quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Confusão entre Estudantina e Tuna

Não é de hoje que a questão se coloca em saber (se é que é questão de saber, sequer) se Estudantina é o mesmo que Tuna.
Há quem diga que são coisas diferentes, há gente que o jura a pés juntos, há por aí quem pretenda que assim seja.
A esses responder-se-ia liminarmente: há gente que não sabe o que diz, há gente ignorante, há quem jure sobre aquilo que desconhece por inteiro.......há gente que não sabe, não pensa e nem faz o mínimo esforço intelectual de uma reflexão crítica e suportada na sofia.

Tão simples seria que esses ditos defensores da disjunção se dessem ao trabalho, pelo menos, de consultar uma meia dúzia de dicionários de referência para, pelo menos, perceber que se trata da mesmíssima coisa, que são termos sinónimos.
Já não se pede que passem a pente fino os dicionários de referência que foram sendo publicados em Espanha e Portugal desde o séc. XVIII, começando por Bluteau e pelo dicionário de Autoridades (Real Academia Espanhola), sem esquecer os grandes dicionários enciclopédicos, as diversas enciclopédias e outros tantos de música e história da música.
Não se exige que tenham acesso à BNP ou Torre do Tombo (porque nem todos o conseguem, dada a distância geográfica), mas há na net muito por onde procurar, implementada que está a disponibilização de inúmeros livros digitalizados, bem como muitas bibliotecas universitárias (Coimbra, Porto, etc.) onde certamente encontrarão alguma coisa mais que os dicionários mais conhecidos, e mais credíveis da actualidade (Lello, Houaiss, Academia das Ciências).
Não veham, pois, alguns, tentar enfiar patranhas e vender banha da cobra, tentando enganar os ingénuos e, pior ainda, tentar ensinar a missa ao padre.

Há quem chegue a afirmar que estudantinas são tunas que tocam essencialmente música popular e que as Tunas são as que tocam de tudo um pouco. Há quem afirme que Estudantina é assim a modos que.... algo diferente das Tunas (mesmo que acabe por desenvolver a sua actividade no meio tunante), como que para se augurar o direito de pretensa superioridade ou diferença......que não encontra argumentos, de facto (porque não existem sequer, valha-nos Santa Cecília!).

Não, não são coisas diferentes. São coisas exactamente iguais, mas com nomes diferentes (contudo sinónimos).

A Estudantinas nascem em Espanha, derivadas das comparsas carnavalescas, das Bigornias Assim, no séc. XIX, a esses grupos, às comparsas, exclusivamente compostas de estudantes (fosse qual fosse o grau de ensino - por norma liceus, escolas politécnicas, comerciais, etc.) deu-se o nome de "Estudiantinas" - nome provavelmente dado pelo povo a esses grupos (mas não há como saber se foram os estudantes que escolheram esse nome ou não).
Rapidamente chegam a Portugal (uma questão de pouquíssimos anos), onde a fama de uma Estudiantina Fígaro, Estudantina Pignatelli (entre outras), a par com as visitas da Tuna Compostelana, de Salamanca e Valladolid a Portugal, despoleta o 1º grande fenómeno tunante em Portugal.
Em Espanha, o que sucede é que, rapidamente, se criam estudantinas formadas por outras classes, passando a haver estudantinas de operários, de artesãos, estudantinas de gente que se disfarçava de estudantes, criando uma grande confusão (ou pelo menos impedindo um satus próprio aos grupos exclusivamente estudantis). Na América latina, por exemplo, há Estudiantinas de artesãos, de senhoristas.....de tudo um pouco (devido à corruptela do termo)
Em razão disso é que se começa a adoptar o termo Tuna (termo recuperado do conceito do "correr la tuna"), para designar as estudantinas compostas exclusivamente por estudantes.
O facto é que, em Espanha, essa estratégia veio a verificar-se acertada, porque mais ninguém, que não fosse estudante, ousou adoptar essa designação.

Em Portugal não acontece o mesmo. Tanto há estudantinas de estudantes como de populares (nomeadamente em meio urbano), e o termo Tuna (que a Estudantina de Coimbra de 1888 adopta por volta de 1890, cerca de 10 anos após a sua fundação, por exemplo), acaba por ser, também ele, apropriado pelo povo, com especial incidência no meio rural (que ainda hoje perdura).

Em ambos os casos, Estudantina e Tuna dizem respeito a um formato ou tipologia referente ao elenco de instrumentos utilizados, a saber cordofones (a par com percussão ligeira, pandeireta, bombo, castanholas; de flautas doces e, mais tarde, acordeão). Essa é a razão pela qual se acrescentou a designação "Académica" (e mais tarde "Universitária") paa diferenciar as tunas estudantis das demais.

Querer emprestar dicotomias, entendimentos e naturezas diferenciadas à Tuna e Estudantina é patetice e ignorância.
Cada tuna/estudantina é diferente das demais, pelos simples facto de, à partida, serem compostas por indivíduos diferentes, por serem de cidades ou instituições diferentes. Há quem prefira covers, outros originais (e outros ambos); há quem incida mais em temas populares, outros em temas mais eruditos (outros ambos); há quem seja mais do estilo aprumadinho e outros um pouco mais irreverentes (sem cair no exagero que por aí se vai vendo); uns são mais sérios, outros mais efusivos; uns mais amadores e outros mais profissionais, e assim por diante.
Mas justificar essas diferenças na necessidade de espartir designações, não é argumento, não é plausível, não cabe na cabeça de ninguém.....excepto daqueles que de tunas e estudantinas percebem tanto como eu de lagares de azeite.

Em gente letrada, que cursa (ou cursou) ensino superior, em gente que se diz tuno/estudantino (que é a mesmíssima coisa), quantos tiros dados nos pés, minha gente; quanta incoerência, quão lastimável ver alguns a fazerem prova de tamanha incompetência; quão pálida imagem dão alguns de uma realidade sobre a qual deveriam ser exemplo de conhecimento, mas que afinal tão pouco sabem daquilo que dizem promover e viver.

Pelos lados da EUC há quem defenda que não são uma Tuna, que a sua Estudantina é um foro à parte. Mas por mais que a EUC ocupe um lugar especial na história tunante portuguesa, há afirmações que se apresentam vazias e apenas transpiram narcisismo e presunção de superioridade que não condiz.

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