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domingo, 28 de setembro de 2025

A Tuna - algo mais que música?

Assunto mencionado durante o último ENT realizado em Tomar, e por vezes aflorado em outros espaços, tem sido palco fértil para equívocos. A Tuna é algo mais que música, nomeadamente a Tuna Académica? Se tivermos de circunscrever os traços identitários transversais, que são comuns a todas as tunas (civis ou académicas), desde que foram criadas até à data…. o que sobra que seja igual tanto em Chaves como em Loulé, agora como há 90 anos e constitua corpus estável e próprio que permita, por exemplo, uma candidatura a património cultural  imaterial português?


Afinal, Tuna, na sua definição, no seu conceito, é algo mais que música?

Creio bem que a pergunta possa ser ardilosa! Se perguntarmos à generalidade da comunidade, a resposta, mais rápida que o Lucky Lucke a disparar, será  um convicto e intransigente "sim!".
Uns quantos, contudo, colocarão reservas, pois cedo se terão apercebido que isso de "o que define uma Tuna" não pode ser nem a "olho", nem com "achismos" e muito menos do "Maria vai com as outras"!

O problema é que, a partir do franquismo em Espanha, e do 2.º boom de tunas académicas (década de 1980-90) em Portugal, a Tuna foi sendo vestida com roupagens que lhe eram alheias: umas discretas e que traziam valor, mas muitas outras que a descaracterizaram e deturparam. Quem chegou mais tarde tomou essas roupagens como sendo património secular, como sacramentos dogmáticos a professar e perpetuar.

O primeiro foi querer revestir a Tuna de secular tradição[1], colando-lhe práticas artificialmente recriadas e pintando-lhe um pedigree medieval brasonado. Em Espanha, recriaram-se práticas a lembrar os pedintes (os sopistas – estudantes pobres; os tunos do siglo de oro – meliantes tantos civis como estudantis que pouco ou nada tinham a ver com música) e (abreviando e omitindo outras, para não alongar) surgiram, a partir dos anos 50, as novatadas (importadas das praxes universitárias), entre outras.

Por cá, a Tuna Académica foi inicialmente transformada numa testa de ferro das praxes e “tradições académicas” (muitas delas criadas artificial e porcamente com base em códigos pejados de parvoíces sem nexo). Um dos primeiros lapsos lesa-pátria prende-se, precisamente, com os denominados “trajes de caloiro”; coisa sem nexo e baseado num grave erro histórico promovido pelos "duches" e corja de ignorantes (vulgo organismos de praxe) de que, supostamente, os caloiros não podiam trajar. Contaminando naturalmente as tunas (numa altura em que os actores se confundiam, por serem, normalmente, comuns às duas realidades), surge essa ideia “peregrina” (“estúpida”, bem vistas as coisas) de que, na Tuna, o novo elemento devia ser tratado seguindo o mesmo protocolo, as mesmas designações, as mesmas regras, que as aplicadas aos novos alunos na universidade.

A noção de "caloiro", especialmente de "Caloiro na tuna" também ela anda inquinada e a adopção do termo nas tunas não foi, de todo, feliz. 

Ora, sabemos bem que é anti-Praxe impedir um caloiro de trajar, e que o pode fazer mal se matricule (tal como é descabido dizer-lhe que só deve trajar e traçar a capa na noite da sua 1.ª serenata – pois só um burro diz tamanha patranha), contudo é o que tem sido prática comum (mais ainda nas instituições que inventaram trajes[2]) e levou a vermos, em palco, tunos vestidos, quase sempre, de forma ridícula, por vezes literalmente vergonhosa (com o tempo, os pijamas saíram de moda, mas mantiveram-se outras vestimentas sem nexo algum).

Ora, qual era a tradição Tuneril que existia há já mais de 1 século, quando tivemos o nosso “boom” da década 1980-90? A tradição era que não havia a designação de caloiro e que quem ia a palco vestia igual. Questão de aprumo, respeito pelo público e postura coerente de quem ali está para “mostrar” música e não n.º de matrículas ou subservientes hierarquia internas.

Aliás, recordemos: só ia a palco quem já soubesse tocar, não se colocando publicamente a questão de se tinha muitos ou poucos anos dentro do grupo. Sempre foi, portanto, a música, a competência musical que ditavam quem ia ou não a palco tocar.

Outra roupagem com que contaminámos a Tuna foi a das praxes, do gozo ao caloiro (para sermos mais precisos), quer por cópia do que já tinham começado a fazer algumas tunas espanholas alguns anos antes, quer por contágio das praxes universitárias ressurgidas e reinventadas no mesmo contexto, e quase sempre pelos mesmos protagonistas, do “boom Tuneril”.

Como a ignorância é atrevida (já o dizia Jean de La Bruyére, em 1688) e a preguiça de ir pesquisar mais simpática, assistiu-se a um tempo fértil de invenções disparatadas. “Não sabendo, inventa-se” (complicando, de preferência), foi o lema que norteou esses anos (e os seguintes).

Surgiram novas hierarquias e nomes estapafúrdios para as mesmas, com o fenómeno a passar para as tunas que, por sua vezes, também procuraram identificar-se com jogos de palavras que rivalizavam em engenho (casos raros) e insensatez total (onde assomavam designações como “Prostituna”, “Javadérmica”, entre outras[3]). A nomenclatura surgida para substituir presidente, secretário, tesoureiro… é a prova provada de algo que não trouxe mais-valia alguma, nem mais graça sequer[4].

A contaminação da “Praxe”, acabou por resultar em tunas a criar  praxes internas, muitas delas humilhantes ou mesmo perigosas (e cuja utilidade é nenhuma)[5], com trajes diferentes para caloiros (ao contrário de Espanha, por exemplo[6]) e com vários graus de “caloiro” (pré, proto…) -  como se isso tivesse algum sentido[7]; em tunas que ainda se colocam em subserviência a organismos de praxe e à ideia errónea de que o traje académico é um traje de Tuna (e, por outro lado, que não o sendo, isso implica estar subordinado, enquanto se está no âmbito tunante, a organismos de praxe - porque o traje "é da praxe"). Tunas configuradas em autênticas trupes musicais ainda existem, infelizmente, comprovando que, nesses casos, os implicados nem percebem de Praxe nem entendem de Tunas.

Mas a "praxe" não é (também) uma tradição tunante? Não, não é!

Quando a “Praxe” ressurgiu e se deu o “boom” (recordando, contudo, que sempre existiram, de forma ininterrupta, tunas académicas), a Tuna portuguesa existia há mais de 1 século sem nunca ter precisado de praxes e da Praxe, sem nunca ter havido essa práticas (fossem universitárias ou não), sem ter caloiros, sem ter trajes diferentes ….cingindo-se apenas ao essencial e despida de pretensiosismos e folclore bacôco. Não há uma só tuna estudantil anterior ao "boom" onde se verificassem esses praxismos.

Muito daquilo que comumente chamamos de “Tradição” nas tunas académicas, em boa verdade, não o é nem tem nada a ver com o cerne e identidade da Tuna.

Ponto de situação: tradição tunante é o quê, afinal?
Se é cada um a sua, cada tuna as suas tradições, estamos a falar de algo que não identifica a Tuna como tal, mas a distingue na sua prática interna e nas convenções que regem a sua forma de socializar.
Uma Tuna só comer hambúrgueres e levar uma placa do McDonald’s para palco não é sinal identitário de Tuna, nem uma tradição Tuneril. É uma tradição daquele grupo, naquela época precisa - a qual pode mudar no seio desse grupo na geração seguinte.

Portanto, quando falamos de tradição, no contexto tunante, temos necessariamente de falar daquilo que é identidade e necessariamente imutável – ou pelo menos não é passível de mudar repentinamente e de forma artificial. Uma pretensa candidatura a património imaterial apenas olharia aos aspectos comuns ao conjunto, padronizadas e partilhadas como costume regrado (mesmo que não imposto).

Mas se queremos defender uma tradição Tuneril, começaria por sugerir que os tunos não fossem cúmplices de adulterações ou consentissem grupos que, não reunindo os fundamentos mais basilares para serem uma Tuna, assim se apresentem exigindo integração e querendo impor a sua visão enviesada e acéfala de Tuna (tendo e conta que já temos um coro a dizer-se tuna[8]).

A Tuna é algo mais que música?

De certa forma, é, pois fora o âmbito estritamente musical (ensaios e actuações), trata-se de um grupo de pessoas que criam afinidades. Daí que surjam práticas, hábitos, pequenas “tradições” (jantares anuais, idas a determinado lugar, pequenas brincadeiras, alcunhas, pequenos ritos nas refeições…), mas tudo isso são aspectos circunstanciais, periféricos, que dão uma identidade interna de grupo, que são adornos que tornam a participação dos seus elementos mais emocionante, significativa, proveitosa …..

Encher a boca com “tradição” para nos referirmos a esse tipo de aspectos circulares é pernicioso. São aconchego, fornecem contextos, revestem, mas em momento algum definem o grupo como sendo, ou não, Tuna! Se não definem, nem igualmente são transversais/padronizados, como podem ser tradição Tuneril?

Então, mas…e Tuna Académica, como se diferencia das outras?

Diferencia-se como sempre sucedeu, a par de tunas de vidreiros, de oficiais de barbeiro, de caixeiros, de funcionários…. ou seja em função de quem fazia parte, e, na adopção de uma roupa apropriada (as que tinham meios para isso) e designação adoptada (no caso estudantil: traje académico e designação do grupo: “académica”, “Escolar”, “Universitária”…). Não precisavam de praxes internas, de nomenclaturas diferentes, de graus, de ritos….

Todas elas se diferenciavam sem precisarem de adornos desnecessários, porque estavam ali para tocar (e cantar) e queriam distinguir-se, e ganhar nome, pela qualidade musical e artística …. que é só aquilo que, no final, importa ao público e a qualquer pessoa sensata.

Concluindo

Aquele chavão, caricaturado, que afirma que quem não sabe cantar procura compensar nas roupas e postura (os sketeches, as piadas, etc.)  serve perfeitamente àquelas tunas que, não tomando consciência de que são (deviam ser) um grupo musical que deve exercer esse mester com mínimos de qualidade, “compensam” (acham que sim) com aquilo que é circunstancial[9].

E aqui abro uma parêntesis curto, mas grosso: bandeiras, cambalhotas e artes circenses, são complementos artísticos, mas não são música. E as pandeiretas entram também nessa categoria, embora tenham uma responsabilidade acrescida: como instrumento musical, não podem nunca deixar de cumprir a sua função primordial: marcar correctamente (e sublinho) o ritmo. Recordar que uma tuna pode dispensar pandeiretas, bandeiras e quejandos e continuará a ser tuna, mas  o contrário é impossível.

 

Para se saber o que constitui o corpus da tradição Tuneril, convém, desde logo, conhecer a Tuna[10], a sua história, a sua evolução ao longo dos anos, as suas características transversais no tempo,  para saber em que consiste, de facto, uma Tuna e que tradição/ões lhe(s) é/são própria(s).

 



[1] Algo que já se pôde observar em idos de 1878, quando a Estudiantina Fígaro inventou um traje que supostamente era o traje estudantil (abolido em 1834), quando, na verdade, era um mosaico de peças de várias épocas e algumas sem relação com trajes académicos de antanho.

[2] Uma visita ao blogue Notas&Melodias permite perceber que, salvo o traje nacional e o traje da Escola Agrária de Coimbra, nenhum outro tem validade histórica ou razão de ser (sendo normalmente baseados e falsas premissas).

[3] Em tempo escreveu-se um artigo sobre o assunto, publicado já não sei  bem onde.

[4] Contra mim falo, no respeitante à minha Tuna. O pessoal via filmes a mais!

[5] Caloiros de tuna de quatro, caloiros largados do autocarro a dezenas de quilómetros do destino…

[6] Os novatos usam o traje de tuno, mas sem Beca.

[7] Numa tuna há quem esteja a aprender e, por isso, não deve subir a palco. Não faz ainda parte da Tuna. Não tem de ter hierarquia, pois não é suposto acompanhar o grupo. Os que estão aptos a tocar, poderão ser novatos no grupo, mas são Tunos. As Tunas são os únicos grupos de cariz musical ou cultural com tais “burocracias”.

[8] Há uns anos, os Napoleões eram ignorados e, no limite, internados. Hoje há quem esteja capaz de acreditar que eles o são e os aplaudam!

[9] Seja o prémio de “Tuna Mais Tuna”, o de “Tuna Mais bebedora” (uma parvoíce absoluta) seja noutros pretextos que procuram valorizar tudo em detrimento da prestação estritamente musical.

[10] Como conceito geral e igualmente a sua própria (história).


quinta-feira, 25 de abril de 2019

Estudiantinas e Tunas, uma propriedade pública.


Não deixa de ser estranha a questão que se tem vindo a levantar em algumas geografias tuneris sobre a suposta pertença exclusiva de "Tuna" ao meio académico.
Com efeito, corre tinta, em abundância, sobre a teoria de que  "Tuna" é coisa exclusiva de estudantes. Mais: que é coisa exclusiva de universitários.

Por outro lado, essa mesma corrente de pensamento, acha normal que tunas que não sejam universitárias usem a denominação "estudiantina", até mesmo as que nem estudantis são.

Ora, meus caros, isso assume um paradoxo absoluto. E já o abordámos aqui, em Fevereiro passado.

Antes de mais, convenhamos que "Estudiantina" e "Tuna" são dois nomes para uma mesma realidade. São factos históricos e documentados indesmentíveis (grupos houve que, no passado, até ostentaram, concomitantemente, ambas as designações).

Paradoxo, porque se há um termo que é, pela sua natureza e origem, identificativo  e remete, directamente, para o meio académico/estudantil, é precisamente a denominação "estudiantina", a qual, originalmente, designava (e designa) grupo de estudantes e, mais tarde, os grupos musicais compostos desses mesmos estudantes.


Por que razão, então, os "puristas" admitem o uso de "Estudiantina" a grupos que podem nem ter estudantes nas suas fileiras, mas, depois, afirmam, peremptoriamente, que "Tuna" é coisa exclusivamente académica (ou, numa visão ainda mais fundamentalista, exclusivamente de foro universitário)?

Responderão que, como ainda no séc. XIX o meio popular copiou e se apropriou da designação "estudiantina", então os estudantes cambiaram para outra designação: Tuna (para identificar grupos estritamente académicos e diferenciá-los dos populares).

Só que esquecem, esses "puristas", que também a designação "Tuna" sofreu do mesmo processo, e isso desde a segunda metade do séc. XIX, ou seja, ambas as designações "Estudiantina" e "Tuna" foram, quase simultaneamente, adoptadas e apropriadas pelas classes populares. Aliás, em Portugal, por exemplo, o termo "Tuna" enraíza-se mais rapidamente do que noutros países. Com efeito, ainda o termo "Estudiantina" era vulgarmente utilizado em inícios do séc. XX, em Espanha e outros países, e já em Portugal tinha  como que desaparecido (e já só havia "Tunas").

Mas olhemos a outro aspecto deste paradoxo: sabe-se que os estudantes adoptaram o termo "Tuna" para distinguirem as suas "estudiantinas" das que eram compostas por populares ou falsos estudantes.
Adoptaram um termo que remetia directa e exclusivamente para o meio académico? Não!

O termo "Tuna" que, simplificando, designava originalmente esmola/dinheiro, está muito ligado ao que é conhecido por "correr la tuna", ou seja à vida ociosa e vagabunda de quem vivia de expedientes para se governar (arranjar sustento). 

Ora esse "correr la tuna", e as próprias pessoas a que se dava o cognome de "tunos", não era coisa exclusivamente de estudantes. A maioria nem o seria, porventura.
Claro está que nos chegam essencialmente exemplos de estudantes, dado o prestígio e o romantismo criado em torno de uma figura que gozava de privilégios e de fama, mas a verdade é que o termo "Tuna" nunca foi exclusivo do foro académico.

Portanto, quando os estudantes adoptaram o termo "Tuna", não se apropriaram de uma designação que não lhes pertencia em exclusivo? Não copiaram uma designação que em termos da filologia, não tem qualquer relação com estudantes, de algo que não tem foro  estritamente académico?

Então, por que razão temos "puristas" a reclamar "pureza de tuna"? Estamos novamente a reeditar os velhos tempos da "pureza de sangre"?
Com que legitimidade os "puristas" defendem a "Tuna" como coisa universitária, ignorando a história e património de tunas/estudiantinas com mais de um século de existência ininterrupta?

É muito estranho, para não dizer incoerente, portanto, que se defenda que "Tuna" é do universo exclusivo do meio académico (e que alguns radicais pretendem circunscrever ao meio universitário), mas se abandone o termo que, historica e significativamente é, até, o mais correcto e genuíno, para designar grupos musicais estudantis.

Não tem qualquer fundamento, nem faz qualquer sentido, com efeito.

Que importa que existam tunas populares chamadas "Tunas" (e que existem há mais tempo que qualquer tuna universitária)? 
É essa a preocupação ou não será, na verdade, o facto de haver tunas a fazerem-se passar por universitárias não o sendo? Então a questão não é o uso de "Tuna", mas de quem se disfarça daquilo que não: universitária/académica.
Por alguma razão as tunas académicas utilizam designações adicionais (de faculdade, académica, universitária, etc.) para se identificarem.

Significa que existem tunas que não são académicas, que não são universitárias, de faculdade, de distrito.... mas que são tunas, porque são grupos de cordofones.

Parece-me, a mim, muito mais inconsistente que haja estudantinas compostas por não estudantes, dado que a própria designação estudantina implica uma natureza académica, e mesmo assim, até nesse caso, basta adicionar "académica", "universitária" ou outra, para se distinguir perfeitamente a natureza do grupo e diferenciá-lo de um qualquer oriundo de outro meio.

Já a teoria de que "Tuna" é exclusivo dos universitários, e de que só deveria designar grupos universitários, é algo ridículo, porque colide com a história, com os factos documentados da existência de tunas académicas, dos mais variados níveis de ensino, desde o séc. XIX (e até hoje).

Temos pena que a história de alguns seja muito curta (ou a queiram encurtar; ou mesmo deturpar), mas o facto é que temos estudiantinas populares com mais de 100 anos ainda existentes (com essa designação encontramo-las em França, Bélgica...), assim como tunas populares ou de liceu, também elas centenárias, a atestar que há certas teorias discriminatórias que não têm pés nem cabeça.

A história das "estudiantinas/tunas" não se começou a escrever e a validar há meia dúzia de décadas. 
Tem mais de um século de património e não podem alguns ter a presunção de (re)fazer a história, escolhendo apenas o que convém, obliterando tudo aquilo que lhes puxa o tapete.
Rigor e metodologia não se apregoam, mas exemplificam-se com isenção e honestidade intelectuais.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Purismos tunantes


O purismo exacerbado que se verifica noutras geografias tunantes é, pelo menos do lado de cá da fronteira (cuja tradição tuneril é a mais rica pela diversidade e historicidade), algo risível e...ridículo. 

Uma honesta investigação à génese das tunas não pode, depois, pretender eleger o que lhe agrada e omitir os dados históricos que não lhe convêm.
Mas é precisamente isso que ocorre, com estudiosos cujo trabalho de investigação se reconhece, mas que, depois, truncam e desvirtuam esses mesmos factos, para lhes impor uma visão que não tem por base o mesmo rigor histórico que, supostamente, aplicam no seu labor - antes a sua visão pessoal.

Portanto, há quem diga que "Tuna" só corresponde a grupos universitários e, depois, para os demais grupos, afirme que se devem, quando muito, apelidar de "rondallas" ou, pasme-se, "estudiantinas".

Desde logo esse raciocínio está equivocado e perverte os factos históricos, quando sabemos que Tuna e Estudantina são a mesmíssima coisa, sendo que primeiro surgiram as "estudiantinas" (de estudantes e de não estudantes) e, depois, surge o termo "Tuna", num esforço para distinguir as "estudiantinas" compostas exclusivamente de estudantes das demais. Em momento algum se pode afirmar que foi para distinguir grupos civis de grupos universitários, mas, sim, distinguir apenas grupos civis de grupos estudantis (que podiam ser, ou não, universitários).
É isso que os factos históricos dizem: distinguir estudantinas (Tunas) de estudantes das demais. E estudantes não eram, nem são, apenas e só universitários.



Portanto, afirmar-se que só é "Tuna" um grupo universitário é falso.
Tanto é falso que continuaram a existir quer estudantinas quer tunas a nível popular (civil), assim como de outros graus de ensino (liceus, principalmente) sendo que, em alguns casos, algumas são já instituições centenárias, ou seja com maior legitimidade histórica que qualquer tuna universitária criada seja no tempo do SEU (Sindicato Español Universitário), seja depois disso. E isso é um facto histórico que desagrada aos puristas.

É de uma desonestidade a todos os níveis, essa presunçosa mania de distorcer a história, para caber em concepções pessoais  e pretender impor uma visão apócrifa de Tuna.

Mas ainda mais estranho é pretender que outros grupos não universitários não podem/deviam usar a denominação "Tuna" e que, quando muito, se deveriam chamar de "estudiantinas". Mas o que são "estudiantinas"?

Em rigor, são grupos de estudantes. É esse o significado do termo, que depois passa também a designar as orquestras de estudantes a que mais tarde  se chamará de tunas.
Se, para esses iluminados, só os grupos universitários se podem chamar "Tunas", então significa que os grupos universitários que se designam "estudiantina" não são Tuna?
Ou querem agora vir com a lata de afirmar que os universitários têm o direito de usar ambas as designações, porque moral e historicamente mais legítimos, e todos os demais grupos escolares (ou mesmo civis) não?

É que este raciocínio afunilado e cego quase roça a mesquinhez argumentativa.

E para o leitor compreender o paradoxo desses iluminados, estes, chegam mesmo a pretender que só há tunas a partir do SEU (que é quando, segundo eles, se cristalizam regras e ritos e a tuna ganha como que um formalismo). Ou seja, enchem páginas a afirmar que a Tuna nasce no séc. XIX (e dizem bem), mas depois afirmam que só são tunas as que são universitárias e seguem o modelo estilizado a partir do SEU espanhol (grosso modo, a partir dos anos 1950 em diante).

Ficou confuso o leitor? Natural, pois é contradição em cima de contradição.
É como pretender que só há espanhóis a partir do franquismo ou que só há portugueses depois, por exemplo, da implantação da República.

Discordamos em absoluto dessa visão redutora e que perverte os factos históricos.
Uma coisa é haver tunas ou estudantinas universitárias e outra é haver tunas e estudantinas que o não são.
Para além disso, aplicar conceitos actuais a factos passados, ignorando contexto e factos é um exercício falacioso; tal como seria falacioso afirmar-se que só há tecnologia a partir da revolução industrial ou com a invenção do chip.
Discordamos ainda mais do chauvinismo que pretende elevar o modelo "Tuna del SEU" como paradigma quer para classificar tunas em Espanha quer noutros países, como Portugal.

Bem sabemos que, num purismo estrito, estudantinas e tunas remetem para o cariz estudantil (e não apenas universitário). Ninguém no seu perfeito juízo pode pôr em causa isso. 
Mas a verdade é que  essa intenção denominativa (a de atribuir uma designação exclusiva aos grupos estudantis), iniciada ca. 1870, acabou por não surtir o efeito pretendido e que a criação de grupos, com essa designação, por parte da sociedade civil, ocorreu logo de seguida.
Portanto, uma coisa é o que gostaríamos que fosse (ou tivesse sido) e outra é o que de facto aconteceu. E isso não pode ser apagado, porque estamos a falar de mais de 1 século de história.
Além disso, essa coisa do purismo exacerbado parece ignorar as muitas apropriações ao meio civil que o foro estudantil preconizou.

A cegueira e fundamentalismo são tais, que esses mesmos "puristas" chegam ao supremo desplante chauvinista de considerar que as centenárias tunas portuguesas não são Tunas. Sim, leram bem: afirmam, por exemplo, que  a Tuna Académica do Liceu de Évora (fundada em 1902 e até hoje existente) não é tuna, à luz do conceito "hispano-SEU-Tuneril", segundo critérios truncados e erróneos para, assim, poderem legitimar os seus devaneios e reescrever a história conforme lhes apraz.

Bem sabemos que o facto de Portugal possuir a mais longa tradição tuneril ininterrupta, quer para tunas escolares, universitárias ou populares, provoca incómodo nesses puristas de meia tigela. E como esse facto é pedra no sapato que desmonta os seus pés de barro, vai de excluir o caso português, para só considerar que há tunas em Portugal quando (agora pasmem) se começam a parecer com as espanholas (a partir da década de 1980).
Ou seja, a suprema presunção chauvinista de que só há um paradigma tuneril puro e verdadeiro (o hispano-franquista) e que só se considera tuna o que for parecido ou seguir o modelo espanhol "criado" a partir do SEU.
Para azar dos puristas, e usando da mesma medida argumentativa, as tunas mais puras (no sentido de mais perto do modelo secular e original) são portuguesas, são centenárias. Quem, então, se desviou da tradição?

Ah, claro que a tradição também ela se vai renovando e enriquecendo, e é isso mesmo que Portugal pode igualmente apresentar, pois temos tunas segundo o modelo original, tal como temos tunas posteriores e, em tempos mais recentes,  tunas mais similares às actuais tunas espanholas. Não faz de umas, em relação às outras, mais ou menos tunas. E é isso que alguns puristas não conseguem entender - quando por cá foi sempre pacífica a convivência com a história.


Goste-se ou não, estudantinas e tunas são grupos que encontramos, desde o séc. XIX, em vários países pelo mundo fora.
E a concepção generalizada que foi atribuída a esses grupos (por mais imprecisa que estivesse nessa época) é que são apelidados de "Estudiantina" ou "Tuna" em função não dos elementos que compõem esses grupos, mas do leque instrumental que os caracteriza.
É isso que a história comprova documentalmente e é exactamente isso que a musicologia afirma e defende - algo que esses "puristas" querem abafar, menorizar ou mesmo desconsiderar.

O purismo que defende que "Tuna" é uma designação que apenas diz respeito a grupos universitários é uma "visão" de décadas, iniciada a partir do SEU espanhol, no intuito de dar maior visibilidade e "pedigree" a esses grupos (daí também ser nessa época que se inventam as origens medievais, goliardescas e trovadorescas da Tuna - tudo no intuito de conferir um áurea histórica de séculos e uma tradição pura de cariz exclusivamente universitária). E são exactamente os tunos que foram assim formatados que, mesmo perante as evidências históricas (apesar de, há já alguns anos, alguns, um pouco mais sérios, rejeitarem as origens medievais) continuam a ter uma visão classista e discriminatória de Tuna e, assim, a ignorar o que as evidências documentais apresentam (ou truncando-lhes o sentido e pertinência ).

Falar em rigor e metodologia para depois apresentar esse argumentário é decididamente algo paradoxal.
Mas ter a presunção de possuir um qualquer ascendente moral para policiar as tunas, determinando quem é Tuna e quem não é, constitui uma falácia que não se entende.
Uma coisa é distinguir entre tunas académicas e tunas civis. Uma coisa é perceber que tunas académicas não são as estritamente universitárias (só um néscio não percebe que o termo "Académico/a" não é exclusivo de universidade), mas outra é impor dogmaticamente que só umas e não outras são verdadeiras, sendo as demais falsas, apócrifas, de contrafacção.

Portanto, se os puristas querem defender o que é genuíno na Tuna Universitária, então que se dediquem apenas a isso e se deixem de tratar daquilo que não é de cariz universitário, respeitando-o e não se achando donos do mundo tvnae, vestindo o inquisidor papel de "Torquemadas de pacovia", de index em riste, ditando e determinando do alto da cátedra de barro.

É que esses tiques ditatoriais chegam depois aos tiques da censura e perseguição, como se pode ver nesta página (abaixo apresentamos imagem da mesma), criada especialmente para a "caça às bruxas" e onde se incita à delação. Parece termos recuado aos tempos da "limpieza de la sangre".
E nem vamos aqui apresentar as desconsiderações que esses "puristas" fazem acerca da Tuna Portuguesa, para não se promover uma escusada inimizade fratricida entre "hermanos", só por causa de uns quantos que se acham reis e senhores da res tvnae a nível mundial e vivem ainda num "franqueirismo bolorento".


Puristas que chegam a criar sites com o intuito único de fazer "caça às bruxas" ou ajustar contas pessoais



Se a tradição tuneril não nasceu por cá (embora surja quase de seguida), a verdade é que a nossa longa tradição (a mais longa em termos de actividade continuada) tem muito a ensinar a esses fundamentalistas.
Tem,  porque foi sempre um fenómeno  que conviveu pacificamente com as suas várias expressões. O que historicamente sempre importou foi diferenciar as tipologias; as tunas/estudantinas académicas (de estudantes) das demais, para isso bastando a designação "Académica", "universitária", "escolar" ou "de liceu".
Sempre foi aceite (são mais de 100 anos de evidência histórica), como noutros países sucedia (e sucede ainda), que "Tuna/Estudantina" era historicamente uma designação de um grupo em função do leque instrumental que o caracterizava.
Nunca houve necessidade de cercear ou constranger outros grupos pelo uso da denominação "Tuna/Estudantina" ou procurar impedir ou desconsiderar tunas/estudantinas não académicas. Para nós bastava, como basta, essa simples distinção.
A preocupação natural dos grupos académicos era que fossem académicos; que os grupos denominados de "universitários" o fossem e que qualquer grupo ostentando a designação "Tuna/Estudantina" possuísse as características históricas desse tipo de agrupamento: o leque instrumental, desde logo.

Não foi preciso arranjar escusas sobre ritos iniciáticos ou quejandos para servir de marca distintiva, porque, afinal, em Portugal, e desde o séc. XIX e até à década de 1980 (tal como em Espanha até 1950), tunas e estudantinas académicas não se definiam pelos ritos (quase inexistentes), como passou a suceder, quando contaminadas pela Praxe ou pelos ritos importados do país vizinho (ritos esses que nasceram poucas décadas antes - a partir dos anos 1950 - e não como tradições seculares como eram "vendidos", ou por cá, romanticamente, interpretados).
Não são os ritos iniciáticos de definem uma tuna estudantil ou universitária. Se os estudantes decidirem não os ter é opção que não condiciona que sejam tuna (como sucedia nas tunas de antanho). Se os estudantes universitários de hoje prescindirem de ter hierarquia e nomes pomposos, não quiserem ser apadrinhados (como tantas aliás não o são), fazer geminações ou baptismos de tuna, preferindo, por exemplo, uma organização mais pragmática (como uma qualquer orquestra onde apenas imperam critérios musicais), isso não significa que a sua tuna universitária seja menos tuna.

Não são os ritos que definem uma tuna como tal. Aliás, desconhece-se alguma cartilha que seja seguida à risca por todas as tunas eleitas como tal pelos "puristas". Todas as tunas procedem ao mesmo baptismo (devidamente regulamentado nas fórmulas e procedimentos, como sucede num baptismo católico)? Todas seguem rigorosa e escrupulosamente os mesmos critérios hierárquicos e o mesmo modus faciendi?
Pode haver uma ideia de algo que é comum e parecido, mas a verdade é que há tantas nuances como tunas.
O que é que, contudo, todas as tunas possuem que historicamente as identifica desde a génese? Os instrumentos que lhes são próprios. E, no caso das tunas académicas, o traje e pandeireta (instrumento iconográfico das tunas estudantis).

Vai já bem longa esta reflexão crítica. Agradece-se, desde já, aos leitores que chegaram aqui ainda acordados, até porque alguns poderão sentir-se algo fora do contexto, mas fique o leitor ciente de uma coisa: sabemos distinguir entre opiniões pessoais e evidências históricas e nunca subordinaremos as segundas em função das primeiras.






sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Teses com Tunas... sem rigor

 Um trabalho publicado na revista "adolesCiência" (Revista Júnior de Investigação) com o título "Fatores que determinam a participação dos estudantes numa Tuna Universitária: um estudo de caso" e no qual, apesar de se socorrer da obra Qvid Tvnae? (que citta algumas vezes), comete um erro crasso: ir buscar uma definição de Tuna que não corresponde, de todo, aos factos históricos documentados e investigados.

No melhor pano cai a nódoa, diz o povo, e com razão.


Já nem pediríamos que fosse usada a definição de Tuna Académica constante em Qvid Tvnae?, mas jamais usar uma definição que é não apenas discriminatória como totalmente falsa, e isto com o argumento de "...por se considerar o mais adequado à realidade tunae."

Mas que realidade Tunae? 

Conhecem, porventura que realidade é essa? 

Sabem os autores que não há apenas tunas universitárias e que nem essas precisam de estar vinculadas a uma instituição de ensino para poderem existir? Não sabem os autores que uma Tuna não precisa de ser boémia para existir e muito menos ter ritos iniciáticos?


Se os autores estão a tratar de uma realidade portuguesa, por que razão foram importar uma definição a um site espanhol; uma definição que supostamente diz respeito apenas aos espanhóis (embora na verdade  até nisso esteja totalmente errada)???

Está documentado, provado e comprovado, que as Tunas não são uma realidade apenas estudantil.

Foi publicada e distribuída gratuitamente, em Novembro passado (2018), uma monografia sobre a Grande Tuna Feminina de Alfredo Mântua. Uma Tuna feminina e civil, em claro confronto com a afirmação proposta ad hoc por Tunae Mundi (que faz, descabidamente, a apologia da Tuna como um exclusivo de universitários).

Se fizeram uso da obra Qvid Tvnae? (já disponibilizada gratuitamente), podem os autores apresentar alguma passagem que afirme que as Tunas são agrupamentos iniciáticos e agregados a uma instituição de ensino, como aspecto definidor de Tuna ou mesmo de Tuna Académica?

Pode parecer "bonito" citar fontes diversas, mas mais importante é aferir das mesmas, confrontando, comparando e/ou (porque não?) pedir opinião a quem sabe (seja no
PortugalTunas, no grupo FB Tunos&Tunas, para não ir mais longe). 


Fica o reparo.


sábado, 3 de dezembro de 2016

O Alfabeto das Tunas

Decorrente da conferência do II TUNx, organizado pela TAFDUP, volto a pegar no assunto dos instrumentos de tuna.
Sabemos que a Tuna é uma tipologia musical que se distingue pelo tipo de instrumentos que utiliza, e que a distingue de outros.
A definição de Tuna contempla, portanto, a noção de ser um grupo de plectro (cordas friccionadas e plectradas), juntamente com o acordeão, a percussão ligeira e as flautas doces.
Essas são as balizas que definem um grupo como Tuna, desde logo (seja de que tipo for). Claro está, e conforme o avançado em "Qvid Tvnae?", as que são de natureza estudantil contemplam ainda a imprescindível pandeireta.
Mas, tal como enunciado na dita conferência, isso não significa que, por uma questão premente de um tema que pede um instrumento alheio a esse leque instrumental, este não possa aparecer excepcionalmente.
O problema é mesmo quando se perverte a coisa e se pretende transformar a própria excepção em regra.
Não vale tudo, lamento, não vale.

Todos sabemos que o alfabeto ocidental comporta 26 letras.
Com esse elenco de caracteres, se escreveram milhares de obras, se produziram milhares de canções, cartas..........
Com esse leque de letras é infinito o n.º de chaves linguísticas que produzimos na oralidade ou na escrita, sem necessitarmos de utilizar caracteres chineses, cuneiformes ou árabes.
E para além daquilo que na nossa língua produzimos, é igualmente possível falar e escrever em inúmeras outras.
E só com esse leque de 26 letras se ganharam inúmeros prémios literários, se escreveram inolvidáveis discursos, tratados, obras científicas.............

Ora a Tuna tem também ela um alfabeto que continua a abrir possibilidades infindáveis, conquanto haja criatividade, arte e engenho, sem precisarmos de recorrer a outras grafias.
Misturar por regra é criar neologismos e pretender deles fazer um novo idioMa, mas acabando por travestir o vocábulo em algo idioTa.

E, tal como acima referi, se pontualmente inserimos caracteres alheios ao nosso alfabeto, são precisamente para um uso muito específico e pontual (como a @ para os endereços electrónicos, por exemplo).
Ora é a regra que cria a identidade, que define, e não a excepção.
Já uma excepção usada com bom-senso é prova de carácter, porque sabe respeitar a regra.


É que, quando não..............corremos o risco de sair asneira (m&%#k@§).

sexta-feira, 24 de julho de 2015

DEFINIÇÃO DE TUNA (QVID TVNAE)

Sem grandes introitos, apenas salientar que a obra "QVID TVNAE?" (2012) foi muito meticulosa e criteriosa na análise e apresentação da evolução do significado de Tuna/Estudantina, desde as várias teorias sobre a origem do termo, até ao grafado, ao longo dos séculos, nas principais enciclopédias e mais conceituados dicionários ibéricos (generalistas, etimológicos, de musicologia...).

Toda essa análise linguística (semântica e etimológica) rigorosa pode ser encontrada no citado livro (pp.65-84), disponível gratuitamente aqui:
https://drive.google.com/file/d/1HnbZrKgcb7zhwoD9KApuA9UogUvmwLew/view?fbclid=IwAR1q7d6lRQDq5bg6ZfrRnqulW9BvCToWH6K-FRG2njGG4SbezbGaaE_-um4

Daí resultou, ponderando a análise histórica e social em simbiose com o conhecimento empírico dos autores, a seguinte definição que aqui se transcreve:


"Tuna/Estudantina - Tendo surgido inicialmente em Espanha em meados/finais do séc. xix com a designação de estudiantinas, as tunas são agrupamentos musicais tanto de âmbito popular (urbano e rural) como estudantil. São constituídos essencialmente por instrumentos de cordas (cordofones) plectrados, dedilhados e friccionados, acompanhados de acordeão, flautas e percussão ligeira. Nos agrupamentos de cariz estudantil, a pandeireta é ícone histórico indispensável.

As tunas podem apresentar‑se em palco tanto sentadas (em disposição orquestral clássica) como de pé. Interpretam um repertório eclético, do erudito ao popular, acompanhando a execução instrumental com canto (a solo ou em coro), característica mais visível nos agrupamentos estudantis.

As tunas de cariz estudantil, e em especial as do foro universitário, envergam o traje da academia em que se integram ou indumentária própria (usualmente baseado na tradição das tunas do país vizinho e/ou evocativo do património cultural local). São normalmente constituídas por estudantes e antigos estudantes, recebendo a designação de «tunas de veteranos» ou «quarentunas» quando são exclusivamente compostas por estes últimos."[1]








[1] COELHO, Eduardo, SILVA, Jean-Pierre, TAVARES, Ricardo, SOUSA João Paulo - QVID TVNAE? A Tuna estudantil em Portugal - Euedito, 2012, p.84.