigamente”.
Hoje em dia, concorrem à actividade do negro magistério não apenas competências artísticas (musicais, cénicas…..) ou culturais (modus vivendi que recupera e adapta a velha Praxis do “correr la tuna”), mas também talentos de outras áreas.
Uma delas é a da área gráfica, do desenho, das artes plásticas.
E nada traduz melhor isso mesmo do que olharmos para as centenas de cartazes de eventos tuneris.

De facto, pouca atenção e reconhecimento se tem dado aos que fazem esse trabalho de bastidores, e quase nenhuma atenção é dada pelos média tunantes à beleza dos cartazes.
Os artistas, façam-no eles à mão ou com recursos tecnológicos, são uma peça essencial do funcionamento orgânico da Tuna, naquilo que é a sua exposição pública (através da organização de eventios desta natureza).
Sobre a qualidade gráfica dos cartazes, temos de tudo, como no supermercado.
Mas é interessante ver, numa perspectiva diacrónica, a própria evolução dos gostos e dos tempos, comparando o que eram os cartazes de há 20 anos, com aquilo que hoje se produz.

Uma clara constatação se nos depara: foram os mesmos evoluindo, à medida dos recursos tecnológicos. Os primeiros eram-no à mão e, gradualmente, foram sendo trabalhados com recurso à TIC, misturando, ainda, a componente do desenho (mesmo que assistido por computador) manual.

Gradualmente, contudo, também fomos assistindo a outros modos de construção, que passaram pela cópia de imagens da net que, com hábil corte e costura (facilitado pelos programas de edição de imagem) se truncavam e mesclavam. Muitas destas opções resultaram felizes e bem conseguidas, é verdade, contrastando com outras tantas que, uma vez pelo seu cariz minimalista (quase sem alteração alguma), outras em rebuscados desenhos ou imagens, nem sempre remetiam directamente para o conteúdo do programa: tunas.

 Temos, nestas várias “correntes pictóricas” os que construíram os cartazes de raiz, os que optaram pela mera adaptação de imagens mais ou menos conhecidas (tiradas da net ou de outra fonte) e os que misturaram as duas anteriores (com mais ou menos engenho).

Grosso modo, em todos eles encontramos exemplares (e são muitos) de cartazes muito bem conseguidos, prova que a Tuna é espaço de realização e potenciação de várias competências e saberes e que, afinal, não apenas a música nela se expressa (quando nela concorrem áreas tão diferentes como marketing, gestão, design, informática (nas suas várias vertentes), comunicação, entre outros.

 Outro aspecto que podemos dissecar, numa análise comparativa e diegética, prende-se com o cariz identificativo, de marca pessoal do próprio evento/cartaz.
Uma larga maioria dos cartazes produzidos pouco tempo manteve traços identificativos comuns, variando o tema escolhido de edição para edição.
Essa heterogeneidade e variação se, pró um lado, teve o condão de possibilitar a diversidade, por outro lado retirou o mais forte dos traços de um evento cíclico: a identificação pictórica.
Com efeito, em grande parte dos casos e dos cartazes analisados (das muitas centenas que guardo em arquivo), são muito poucos os que mantêm traços que se repetem. Quase sempre é preciso ler para se perceber de que evento (festival, encontro, certame) se trata.

Há uns anos, bastava, por exemplo ver ao longe um cartaz do CELTA para assim o reconhecer (sem precisar de ler o título do evento). Facto é que a famosa imagem da lua em fundo (com o Tuno a tocar ou a Sé em evidência), sempre presente nas sete primeiras edições, só fugazmente reapareceu (XIII e XIV, em 2006 e 2007, respectivamente), mas será dos certames onde se manteve, no tempo, a imagem de marca que ainda hoje perdura: o dito tuno com boina e a famosa lua, os 2 elementos emblemáticos dos cartazes do certame. 
Outro exemplo de cartazes que mantiveram traços comuns, como imagem de marca, foram os do FARTUNA. O mesmo com o festival BOCAGE nas suas primeiras edições, com a imagem do poeta como símbolo primeiro, mas desapareceu, também ele.
O BRACARA AUGUSTA, por sua vez, manteve, nas suas primeiras 4 edições, a imagem de alguns emblemáticos locais da cidade (em desenho), mas rapidamente deixou de ser opção.
De todos, por enquanto, escapam os do FITAS, onde a mascote do castelo continua de pedra e cal, ocupando espaço generoso e destacado.

 Como facilmente depreendemos, se, por um lado, se multiplicaram os certames e a isso concorreu o contributo cada vez maior de jovens e talentosos artistas na parte da concepção gráfica dos cartazes, que multiplicaram a variedade de motivos e temas, rivalizando em propostas de qualidade, não é menos verdade que a ânsia de fazer diferente, de inovar e “modernizar” também delapidou o poder da identificação pictórica e gráfica que o cartaz, por si só (e falo da imagem apenas) detinha.


À força de variar, caiu-se, muitas vezes, na eliminação de imagens emblemáticas com que todos nós já nos identificávamos e identificávamos o evento.
Hoje em dia, nem mesmo se consegue, ao longe, identificar um certame de referência se não conseguirmos ler o título do evento, o que concorre para a perda gradual do emblematismo (passo o neologismo) de imagens consagradas, que eram marca registada, por assim dizer.


 Claro está que não se defende a monotonia, mas certo estou que muito se pode variar, mantendo alguns traços já consagrados e identificativos (imagem de marca do evento pela sua reiteração ao longo de anos) que não apenas o logo da tuna organizadora. Mas mesmo concedendo que as coisas se esgotam, então que o refresh total possa, ele próprio, conter elementos que sejam aproveitados nos cartazes seguintes, variando, assim, o fundo do cartaz por ciclos (a cada 5 edições, por exemplo), ao invés de variar anualmente.

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